OS POVOS GRITARAM EM ALTO E BOM SOM: “FORA OMC!”

Cobertura Colaborativa Fuera OMC

Por Cobertura Colaborativa Fuera OMC

Sob um sol escaldante de domingo, na capital argentina, diversas delegações internacionais, movimentos indígenas, campesinos, territoriais, anti-extrativistas e feministas de todo o mundo foram chegando para somar forças ao protesto contra a conferência ministerial liberalizante da OMC.

Como exercício para o que será uma semana intensa de atividades, debates e marchas, realizou-se no domingo (10) o Festival Fuera OMC. E assim, enquanto a 11ª Conferência Interministerial da OMC era inaugurada a poucas quadras, no Centro Cultural Néstor Kirchner com pouquíssima representação da sociedade civil, nas ruas os povos voltaram a se encontrar.

Daniel Devita abriu o palco com seu rap Fuera OMC. Em seguida, a Frente de Artistas de Cienfuegos apresentou uma performance contra as grandes marcas multinacionais. Diego Valdecantos, Marisa Vázquez, Las Taradas, entre outros artistas de diversas nacionalidades deram sequência ao espetáculo, em uma fusão de estilos, unificando o repúdio à Organização Mundial do Comércio, que prioriza os interesses do capital em detrimento das necessidades do povo.

Através de um comunicado, a Confluência Fora OMC, organização plural que desde o início do ano vem construindo a proposta da Cumbre de los Pueblos (Cúpula dos Povos) contra a OMC, afirmou que

“a luta contra a OMC é global e possui uma rica história de mobilizações e articulações, já que a instituição representa os interesses das empresas transnacionais e não os direitos nem as necessidades do povo”.

Os organizadores da chamada “contra-cúpula” acreditam que este é o momento de avançar na criação de alternativas sociais, políticas, econômicas, feministas e ambientalistas que ponham fim à impunidade corporativa, deem prioridade aos direitos humanos e garantam a harmonia com o meio ambiente.

Com a chegada do primeiro ar fresco do entardecer, duas mulheres, duas mães lutadoras tomaram a palavra: Isabel Huala, mãe de Facundo Jones Huala, preso político mapuche, e Nora Cortiñas, da organização Mães da Praça de Maio – Linha fundadora. Isabel disse aos presentes que seu “filho está detido e não é casual que neste contexto ele esteja preso, nem que estejam matando nosso povo e pessoas como Santiago [Maldonado]”, em referência ao militante morto em agosto deste ano após ser reprimido pelas forças do Estado em um protesto da causa mapuche. “Somos contra o capitalismo, somos contra seu mal chamado progresso”, disse, e sob aplausos desafiou: “Agora é o momento de defender a mãe terra e dizer ‘basta’!”.

Depois foi a vez de Nora Cortiñas, sempre presente nas lutas do povo, manifestar-se: “Estamos vivendo hoje uma perseguição política muito dura: estamos perdendo o estado de direito”. Nora denunciou que “todos os dias há detenções arbitrárias, sem julgamento, nem processo”. Em relação à chegada da OMC à Argentina, repudiou a decisão autoritária do governo local de cancelar as credenciais e deportar membros de ONGs que participariam do evento oficial e do evento paralelo. “Não foi permitida a entrada de 64 pessoas do exterior que vinham a este ato, e isso não costumava acontecer na Argentina. Estão nos convocando para uma luta mais forte nas ruas”.

O ato contou também com a presença da cantora argentina Malena D’Alessio, que já havia participado da Jornada “Não à Alca”, em 2005. Malena disse que “está onde tem que estar” e que “há um acordo para que os povos estejam despolitizados, anestesiados e desconectados”. Destacou a importância de que “haja novas formas de comunicação, como a arte, neste caso, que possam interpelar os povos”.

Na manhã de ontem (11) começou a primeira jornada de fóruns para compartilhar vivências e experiências de luta, alternativas econômicas e criar um futuro em que os povos conquistem soberania. As mesas de discussão acontecem em Buenos Aires até o dia 13.

 

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