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Internacional

Stephen Cohen: Relação entre EUA e Rússia atravessa o pior momento desde a Crise dos Mísseis

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O secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, viajou a Moscou para se reunir com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e seu chanceler, Serguei Lavrov. O encontro ocorre em um momento de aumento da tensão entre Washington e Moscou. Na semana passada, o presidente dos EUA, Donald Trump, disse durante uma entrevista coletiva que as relações bilaterais com a Rússia haviam chegado a seu pior momento na história. Trump fez os comentários um dia depois de a Casa Branca ter acusado o Kremlin de tentar acobertar o suposto envolvimento do governo sírio no ataque com armas químicas que recentemente provocou a morte de 87 pessoas. A Rússia rechaça a acusação estadunidense a afirma que Washington se precipitou ao acusar o presidente da Síria, Bashar Assad, pelo ataque.

No Conselho de Segurança da ONU, a Rússia barrou uma resolução para denunciar o ataque químico e pedir a cooperação do governo sírio com uma investigação internacional. Ao mesmo tempo, Moscou acusou Washington de violar leis internacionais ao bombardear uma base aérea síria. Enquanto isso, Trump parece ter mudado de opinião a respeito da Otan, qualificada por ele durante a campanha à presidência como “obsoleta” e “custosa”. Sobre este assunto, Amy Goodman e Nermeen Shaikh conversaram com Stephen Cohen, professor emérito de política e estudos russos nas universidades de Nova Iorque e Princeton, e Jonathan Steele, ex-correspondente do Guardian em Moscou, chefe de reportagem do Middle East Eye e autor de “Eternal Russia: Yeltsin, Gorbachev, and the Mirage of Democracy”.

AMY GOODMAN: Como você interpretou a reunião entre os chanceleres Lavrov e Tillerson com a presença do presidente Putin?

STEPHEN COHEN: A liderança russa conhece o senhor Tillerson muito bem. Durante seis ou sete anos, lidaram diretamente com ele, inclusive Putin, na discussão de um dos maiores contratos de energia já assinados pela Rússia com uma gigante do Ocidente, no caso a ExxonMobil. Não haveria aquele acordo, de muitos bilhões de dólares se eles não achassem que o senhor Tillerson fosse um homem sério, competente e honrado. Agora, nós podemos ter nossas próprias opiniões sobre a influência das empresas globais de petróleo em questões internacionais, mas trata-se de uma relação bilateral muito importante. Portanto, quando Tillerson foi a Moscou em sua nova condição, eles sabiam estar tratando com alguém de imensa experiência, pois a ExxonMobil tem o seu próprio Departamento de Estado, seus próprios serviços de informação e um homem que eles acreditam que seria franco com eles. E eles tinham perguntas para o senhor Tillerson. Escutamos apenas ecos delas nas declarações públicas. Uma delas foi:

O que está acontecendo em Washington?

Que conversa é essa de que Putin é um fantoche?

Vocês estão realmente partindo dessa suposição?

A segunda, e é muito importante:

Quem é o responsável em Washington pela política em relação a Moscou?

Lembre-se que quando o presidente Barack Obama fechou um acordo com Putin no ano passado para uma cooperação militar na Síria, o Departamento de Defesa dos EUA sabotou o acordo bombardeando um acampamento militar sírio. E Putin questionou publicamente: “quem é o responsável pela política em Washington?” Então eu penso que estas são duas perguntas fundamentais que precisamos fazer. E a terceira pergunta, creio eu que feita por Putin a Tillerson, foi: “nós tínhamos entendido que vocês haviam aceitado a nossa posição, que mantínhamos havia anos e que o presidente Obama rejeitava, de que a escolha é ter ou o presidente Assad ou o Estado Islâmico em Damasco. Vocês disseram aceitar nossa posição. Mas depois desse ataque químico, vocês aparentemente recuaram. Nós precisamos saber agora qual é a posição de vocês, pois vamos basear nossos cálculos militares em relação à Síria no que você nos disser hoje. Encerro esta resopsta dizendo que Tillerson e o presidente Trump disseram uma coisa de extrema importância que acabou relegada a segundo plano: as relações entre EUA e Rússia talvez estejam em seu pior momento na história. Isto é importante demais. Atrai nossa atenção ao essencial. E Tillerson declarou: “não existe confiança mútua”. E isto não é aceitável quando o assunto é o relacionamento entre duas superpotências nucleares. E a mídia tradicional, que ouve o que bem entende e tem sua própria narrativa, deixou de lado uma informação muito importante. É uma notícia muito ruim, mas é uma notícia que precisa ser divulgada.

NERMEEN SHAIKH: Mas quando você diz que a Rússia quer saber quem é o responsável por formular a política em Washington, de quem você suspeita, já que não é Trump nem Tillerson? Quem poderia ser o responsável por formular a política estadunidense?

STEPHEN COHEN: De quem você suspeita?

NERMEEN SHAIKH: Diga-nos você.

STEPHEN COHEN: Bem, nós – quero esclarecer que não sou um teórico da conspiração, mas dispomos de alguns dados. Eu não votei no presidente Trump, mas pessoalmente sou favorável a sua promessa de campanha de que o desenvolvimento da cooperação com a Rússia seria, como ele chegou a dizer, ótimo. E se vocês me derem um minuto, deixem-me explicar por que acho isso ótimo. Eu penso – e o faço há 40 anos, desde que estudo as relações russo-americanas há 40 anos, tanto como professor quanto participando ocasionalmente –

que atravessamos o pior momento das relações entre Washington e Moscou

desde pelo menos a Crise dos Mísseis, em Cuba.

E indiscutivelmente o momento atual é mais perigoso, por ser mais complexo. Ao mesmo tempo, vemos em Washington o que considero acusações não fundamentadas de que Trump estaria de alguma maneira comprometido com o Kremlin. Desta forma, neste péssimo momento das relações russo-americanas, temos um presidente preso ao pior cenário imaginável. Não há precedentes. Vamos parar e pensar. Nunca antes um presidente dos Estados Unidos foi acusado essencialmente de traição. E é disso que falamos aqui, que ele ou pessoas a ele ligadas cometeram traição. Imagine, por exemplo, John Kennedy no meio da Crise dos Mísseis. E o público que tiver uma certa idade vai ser lembrar de que o governo Kennedy mostrou fotos tiradas por sistemas de vigilância. As evidências foram mostradas para nós. Não havia dúvidas de que os soviéticos estavam construindo silos de mísseis em Cuba. Hoje não nos é apresentada nenhuma evidência de nada. Imagine se Kennedy tivesse sido acusado de ser um agente do Kremlin soviético. Ele ficaria de mãos amarradas. E a única maneira que ele teria de provar o contrário seria iniciando uma guerra com a União Soviética. E naquela época, a opção era de uma guerra nuclear. Então a pergunta que surge naturalmente é: por que Trump lançou 50 mísseis Tomahawk em uma base aérea síria onde, Deus nos ajude com isso, algumas pessoas foram mortas, mas de valor estratégico mínimo? Estaria ele tentando mostrar que não é um “agente do Kremlin”? Pois numa situação normal, qualquer outro presidente teria feito o seguinte: iria às Nações Unidas pressionar por uma investigação para determinar o autor do ataque com armas químicas. E só depois dessa investigação seria decidido o que fazer. Mas fazer isso enquanto se está jantando com o líder chinês, que saiu profundamente humilhado, pois é um aliado da Rússia…

AMY GOODMAN: Comendo uma torta de chocolate, como o próprio Trump relatou.

NERMEEN SHAIKH: E primeiro ele se confundiu dizendo que atacou o Iraque, e não a Síria.

STEPHEN COHEN: Pois é, eu não pretendo sair criticando Trump se ele fizer alguma coisa certa. Temos de nos ater ao que temos. Por isso nos perguntamos: por que Trump fez isso? Teria ele recebido informações erradas ou duvidosas? Temos um longo histórico disso nos Estados Unidos. E é por isso que os russos quiseram perguntar a Tillerson quem é o responsável por essa política, pois essa narrativa não é verdadeira. E permitam-me acrescentar algo mais. É muito importante, depois eu paro. O número 2 no Kremlin hoje é o primeiro-ministro Dmitri Medvedev. Ele é considerado o integrante mais pró-Ocidente dentro do governo russo. E foi em cima dele que o presidente Obama e a secretária de Estado Hillary Clinton basearam toda sua reformulação de política. E se conseguíssemos – ele era o presidente na época – simplesmente mantê-lo no poder? Eis que depois de tudo isso vem o primeiro-ministro Medvedev, alguém de quem todo mundo gosta, e diz: “Estamos à beira de uma guerra. As relações russo-americanas estão totalmente arruinadas”.

Portanto, se a facção pró-Ocidente do Kremlin diz isso,

será que eu preciso dizer o que os tais patriotas estão dizendo a Putin neste momento?

É por isso que a palavra de Tillerson era tão importante.

NERMEEN SHAIKH: O filho adulto de Donald Trump, Eric, mencionou as tensões entre EUA e Rússia como evidência de que pessoas ligadas a Trump não conspiraram com Moscou para tentar influenciar as eleições presidenciais de 2016. “Se teve uma coisa que a Síria conseguiu foi validar o fato de que não há conexão russa”, disse Eric Trump numa entrevista ao jornal inglês The Telegraph.

AMY GOODMAN: Estamos também com Jonathan Steele, ex-correspondente do Guardian em Moscou, chefe de reportagem do Middle East Eye e autor de “Eternal Russia: Yeltsin, Gorbachev, and the Mirage of Democracy”. Jonathan, o significado da declaração do filho de Trump, a mesma coisa para a qual o professor Cohen estava apontando, é uma amostra do que acontece hoje em Washington? Donald Trump está tentando provar de uma vez por todas que não tem ligação com a Rússia?

JONATHAN STEELE: Acredito que se alguém se beneficou desse terrível incidente com gás em Khan Sheikhoun, certamente não foi Assad, e muito menos o governo russo. Os beneficiários foram as pessoas que estão se defendendo da alegação de que Trump de alguma maneira seria um fantoche de Moscou;

foi o complexo industrial-militar de Washington;

foi o que Eisenhower chamou de “deep state”,

o Estado por trás do Estado,

aquela aliança entre os militares, os fabricantes de armas e os serviços de espionagem,

verdadeiramente temorosos de que Trump de alguma forma saia de controle e realmente abra a possibilidade de boas relações com a Rússia e querendo que ele retome a tradicional rota de confrontação com a Rússia; além, claro, da oposição armada a Assad, que de repente obteve uma sobrevida, pois estava prestes a perder seu último território importante, nos arredores de Idlib, no noroeste da Síria. Eles já conseguiram um ataque aéreo e certamente estão esperando por mais, talvez serem defendidos pela Otan. E com certeza eles não vão ceder em Genebra. Então todos que se beneficiaram não estão nem ao lado da Síria nem ao lado da Rússia.

NERMEEN SHAIKH: Mas há quem alegue que Assad beneficiou-se ao advertir os rebeldes a pararem de combater o governo.

JONATHAN STEELE: Mas não com o uso de armas químicas. Por isso considero tão improvável que os sírios tenham recorrido a armas químicas. […] Como disse Lavrov em sua entrevista coletiva conjunta com Tillerson, o governo sírio convidou a Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq) a investigar, e ofereceu acesso à base bombardeada pelos Estados Unidos, mas exigiu, com toda a legitimidade, que os rebeldes deem acesso ao lugar onde o gás sarin foi liberado, para determinar se isso aconteceu por causa de um ataque aéreo ou se alguém em terra agiu sorrateiramente com o objetivo de desacreditar a Síria.

NERMEEN SHAIKH: Pergunto a Stephen Cohen o seguinte: se de fato tanto a Rússia quanto a Síria dizem nada ter a ver com este ataque de armas químicas, quem eles acham que é o responsável?

STEPHEN COHEN: Voltemos ao início. Foi isso que eles perguntaram a Tillerson. Eles apresentaram as informações de que dispunham. Putin então disse – talvez ele não devesse, mas todo mundo diz que ele é dissimulado quando na verdade ele é muito sincero e diz o que pensa: “às vezes eu troco os dias por causa do fuso-horário de Moscou. Foi uma provocação”. Ele usou a palavra russa, dá no mesmo, provokatsiya. Ele disse que alguém está tentando provocar uma guerra entre os Estados Unidos e a Rússia. Ele não disse quem. Mas Jonathan nos deu uma sugestão de que forças poderosas em Washington não gostaram da política de detente declarada por Trump, como costumávamos chamar, cooperação, e têm feito tudo o que podem para destruir essa possibilidade. Mas vamos falar como adultos. Muita gente já veio aqui manifestar profundas suspeitas em relação aos serviços secretos estadunidenses, mas de repente todo o Partido Democrata agora parece acreditar que, abre aspas, “relatórios de inteligência” são tão inquestionáveis que pessoas como eu, que simplesmente os questionam, devem ser consideradas defensoras de Putin. O que sabemos é que, já faz algum tempo, informações têm sido vazadas para o Washington Post, o New York Times, a CNN e todo o resto de maneira altamente prejudicial não só para Trump como presidente, mas para a política de Trump para a Rússia. Então eu não acho que o que Jonathan Steele diz deveria ser excluído como possibilidade, de que forças poderosas estão ali para garantir que não haverá melhoras nas relações com a Rússia. Agora deixe-me apenas mencionar uma coisa que talvez vocês não tenhamr notado: a única conquista do presidente Obama, a meu ver, além de um acordo com o Irã de congelar um possível programa nuclear bélico, foi o acordo feito com Putin em 2013 para destruir as armas químicas de Assad. Acho que todos vocês se lembram. E quando olhamos para trás, esse foi o grande feito do presidente Obama, porque a alternativa era ir à guerra. E isso só foi possível porque ele e Putin trabalharam em conjunto. Então isso serve de modelo para que o que poderia ser possível nas relações russo-americanas. E o que nós temos agora? Temos uma nova narrativa na mídia estadunidense de que Putin mentiu, de que Obama foi enganado, quando disseram que aquelas armas tinham sido destruídas. Mas isso é uma deturpação. Obama e Putin entregaram a questão das armas às Nações Unidas. A ONU dispõe de uma unidade especial de coleta e destruição de armas de destruição em massa. A ONU fez isso com as armas de Assad. E foram as Nações Unidas, e não Putin, que certificaram que as armas tinham sido destruídas.

Portanto, se alguém mentiu

– e acho que ninguém o fez –

ao dizer que Assad não tinha mais armas químicas, foi a ONU.

Não foi Putin.

Então, o mínimo que podemos fazer, se estamos à beira de uma guerra, como o número 2 da política russa diz, é dispor de informações corretas.

AMY GOODMAN: Por fim, qual a probabilidade neste momento de uma confrontação direta entre os Estados Unidos e a Rússia?

STEPHEN COHEN: Se eu soubesse a resposta, eu iria ao Jóquei e resgataria grande parte do dinheiro que perdi ao longo dos anos. Mas eu diria perto demais, possível demais. As outras novas frentes da Guerra Fria estão todas esquentando. Isto é, na região do Báltico, os pequenos Estados bálticos e a Polônia, onde a OTAN está se reforçando muito além do razoável; na Ucrânia, onde o governo apoiado pelos EUA em Kiev está se desfazendo; na Síria, é claro. Há muitas tropas por lá. Não sabemos quantas. Eles as chamam de tropas de operações especiais. Mas provavelmente há mais do que nos contaram haver. Os aviões estadunidenses estão voando por lá. A batalha por Raqqa, que simbólica ou real, é a capital do Estado Islâmico na Síria, está se aproximando. Os dois lados querem vencê-la: a coalizão estadunidense e a coalizão russo-sírio-iraniana. Numa situação ideal, elas cooperariam entre si e tomariam a cidade juntas. Mas ao competirem pela captura da cidade, haverá aeronaves estadunidenses e russas voando muito perto entre si. Em relação à falta de disposição da Rússia para abandonar Assad, creio haver uma questão mais profunda. A Rússia não está interessada na pessoa de Assad, e diz isso com frequência. Uma hora Assad irá cair, mas a Rússia prefere deixar essa decisão nas mãos do povo sírio. Na avaliação da Rússia, Assad representa o Estado sírio. Há Estados extremamente personificados em algumas regiões mundo, e é disso que se trata. Se Assad for morto ou preso, o Estado sírio se desfaz, assim como aconteceu no Iraque, assim como aconteceu na Líbia, onde simplesmente assassinamos os líderes daqueles países. Se o Estado sírio se desfizer, o Exército sírio se desfaz – e são os soldados sírios os responsáveis pela maior parte do combate em terra contra o Estado Islâmico. Muitos soldados sírios desertariam.

Então o que eu pergunto a todos os estadunidenses que vilanizam Assad é:

se o Estado sírio for destruído, quem vai combater os terroristas na Síria?

Vocês vão pedir à Rússia que envie tropas? Nós vamos enviar nossas tropas? Então, para a Rússia, a questão é essa. Não se trata de Assad. Eles iriam no máximo chiar se algo acontecesse a ele ou à família. O que importa é o que vai ser do Estado sírio. E é por isso que a Rússia vai ficar ao lado de Assad até que haja alguma espécie de vitória militar. Depois vem o que chamamos de processo de paz, e então Assad estará por conta própria.

Nota

1 Entrevista publicada originalmente por DemocracyNow em https://www.democracynow.org/2017/4/13/stephen_cohen_this_is_most_dangerous

Internacional

Rui Costa Pimenta lança livro, em Lisboa, sobre o golpe no Brasil

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Rui Costa Pimenta, jornalista formado pela Faculdade Casper Líbero e presidente do Partido da Causa Operária (PCO), fez uma turnê pela Europa, promovendo seu novo livro, “Golpe de Estado no Brasil: Balanços e Perspectivas”, onde realiza uma análise dos governos capitaneados pelo PT desde 2002 até o golpe de 2016, bem como da organização da resistência ao golpe e as perspectivas dessa resistência.

Foto: Bruno Falci

Foto: Bruno Falci

Em Lisboa, Rui falou sobre os problemas do golpe de Estado no Brasil contra a presidenta Dilma Rousseff, contextualizou a prisão do Lula dentro desse processo de intesinficação do golpe e perspectivas futuras para restabelecimento da democracia.

Estiveram presentes dezenas de participantes , entre brasileiros e estrangeiros portugueses e de outras nacionalidades, que ao final fizeram perguntas. Também marcou presença o presidente da Associação Vasco Lourenço, um dos líderes da revolução de 25 de abril de 1974 – Revolução dos Cravos, que pôs fim a 41 anos da ditadura salazarista. A mesa foi mediada por Maurício Moura, membro do Coletivo Andorinha.

Antes de Lisboa, Rui Costa Pimenta passou por várias cidades europeias, entre elas Londres, Paris, Amsterdã, Vigo, Barcelona, Frankfurt, Copenhague, Hamburgo, entre outras.

O evento foi organizado pelo Coletivo Andorinha e transmitido ao vivo pela página dos Jornalistas Livres e pelo canal do PCO, no Youtube.

 

Texto: Bruno Falci e Maíra Santafé

Fotos: Aparecido Lima e Bruno Falci

 

Foto: Bruno Falci

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Foto: Aparecido Lima

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América Latina e Mundo

CHAVISMO OBTÉM VITÓRIA ESMAGADORA NAS ELEIÇÕES REGIONAIS NA VENEZUELA

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Por Juliana Medeiros para os Jornalistas Livres

O PSUV, partido que reúne as forças chavistas, obteve uma vitória incontestável nesse domingo (15), nas eleições regionais ocorridas na Venezuela.

Os candidatos a governador chavistas conquistaram 17 dos 23 estados, 54% da votação nacional, frente à 45% da oposição.

A presidenta do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), Tibisay Lucena, informou em comunicado na sede do órgão em Caracas que a tendência já era irreversível, com 95,8% de urnas apuradas.

 

A MUD – Mesa da Unidade Democrática (aliança que reúne os partidos de oposição) conquistou 5 estados e apenas 1, o estado de Bolívar, ainda não tinha o cenário irreversível no momento do anúncio. O resultado deixa a MUD em uma situação difícil, especialmente por terem perdido o estado de Miranda, tradicionalmente opositor.

A participação eleitoral foi de 61,14%, cifra superior aos 53.94% das eleições regionais de 2012.

Depois dos resultados divulgados, os venezuelanos saíram às ruas para celebrar o fortalecimento de sua democracia e o encerramento de mais uma jornada eleitoral, que transcorreu com normalidade.

Para estas eleições 18.099.391 venezuelanos estavam habilitados a votar em 13.559 centros de votação instalados en todo o país. Só os habitantes do Distrito Capital não participaram do pleito por ser Caracas.

A jornada eleitoral começou às 6h da manhã de hoje e a votação contou com Acompanhamento Internacional integrado por um grupo de mais de 60 convidados, entre acadêmicos, ativistas sociais, parlamentares e jornalistas, oriundos dos EUA, América Latina e Europa, sendo 8 brasileiros.

A Revolução Bolivariana venceu em um cenário de imensa tensão. O chavismo foi derrotado nas últimas eleições para a Assembleia Nacional e desde então, a Venezuela vive um estado de conflagração permanente. No entanto, a decisão de Nicolás Maduro de convocar uma Assembleia Constituinte, demonstra haver sido acertada. A oposição tentou impedir a realização da Constituinte, concluída em 30 de julho, com muita violência. A resposta do povo, portanto, foi sábia. O voto de hoje nas eleições regionais foi um voto contra a violência, um voto pela paz.

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América Latina e Mundo

DITADURA VENEZUELANA – “MAIOR FAKE NEWS DA HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA”

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Por Juliana Medeiros para os Jornalistas Livres

Neste domingo (15), a Venezuela realiza suas Eleições Regionais, para governadores, em 23 Estados nesta que é sua 22ª eleição em 18 anos de chavismo, o que de pronto classifica o país como a “ditadura” que mais realizou sufrágios na história contemporânea.

Toda a imprensa mundial acompanha de perto a disputa, ávida por encontrar evidências de fraude ou captar imagens para sua narrativa de impacto sobre a diariamente pautada “crise econômica e política” do país.

No entanto, ao mesmo tempo em que a presidenta do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), Tibsay Lucena, informa em coletiva de imprensa que todas as etapas para o pleito vem sendo cumpridas com a participação de observadores internacionais e membros de TODOS os partidos, que também fiscalizam o processo, os correspondentes credenciados no país tratam unicamente de noticiar as supostas “fraudes” cometidas pelo governo Maduro, ainda que representantes de cada corrente política estejam validando o mesmo processo que a oposição (e a mídia) procuram deslegitimar.

Mas do que se trata essa tal crise na Venezuela? Essa é a pergunta que muitos se fazem nesse momento. Para responder, é preciso antes se perguntar o que faz com que um pequeno país caribenho de repente se torne o assunto dos almoços de domingo de boa parte dos países do mundo, onde seus cidadãos muitas vezes sequer conhecem seu cenário local mas sabem o nome de políticos venezuelanos e falam sobre a tal “crise” como se fossem conhecedores profundos do tema.

Charge do Latuff

Antes ainda, é necessário perguntar se Nicolás Maduro – ao invés de denunciar constantemente a ingerência norteamericana e se recusar terminantemente a seguir suas ordens – fosse um amigo de Washington, será que o país continuaria nos noticiários?

O mais provável é que ele poderia ser de fato o “ditador” que querem que ele seja, por exemplo, oprimindo cruelmente as mulheres como o rei Abdullah bin Abdul Aziz Al-Saud da Arábia Saudita; ou deixando mais de 1 milhão de pessoas morrerem de fome, cólera e bombardeios de aviões aliados em seu próprio solo, como Addrabbuh Mansour Hadi do Yemen; ou ainda usando de maneira violenta e extremada sua polícia contra manifestações pacíficas pelo direito de votar, como Rajoy da Espanha; ou inaugurando uma nova era de presos e desaparecidos políticos como Macri, na Argentina; ou mantendo sob barbárie a última colônia do mundo em um campo murado e minado no meio do deserto do Sahara, como o Rei Mohamed VI do Marrocos; ou pior, fazendo tudo isso, com direito a malas de dinheiro em contas ilegais no exterior e mais uma série de delitos (com Supremo com tudo) como naquele país, vocês sabem onde. Bastaria à Maduro ser menos “guapero” em linguagem latina, aceitando condições comerciais injustas, acordos políticos nefastos e uma ou outra base militar em seu território e tudo estaria resolvido.

Ou seja, no fundo o mundo inteiro sabe que não se trata de motivos humanitários e que a OEA ou o (atual) Mercosul, just don’t give a damn para o que acontece realmente na Venezuela. Se assim fosse, as “guarimbas” – espécie de barricada montada pela oposição como estratégia recorrente de ataque – seriam tão conhecidas quanto todos os outros fatores que parecem fazer com que simples eleições regionais na Venezuela sejam mais importantes para a mídia do que, por exemplo, a possibilidade cada dia mais real dos EUA iniciarem uma nova guerra mundial.

Sem precisar recorrer à estatísticas, é muito provável que você, leitor(a), jamais tenha ouvido falar sobre as tais “guarimbas” com homens armados até os dentes com fuzis e bombas caseiras, fios de arame que decapitam motoqueiros, ou os “poopootov” (lançamento de garrafas cheias de excremento humano), ou ainda pessoas sendo queimadas vivas nas ruas e filmadas enquanto agonizam até o fim. Ou pior, você até já ouviu falar em tudo isso, mas acredita na versão de que foram crimes cometidos pela Guarda Nacional Bolivariana.

A verdade é que a ditadura (ou a crise) na Venezuela, como bem definiu seu Ministro das Comunicações, Ernesto Villegas, não passa do “maior fake news da história contemporânea”.

Por mais que a própria oposição venezuelana declare publicamente em suas páginas oficiais que todas as estratégias citadas acima (e outras) são aceitáveis, ninguém lê porque é invisível até para os pauteiros da grande mídia. E ainda que muitas vezes as críticas à violência do governo Maduro não tenham sequer uma imagem para fundamentar, essas são as notícias que interessam ao mainstream.

Aliás, muitas vezes há imagens sim, como as que a imprensa espanhola produziu horas depois de uma guarimba explodir cerca de 8 policiais em suas motos no meio de uma avenida de Caracas. O frame convertido em instantâneo, foi retirado de um vídeo produzido por uma das câmeras dos próprios policiais que vinham atrás dos que foram atingidos. A mesma imagem foi reproduzida nas capas de vários veículos, sem crédito, com títulos que criticavam a “repressão” de Maduro. Uma notável e descarada manipulação.

Nesse mesmo dia, o jornalista venezuelano Luis Hugas, que acompanhava o grupo de militares em uma das motos (e quase foi atingido também), flagrou em video produzido para o Canal La Iguana TV, os correspondentes de meios internacionais escondidos atrás de uma das barricadas, ou seja, já preparados, poucos antes da explosão, no melhor estilo “se por acaso acontecer algo aqui”.

Não se trata de dizer que não há problemas, a Venezuela vem sofrendo uma pesada guerra econômica precisamente por um equívoco do próprio projeto chavista. Quando Hugo Chávez chegou ao poder, todo o recurso bilionário do petróleo venezuelano era destinado unicamente à elite que controlava o país. A radical transferência de renda iniciada por ele, produziu uma mudança profunda em uma sociedade miserável. A questão é que Chávez não só reduziu drasticamente a desigualdade no país, levando educação ou saúde gratuitos para a população, mas também iniciou um processo de conscientização política. No entanto, a manutenção da dependência econômica sobre uma única commoditie, fez com que a nação caribenha continue precisando importar quase todos os produtos que consome, porém usando como moeda os mesmo barris de petróleo que agora estão em baixa no mercado mundial. E são justamente os comerciantes – boa parte estrangeiros – a usarem a estratégia de retirar os produtos das prateleiras ou colocá-los a preços surreais, como única ferramenta política da direita que tradicionalmente não possui habilidade para construir bases de outra maneira.

Em uma série de vinhetas produzidas pelo canal venezuelano VTV, uma jornalista fala de sua indignação pelas últimas declarações do Depto de Estado norteamericano acerca da lisura das eleições venezuelanas e finaliza dizendo: “Venezuela é garantia de paz na América Latina”. De fato, esse é o ponto.

Depois de passar décadas com pouco interesse sobre o que ocorria na América Latina (mais concentrados em regiões como o Oriente Médio e o Norte da África), os EUA sob Trump decidiram redirecionar seus canhões para nosso continente. Não é coincidência que, ao mesmo tempo em que o mundo está tremendamente interessado em saber qual será o novo governador de Táchira, os EUA tenham reiniciado sua política de bloqueio econômico-financeiro impondo o chamado “Nica Act” à Nicarágua, sob o batido pretexto de promover a “democracia” no país centro-americano. O problema dos EUA com a Nicarágua, Venezuela, Bolívia, ou Cuba é o mesmo: controle dos recursos e combate ideológico.

E a Venezuela parece ser a peça que pode colocar em xeque toda a região, agora que Trump vem ameaçando com uma intervenção armada, que aliás, parte da oposição venezuelana tem a indecência de pedir textualmente em canais de TV privados pelo país. Subserviência e vira-latismo que mais parecem a nova epidemia desses tempos.

Foto: Guilherme Imbassahy

O fato é que mudam os presidentes mas a estratégia yankee não muda. Num primeiro momento, financiam grupos opositores protofascistas na tentativa de promover golpes parlamentares que permitam um alinhamento à sua geopolítica de interesse para a região, como é o caso do Brasil ou Paraguai (que por casualidade tinham nesses momentos a mesma embaixadora norteamericana, que também por acaso foi por anos quem esteve à frente da USAID para América Latina).

E assim como ocorrido no Iraque ou na Líbia, quando a intervenção via “revoluções laranjas” não é suficiente e torna-se necessário recorrer às armas, a primeira a atingir o país-alvo da vez é sempre a propaganda, difundida com muita eficiência (e cumplicidade) pela imprensa internacional.

Convencida a opinião pública de que é preciso intervir, não há problema caso depois alguém se dê conta de que se equivocou ou “pesou a mão”, basta recorrer à indústria Hollywoodiana e produzir algum enlatado (com cara de mea culpa e jeito de planejado) ou apenas, como é o caso da Líbia, jogar no limbo do esquecimento midiático o país que estava todos os dias no noticiário enquanto era importante convencer a todos de que era necessário destruí-lo, sob o irônico pretexto de “salvá-lo”. O problema com essa estratégia em relação à Venezuela (para aqueles que desde fora defendem essa absurda possibilidade), é que um ataque ao país certamente vai ter consequências regionais graves e cuja extensão é difícil de prever, inclusive para o Brasil e todos os países que lhe fazem fronteira.

O mais curioso, é observar como a narrativa hegemônica faz com que qualquer país que demonstre ter um forte sentido de soberania enraizado em sua cultura, passa a ser ridicularizado e seus líderes tratados como loucos. O mundo parece mesmo convencido bovinamente de que o único país ao qual é permitido esse sentimento é aquele que por décadas vem tentando controlar todos os outros.  Resta saber se vamos mais uma vez assistir impassíveis a tudo isso.

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