As CEBs da Arquidiocese de Cuiabá (MT) têm agora uma equipe de comunicação popular, com as primeiras ações definidas. As principais são: manter uma página no Facebook para divulgar as atividades e reflexões das comunidades; e fortalecer contato com movimentos sociais que já possuem histórico de parceria.
Essas definições ocorreram ao final do Encontro Arquidiocesano de Comunicação Popular, realizado em Cuiabá, na capela São José Operário, bairro Altos do Coxipó, no sábado (11) e domingo (12).
O evento teve o tema “CEBS – Comunidades de Comunicadores/as Populares, onde o Maior Valor é a Dignidade Humana”. A assessoria foi de Ana Paula Carnahiba e Gibran Luis Lachowski, jornalistas e assessores em comunicação do Regional Oeste 2 das CEBs (MT).
Também é importante escrever cartas ao final dos eventos para entregar nas comunidades, paróquias e movimentos
A equipe definida no encontro é formada por: Rosenil Bom Despacho Conceição, Romero dos Santos Caló e Marcella Eduarda Marcel (paróquia Sagrada Família, Cuiabá); Eurípia de Faria Silva (Nossa Senhora Aparecida, mesma cidade); e Dejacir Almeida da Costa (coordenador arquidiocesano de CEBs e morador de Jangada).
A lista com os primeiros nomes de parceiros a serem procurados está pronta. Centro de Estudos Bíblicos (Cebi), Comissão Pastoral da Terra (CPT), Centro Indigenista Missionário (Cimi), Pastoral da Juventude (PJ) e Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Mais parceiros de caminhada devem aparecer durante a articulação.
Animação tomou conta do encontro.
O encontro também teve outras definições. Uma delas é escrever relatos e documentos sobre os eventos organizados pelas CEBs para entregar nas comunidades, paróquias e movimentos.
Outra é elaborar um formulário para facilitar o recolhimento de informações junto às comunidades. As pessoas que participaram do encontro também destacaram a importância de ter auxílio na elaboração de projetos para conseguir recursos para desenvolver ações. E apontaram que é necessário fazer um resgate da memória das CEBs da Arquidiocese de Cuiabá.
Todo esse trabalho vai envolver quatro dos oito municípios da arquidiocese onde existem Comunidades Eclesiais de Base. São eles a capital Cuiabá, a vizinha Várzea Grande, Jangada e Acorizal.
Comunicação de base
Para Dejacir, produzir uma comunicação de caráter popular pode ajudar as CEBs na divulgação de informações das bases, que geralmente não aparecem na mídia comercial. “Além disso, tendo a nossa comunicação podemos combater a desinformação quanto aos movimentos e às periferias. Podemos mostrar a organização do povo e a celebração da vida que acontece com muita riqueza nas comunidades”, comentou.
Toninha, como é mais conhecida, disse que um dos assuntos a ser debatido de forma aberta por uma mídia popular é o conceito de família. O modelo pai, mãe e filho não é mais predominante no Brasil. Há muitas famílias só com mãe e filho, casais do mesmo sexo, avós que cuidam dos netos, entre outros. “A igreja e a sociedade precisam se abrir pra realidade e fazer este debate de frente”.
Autonomia e discernimento
O encontro em Cuiabá discutiu as diferenças entre comunicação comercial (hegemônica) e comunicação popular (anti-hegemônica), e como esta segunda tem a ver com a história e a identidade das CEBs. Essa discussão foi fortalecida pela transmissão e análise do documentário “Levante sua voz”.
Houve oficina de textos, áudios e vídeos: levantamento de assuntos; orientações de como fazer; elaboração dos materiais; socialização dos conteúdos; e dicas para melhorar as produções.
“Nossa luta também é enfrentar a oligarquia da comunicação e garantir o senso crítico diante das informações que recebemos”, disse Toninha
Os materiais trataram de vários assuntos. Entre eles, a situação de Lula nas eleições, o embate entre comemoração e crítica quanto aos 300 anos de Cuiabá (em 2019), a conscientização e combate ao tráfico de pessoas e a viabilização de novos assessores para as CEBs.
Marcella entrevista Samuel sobre como foi participar do Encontro Nacional das Crianças Sem Terrinha em julho em Brasília. Ele é filho de Rosenil.
Na visão de Marcella, as palavras do papa estimulam atitudes com autonomia e discernimento.
“Não significa que não devemos fechar os olhos para o que há de ruim, de violência, de errado. Mas depende de como vamos divulgar e reagir diante da notícia negativa. Devemos analisar a situação, tentar tirar ensinamentos e propor soluções em vez de só repetir o que foi dito”.
Novas formações em comunicação popular devem ocorrer nos próximos meses, pois este assunto foi definido como uma das prioridades das CEBS no estado neste ano, conforme decisão da Ampliada do Regional Oeste 2.
Comunicação CEBs Regional Oeste 2 (texto) e Rosenil Conceição – CEBs Arquidiocese Cuiabá (fotos)
Depois de muita espera, dez dias após o encerramento do prazo para a saída das famílias da área que ocupam, o juiz despacha no processo de reintegração de posse contra da Comunidade Mandela, no interior de São Paulo. No despacho proferido , o juiz do processo – Cássio Modenesi Barbosa – diz que aguardará a manifestação do proprietário da área sobre eventual cumprimento de reintegração de posse. De acordo com o juiz, sua decisão será tomada após a manifestação do proprietário. A Comunidade, que ocupa essa área na cidade de Campinas desde 2017, lançou uma nota oficial na qual ressalta a profunda preocupação em relação ao despacho do juiz em plena pandemia e faz apontamento importante: não houve qualquer deliberação sobre as petições do Ministério Público, da Defensoria Pública, dos Advogados das famílias e mesmo sobre o ofício da Prefeitura, em que todas solicitaram adiamento de qualquer reintegração de posse por conta da pandemia da Covid-19 e das especificidades do caso concreto.
Ainda na nota a Comunidade Mandela reforça:
“ Gostaríamos de reforçar que as famílias da Ocupação Nelson Mandela manifestaram intenção de compra da área e receberam parecer favorável do Ministério Público nos autos. Também está pendente a discussão sobre a possibilidade de regularização fundiária de interesse social na área atualmente ocupada, alternativa que se mostra menos onerosa já que a prefeitura não cumpriu o compromisso de implementar um loteamento urbanizado, conforme acordo firmado no processo. Seguimos buscando junto ao Poder público soluções que contemplem todos os moradores da Ocupação, nos colocando à disposição para que a negociação de compra da área pelas famílias seja realizada.”
Hoje também foi realizada uma atividade on-line de Lançamento da Campanha Despejo Zero em Campinas -SP (
Campinas acaba prorrogar a quarentena até 06 de outubro, a medida publicada na edição desta quinta-feira (10) do Diário Oficial. Prefeitura também oficializou veto para retomada de atividades em escolas da cidade.
A Comunidade Mandela e as ocupações
A Comunidade Mandela luta desde 2016 por moradia e desde então tem buscado formas de diálogo e de inclusão em políticas públicas habitacionais. Em 2017, cerca de mais de 500 famílias que formavam a comunidade sofreram uma violenta reintegração de posse. Muitas famílias perderam tudo, não houve qualquer acolhimento do poder público. Famílias dormiram na rua, outras foram acolhidas por moradores e igrejas da região próxima à área que ocupavam. Desde abril de 2017, as 108 famílias ocupam essa área na região do Jardim Ouro Verde. O terreno não tem função social, também possui muitas irregularidades de documentação e de tributos com a municipalidade. As famílias têm buscado acordos e soluções junto ao proprietário e a Prefeitura. Leia mais sobre: https://jornalistaslivres.org/em-meio-a-pandemia-a-comunidade-mandela-amanhece-com-ameaca-de-despejo/
Vídeo intitulado “Um grito de socorro no coração do Brasil”, gravado pela comunidade indígena Xavante da região de Barra do Garças (MT), expõe a força da covid-19 nos povos. Provocada pelo novo coronavírus, a doença já matou mais de 819 indígenas de diversas etnias. Pelo menos 30 Xavantes já morreram em decorrência da pandemia e há mais 10 mortes em investigação.
Vídeo intitulado “Um grito de socorro no coração do Brasil”, (veja AQUI), gravado pela comunidade indígena Xavante da região de Barra do Garças (MT), expõe a força da covid-19 nos povos. Provocada pelo novo coronavírus, a doença já matou mais de 819 indígenas de diversas etnias.
De acordo com dados do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), até a última sexta-feira (24), 13.096 indígenas haviam sido infectados pela covid-19. Somente no povo Xavante, o último boletim epidemiológico divulgado na mesma data, demonstra a existência de 30 óbitos e 313 infectados. Ainda existem outras 10 mortes sob investigação.
Com duração de pouco mais de quatro minutos, o vídeo coloca o espectador dentro das comunidades, expondo a situação classificada pelos indígenas como de “abandono” por parte do Poder Público.
Davi Tsudzaweré, cacique da Aldeia Guadalupe, da Terra Indígena São Marcos, faz um apelo por maior atenção básica em saúde. Segundo ele, os povos estão abandonados à própria sorte, sem qualquer tipo de acesso a atendimentos médicos.
Estão omitindo as mortes, estão omitindo os dados, está sendo tudo manipulado para manterem a imagem de bonzinhos
“Houve muito óbito nesta terra. Até agora, os Xavantes estão morrendo dessa doença que está acontecendo no mundo inteiro. Estamos sofrendo ainda sem atenção de nenhum órgão competente”, disse.
Em uma das imagens de maior apelo, Cristóvão Tsõrõpré, pertencente a aldeia São Marcos, narra a escavação de covas para enterros dos mortos. “Até quando vamos aguentar tudo isso? Temos o espaço para o cemitério, quantos já se foram… Já pedimos apoio, intervenção e profissionais de saúde, mas nada disso acontece”.
Rafael Wéré´é, da Aldeia São Marcos, acusa as autoridades competentes de não divulgarem dados reais das mortes causada pela pandemia. “Um grito de socorro para que as pessoas possam conhecer como estamos abandonados perante essa pandemia. (…) Estão omitindo as mortes, estão omitindo os dados, está sendo tudo manipulado para manterem a imagem de bonzinhos”, afirmou.
Gravado pelos indígenas, o vídeo foi produzido pela jornalista Juliana Arinos e pelo professor do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), campus Barra do Garças, Gilson Costa. Ele trabalha há seis anos em um projeto de extensão nas comunidades, oferecendo oficinas de capacitação audiovisual a jovens Xavantes.
Segundo Gilson, o vídeo retrata a situação das comunidades diante da pandemia. “Em se tratando dos Xavante, o poder público ficou inerte no primeiro momento, esperou que a doença avançasse. As barreiras sanitárias poderiam ter sido instaladas anteriormente para evitar que a doença entrasse nas aldeias”, avaliou.
O professor explicou que a cultura indígena envolve moradias coletivas, pouco acesso a água encanada e rede de esgoto. Com hábitos culturais de higiene diferentes, a covid-19 tem encontrado nos povos muita facilidade de disseminação do vírus.
“A partir do momento que a doença entra nas aldeias a situação começa a ficar complicada porque as comunidades têm uma outra cultura. Em uma casa Xavante, moram até 20 pessoas, nem todas elas têm água encanada, são outros hábitos de higiene, uma outra cultura. O poder público por mais que tenha sido alertado pelas lideranças e Ongs, esperou a doença chegar e demorou muito para uma ação. Depois que o caos começou é que o poder público começou a atuar, mas mesmo assim e forma muito deficitária”, avaliou.
O poder público por mais que tenha sido alertado pelas lideranças e Ongs, esperou a doença chegar e demorou muito para uma ação.
A morte de um indígena na cidade de Campinápolis teria exposto a falta de atenção básica, como por exemplo a falta de distribuição de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). “Ele trabalhava como motorista e transportava pacientes, e ficava com a mesma máscara até uma semana. Nem os EPIs básicos lhe foi concedido e ele acabou morrendo”. A morte gerou protestos na cidade.
O outro lado
O Governo do Estado anuncia nesta segunda-feira (27) o início das atividades de um grupo de trabalho que irá em expedição pelas aldeias indígenas de Mato Grosso oferecendo atendimento médicos e medicamentos a infectados pela covid-19.
O grupo é uma parceria entre o Ministério da Saúde, Forças Armadas, Secretaria Especial de Saúde Indígena e pelo Governo de Mato Grosso. Eles desenvolveram o Plano de Enfrentamento à Covid-19 nas Comunidades Indígenas e irão levar médicos infectologistas, pediatras e clínicos gerais para prestar atendimentos.
A ignorância tem muitas vestes e peculiar empáfia. Um sujeito, infrator, peita o guarda ligando para seu comandante, dando curso ao clássico “Sabe com que você está falando?”… A lei suprema que organiza as coisas na sua cabeça monárquica.
O servidor não se intimida, segue sua tarefa, e o infrator aguarda impaciente a hora da vingança. Rapidamente a imprensa apura tratar-se de flagrante de falsa identidade. Havendo título, o caso será de abuso.
Se dizendo desembargador o infrator amarga ressentido a falta de insígnias para humilhar. Autuação concluída, arranca a contrafé, pica e atira os pedaços ao chão, emporcalhando a si, a praia e a cidade que sonha ser apenas sua.
Sem máscara, mentido e sujando, esse é o protagonista de nossa tragédia social. Tem ódio à república e pavor à igualdade. Deseja uma sociedade de castas, organizada entre insultantes e insultados. Lei, só para os subalternos.
O protagonista da cena revela a patologia social de uma ordem construída sem compaixão e solidariedade, sem futuro, nostálgica do passado violento que ainda vive e pulsa forte diante da ameaça republicana.
Infrator é o outro. Pandemia não existe. Dever de limpar a sujeira sem repreender sua origem é a lei suprema. É um constrangimento assistir ao vídeo. Mas a cena apenas documenta o resultado final de uma construção social e a urgência de revertê-la