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Educação

REITOR DA UFSC É LEVADO AO SUICÍDIO POR PROCESSO CALUNIOSO

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Por Raquel Wandelli, dos Jornalistas Livres, com fotos de Jair Quint/Agecom/UFSC

Luiz Carlos Cancellier, reitor da UFSC

O reitor da Universidade Federal de Santa Catarina foi suicidado por um processo calunioso e espetacularizado de criminalização pela Polícia Federal para atingir a instituição. Esse é o entendimento que unifica grande parte da opinião da comunidade universitária sobre a morte do reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo, que está sendo velado desde as 17 horas desta segunda-feira (2/10), no hall da reitoria, sob clima de forte revolta e comoção.

Impedido de entrar na universidade desde o dia 15 de setembro, Cancellier foi encontrado morto às 10h30min desta segunda, no piso térreo do Shopping Beira-Mar. A ideia do suicídio por imposição de sofrimento moral insuportável é também sustentada pelo irmão Júlio Cancellier. Segundo ele, o reitor deu todos os sinais em público de que estava fortemente deprimido e se sentindo exilado, mas não pôde receber o apoio dos amigos porque a juíza responsável pela primeira ordem de prisão mantinha-o incomunicável, além de impor-lhe prisão domiciliar no período da noite.

“Essa foi a grande mágoa dele: estava se sentindo humilhado e vexado e ainda privado do convívio com as pessoas”, afirmou Júlio, o único, além do irmão Aciolli, com quem ele podia manter contato.

Alvo da operação Ouvidos Moucos, que investiga denúncias de desvio de verbas no Programa Universidade Aberta, ocorridas pelo menos dez anos antes de sua gestão, Cancellier, que assumiu em maio de 2016, deixou um bilhete onde explicita as razões do seu suicídio, que está sendo examinado pela Polícia Federal. Mas já se sabe que, no bilhete encontrado ao lado do corpo, ele anuncia que começou a morrer no dia de sua prisão, ocorrida em 14 de setembro.

Um fato emblemático é que a morte ocorre na sequência da campanha federal Setembro Amarelo, cujo lema é a prevenção do suicídio e valorização da vida. Aos 59 anos, Cancellier era cardíaco e se declarou vítima de depressão após as humilhações e abusos de poder que sofreu no episódio de sua detenção no Presídio de Florianópolis, na ala de alta segurança, no dia 14 de setembro. Em palestras, anúncios institucionais e amplo material de divulgação, a campanha chama a atenção das pessoas para os sinais de alerta que alguém em sofrimento emocional pode indicar, como risco de suicídio. E também adverte que o tabu em torno do tema contribui muito para o aumento dos casos.

Para a professora Maria Borges, pró-reitora de Cultura da UFSC, o artigo que o reitor escreveu para o jornal O Globo há quatro dias, declarando-se em um exílio físico e moral insuportável, era um claro pedido de socorro.

“E, no entanto, nós estávamos impedidos de nos aproximar dele porque todos os que fizessem contato passariam a ser suspeitos.”

“Do dia para a noite, a reputação de uma universidade respeitada em todo o país como centro de excelência foi jogada na lama e todos nós que ocupávamos cargos de direção passamos a ser olhados como membros de uma quadrilha”, desabafa a professora Silvana de Gaspari, vice-diretora do Centro de Comunicação e Expressão. O suicídio do reitor e o trauma devastador que está causando à instituição poderia claramente ter sido evitado se ele tivesse recebido o afeto dos amigos, acreditam Maria Borges e Silvana.

 

O jornalista José Hamilton Ribeiro, que estava na UFSC para abrir a Semana Acadêmica do Curso de Jornalismo, afirmou que talvez tenha vivido muito tempo para assistir à espetacularização e ao sensacionalismo na mídia de um processo de investigação da Justiça Federal que deveria correr em sigilo até que a apuração fosse concluída. Afirmou que o reitor foi vítima desse estado policialesco que tende a arruinar a reputação de pessoas muitas vezes inocentes, transformando suspeitos em condenados.

Entre as pessoas que começaram a lotar o velório, reina a interpretação de que o episódio da prisão arbitrária e abusiva do reitor, conforme manifestação de diversas entidades, incluindo a OAB e a Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior), tem um cunho político de desmoralização das Universidades Federais.

“Por trás dessa prática de jogar a reputação de pessoas e instituições idôneas aos leões está o projeto de privatização do ensino superior”, considera Gerônimo Machado, professor aposentado de Economia.

O professor de Biologia Milton Muniz e a professora de história, Ana Brancher, compartilham da mesma avaliação. “Esses ataques buscam enfraquecer nossas instituições para torná-las mais vulneráveis à privatização”, reforça Ana. Na análise do professor Eduardo Meditsch, do Curso de Jornalismo, a Polícia Federal percebeu uma divergência interna entre a administração atual e o corregedor instituído pela gestão anterior e aproveitou a brecha para minar a imagem da instituição como um todo.

É a segunda investida da Polícia Federal contra a UFSC. A primeira ocorreu em 2014, no chamado Levante do Bosque, quando vários estudantes foram presos e feridos por bombas vencidas de efeito moral e depois processados, tendo como estopim a denúncia de dois cigarros de maconha encontrados na pasta de um estudante por policiais a paisana.

Além de jornalista, Cancellier era formado em direito, ex-diretor do Centro de Ciências Jurídicas e autor de vários livros na área, na qual tinha mestrado e doutorado. Foi um ativo líder estudantil na juventude. Separado, deixou um filho de 30 anos, também professor universitário. O caixão com seu corpo já chegou fechado à reitoria e foi recebido por uma multidão em prantos.

Na terça-feira, às 9 horas, a comunidade universitária fará uma caminhada em memória do professor morto, perfazendo seu caminho diário do Centro de Ciências Jurídicas até a Reitoria. Às 11 horas, haverá uma sessão especial em sua homenagem no Conselho Universitário, no auditório Garapuvu. O enterro ocorrerá às 16 horas no Jardim da Paz, no bairro Itacorubi. A vice-reitora Alacoque Lorenzini Erdman vai assumir a gestão da universidade até o final do mandato, em 2020, conforme o chefe de gabinete Áureo Moraes. Na instituição, as atividades acadêmicas estão suspensas até quinta-feira (5/10).

Durante o velório, os familiares de Cancellier receberam rituais de lamento e de bênção do povo Guarani de Palhoça. As lideranças indígenas exaltaram que ele foi o primeiro reitor a visitar sua aldeia no Morro dos Cavalos. “Por isso, hoje é como se nosso povo tivesse perdido seu pai”.No dia 5 de outubro, Cao, como era chamado, participaria de uma banca de mestrado, por autorização da 1ª Vara Federal de Florianópolis. No entanto, depois de preso, só retornou morto à universidade à qual dedicou-se a vida inteira.

 

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2 Comments

2 Comments

  1. Amanda de Paiva Lemos

    05/10/17 at 15:38

    Muito triste como as pessoas ainda não estão preparadas para lidar com a depressão. Esse tabu já passou da hora de acabar. É preciso ser mais sensível e abandonar esse discurso do “bandido bom é bandido morto” porque você nunca sabe quando está acusando uma pessoa injustamente.
    Deus de força a família e que a alma dele descanse em paz.

  2. Ana Cristina vieira

    05/10/17 at 16:53

    A tristeza, a dor, a angústia que sentimos, por perder um homem bom, humilde, honesto, trabalhador, conciliador, idealista, inteligente, num mundo tão ignorante, tão extremista, maledicentes, é infinita. Nosso alento fica nas pessoas de bem que o conheceram, e os que sabiam do seu trabalho e sua vida íntegra, e tantos outros que descobriram a verdade é hoje pedem justiça, é o mínimo pois sua vida nunca voltará, e a dor de perde lo de forma tão injusta também. Queremos que o corregedor, delegada, juíza e todos os jornais e meios de comunicação assumam seus enganos, para falar o mínimo, e da mesma
    forma que espetacularizaram a mentira que falem a verdade.

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Educação

Há dois meses, uma escola e seus sonhos foram ao chão

Documentário conta a história da Escola Popular Eduardo Galeano

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Por Lucas Bois e Raquel Baster*

A escola popular Eduardo Galeano foi o primeiro local a ser destruído durante despejo violento que começou no dia 12 de agosto deste ano, pela Polícia Militar, e que se seguiu por três dias, no acampamento quilombo Campo Grande, município de Campo do Meio, em Minas Gerais. Após dois meses do despejo, é lançado o curta documentário “Sonhos no chão, sementes da educação” com depoimentos de educandos, educadores e representantes do setor de educação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) sobre a situação atual do acampamento.

“Ser analfabeto é a gente ficar no escuro e uma pessoa no escuro, ela não é ninguém”. Essa frase dita no documentário por Adão Assis Reis, explica a importância do acesso à educação contextualizada para alcançar a luz do conhecimento. Aos 59 anos, ele se mostra pronto para voltar à sala de aula assim que a escola for reconstruída. Muitos outros trabalhadores e trabalhadoras rurais poderiam ter a chance de seu Adão, mas os dados vem demonstrando o contrário. Um levantamento de dados do Censo Escolar de 2019, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), sobre o número de estabelecimentos de ensino na Educação Básica apontou que, entre 1997 e 2018, foram fechadas quase 80 mil escolas no campo brasileiro. A Escola Popular Eduardo Galeano entra para a estatística não só como mais uma, mas como exemplo de uma política de fechamento de escolas do campo que acontece há anos no país. 

Desenho de uma criança do acampamento Quilombo Campo Grande, ao relembrar o dia do despejo e derrubada da Escola Eduardo Galeano. Frame do documentário “Sonhos no chão, sementes da educação” (2020).

O MST chegou a lançar uma campanha de denúncia em 2011, intitulada “Fechar escola é crime”. E em 2014 foi aprovada a lei (12.960/2013) que obrigou a realização de consulta às comunidades antes do fechamento de escolas do campo, indígenas e quilombolas. Mas parece que não surtiu muito efeito. A própria escola Eduardo Galeano foi fechada pelo governo de Minas Gerais no início de 2019, logo após outra tentativa de desejo no assentamento quilombo Campo Grande em 2018 e reaberta pela resistência do Movimento. “Quando começou o governo de Romeu Zema (Novo) nós recebemos a triste notícia que a Escola seria fechada. E a justificativa era poucos educandos. Eram duas salas aonde chegamos a ter 75 pessoas matriculadas. E, na maioria das vezes, nós mesmos que mantivemos a escola funcionando com nossos recursos porque mesmo sendo uma escola reconhecida, não era garantida pelo Estado”, explica Michelle Capuchinho do setor de Formação do MST.  

Ciranda das crianças do acampamento Quilombo Campo Grande, Campo do Meio (MG).
Frame do documentário “Sonhos no chão, sementes da educação” (2020).

O curta documentário descreve como o despejo e a destruição da Escola impacta diretamente inúmeras famílias, sobretudo crianças e adolescentes. Isso somado a um período onde o isolamento social e medidas de proteção à saúde deveriam ser prerrogativas à gestão estadual no enfrentamento à Covid-19. O MST alega que o despejo foi feito de forma ilegal, já que o processo judicial abrangia 26 hectares inicialmente e depois, sem justificativa e transparência das informações, foi ampliada para 53 hectares no último despacho da Vara Agrária que culminou no despejo de 14 famílias. Cerca de 450 famílias permanecem na área da usina falida Ariadnópolis, da Companhia Agropecuária Irmãos Azevedo (Capia), que encerrou as atividades em 1996.

O filme completo está disponível no YouTube: https://youtu.be/iT1kP7jTO0E

Ficha técnica
Curta-documentário: “Sonhos no chão, sementes da educação”
Imagens e edição: Lucas Bois
Roteiro: Raquel Baster e Lucas Bois
Duração: 22 minutos
Ano: 2020

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Educação

Volta às aulas é proibida pela Justiça em Colégio Militar de Belo Horizonte

Funcionários e inúmeros pais de alunos são contrários à retomada das aulas na instituição do Exército

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Aloísio Morais

A Justiça Federal deu um chega-pra-lá nos militares do Colégio Militar de Belo Horizonte e proibiu o retorno às aulas presenciais a partir da próxima segunda-feira, 21, a exemplo do que outras instituições do Exército pretendem fazer no país. A instituição tem cerca de 750 alunos, 42% do sexo feminino. Dezenas de pais de alunos são contrários à volta às aulas, mesmo com uma série de protocolos a serem adotados. Durante a ditadura, as instalações da escola abrigaram presos políticos, que foram vítimas de tortura no local.

A retomada das atividades escolares na unidade do Exército provocou discussões tanto na Prefeitura de Belo Horizonte quanto no Ministério Público Federal e, como medida de segurança, o Sindicato dos Trabalhadores Ativos, Aposentados e Pensionistas do Serviço Público Federal (Sindsep-MG) entrou na Justiça com um pedido em tutela de urgência para continuidade do regime remoto de aulas, o que foi acatado com a fixação de uma multa de R$ 5 mil por dia, caso ocorra descumprimento da determinação.

Colégio do bairro Pampulha foi usado para abrigar presos políticos durante a ditadura

Sem prejuízo

Na quarta-feira, 16, a direção do Colégio Militar encaminhou às famílias um comunicado informando sobre o retorno obrigatório às aulas na unidade, exceto para os alunos que comprovassem pertencer a grupos de risco para o novo coronavírus. Porém, para o sindicato, o retorno não é necessário, uma vez que os alunos não estariam sendo prejudicados pelo sistema de aulas on-line. Pela avaliação dos professores, os estudantes estão respondendo bem às aulas.

“Nós estamos conversando com os professores há mais de um mês, logo que eles perceberam que seriam convocados para um planejamento presencial das atividades e que incluía desde então o retorno às aulas na própria escola. Nós entendemos que não é necessário um retorno presencial quando tudo pode ser feito remotamente. Sabemos que a cidade está em processo de reabertura, mas achamos que não há necessidade de colocar mais pessoas nos ônibus e nas ruas se os alunos estão respondendo bem às aulas remotas. As aulas estão tendo qualidade”, ressaltou a diretora do Sindicato, Jussara Griffo, ao jornal O Tempo.

Segundo Jussara, o Colégio Militar tinha determinado que retornariam apenas aqueles funcionários que não compõem grupos de risco para a pandemia do novo coronavírus, mantendo em regime remoto, portanto, aqueles com idades superiores a 60 anos e portadores de comorbidades. “Se algumas pessoas permaneceriam em casa, entendemos que o trabalho pode ser mantido remotamente, então não há necessidade de retornar também os outros. Para quê colocar alunos em risco, famílias e professores? Se os alunos estão respondendo bem às aulas remotas, podemos mantê-las”, declarou.

O comunicado feito pelo colégio indicava que haveria um revezamento entre turmas e a adoção de medidas sanitárias relacionadas à Covid-19 para garantir a segurança de estudantes, funcionários e familiares. O retorno contradiz as políticas municipal e estadual que ainda mantêm as aulas suspensas nas redes pública e particular de Minas Gerais. Autoridades da Prefeitura de Belo Horizonte declararam nessa sexta-feira, 18, que poderia procurar a Justiça para pedir a proibição da retomada do ano na unidade militar. Em uma mesma direção, o Ministério Público Federal determinou que o diretor do colégio, o coronel Marco José dos Santos, explicasse à Justiça com um prazo máximo de 24 horas quais estudos técnicos e protocolos de segurança justificariam o retorno às aulas presenciais.

Barbacena


Desde o dia 26 de maio mais de 200 alunos da Escola Preparatória de Cadetes do Ar (Epcar) em Barbacena, no Campo das Vertentes, em Minas, testaram positivo para Covid-19. No dia 22 de junho, o Ministério Público Federal emitiu recomendação ao diretor de Ensino da Aeronáutica, major-brigadeiro do Ar Marcos Vinícius Rezende Murad, e ao comandante da Escola Preparatória de Cadetes do Ar, brigadeiro do Ar Paulo Ricardo da Silva Mendes, para suspender imediatamente todas as aulas e demais atividades acadêmicas presenciais.
A Epcar é uma escola de ensino militar sediada em Barbacena que admite alunos de idade entre 14 e 18 anos por meio de concurso público. No local, estudantes de várias cidades de todo o Brasil vivem em regime de internato e, por isso, dormem em alojamentos e têm aulas em horário integral.

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Cotas

Única vereadora preta de Natal celebra cota do fundo eleitoral para candidaturas negras

Divaneide Basílio (PT) acredita que a decisão do Tribunal Superior de Eleitoral, que determina distribuição proporcional do fundo eleitoral e partidário para candidaturas negras vai incentivar a participação de mais negros e negras na política

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Da agência Saiba Mais

O Tribunal Superior Eleitoral determinou que a partir de 2022 os fundos partidário e eleitoral terão que ser usados de forma proporcional para as candidaturas negras. A decisão é estendida também para o uso do tempo no rádio e na TV das campanhas.

O posicionamento do TSE é fruto de uma consulta feita pela deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ), que solicitou a destinação de 50% da verba para candidaturas negras, uma vez que conforme dados do IBGE o Brasil tem 55% da população nesse recorte.

A medida foi anunciada pelo presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, e tem a intenção de reduzir o desequilíbrio na participação eleitoral e no financiamento de campanhas das candidaturas de negras e negros. Essa deliberação se soma à determinação de 2018, que obriga o repasse de percentual fixo de 30% do fundo eleitoral para candidaturas de mulheres.

A subrepresentação das mulheres nos espaços de poder do Brasil, e em especial das mulheres pretas, é uma realidade. As mulheres são 51% da população brasileira, mas governam apenas 12% das prefeituras. Já as mulheres pretas administram apenas 3% dos municípios mesmo representando um contingente de 27% da sociedade.

E mesmo as cidades governadas por mulheres são proporcionalmente menores do que aquelas que contam com homens na chefia do Executivo. Apenas 7% da população no país moram em municípios administrados por mulheres, brancas ou pretas. Do total de prefeituras governadas por mulheres, 91% são de municípios com até 50 mil habitantes

Os dados estão disponíveis para consulta pública e foram divulgados pelo Instituto Alzira, organização que desenvolve ferramentas para contribuir com o aumento na participação das mulheres na política.

O parlamento de Natal é um exemplo desse desequilíbrio e subrepresentação. Das 28 cadeiras, apenas uma é ocupada por uma mulher preta. Não bastasse ser a única, a cientista social Divaneide Basílio (PT) também é a primeira vereadora negra da história da Câmara Municipal de Natal.

Para ela, a decisão do TSE deve garantir maior representatividade nos parlamentos:

– Acompanhamos com lupa esse debate, esse tema é algo para nós muito significativo porque vai garantir a ampliação da representatividade. Uma parlamentar como a Benedita da Silva (PT-RJ) provocando esse debate só reforça que a representatividade importa e que nós podemos disputar em condições de igualdade. Porque essa é uma pauta de todo o país. Eu sou a única negra em Natal, mas na maioria dos estados também é assim”, destaca.

Divaneide comemora e compara a decisão do TSE válida para 2022 com a obrigatoriedade do repasse de 30% para as candidaturas femininas.

– O processo, apesar de lento, já representa para as mulheres um avanço. Uma mudança de postura, com isso mais mulheres estão percebendo que poderiam se candidatar, tem melhores condições pra isso. Não é fácil conciliar a vida doméstica com o trabalho. E é uma mudança que nós, no PT, já iniciamos com o projeto Elas por Elas, garantindo formação. Lançamos esse projeto dm 2018 e hoje já é uma realidade e tem ajudado a nos fortalecer. No Rio Grande do Norte o Elas por Elas ajudou na capacitação das mulheres, contribuiu com o planejamento da campanha e aumento o nível de debate”, disse.

Além da questão financeira, a parlamentar que tentará a reeleição em 2020 acredita que a decisão do TSE estimula o envolvimento da população negra do debate político. O próprio Instituto Alzira reconheceu o avanço já notado em 2018 embora a subrepresentação seja latente.

Divaneide não acredita que haverá uma disputa por mais espaço entre candidatos negros e candidatas negras. A pauta antirracista, segundo ela, vai unir o candidatos.

– Vai ser bom pra todo povo negro. A pauta antirracista é de todo mundo, negro e negra. Nós mulheres negras estamos fazendo um debate para aprimorar o gênero de classe e raça. Vamos fazer um Elas por Elas com recorte de mulheres negras. Essas interfaces não são para colocar um grupo em superioridade, mas para mostrar que aquele grupo representa mais de uma identidade”,

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