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Análise

Por que a mídia ignora Serena Williams?

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No último sábado, 9 de julho, Serena Williams venceu a final de Wimbledon e chegou ao seu 22º título de Grand Slam de simples. Com a vitória, ela igualou o recorde de Steffi Graf e garantiu para si o posto de maior da história do tênis.  Sobre o significado do feito de Serena, Djamila Ribeiro escreveu um importante texto que vale a pena ser lido (aqui) e sobre a dimensão esportiva do feito  Andy Bull do Guardian escreveu o artigo “Quebradora de recordes incomparável, Serena é a maior que já existiu. (aqui em inglês)

 

Facebook de Serena Willians

Facebook de Serena Willians

Serena é a melhor e nem assim deixa de ser atacada. Ela cometeu o terrível crime de sair do seu lugar e jamais será perdoada, mas ao mesmo tempo vai incentivar outras a sair. Por isso acho que não devemos ligar para haters. Se Serena sendo a deusa do universo é atacada, imagina nós meras mortais. Devemos nos focar na luta para que uma mulher negra campeã no tênis não seja mais exceção, assim como na universidade e em outros espaços.

Djamila Ribeiro no Facebook

 

 

 

 

 

Verdade seja dita, “ser duas vezes melhor” não é suficiente nem pra começar a dizer o quão melhor do que todos e todas Serena novamente se tornou.  Ela é a melhor que já existiu.

Andy Bull no The Guardian

Faltando um mês para as olimpíadas, uma atleta que virá ao Rio de Janeiro torna-se a maior da história na sua modalidade. Esse é um acontecimento que merece respeito e destaque, certo?

Só que não…

Para Serena, a imprensa brasileira dedicou pouquíssimas linhas e quase nenhum destaque. Por que será?

Segue uma análise das publicações de alguns portais e blogs esportivos brasileiros na segunda feira, 11 de julho, pós-fim-de-semana de finais em Wimbledon.


 

globoesporte.com 11/07 17h21min

globoesporte.com 11/07 17h21min. Braço de Serena

Globoesporte.com – Seção de Tênis

Serena não protagoniza nenhum destaque no portal da família Marinho. Os destaques são para a ausência de Sharapova nas olimpíadas, o título masculino em Wimbledon de Andy Murray e para a premiação conjunta de Serena e Murray, com destaque para o braço musculoso da tenista. Serena ganhou Wimbledon pela sétima vez porém “(…) um dos atributos mais chamativos da número 1” são seus braços.

ESPN.com.br – Seção de Tênis

A filial brasileira da rede americana ESPN já foi referência no jornalismo esportivo. Não é mais. O destaque na página era o título de Murray e não havia na aba de destaques qualquer menção a Serena Williams.

espn.com 11/07 17h29min

espn.com.br 11/07 17h29min. Nada de Serena

Blog do FIninha. 11/07, 17h28min. q parágrafo para Serena, 4 para Murray

Blog do Fininho. 11/07, 17h28min. 1 parágrafo para Serena, 4 para Murray

Blog do Fininho

O ex-tenista Fernando Meligeni mantém um blog no portal da ESPN Brasil.  Nele publicou o post “Batalhas mentais e campeões merecidos: um resumo do que foi Wimbledon” em que abriu com uma foto de bastante destaque para campeã, mas parou por aí. No texto dedicou apenas um parágrafo para Serena Williams, quatro para Murray e três para Federer. (Serena 1 x 4 Murray)

Lancenet.com – Seção de Tênis
A aba de destaques de tênis do jornal esportivo Lance! não teve nenhuma citação a Serena Williams e, como no caso do globoesporte.com, o foco era para a punição de Sharapova.

lancenet.com 11/07, 17h42min. Nada de Serena.

lancenet.com 11/07, 17h42min. Nada de Serena.

Screen Shot 2016-07-11 at 17.05.42

tenisbrasil.com.br 11/07 15h05min. Não há TAG de busca para o nome de Serena

Tênis Brasil

O feito de Serena também não mereceu grande atenção do portal dedicado exclusivamente ao tênis. Na aba de destaque, entre “Hewitt comenta sobre a aposentadoria de Federer” e “Murray encosta em Djokovic no ranking do ano”, a única matéria que citava Serena era  “Kerber assume o número 2” onde o ranking mundial era analisado e o foco era a posição de Angelique Kerber, vice-campeã em Wimbledon. Nessa matéria, apesar de citar a permanência de Serena no topo, o nome da campeã não é sequer “tageado”.

No Blog do Chiquinho, do jornalista Chiquinho Leite Moreira e hospedado no Tenis Brasil, nada de muito diferente do encontrado em outros lugares. Um post analisando as finais de Wimbledon com um parágrafo comentando a vitória de Serena Williams e três a de Andy Murray. (Serena 1 x 3 Murray)

Blog do Chiquinho. O triplo de espaço para Murray.

Blog do Chiquinho. O triplo de espaço para Murray.

Blog do Tênis. 4 parágrafos para Murray, 3 para Serena.

Blog do Tênis. 4 parágrafos para Murray, 3 para Serena.

Pelo mapa de TAGS do blog dá pra se notar o pouco espaço destinado para a maior tenista da história comparado a outros atletas

Pelo mapa de TAGS do blog dá pra se notar o pouco espaço destinado para a maior tenista da história comparado a outros atletas

O Blog do Tenis, do jornalista José Nilton Dalcim e também hospedado no Tenis Brasil, tratou a vitória da Serena no artigo “Murray já pode pensar no número 1”. O jornalista escreveu três parágrafos para Serena e ressaltou a importância histórica do feito, para Murray foram destinados quatro parágrafos. (Serena 3 x 4 Murray)
Blog do Juca

Juca Kfouri, que sempre guardou bom espaço em seu blog para os feitos de Federer e Nadal, também não publicou nada sobre a conquista extraordinária de Serena.

Não se encontra nada no Blog do Juca sobre Serena Williams

Não se encontra nada no Blog do Juca sobre Serena Williams


Então é assim, uma mulher negra atinge o topo do esporte, torna-se uma das maiores atletas da história, a maior de todos os tempos em sua modalidade e nem assim consegue um espaço minimamente digno na imprensa brasileira. Por quê? Porque a mídia privada brasileira é racista e machista e não permite às mulheres negras nem sequer espaço digno em seus veículos para celebrarem suas vitórias, conquistas e alegrias.

Para exaltar o feito de Serena segue um vídeo feito pela BBC, a tv PÚBLICA britânica, em que Serena recita o poema STILL I RISE de Maya Angelou

 

Ainda Assim me Levanto (Maya Angelou)

tradução Francesca Angiolillo

Você pode me inscrever na história
Com as mentiras amargas que contar
Você pode me arrastar no pó,
Ainda assim, como pó, vou me levantar

Minha elegância o perturba?
Por que você afunda no pesar?
Porque eu caminho como se eu tivesse
Petróleo jorrando na sala de estar

Assim como a lua ou o sol
Com a certeza das ondas no mar
Como se ergue a esperança
Ainda assim, vou me levantar

Você queria me ver abatida?
Cabeça baixa, olhar caído,
Ombros curvados como lágrimas,
Com a alma a gritar enfraquecida?

Minha altivez o ofende?
Não leve isso tão a mal
Só porque eu rio como se tivesse
Minas de ouro no quintal

Você pode me fuzilar com palavras
E me retalhar com seu olhar
Pode me matar com seu ódio
Ainda assim, como ar, vou me levantar

Minha sensualidade o agita
E você, surpreso, se admira
Ao me ver dançar como se tivesse
Diamantes na altura da virilha?

Das choças dessa história escandalosa
Eu me levanto
De um passado que se ancora doloroso
Eu me levanto
Sou um oceano negro, vasto e irrequieto
Indo e vindo contra as marés eu me elevo
Esquecendo noites de terror e medo
Eu me levanto
Numa luz incomumente clara de manhã cedo
Eu me levanto
Trazendo os dons dos meus antepassados
Eu sou o sonho e as esperanças dos escravos
Eu me levanto
Eu me levanto
Eu me levanto

 

 

 

 

 

 

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6 Comments

6 Comments

  1. Felipe Lobo Batista

    14/07/16 at 7:59

    Eu concordo, de maneira geral, que há muito menos espaço para o esporte feminino. Só discordo do recorte que fizeram aqui. A final feminina foi no sábado. Segunda-feira já é muito tempo pra um destaque continuar lá. Ainda mais tendo outra final no domingo. É normal que não esteja mais. Teria que ser feita essa análise no domingo, dia que amanheceu com Serena campeã e recordista.

    • Caetano Tola Biasi Cae

      14/07/16 at 15:39

      Olá Felipe, obrigado pelo comentário. De fato o recorte temporal pode ser usado como argumento para que os destaques não estivessem mais na capa dos portais porém ele é muito pouco para justificar o pouco espaço dado. Veja por exemplo o tom dado nos blogs dos especialistas em seus textos de síntese do torneio, o espaço de Serena é muito menor do que o de Murray. O feito de Serena foi histórico, um dos maiores de todos os tempos no esporte e era de se esperar mais espaço para sua celebração.

      Um abraço!

  2. Suyene

    14/07/16 at 22:44

    Acho que a Muguruza sofreu do mesmo desdém da imprensa brasileira quando foi a campeã de Roland Garros e alçou a segunda colocação no Rankig. Acompanho as transmissões de tênis nos canais fechados e percebo que os comentários dos jogos das tenistas, perpassa muito mais pelo lado da força (ou falta de), alguma beleza e a questão psicológica. Pouco se fala das estratégias de cada uma, pontos fortes (como é demasiadamente citado no tênis masculino). Penso que a questão é muito mais machista que racista. Tanto assim, que Tsonga, Kyrgios, Monfils são sempre elogiados pela destreza no backhand, forehand, saque voleio e, por aí, vai.

  3. Higor Assis

    15/07/16 at 8:41

    Que poema lindo!

  4. Raul Quintanilha

    18/07/16 at 8:46

    a pior tradução que já tive o desprazer de ler

  5. Eduardo

    27/02/17 at 20:57

    Apesar de todas essas conquistas, infelizmente a mídia racista e sexista se omitem em dar o devido valor. Não se conformam em ver uma mulher negra com personalidade, se sobressair em um esporte cujo domínio são de brancos. Tanto na ESPN como no Band Sports, os comentaristas se referem à Serena Williams como “Serenão”, por ela ser forte. Percebem a falta de respeito nisso? É como se uma mulher para ser forte precisasse ser colocada num padrão. No torneio de Roland Garros deste ano, no qual Serena foi campeã, um ex-tenista como comentarista do programa atualmente extinto denominado “Ace Band Sports” da Band Sports, foi fortemente criticado pelos telespectadores por dizer que Serena deveria desistir porque estava passando mal durante o jogo.
    E a chamou de atriz, fingida, mau exemplo. Serena estava visivelmente passando mal, mas mesmo assim lutando (há muita coisa em jogo, além do jogo, como patrocínio, sinal de TV) e a aquele comentarista se sentindo no direito de insultá-la. Sabemos que essa conduta não procede do ponto de vista ético. Devemos respeitar a atleta, considerando o esforço que não só ela como também sua irmã Vênus, se propuseram em dedicar nesse esporte para chegar até onde conseguiram, pois é notório que não foi fácil.
    O fato é que os números de Serena à disposição de todos, confirmam que sem dúvida ela é a melhor tenista de todos tempos.
    Por oportuno, achei necessário listar aqui algumas novas façanhas e recordes que Serena atingiu que encontrei observando sua carreira por conta própria:
    – Na história do tennis, incluindo WTA ou ATP, a Serena ao lado de sua irmã Vênus, são as duas únicas da mesma família atingirem FINAL de simples em Grand Slam juntas. Elas não só conseguiram esse feito, como já fizeram 9 VEZES.
    Na minha opinião, a Serena , a Sharapova e a Azarenka são as melhores tenistas em atividade no circuito feminino.
    – Serena Willians é a única do circuito que ganha em vitórias no Head to Head de qualquer jogadora. Para se ter uma idéia desse feito, a segunda a ganhar de qualquer jogadora é a Sharapova (que só perde em número de vitórias nos confrontos em que ela tem com a Serena como sua rival). Entre elas a Serena ganha em 19 vitórias contra apenas duas da Sharapova lá em 2004. Ou seja, a Sharapova não ganha da atual Líder do Ranking ha 15 anos. A atual número 1 do mundo também ganha da Azarenka em 17 vitórias com somente 4 da bielo russa. A Azarenka hoje é a terceira que mais ganha em head to head no circuito feminino.
    Serena, assim como a Venus, têm em seu histórico, vitórias contra Steff Graff ( Indian Wells em 99) entre outras.
    – a atual número um do mundo já ganhou 4 Grand Slams consecutivos por duas vezes na carreira.

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Análise

“O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim”

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Por Nivia Machado

A Frase original de Augusto Comte é a inspiração que veio do positivismo para a criação do lema da nossa bandeira nacional: “Ordem e Progresso”. Em tempos de ares nacionalistas advindos dos Jogos olímpicos, aqui no Brasil, é bem propício fazer uma reflexão sobre amor, ordem e progresso na Olimpíada do Rio, sem entrar no aprofundamento da corrente filosófica e no contexto social do século XIX.

A festa começou com a encenação da chegada das caravelas portuguesas, a recepção dos indígenas, a imigração forçada dos negros. Depois mostraram o polêmico e maior grande feito brasileiro, o 14 Bis. A beleza de Gisele Bundchen, que arrancou suspiros, ao desfilar sobre os contornos virtuais de Niemeyer deixando o mundo inteirinho cheio de graça. Nesse momento formou um coro de vários “Tons Jobins” no Maracanã produzindo um ambiente de que tudo ficou mais lindo por causa do amor.

Quando o filósofo francês, Auguste Comte, criou a frase que antecedeu o lema de nossa bandeira nacional estava disposto a colaborar com a criação de uma ciência que refletisse sobre o individualismo. A função era compreender as condições constantes e imutáveis da sociedade, chamado por Comte de “Ordem”, e também, as leis que regiam seu desenvolvimento, o “Progresso”. Nesse sentido, o “Amor” deve coordenar o princípio de todas as ações individuais e coletivas, essa é a premissa para tudo na vida, inclusive na política.

Muito mais que uma festa de esportes mundiais, a olimpíada é um fazer político, um evento de relação internacional em que o anfitrião mostra aos convidados o que tem de melhor. Muitos governos utilizaram dos jogos olímpicos para fazerem propagandas de seus países. Um exemplo foi em 1936, na Alemanha, quando Hitler quis criar a imagem de um país unido, forte e tolerante. Porém, a violação dos direitos humanos na Alemanha, enraizada no ódio, fez com que a população de outros países percebesse a contradição e criasse uma campanha de boicote à Olimpíada de Berlim, mas o movimento não deu certo e a propaganda de Hitler aconteceu.

Mas por que falar de Hitler, Olimpíada de Berlim e boicote? O Texto foi do “doce balanço a caminho mar” para o “Heil Hitler” em um piscar de linhas. A reposta não é única. De início um evento que propõe a integração dos povos pode esconder estratégias pouco amorosas. O “Amor” que precede o lema da bandeira do Brasil deve fazer parte da nossa política. E como uma olimpíada é um evento político, o amor deve coordenar todas as ações de construção e desenvolvimento desse megaevento. O conceito e prática do amor do século XIX podem ser diferentes dos atuais. Na época, o movimento republicano tinha como representantes homens da elite intelectual. Hoje, a nossa república deve defender mais inclusão, representatividade e democracia. Nesse sentido, o enfrentamento à violação dos direitos humanos deve ser o ponto de partida para todas as questões políticas e sociais da Olimpíada do Rio.

Excluídos do roteiro que conta a história do nosso país e sem motivos para comemorar, os antigos moradores da antiga Vila Autódromo foram removidos de suas casas para dar lugar a equipamentos olímpicos e para a construção do Parque Olímpico. Também faltou amor no quesito direito ao trabalho digno. O Ministério do Trabalho encontrou na Vila Olímpica 630 trabalhadores sem registros na carteira, entre eles pessoas cumprindo jornada de trabalho de 23 horas.

Para muitas vozes que não puderam fazer o coro das belas músicas no Maracanã, porque estavam excluídas dos direitos aos bens públicos, da festa e dos noticiários da grande mídia, o amor, a ordem e o progresso são apenas palavras escritas em uma bandeira desbotada. Também foi excluído do roteiro, o direito de manifestar. A polícia truculenta que invade estabelecimentos bate em estudantes, trabalhadores, toma cartazes de cidadãos que querem dar os seus “fora Temer”, não pode dizer que está mantendo a Ordem. Não é Ordem porque não dá espaço para o Progresso e não sabe o que é Amor. É necessário que o povo dê um novo banho de tinta em nosso símbolo nacional e escreva com as próprias mãos o lema da Bandeira da República Federativa do Brasil.

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Análise

A serviço do golpe, Revista Veja declara guerra aos professores

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Se existem pessoas com dúvidas sobre a extensão e finalidades do golpe em curso no Brasil, a leitura do artigo “Professor ganha mal?”, de autoria de Claudio de Moura Castro, publicado na Revista Veja de 27 de julho, ajuda a entender o que está por vir se o governo golpista de Michel Temer for mantido no poder.

Este artigo [de Moura Castro] não vem por acaso. Está sintonizado com as medidas que o governo interino vem tomando em relação à educação brasileira. Mesmo em uma revista como a Veja, notoriamente desqualificada e desqualificadora, o que lemos é totalmente descabido e enojante.

O senhor Claudio de Moura Castro, como os demais adversários dos professores e da educação não conhece nem vivencia a realidade da escola pública e não tem compromisso com a maioria da população. Para ele o professor não precisa ser bem remunerado para ministrar aulas de qualidade.

 

Querem acabar com o Piso Salarial Profissional Nacional

No momento em que o presidente interino Michel Temer, governadores e prefeitos descompromissados com a educação atacam o Piso Salarial Profissional Nacional (uma conquista de dois séculos de lutas dos professores sancionada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva), o articulista da Veja diz que os salários da categoria “são até competitivos”, se comparados com outras profissões. Ele envereda pela conhecida cantilena da existência de “bons” e “maus” professores (como se os resultados da aprendizagem dos estudantes dependessem única e exclusivamente de qualidades intrínsecas a cada professor e professora), o que casa como uma luva na proposta de Temer de instituir uma espécie de “bônus” nacional para substituir a piso salarial. Ocorre que bônus não se incorpora aos salários e nos proventos da aposentadoria. Os professores, que já recebem salários baixíssimos, teriam aposentadorias ainda mais miseráveis.

    

O professor ganha mal!

A argumentação do artigo ataca também a meta 17 do Plano Nacional de Educação (contemplada no Plano Estadual de Educação de São Paulo e de demais Estados e Municípios), pela qual o professor deve receber remuneração equivalente à dos demais profissionais com formação de nível superior.

Estudos realizados em 2015 pela subseção do DIEESE na APEOESP indicaram que a defasagem da média salarial dos professores no estado de São Paulo em relação aos demais profissionais com formação de nível superior era de 75,33%. Em nível nacional, considerando as diferentes bases salariais, nos diferentes entes federados, a defasagem é hoje superior a 50%. Os dados, portanto, contradizem o artigo da Veja.

Não há o que tergiversar: o professor brasileiro ganha muito mal. Mais ainda quando consideramos o seu papel social. O professor não é qualquer profissional na nossa sociedade: ele forma todos os demais profissionais. Médicos, engenheiros, físicos, economistas, jornalistas e todos os profissionais com formação adequada passaram pelos bancos escolares. Nossa profissão, além disso, é uma das mais desgastantes, sobretudo nas escolas públicas. Como, então, podem ser considerados “privilégios” direitos devidos a uma categoria com tamanha responsabilidade social, mal remunerada e submetida a duríssimas condições de trabalho no nosso país?

Retomando a linha que vigorou durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e que ainda vigora no estado de São Paulo, o artigo culpabiliza exclusivamente os professores pelas deficiências de aprendizagem dos estudantes. Como não é educador, não conhece a escola pública e não possui conhecimento suficiente sobre educação, o autor ignora que sistemas de avaliação como o PISA, o ENEM e até mesmo o SARESP já incorporam ou consideram incorporar variáveis sócio-econômicas relacionadas às comunidades nas quais as escolas estão inseridas e também dados sobre as condições estruturais das unidades escolares; sobre as políticas educacionais vigentes; entrevistas com professores, estudantes e pais e outros fatores que interferem no rendimento escolar.    

Veja ataca professores e defende os privilegiados

Realizando uma verdadeira criminalização dos direitos do professor, o artigo de Veja investe contra a nossa aposentadoria especial, outro alvo dos ataques de Michel Temer. Este direito foi uma conquista da nossa categoria e será ferrenhamente defendido. Após 25 anos de trabalho em salas de aula superlotadas, sem condições ambientais, em escolas marcadas pela violência, autoritarismo dos gestores e baixo rendimento escolar em consequência de fatores aos quais me referi anteriormente, a aposentadoria especial é uma necessidade real e uma obrigação do Estado e da sociedade para as professoras e os professores. Por que o autor não critica, por exemplo, o presidente interino Michel Temer, que se aposentou como Procurador do Estado aos 55 anos e percebe um rendimento superior a R$ 30 mil mensais dos cofres públicos?

Sem argumentos sólidos para desqualificar os profissionais da educação pública, ele utiliza uma conta maluca, na qual considera todos os direitos potenciais de um professor (muitos deles inalcançáveis para a maior parte da nossa categoria), para forçar a conclusão de que um professor trabalha apenas 19 anos até se aposentar!. Em outro cálculo mentiroso, onde mistura licenças para cursos de mestrado e doutorado com candidaturas a vereador e licenças-maternidade, o inacreditável senhor chega a dizer que um professor poderá se aposentar após trabalhar apenas 11 anos e meio!!

Desvalorização causa adoecimento

Como tantos outros neoliberais, o autor do artigo repete como um mantra que os professores adoecem e faltam muito. Sim, é verdade, somos uma categoria adoecida. Nossas pesquisas apontam que boa parte dos professores são afastados do trabalho por problemas emocionais, doenças respiratórias, estresse, problemas nas cordas vocais e outras doenças profissionais, ou seja, diretamente resultantes de seu trabalho duro, cotidiano, desgastante nas salas de aula. O que propõe o senhor Claudio de Moura Castro? Prevenção, melhores condições de trabalho, humanização dos espaços escolares, políticas de valorização profissional? Não! Propõe arrocho e corte de direitos.

De qualquer ponto de vista que se olhe o artigo é uma declaração de guerra aos professores e professoras e a toda a comunidade das escolas públicos do nosso país. Ele está perfeitamente articulado a uma política que visa o corte de gastos na educação e demais áreas sociais, como apontam as medidas encaminhadas pelo governo interino ao Congresso Nacional. Fique claro, portanto, que estamos no campo de batalha e não nos deixaremos derrotar!

Maria Izabel Azevedo Noronha
Presidenta da APEOESP

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Novo algoritmo do Facebook: Nada pessoal, apenas negócios

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O empresário e programador norte-americano Mark Zuckerberg construiu uma das plataformas de redes mais completas e aceitas pela população mundial. O Facebook conseguiu conjugar família, interesses políticos, cultura, dentre outros temas, seja nos perfis, nas páginas ou nos grupos.

Em um discurso sobre meritocracia, o idealizador (ou não) colocou uma rede livre, em que os usuários pudessem interagir e visualizar os conteúdos mais importantes naquele momento, formando a chamada linha do tempo. Porém, essa linha do tempo se tornou um grande negócio.

Segundo especialistas, a proposta do novo algoritmo consiste em identificar os interesses particulares de cada pessoa. Os amigos e familiares priorizados no topo do feed serão aqueles com quem o usuário mais interage. A ideia é que todos os posts de contatos “importantes” não sejam perdidos enquanto você estava fora.

Porém, os conteúdos de página entram em sua “bolha” de forma integrada aos seus interesses caso sejam pagos.

Enfim. Ou você curte a página e passa a dar prioridade no acompanhamento daquelas informações, ou terá dificuldade para visualizar aqueles conteúdos.

Em poucas palavras, as empresas deixaram de financiar grandes websites e patrocínio de rádio e TV e perceberam que, com pouco dinheiro em relação ao que antes era gasto, atingiam mais pessoas com diagnóstico e orientação do conteúdo impulsionado. Nessa perspectiva, o Facebook, para lucrar mais hoje, obriga redes consolidadas a patrocinar seus conteúdos ou entrarão no ostracismo das “bolhas” estabelecidas.

Se era pela meritocracia, e se o Facebook quer se colocar como um grande negócio, então que deixe as empresas pagarem a conta e continue a valorizar os milhares de conteúdos livres que construíram suas redes de forma orgânica, por meio de bons textos, vídeos e fotos.

Caso contrário, novas plataformas virão.

Dúvida? Não precisamos te contar a história do Orkut.

Fotografia por Jim Merithew/Wired.com

Fotografia por Jim Merithew/Wired.com

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