Sem dúvida, um dos pontos altos do ano de 2019, e que merecerá toda nossa atenção, será o desfile que a escola de samba Acadêmicos do Salgueiro preparou para Marques de Sapucaí.Mordida depois do terceiro lugar obtido no último ano, em que homenageou as mulheres negras com um carnaval luxuoso, o Salgueiro aposta desta vez em nada menos que seu padroeiro, Xangô, em um enredo que mexe com emocional de seus componentes de uma forma especialíssima.
Impulsionada, ainda, por samba entre os melhores que foram apresentados nos últimos anos, com versos em português e iorubá, a melodia parece convocar, de fato, o orixá que também dá o tom das cores da escola, para disputa pelo título.
Diz o refrão:
“Olori, Xangô, oiêo
Kabelice, meu padroeiro
Traz a vitória para o meu Salgueiro”
Na Umbanda e Candomblé, Xangô é associado à justiça, ao fogo e aos trovões. Quem viu os ensaios técnicos pelas ruas da Tijuca, imediações do morro do Salgueiro, onde fica a escola, ou na Sapucaí, garante que há muito não se via essa escola tão afiada e animada.
Na bateria, que teve troca de comando, o maestro Jorge Cardozo ouviu a cinco ogãs, e introduziu o alujá, espécie de marcha de percussão que é um toque para Xangô nos ritos tradicionais de matriz africana. Mais um ponto de intersecção entre fé e carnaval nesse desfile.
Em um ano que marca para o Rio de Janeiro a consagração política de personalidades hostis às tradições afrobrasileiras, com Crivella, Witzel e Bolsonaro no poder, e ainda sob ameaças persistentes de corte de patrocínios para os desfiles apesar da festa atrair milhares de turistas para cidade, a ode à entidade nagô será também uma catarse para boa parte do público.
Outras boas novidades devem aparecer neste carnaval, mas o que todas as plumas e paetês do Rio de Janeiro sabem neste momento é que o desfile do Salgueiro será histórico.