Mandante do assassinado do casal de ambientalistas finalmente é condenado a 60 anos de prisão. Mas está desaparecido e o julgamento só aconteceu depois de o Ministério Público ter recorrido da primeira sentença que, inacreditavelmente, tinha o absolvido do crime
José Rodrigues Moreira, o mandante do assassinato do casal de ambientalistas Zé Cláudio e Maria, foi condenado hoje a 60 anos de prisão. Mas, numa dessas tristes crônicas da impunidade brasileira, o criminoso sequer apareceu no tribunal. Foragido, só teve prisão preventiva decretada no ano passado – só depois de o Ministério Público ter recorrido da primeira sentença que, inacreditavelmente, diante de todas as provas e testemunhas, o havia inocentado.
José Claudio e sua companheira Maria do Espírito Santo foram assassinados em 2011. Ambientalistas, eles enfrentavam os grileiros e denunciavam o roubo de madeira na região de Marabá. Corajosamente, faziam registros em fotos das placas dos caminhões dos extrativistas ilegais, por exemplo, e foram responsáveis pelo fechamento de várias madeireiras ilegais. José Claudio estava em uma lista de ambientalistas ameaçados de morte na Amazônia desde 2008 e sua morte era anunciada publicamente.
Foi numa pinguela que dois pistoleiros emboscaram Zé Claudio e Maria e os mataram com tiros de escopeta. A orelha do ambientalista foi cortada para ser entregue, como prova do serviço, a Moreira, o mandante do crime.
Em 2013, o pistoleiro Lindonjonson Silva Rocha, irmão de Moreira, foi condenado a 42 anos de prisão. Fugiu da penitenciária Mariano Antunes, em Marabá, em novembro de 2015 e continua foragido. O outro assassino, Alberto Lopes, pegou 43 anos de cadeia e permanece preso. Ambos, claro, tentaram anular os julgamentos originais depois da absolvição do mandante em 2013, quando saiu livre do tribunal.
O Ministério Público apelou da decisão e, em 2014, o Tribunal de Justiça de Belém anulou o julgamento que o inocentou. Hoje, foi condenado pelo júri popular a 60 anos de prisão por duplo homicídio qualificado e por conduta violenta e um total desprezo com a dignidade humana. De acordo com o juiz, o condenado realizou o crime com culpabilidade fria, covarde e premeditada.
Diante de tantas violações de direitos, a decisão do julgamento foi um passo mínimo, porém fundamental para o fortalecimento da democracia e para o enfrentamento da impunidade.
“E o que que quero que toda as pessoas desse pais que foram injustiçadas e tiveram seus familiares mortos, não percam as esperanças, nunca, nenhum dia. Lutem por eles, lutem pelo que eles acreditavam. A gente não pode desistir, não podemos nos acovardar.”, Claudelice Santos, irmão do Zé Cláudio.