por Maister F. da Silva
As mutações do mundo do trabalho trouxeram implicações irreversíveis no cotidiano das pessoas e interferência direta na política e na economia. A grande crise do setor financeiro que abalou o mundo em 2008 começa a atingir seu clímax no que tange a alteração profunda “imposta” aos estados nacionais de reformulação da ordem social das coisas.
O capital necessita para sua sobrevivência e aprofundamento nessa nova fase acumulatória, de regimes autoritários, legitimados em primeira instância pelo voto direto, em segunda instância por golpes brandos, aplicados sumariamente por congressos que sofrem forte influência e coerção do capital financeiro e interesses corporativos, alinhados ao poder judiciário.
Uma massa de excluídos do sistema social, gerando lucros ao capital
Que o sistema político foi capturado pelo capital financeiro não é nenhuma novidade, o que precisamos nos debruçar é no entendimento profundo de como o avanço tecnológico tem precarizado as relações de trabalho, para criar uma massa de excluídos do sistema de bem-estar social, ao passo que continuam integrados ao sistema capitalista auferindo lucros a empregadores que nem conhecem.
Entender esse novo processo de acumulação é de suma importância para um novo reposicionamento. As grandes categorias de trabalhadores, força motriz das grandes lutas travadas pela garantia de direitos básicos, e, pela relação conflituosa e contraditória entre capital x trabalho, formadoras das mais reconhecidas lideranças sindicais e políticas do Séc. XX estão em vias de extinção. Não deixarão de existir, no entanto, já não demonstram a mesma força social de outrora.
A precarização como resultado da correlação de forças na luta de classes
O avanço tecnológico tem um só fim: aumentar a produtividade e gerar mais lucro ao grande capitalista. Com o disfarce do trabalho com horário flexível, manter o trabalhador conectado permanentemente, a indústria de aplicativos está gerando uma massa de trabalhadores precarizados – gestores do próprio negócio – categorias superprecarizadas já clássicas, como os motoboys e as empregadas domésticas, além dos invisíveis camponeses e os que sobrevivem da venda de cosméticos, roupas e afins. Temos que entender a precarização como direta correlação de forças políticas entre capital e trabalho, determinada pela luta de classes.
Não se pode perder de vista que tal como o sistema jurídico faz parte do sistema de opressão e controle do estado, o poder econômico e financeiro oficial é igualmente uma ferramenta de manutenção do poder. Urge a constituição de formas de resistência a essa voracidade do capital, conquistar espaços/brechas que possam fazer frente a esse avanço da precarização, dentro dessas conformações de classe.
A tarefa mais árdua
É um período de recuo, reaprendizado e reviravolta das táticas de lutas, estudar, revisitar os clássicos e reajustar a teoria dos grandes estrategistas, aplicadas a realidade atual. Uma das mais árduas tarefas da esquerda será reocupar o espaço que é seu por direito, perdido para as igrejas/empresas neopentecostais e para o crime organizado, tráfico/milícias: atuar no seio das comunidades periféricas, constituir uma ampla rede apoio mútuo entre os excluídos, camponeses e trabalhadores urbanos precarizados.
Sobretudo, buscar a evolução da construção de uma Economia de Resistência, capaz de atuar tanto no plano formal, quanto informal do poder econômico oficial, mas que possa se manter fora de seu controle. Tal Economia deve ser baseada na preservação de direitos básicos, que os excluídos não se rendam por fome, falta de tratamento médico ou moradia. A criação de uma rede econômica entre os desfavorecidos, guarda lugar de relevante importância, tanto quanto o plano político estratégico.
* Maister F. da Silva é militante do Movimento dos Pequenos Agricultores e integrante do FRONT – Instituto de Estudos Contemporâneos