Portanto, não me surpreende o perfil traçado pelo DataFolha, entre os 130 mil manifestantes que estiveram na manifestação paulistana:
– 76% cursaram o ensino superior (a média brasileira, segundo o IBGE, é de 7,9% – clique aqui para conferir)
– 40% ganham mais de 3.900 reais por mês (ou seja, quase metade dos presentes está nas classes A/B)
– 77% votaram em Aécio no segundo turno em 2014, e apenas 5% cravaram Dilma.
Esses números bastam pra entender um fato: não estavam na rua os “novos” descontentes com a presidenta – que viraram as costas para o governo por causa das escolhas levyanas. O povão, que está sim bem ressabiado com o governo, não foi (ainda) pra rua. Irá em algum momento? Pode ser, se a política suicida de Levy/Dilma persistir, gerando desemprego e recessão…
Sim, Dilma tem hoje índices muito baixos de aprovação. Mas quem foi à rua nesse dia 16, pra pedir o impeachment ou a morte de Dilma/Lula, é a turma que sempre detestou o PT (muito antes de qualquer “denúncia” de corrupção), e que já havia votado em Aécio no ano passado.
Os arreganhos fascistas na Paulista não significam que uma “onda” de eleitores indignados passou para o lado da oposição. Essa gente da Paulista sempre esteve na oposição, desde 2002.
A diferença é que agora o conservadorismo se sente à vontade para pedir “intervenção militar”, “morte de Dilma”, “fim do PT” (até porque, houve ampla semeadura do discurso de intolerância, por parte de blogueiros da revista da marginal et caterva).
Sim, é assustador ver a face obscura e odienta dos senhores de meia idade da Paulista e de Copacabana. Mas eles sempre estiveram aí. A mim, não enganam. São os de sempre – agora mais assanhados.
É preciso enfrentá-los. Não é possível convencê-los.
Do lado de lá, está o ódio de sempre – turbinado pelo desespero da Veja, pelos cálculos da Globo, pela operação milimétrica empreendida por Sergio Moro… E pelos erros e o excesso de conciliação do PT e de Lula/Dilma.
O que se pode fazer é mostrar como essa gente com camisas da CBF é hipócrita e perigosa para a democracia. A maioria silenciosa dessa vez joga a favor da democracia e da centro-esquerda.
É preciso tirar a maioria do silêncio, e trazê-la também pra rua. O dia 20 de agosto, em parte, pode cumprir essa tarefa.
A agenda de Lula, Brasil afora, também tem o seu papel. É preciso explicitar que a “onda de insatisfação” com Lula/PT está muito centrada em São Paulo. A agenda anti-petista interessa à classe média paulistana, e a franjas de classe média Brasil afora. Mas, especialmente fora de São Paulo, há espaço pra recuperar terreno.
E que Dilma não se esconda de novo, “aliviada” com a trégua da Globo e a adesão mais baixa do que a esperada neste domingo.
O conservadorismo (com toques fascistas) está em alta. E não vai sumir só com acertos e conciliações. Será preciso derrotá-lo nas ruas e nas redes.