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Florianópolis

Quilombo resiste à violência em área turística da Ilha de Santa Catarina

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Atraso em laudo antropológico ameaça sobrevivência dos remanescentes do Quilombo Vidal Martins, que chegaram a ser registrados como brancos e com sobrenome diferente para não ter acesso à terra herdada dos escravos. Localizado no Norte da Ilha de Santa Catarina, no acesso às praias, o Quilombo Vidal Martins vive neste final de semana um momento dramático da sua história à espera que um documento público devolva-lhe o direito à vida em comunidade. O reconhecimento definitivo do território se arrasta desde 2013, quando a Fundação Cultural Palmares expediu a certidão de autorreconhecimento quilombola. Esse libelo para o martírio de 28 famílias (cerca de cem pessoas) descendentes de escravos que resistem a uma situação de marginalidade social, fora da área de demarcação, depende, contudo, da apresentação de estudo histórico, socioeconômico, cultural e ambiental da área. Depois de um tortuoso processo burocrático, a comunidade espera que o laudo antropológico seja entregue na segunda-feira (20/8), como prometido, para que possa dar continuidade ao processo de regularização do seu território e ocupá-lo de fato.

Joana Zanotto para os Jornalistas Livres

Fotos: Jekupe Mawé

Edição: Raquel Wandelli

Jucélia, de óculos, e seus parentes estão entre as 28 famílias que aguardam o reconhecimento definitivo das terras herdadas dos antepassados escravos. (Foto: Jekupe Mawé)

Uma mulher está à frente da luta pela demarcação do quilombo que leva o nome de seus antepassados. Helena Vidal Martins, presidente da Associação dos Remanescentes dos Quilombolas de Vidal Martins, perdeu o pai de sua filha em 2012, assassinado num conflito por terra. Decidiu então ir atrás de sua história para garantir território aos descendentes da comunidade. Foi então que a líder descobriu a grande fraude contra seu povo: a certidão no cartório dizia que o seu bisavô era branco. O avô havia sido registrado como Martins. Helena achou estranho. Ninguém dos seus era branco nem levava o nome de Martins. O avô relatava que os parentes haviam chegado à ilha confinados como escravos nos porões de um navio atracado na praia dos Ingleses. “Fomos atrás. Achamos o livro de escravos no Rio Vermelho. Constava os nomes de Vidal Martins, meu avô, e da sua mãe Joana, também escrava.” Com as informações e memórias dos antigos, foi possível montar a árvore da família e traçar o vínculo com a terra.

A certidão de autorreconhecimento quilombola, pré-requisito do processo, foi expedida em 2013 pela Fundação Cultural Palmares. Em 30 de março de 2015, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária e a Universidade Federal de Santa Catarina firmaram acordo de cooperação técnica para elaboração do laudo que deveria ter sido concluído no prazo de um ano. No entanto, o relatório antropológico necessário para completar a primeira parte do processo demarcatório foi entregue pela UFSC e recusado pelo Incra em 2016, que o considerou incompleto e levantou 27 questionamentos. Após a recusa da primeira versão dos estudos, a universidade atrasa a apresentação dos documentos prometidos para dezembro de 2017.

No decorrer dos últimos anos, a comunidade se reuniu inúmeras vezes com o pessoal do Incra e universidade, com mediação do Ministério Público Federal. A Defensoria Pública da União entrou com pedido para realização de uma audiência pré-processual, após contato feito pela comunidade, em 25 de abril. A UFSC alegou que a comunidade Vidal Martins ainda deveria entregar alguns documentos importantes que faltavam para a constituição do laudo Os documentos deveriam ser referendados em assembleia da comunidade e por assinatura de todos os membros.

Um novo prazo de 90 dias foi determinado. “Passaram os 90 dias, o prazo foi prorrogado em mais 15. Esperamos que entreguem o laudo na segunda-feira, dia 20/8. porque a demora impede a comunidade de sair do aperto que vive hoje num território de resistência com casas muito pequenas”, como explica Helena.

Há anos na batalha pelo reconhecimento do território, Helena reclama da demora para a finalização do laudo. O primeiro relatório entregue foi devolvido pelo Incra que contestou a ausência de indicação do território. “A gente deu tudo. A comunidade que mais deu documentos foi a nossa. Fizemos o mapa três vezes, meu tio com a memória histórica dele tendo que caminhar de um lado ao outro, velho e com a perna machucada. Desumano. As pessoas passaram a desacreditar que conseguiríamos.” Enquanto isso, ameaçados pela especulação imobiliária, hostilizados pela população branca e vítimas de violência policial, os descendentes quilombolas foram se favelizando em torno do território que lhes pertence por direito.

 

ESCRAVOS PREFERIRAM POUPAR DESCENDENTES
DAS SUAS HISTÓRIAS DE SOFRIMENTO

 

Jucélia Beatriz Vidal se recorda das dificuldades de infância, quando morava num casebre de barro e atravessava os caminhos tomados d’água, tudo a pé. Não que a vida tenha se tornado fácil. Aos 60 anos, mãe de duas filhas, Helena, de 36 e Shirlen, de 38, vive com os parentes em uma casa de 200 metros quadrados fora do perímetro apontado oficialmente como área quilombola na capital de Santa Catarina, famosa pela colonização europeia. Ela e sua família estão entre as 28 que aguardam o reconhecimento do quilombo remanescente no Parque Estadual do Rio Vermelho. “Nós mesmo nos reconhecemos. A gente sabe da nossa história. Ninguém vai tirar da nossa boca. Mas o estado tem que reconhecer nós”, cobra Jucélia.

– A gente está na terra onde nossos antepassados estão enterrados. Nós quando éramos pequenos sofríamos muito, muito mesmo. Por isso não sei muito da lei, sei ler e escrever pouco. Mas meu pai sempre falava para nós: “Isto aqui tudo é de vocês. Nossos antepassados eram escravos que vieram no navio negreiro.” Desde que eu era pequenininha ele contava. Mas eu falo com muita tristeza… Alegria e tristeza! Porque eles apanhavam muito. Ali, antes de chegar na entrada do Rio Vermelho [aponta na direção],  tem o nome de Mocotó porque eles matavam o gado. Os senhores comiam do bom e davam o mocotó pros escravos comerem.

Odílio Martins. morador mais antigo do Quilombo Vidal Martins, ajudou a abrir a estrada que leva o Parque do Rio Vermelho à Barra da Lagoa, mas foi impedido de entrar na terra herdada de seu pai, que foi enganado pelo regime militar  (Foto: Jekupe Mawé)

Aos 65 anos, Odílio Izidro Vidal, o tio de Helena, é a pessoa mais velha da comunidade. Cresceu vendo seu pai trabalhar na roça no cultivo de arroz, feijão, mandioca, produzindo farinha, trocando pescado por carne seca e açúcar na Lagoa da Conceição. Quando o pai ia ao centro saía às 5 da manhã e retornava meia-noite para casa, o trajeto feito a pé pela Barra da Lagoa. “A gente não tinha dinheiro, mas tinha fartura”. Por dia de pesca chegava a pegar de 30 a 40 quilos de camarão.

–  As únicas pessoas que moravam aqui éramos nós, meu pai, meu tio e tia. No tempo do golpe militar, enganaram meu pai. Falaram que ele poderia continuar usando a área. Até que tiraram a gente e ele comprou aquele pedacinho de terra pequeno com o dinheiro do trabalho. Quando eu fiquei maior, trabalhei na área. Ajudei a abrir a estrada para a Barra da Lagoa. Mas fomos impedidos de continuar entrando no terreno onde hoje está o Parque do Rio Vermelho. Agora podemos entrar aqui por causa do quilombo. Íamos brigar com quem? Com o governo? Meu pai morreu faz uns 30 anos e nem sabia dessa lei dos quilombolas. Nem eu não sabia. Fui saber agora, faz uns cinco anos mais ou menos. A Helena [sobrinha] foi atrás dos documentos da nossa história. Do que eu vivi em diante sei tudo.

 

 

 

 

 

 

 

O procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos é regulamentado pelo Decreto nº 4.887, de 2003, assinado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da SIlva. Em 2004, passou a vigorar no Brasil a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre Povos Indígenas e Tribais. O Brasil, juntamente com mais 16 países, ratificou a convenção dando a ela força de lei. A Convenção assegura às comunidades quilombolas o direito à propriedade de suas terras e estabelece a necessidade de consulta sobre todas as medidas suscetíveis de afetá-las.

Helena, de óculos, em roda de conversa de mulheres quilombolas no Parque Estadual do Rio Vermelho.  (Arquivo pessoal de Cláudia Prado da Rosa)

 

 

Comunidade Quilombola Vidal Martins

Dos arquivos da comunidade Vidal Martins, formada por descendentes de escravos do séc. XVIII

O Quilombo Vidal Martins, onde habitam 28 famílias descendentes de escravos, localiza-se no bairro Rio Vermelho, em Florianópolis. Um dos mais antigos da ilha, completou 180 anos em 2011.

Escavações arqueológicas realizadas pelo padre João Alfredo Rohr (1908-1983) apontam a existência de populações dos índios Carijós no local, os resultados das pesquisas encontram-se no Museu do Homem do Sambaqui e no Museu de Antropologia da UFSC.

Sobre o início da ocupação portuguesa sabe-se muito pouco, mas existem indícios de já haver algum povoamento no início do século XVIII, e da construção de uma capela em 1750. Com segurança, o povoamento e a história do Rio Vermelho começaram apenas na segunda metade do século XVIII, quando os açorianos chegaram a partir de 1748. A ocupação das terras motivou a construção de uma segunda igreja, em 1810. Pelo aumento rápido da população, em 1831, por decreto da Regência, foram criados o distrito e a paróquia de São João Baptista do Rio Vermelho.

Alguns dos primeiros moradores do distrito foram os senhores de escravo, seus respectivos escravos e a população proveniente das ilhas dos Açores e da Madeira. As casas dos senhores de escravos eram em sua maioria de pedra, assim como as senzalas. Já as casas dos escravos alforriados eram de taipa, ou pau-a-pique e barro, e se localizavam na parte sul do povoado, mais distante do centro.
Os meios de transporte antigos eram a pé, de canoa e a cavalo. Para transporte de carga usava-se a carroça e o carro de boi. No Rio Vermelho localizava-se a maior área da ilha cultivada com mandioca, e era onde ficava também, a maior concentração de engenhos, que antigamente eram manuais e mais tarde foram substituídos por engenhos movidos à força dos bois.
O bairro do Rio Vermelho hoje possui cerca de 15.000 habitantes, segundo o IBGE (2010).

#EleNão

PF arromba fábricas de fake news e expõe cúmplices de Bolsonaro

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Extrema direita dissemina fake news contra membros do STF

A Polícia Federal está cumprindo nesta manhã de quarta-feira (27) 29 mandados de busca e apreensão no inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) que apura produção de fake news e de ameaças a ministros do Supremo Tribunal Federal. Entre os alvos estão o ex-deputado federal Roberto Jefferson, o empresário Luciano Hang, o deputado e os blogueiro Allan dos Santos e Winston Lima. Todos são parceiros e amigões do peito do presidente Jair Bolsonaro.

As ordens foram expedidas pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, e estão sendo executadas no Distrito Federal, Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso, Paraná e Santa Catarina. A investigação corre em sigilo.

 

Alguns dos alvos dos mandados contra as fake news são:

  • Luciano Hang, da Havan (SC)
  • Roberto Jefferson, ex-deputado federal (RJ), envolvido em todas as falcatruas dos últimos 30 anos
  • Allan dos Santos, do Terça Livre (DF)
  • Sara Winter, pró-armas (DF)
  • Winston Lima, militar reformado, Movimento Brasil (DF)
  • Edgard Corona, CEO das redes de academias Bio Ritmo e Smart Fit (SP)
  • Edson Pires Salomão, assessor do deputado Douglas Garcia, do PSL (SP)
  • Enzo Leonardo Suzi (SP)
  • Marcos Belizzia (SP)
  • Otavio Fakhouri, investidor em imóveis (SP)
  • Rafael Moreno (SP)
  • Rodrigo Barbosa Ribeiro (SP)

Deputados que serão ouvidos na apuração contra fake news

O ministro Moraes determinou ainda que deputados deverão ser ouvidos no inquérito nos próximos dias. Eles não foram alvos de mandados nesta quarta. São eles:

Deputados federais

  • Bia Kicis (PSL-DF)
  • Carla Zambelli (PSL-SP)
  • Daniel Lúcio (PSL-RJ)
  • Filipe Barros (PSL-PR)
  • Junio Amaral (PSL-MG)
  • Luiz Phillipe de Orleans e Bragança (PSL-SP)

Deputados estaduais

  • Douglas Garcia (PSL-SP)
  • Gil Diniz, o “Carteiro Reaça” (PSL-SP)

As buscas com relação a Jefferson e Hang foram realizadas nas casas deles, no Rio de Janeiro e em Santa Catarina, respectivamente.

As buscas sobre Allan dos Santos ocorreram na casa dele, em uma área nobre de Brasília.

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Entrevista

Zé Dirceu percorre Brasil para lançar memórias e estratégias de resistência

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Entrevista exclusiva a Nícolas Horácio/EstopimColetivo

“O povo brasileiro não é como Bolsonaro. Dos 55% de votos que ele teve, seguramente, o núcleo duro dele é de 15 a 20 milhões de votos. Esse é o eleitorado que abraça as teses de violência pra resolver o problema da segurança, de preconceito, de racismo, de desqualificação da mulher, de desprezo pela democracia, pela liberdade de expressão, a visão pró norte-americana e esse abraço de urso ao neoliberalismo de mercado, que é, na verdade, entregar o país ao capital financeiro, na nossa opinião, evidentemente. Acho que nós temos que fazer essa disputa também com o eleitorado dele. O eleitorado não vai ficar com ele” (José Dirceu)

Ele esteve no centro do poder no governo Lula e foi cogitado para a sucessão presidencial depois de chefiar a Casa Civil, um dos mais estratégicos ministérios do país. Condenado a mais de 30 anos de prisão, teve a trajetória política interrompida e, no estilo Graciliano Ramos, escreveu um livro de memórias no período do cárcere. Fundador do PT, ex-militante do PCB e da luta armada, José Dirceu responde os processos em liberdade como um dos mais polêmicos personagens da política brasileira na atualidade. Por fora do tabuleiro político, continua atuando como um importante intelectual para a militância do PT, através de sua força e influência.

Em Florianópolis desde o dia 15 de novembro, foi recepcionado pela amiga e ex-ministra Ideli Salvatti, conversou com lideranças de outros partidos da esquerda, como PSOL e PCdoB, com militantes da juventude do PT e dos partidos aliados. Na segunda-feira (19/11), realizou sessão de autógrafos do livro “Zé Dirceu – Memórias Volume 1”, no qual narra momentos importantes da história brasileira e deixa seu ponto de vista sobre a conquista do poder pelo Partido dos Trabalhadores, o legado dos seus dois governos e a análise do processo intervencionista que culminou com a violação da democracia.

Em entrevista ao Estopim Coletivo, de Florianópolis, Dirceu conta detalhes do livro que será lançado em pelo menos 25 capitais brasileiras e indica como o PT, agora na oposição, deve se comportar nos próximos anos.

A Entrevista

No lançamento do seu livro em Brasília, você disse que o PT está em uma defensiva e precisa de estratégia política. Qual deve ser essa estratégia? E qual a sua participação nela?

Zé Dirceu: Minha participação vai ser como filiado. Eu não pretendo, nem devo voltar para a direção do PT e muito menos participar diretamente do partido.

Eu quero andar pelo Brasil, lançar meu livro, fazer palestras e participar de seminários. Quero estar com os movimentos, com a CUT, o MST, os partidos aliados. Eu tenho diálogo com PCdoB, com PSB e quero estar com a juventude. Eu tenho priorizado esses três eixos.

Quando eu digo que estamos em uma defensiva, não é só o PT.

Essa coalizão que elegeu Bolsonaro não é só uma coalizão religiosa, com os setores militares e partidos. Ela tem uma cabeça que é o capital financeiro internacional e tem uma política que é pró Estados Unidos.

É uma coalizão que pretende fazer grandes mudanças no Brasil, basta olhar a pauta dele. Começa pela política externa, que ele vai virar totalmente, não só a nossa política externa, como a dos tucanos também. Por isso que pelo menos alguns tucanos estão contra.

Nós temos força, mas nós viemos sofrendo derrotas desde 2013.

Você se refere às grandes manifestações de 2013?

Zé Dirceu: Sim, porque eram manifestações contra o aumento das tarifas em São Paulo e foram capturadas, com papel muito forte da Rede Globo e dos setores que financiaram aquela mobilização, para um movimento contra o governo da Dilma, o PT e que com a Lava Jato fez uma escalada de criminalização do PT e do próprio Lula, levando ao impeachment da Dilma e a prisão do Lula, que culmina com a eleição do Bolsonaro.

Nesse sentido, nós temos que reconhecer a derrota, ao mesmo conhecer as nossas forças e a necessidade de repensar o que vamos fazer nos próximos anos.

Temos algumas tarefas óbvias: a liberdade do Lula; a oposição a pautas como Escola sem Partido que, na verdade, é escola com partido, o deles.

Por outro lado, o governo vai anunciar uma série de medidas, nós temos que apontar alternativas. Não podemos apenas ficar contra. Se ele vai fazer uma Reforma Tributária, temos que apresentar nossa visão e para a Reforma na Previdência, a mesma coisa.

Você vem articulando essas conversas nos estados?

Zé Dirceu: Não. Eu não articulo. Eu Tenho relações, porque desde 1965 eu sou militante político e eu participei dos principais eventos do país a partir de 1979.

Participei da clandestinidade, da luta armada, participei da geração de 1968, fui do PCB, depois, fui um dos fundadores do PT, então tenho muitas relações.

Procuro, sou procurado e converso, exponho a minha opinião e tentando ajudar nesse sentido, nessa linha.

Mas exerce influência, certo?

Zé Dirceu: É. Influência eu exerço, mas não significa que eu vá participar de direções do PT, disputar mandatos ou participar de governos. Eu nem posso, porque estou inelegível.

Aqui em Santa Catarina você fez algumas conversas com militantes de outros partidos. Sentiu possibilidade de unificação da esquerda aqui? Há caminhos pra isso?

Lançamento e palavra de resistência em Florianópolis

Zé Dirceu: Eu acredito que há sim, na base. Temos que começar pelas lutas concretas em cada cidade, em cada estado, pelas agendas que estão colocadas.

Acho que a Reforma da Previdência é uma questão fundamental, a Escola sem Partido é outra, a defesa da liberdade de manifestação, esses ataques ao MST, ao MTST, ao João Pedro Stédile e ao Guilherme Boulos, nós não podemos aceitar.

A agenda da anulação da condenação do Lula é importante e nós devemos construir uma agenda a partir dos sindicatos e da juventude, da luta das mulheres.

Nós devemos construir uma agenda de oposição, porque temos legitimidade e fomos para oposição por decisão do eleitorado. Nós temos 47 milhões de brasileiros e brasileiras para representar e, no caso do PT, um mínimo de 30 milhões, que foi a votação do Haddad no 1° turno em aliança com PCdoB e com o PROS.

Então, nós temos obrigação de exercer essa oposição, essa fiscalização, apresentando propostas e alternativas e temos que resolver nossos problemas, como a debilidade na área das redes.

Quais redes? As redes sociais?

Zé Dirceu: Isso. Elas são importantes desde 2008, na eleição de Obama, depois na eleição do Trump, que gerou uma crise internacional, e quando chega a eleição aqui nós não estamos preparados?! Alguma coisa tá errada.

Mesma coisa a nossa presença nos bairros, na luta do dia a dia do povo trabalhador no bairro. Temos que analisar e tomar medidas com relação a isso.

Você acha que faltou ser mais presente nas redes sociais para ganhar o público?

Zé Dirceu: Sem dúvida nenhuma. A rede social é um potencializador e quando você tá ausente também lá no bairro, o potencial aumenta, porque você não tem como contraditar e responder. Se você não responde nas redes, não responde nas casas, na igreja, na lotérica, no açougue, no cabeleireiro, no supermercado.

Depois que nós saímos na rua com o Vira Voto, nós crescemos muito. Porque é sempre importante o contato pessoal, o diálogo, o olho no olho, o debate, a reunião, a experiência de vida em comum. Eu aposto muito também na juventude nesse sentido. Acho que ela pode e dever ter um papel importante.

Você disse recentemente que o PT perdeu a eleição ideologicamente. O povo brasileiro é como o Bolsonaro?

Zé Dirceu: O povo, não é como Bolsonaro. Dos 55% de votos que ele teve, seguramente, o núcleo duro dele é 15 a 20 milhões de votos. Esse é o eleitorado que abraça as teses de violência pra resolver o problema da segurança, de preconceito, de racismo, de desqualificação da mulher, de desprezo pela democracia, pela liberdade de expressão, a visão pró norte-americana e esse abraço de urso ao neoliberalismo de mercado, que é, na verdade, entregar o país ao capital financeiro, na nossa opinião, evidentemente.

Acho que nós temos que fazer essa disputa também com o eleitorado dele. O eleitorado não vai ficar com ele. Essa questão dos médicos cubanos, que é uma coisa totalmente estúpida que ele fez, porque os médicos nunca se envolveram em política no Brasil, nunca participaram de nenhuma atividade que não fosse trabalho médico, ele não pensou nos 30 milhões de brasileiros, brasileiras, as famílias, as mães, os idosos, as crianças que são atendidos por esses médicos.

Essa história de que os médicos cubanos foram nomeados no lugar dos brasileiros, todo mundo sabe que não é verdade, porque os médicos não querem ir para essas cidades.

Dois terços [dos recursos] vão para o governo, mas os filhos deles estudam em escolas públicas até o ensino universitário. Eles têm hospitais públicos fantásticos. Em Cuba tem atendimento, o país não tem violência. O país tem segurança e um bem estar básico.

As dificuldades e a escassez ocorrem em parte por causa do bloqueio e por uma série de questões que os cubanos estão procurando resolver agora.

Poucos sabem que os cubanos estão fazendo uma Constituinte, agora, que se discute em todos os bairros, fábricas, escritórios, lojas, no campo. Milhões e milhões de cubanos estão discutindo a Constituição do país. Poucos sabem disso.

O que o Brasil vai descobrir no seu livro? O que há de novo nele, por exemplo, em relação ao seu processo?

Zé Dirceu: Eu procuro contar a história do Brasil, contando a minha história e da minha geração, que lutou contra a ditadura e foi pra clandestinidade, participou de ações armadas de resistência.

Depois as vitórias do MDB, o que foram os governos militares, particularmente, o governo Geisel e, depois, o que foi o surgimento da luta contra a carestia, das pastorais, das comunidades eclesiásticas de base, do sindicalismo autêntico, do PT, da CUT.

O livro passa pelas Diretas, o Collor e o impeachment dele e conta a trajetória das eleições até o Lula ser presidente. Eu procuro sempre mostrar como o Brasil era no cinema, no teatro, na música, como eram os meios de comunicação.

Existe algum fato na sua biografia que ninguém sabia ainda?

Zé Dirceu: Tem fatos que eu relato pela primeira vez, como o dia em que eu pedi demissão e eu conto como foi a reunião. Chorei naquele momento e explico o que significava aquilo para mim. Foi uma reunião com Lula feita para concretizar minha demissão.

O depoimento do Carlos Cachoeira, que mostra toda a operação Valdomiro Diniz, CPI dos correios, mensalão, hotel Naoum, foram tudo escutas telefônicas dirigidas contra o PT negociadas com a direção da Veja, o Policarpo Jr. com o Cachoeira, com os Arapongas, com escutas ilegais para montar fatos políticos negativos pra fazer matérias contra os adversários deles.

Veja passou impune. A CPI não teve condições de convocar o Roberto Civita. O Policarpo Jr. nunca respondeu perante a justiça sobre isso.

Contando o que vivi, busco contar a história do Brasil, tentando tirar lições disso. Conto, por exemplo, como foi possível lutar e derrotar uma ditadura e de onde surgiu a luta.

Nós vamos enfrentar esse problema agora. Como lutar? De que forma lutar? Com quem lutar? Eu procuro, na verdade, transmitir para as novas gerações a minha experiência, com erros, acertos e a experiência do PT, da esquerda, inclusive recontando a experiência do Brasil com relação à esquerda, o papel do PCB.

Os tenentes, qual foi o papel dos tenentes? O que foram as Forças Armadas da República até a Constituição de 1988? Elas sempre foram uma força determinante na disputa política brasileira.

A revolução de 1930 foi uma revolução militar e civil. Toda a luta dos tenentes, a Coluna Prestes também é, 1935 é, 1932 é, 1937 é, 1946 é.

Em 1950 e 1955 eles tentam dar o golpe. Em 1961, eles tentam dar o golpe e a resistência popular armada impede e, em 1964 eles dão, governam o país até 1985 e voltam agora a exercer um papel moderador no país.

Transmissão em Porto Alegre (SC): https://www.facebook.com/blogdozedirceu/videos/335362210574885

Transmissão da palestra de lançamento do livro em Florianópolis (SC)

https://www.facebook.com/PTdeSantaCatarina/videos/333184410568854/

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Fake News

FAKE NEWS CRIMINOSA: Bolsonaristas ameaçam vida de jovens inocentes nas redes sociais

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Fake News produzida e compartilhada pelo bolsonarista Alfredo José Assumpção alcançou 46 mil compartilhamentos

Dois estudantes de Florianópolis, sem qualquer relação com o ataque a Bolsonaro (PSL), inclusive uma adolescente de 17 anos, estão sendo expostos à violência nas redes sociais e incriminados gratuitamente na agressão. Eles sofrem ameaças de morte e linchamento moral com insultos de baixíssimo calão promovidos por seguidores do político. Não há limites de fraude nem de violação da lei para os bolsonaristas tentarem forjar na marra um vínculo entre o atentado sofrido pelo candidato e o Partido dos Trabalhadores. Homens e mulheres eleitores do candidato passaram o feriadão inundando a internet com Fake News criminosas que colocam em grande risco a vida e a integridade dos dois jovens, cuja inocência é comprovada pela comparação física absurda com o criminoso e sua falsa comparsa e pela distância de 1,5 mil KM em que se encontravam do local do crime, ocorrido no dia 6/9, em Juiz de Fora (MG). Ambos já estão sendo assessorados por advogados e vão processar os difamadores por crime de calúnia e difamação, além de exposição de adolescentes à situação humilhante, perigosa e vexatória.

O primeiro post incriminando a adolescente como comparsa de Adélio foi produzido e postado pelo bolsonarista Alfredo José Assumpção, às 12h7 do dia 7 de setembro, em sua página no Facebook, que alcançou 46 mil compartilhamentos. O enunciado não deixava dúvidas: “Essa é a mulher que carregou a faca na mochila e que passou a um segundo e a que a fez chegar às mãos do terceiro bandido que esfaqueou Bolsonaro (…)”. Natural do Rio de Janeiro e morador de São Paulo, Alfredo é sócio-fundador da empresa Fesap Group. Segundo seu currículo no Face, estudou Desenvolvimento de Recursos Humanos na Fundação Getúlio Vargas, estudou na Faculdade de Economia e Finanças do Rio de Janeiro e “andou” na escola Western University State of Colorado Denver, nos Estados Unidos. Sua página é uma fábrica de Fake News grosseiras, como a fotomontagem de Lula em comício, ao lado da imagem do agressor de Bolsonaro, toscamente recortada e colada em cima de um eleitor negro do ex-presidente. Ele também produziu postagens falsas incriminando a jovem Clara Ribeiro, de Juiz de Fora, apontada por essa rede de caluniadores como “o cérebro do atentado”, vítima de incontáveis ameaças de morte e xingamentos. Consta ainda de sua página a foto da presidente do PT, a senadora Gleisi Hoffmann, em selfie com um rapaz falsamente identificado como o agressor, produzida no dia 7 de setembro, às 23h15, por MaryTheresa Barbosa, outra contumaz caluniadora.

Encorajadas por figuras públicas de extrema-direita, como o líder do MBL Kim Kataguiri e pela jornalista Joice Hasselmann, filiada ao PSL, ex-Revista Veja e hoje radialista da Jovem Pan em São Paulo, as fotos são curtidas, endossadas e compartilhadas cegamente por muitos milhares de homens e mulheres seguidores do líder fascista. Todas vêm acompanhadas de pesados xingamento, palavrões, ofensas morais, promessas e ameaças de morte por linchamento. Muito nervosos, principalmente a menina, os dois jovenzinhos, que estudam em escolas da Capital, se identificaram para os Jornalistas Livres, mas sua identidade será protegida até que eles se sintam seguros e formalizem ação contra os responsáveis. A advogada de um deles, Rosângela de Souza, do Diretório Municipal do Partido dos Trabalhadores, estuda solicitar proteção policial pelas ameaças de linchamento sofridas pelos dois. Somente um dos posts tinha cerca de 50 mil compartilhamentos pouco antes desta publicação.

Em seu Twitter, Kataguiri e Joice publicaram as fotos da secundarista, de 17 anos, ao lado do estudante universitário, de 19, que faz parte da Juventude do PT, vestidos de camiseta vermelha com a estampa Lula Livre e portando uma bandeira lilás com o símbolo da União Nacional dos Estudantes, que os boateiros espalharam como se fosse do partido. A foto, postada na página do agressor, foi tirada numa manifestação ocorrida no Largo da Catedral, em Florianópolis, em junho passado. Trata-se, segundo o universitário, de um protesto convocado pela CUT durante a greve dos caminhoneiros contra o aumento do preço da gasolina e em defesa da Petrobrás. Acima da foto, Kim e Joice publicam um texto muito parecido, ironizando o fato de que a Globo News, ao reproduzir os argumentos da Polícia Federal, afirmou que o acusado não tinha partido nem ideologia definida, já que defendia posições radicalmente díspares e seus comentários políticos eram contraditórios e confusos. Em entrevista por áudio, o jovem deu o seguinte depoimento:

Estudante – Eu não lembro de ter visto esse cara, nem de ele ter batido a foto; eu não posaria para um desconhecido. Lembro de ter me deixado fotografar por alguém conhecido do movimento que deve ter publicado em sua página. O Adélio Bispo Oliveira pegou a foto e postou no seu perfil do Facebook.
Jornalistas Livres – Você acha que houve aproveitamento político da imagem?
Estudante – Como a única coisa que liga o acusado ao PT e ao Lula é essa foto com a nossa camiseta, começaram a espalhar a imagem dizendo que eu era o Adélio.
Jornalistas Livres – Você ficou preocupado?
Estudante – Num primeiro momento, eu fiquei muito preocupado, mas ao mesmo tempo ele já estava preso; então os riscos de linchamento nas ruas de uma pessoa presa não existiria. O problema foi no dia seguinte à agressão, quando começaram a divulgar a foto ao lado da minha colega e a afirmar que ela era a comparsa do Adélio que passou a faca para ele. Na própria quinta-feira, fiz um Boletim de Ocorrência na Delegacia de Polícia contra a calúnia e comprovando que eu estava aqui em Florianópolis no dia do crime, ocorrido em Minas Gerais.

Fake News que identifica eleitor da candidata com o agressor de Bolsonaro, apesar da gritante diferença entre ambos

O mais revelador da fúria coletiva da rede de bolsonaristas é que o estudante, 20 anos mais jovem que Adélio, não guarda a menor semelhança com o acusado, que tem 40 anos, é bem mais moreno, estampa muitas rugas na testa e em torno da boca. Isso não bastou para impedir a horda insana de incriminar a secundarista, que foi identificada, através de flechas amarelas à imagem de uma mulher de óculos escuros visivelmente mais gorda e mais velha, apontada como suspeita pelos próprios bolsonaristas, de ter alcançado a faca para o agressor golpear o líder fascista. A única semelhança entre as duas é o cabelo liso e negro. Estarrecedor que nos comentários, alguns dos internautas questionam a veracidade dos posts, uma jovem avisa que está printando a ameaça de morte e vai denunciar, mas raros param para ponderar ou se dar conta de que as associações são absurdas. Uma pessoa indaga por que a esquerda não precisa de provas, só a direita e afirma que as provas já estão dadas. Os bolsonaristas xingam os comunistas, esquerdopatas, petralhas, pedem a prisão preventiva dos garotos, prisão perpétua, expulsão do país, atacam a moral da menina, divulgam até o telefone de uma mulher de codinome Aryane Petista como se fosse dela.

Enquanto sites ligados ao candidato Jair Bolsonaro divulgam fotos obscuras de suspeitos de participar do atentado ao político na quinta-feira (6/9), um turbilhão de Fake News criminosas continua a levantar calúnias perigosas contra pessoas que nada têm a ver com a agressão. No Youtube, as produções escarificando os dois estudantes com paralelos entre suas fotos, a do agressor e de pessoas que estavam em torno da manifestação onde ele foi esfaqueado se avolumam com a mesma rapidez que milícias fascistas tomaram conta da Itália sob a égide de Mussolini. Em nome do líder ferido, o exército de internautas adoradores do político busca fazer justiça com as próprias mãos, jogando aos leões os que eles apontam e propondo a eliminação dos que chamam de comunistas, petralhas e esquerdopatas.

 

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