Poesia a favor do amor e na luta contra a homofobia

Fotos por: Sara Oliver

Por Patrícia Adriely, para os Jornalistas Livres

Foi no início da pós-graduação em Projetos Editoriais, em 2014, que a pesquisadora belo-horizontina Amanda Machado e a jornalista e poeta paulistana Marina Moura tiveram a ideia de montar um livro sobre a literatura gay no Brasil. Mas quando elas iniciaram a pesquisa sobre o tema, elas ficaram surpresas com a grande quantidade de material produzida.

Então, Amanda e Marina decidiram fazer um recorte e elaboraram o livro “Poesia Gay Brasileira”, primeira antologia com este enfoque no Brasil. “Em nossa opinião, o poema sensibiliza as pessoas”, afirmou Marina. Após três anos de trabalho, o lançamento da obra foi realizado em Belo Horizonte (MG), na noite deste sábado, 16 de dezembro. A obra reúne 130 textos de 44 autores brasileiros, produzidos desde o século XIX. Neles, a homossexualidade é retratada por meio de temas como erotismo, preconceito, amor, amizade e dor.

Fotos por: Sara Oliver

“Uma descoberta interessante foi encontrar autores tão antigos falando sobre o tema, como Laurindo Rabelo, de 1826, e Maria Firmina dos Reis, de 1825. O que a gente pôde perceber é que o tema sempre esteve presente ao longo da literatura brasileira”, contou Amanda. De acordo com Marina, muitos dos poemas antigos são marcados pelo erotismo. “Nós achamos que somos muito libertos e modernos, mas vimos que não. Lá em 1800, já tinham poemas pornográficos e transgressores para a época”. A obra também é composta com textos de Lúcio Cardoso, Antonio Cicero, Hilda Hilst, Caio Fernando Abreu, Vange Leonel, Mário de Andrade e Carlos Drummond de Andrade.

Além disso, o livro conta com textos de autores contemporâneos de diversas partes do país. Um deles é da poeta novalimense Nivea Sabino, que estava presente no lançamento em Belo Horizonte. Ela relata que soube do projeto pelo Facebook. “Eu tinha uma poesia que se encaixava na antologia gay e enviei o meu texto. Ele conta um pouco da criação do amor, em que Deus queria que todos se amassem. O amor homoafetivo também é legítimo e a ideia de trazer Deus para meu texto é dizer que todo amor é abençoado”.

Já o escritor e artista plástico belo-horizontino Rodrigo Quimera recebeu um convite das próprias organizadoras do livro, que já conheciam o seu trabalho. “Eu acho este projeto muito bacana porque é uma dívida do país, que não reuniu esse material antes. Ter autores do século XIX ao XXI é fantástico”.

A mestre em Letras, Simone Teodoro, também de Belo Horizonte, soube do projeto pela internet, enviou seus textos para apreciação e teve cinco deles selecionados para compor a obra. “Achei muito bacana a iniciativa. Os meus poemas publicados abordam a questão do amor e desejo, mas tem um que é um pouco mais político, tocando a questão de gênero e feminismo”.

Fotos por: Sara Oliver

No lançamento, as organizadoras da publicação agradeceram a mobilização e colaboração de diversas pessoas para publicar e divulgar o livro, entre elas, o deputado federal Jean Wyllys e o ator Fábio Assunção. Houve até mesmo o apoio de um padre da Diocese Anglicana de Esmeraldas, que doou camisetas com estampas personalizadas para vender nos lançamentos. “Quando ele resolveu colaborar, ele disse que a igreja não deve pregar a intolerância”, relatou Amanda.

Além disso, o projeto contou com uma campanha no Catarse. “A princípio, a nossa tiragem iria ser pequena, com cerca de 500 exemplares, e triplicamos. Esse projeto ultrapassa as fronteiras da literatura. Esse livro é uma obra política, que representa uma luta contra a homofobia e o ódio e a favor do amor e da liberdade”, declarou Marina.

Para saber mais sobre o projeto, adquirir o livro e conferir entrevistas com os autores, refletindo sobre a existência e importância de uma literatura gay no país, acesse a página no Facebook do livro: https://www.facebook.com/poesiagaybrasileira/.

COMENTÁRIOS

Uma resposta

  1. De que maneira entendemos a homossexualidade? Trata-se de um fenômeno natural e harmônico com a divindade, e que necessita somente de esclarecimento e compreensão, ou uma prática abominável, pecaminosa e condenada por Deus? Seria considerada doença, anormalidade, falha da natureza, ou apenas um ato de amor? Essas perguntas que nos dias de hoje ainda ecoam e que geram tanta polêmica, intolerância e incompreensão são tratadas no romance “O Grito – Uma História de Amor e Preconceito”.

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