De um lado, o homem branco, cisgênero, agressor, que espanca e mata, mas pode andar nas ruas livremente e tocar sua vida sem constrangimentos. Do outro lado, a travesti, negra, que sofreu violência policial nas dependências de uma delegacia, pode ficar trancada excluída de um mundo que preferia que ela não existisse
A juíza Érica Aparecida Ribeiro Lopes libertou, no dia 11 de agosto, Van Basten Bizarrias de Deus, Jefferson Rodrigues Paulo, Iago Bizarrias de Deus, Wilson de Jesus Marcolino e Bruno Rodrigues de Oliveira, presos por espancar a jovem travesti Laura Vermon, em 20 de junho. A sucessão de agressões culminou com a morte de Laura. Depois de ser agredida, ela foi maltratada e baleada pelos policias militares Ailton de Jesus e Diego Clemente Mendes, que foram chamados para socorrê-la. Eles também foram presos e libertados logo em seguida. Todos os acusados estão soltos.
Van Basten — que com certeza é uma das “Bizarrias de Deus” -, golpeou várias vezes a cabeça de Laura com um pedaço de pau. Há imagens gravadas por câmeras de segurança que provam que foi ele o maior agressor e que teve a intenção de matar. A juíza justifica a sua decisão com base na defesa dos acusados alegando que “parte deles possui residência fixa e exerce ocupação lícita. Todos eles são primários e não ostentam antecedentes.”
Já o pedido de Habeas Corpus requerido pela defesa da travesti Verônica Bolina, que está presa acusada de tentativa de homicídio de uma senhora e de um carcereiro, foi indeferido mesmo sendo “o paciente primário, de bons antecedentes, possuir residência fixa e ocupação lícita.” Além de ter o pedido de liberdade negado, mesmo tendo todos os pré-requisitos que fundamentaram a liberdade dada aos carrascos confessos, Verônica é tratada no masculino, em flagrante desrespeito à sua identidade de gênero.
Verônica Bolina, seguindo uma estratégia (bastante questionável) da defesa, foi transferida para o Manicômio Judiciário de Franco da Rocha, um lugar onde as pessoas podem ficar presas “provisoriamente” por mais de 20 anos sem qualquer decisão da Justiça, sem qualquer diagnóstico, sem laudo psiquiátrico, sem andamento dos processos”. Segundo a o juíz do caso, Verônica não é confiável e não pode responder seu processo em liberdade.
A lei, que deveria ser igual para todos, aqui no Brasil não é. São dois pesos e duas medidas: de um lado o homem branco, cisgênero, agressor, que espanca e mata, mas pode andar nas ruas livremente e tocar sua vida sem constrangimento; por outro lado a travesti, negra, que sofreu violência policial nas dependências de uma delegacia, pode ficar trancada excluída de um mundo que preferia que ela não existisse.
Revoltad@s com a notícia, militantes preparam um ato para o dia 28 de agosto em frente ao Fórum Criminal Ministro Mario Guimarães, na avenida Doutor Abraão Ribeiro, 313, São Paulo.