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Cultura

O sucesso de Tarsila do Amaral e a resistência a Bolsonaro

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Por Paulo Ermantino, para os jornalistas livres

Estamos vivendo em um período que parecia inimaginável a pouco tempo atrás, aonde um presidente da República (presidente com minúscula mesmo) realiza ataques sistemáticos a educação, a cultura, as mulheres, aos trabalhadores, ao bem estar social e etc. Uma verdadeira agenda obscurantista.

O escritor Lira Neto, autor de livros como as biografias do ex-presidente Getúlio Vargas e da cantora Maysa, entre outros títulos, escreveu em seu Twitter respondendo a um leitor sobre como “seguir saudável nesta onda de obscurantismo”. Ele respondeu: “Sugiro a sabotagem: ler literatura, assistir a bons filmes, frequentar exposições de arte, ir a roda de samba, dançar forró, amar. Cultivar subversiva alegria. Contra a pulsão da morte, só a anarquia da felicidade.”

Foi isso que observamos ao acompanhar in loco o último dia da exposição “Tarsila Popular” no Masp que se encerrou no último domingo, 28/07, exposição que fez juz ao seu título e foi um enorme sucesso popular.

Aqui precisamos abrir um parênteses, a exposição de fato foi um enorme sucesso popular, apesar do preço dos ingressos (R$ 40,00!), conseguiu quebrar o recorde de visitantes em uma única exposição com o total de 402.850 visitantes.

Mas o pulo do gato não está nos números finais, e sim como se chegou a esses números, pois as visitações de terça-feira, que é gratuita no museu, representaram “metade do público da exposição”, conforme comunicado do Masp a imprensa.

Não é a toa que foi na última terça-feira (23/07), com entrada gratuita, que a exposição bateu o recorde histórico de visitantes em um único dia recebendo 8.818 visitantes.

Terminando esse importante parênteses, vamos voltar a Tarsila do Amaral, mais precisamente a seus quadros “Abaporu” e “Antropofagia”, que como o nome do último quadro citado diz, são símbolos do “Manifesto Antropófago” de Oswald de Andrade e do movimento modernista, que pretendia “canibalizar” partes da cultura europeia, reforçando nossas bases ameríndias e afrodescendentes, transformando tudo em nosso caldo de brasilianidade.

Um quadro de exaltação de nossa cultura e de incorporação do melhor de cada experiência cultural, aonde podemos dizer seguramente que a antropofagia cultural não se limitou ao modernismo, pois muitos outros movimentos beberam desta fonte.

Seja com o Tropicalismo, ou a mistura do rock dos anos 50 de Elvis Plesley e de Little Richard com Genival Lacerda proposto por Raul Seixas, o Maracatu Atômico do Nação Zumbi ou até mesmo as misturas do jazz, do blues e do soul da cultura negra norte-americana com os ritmos locais que acabaram transformaram-se no brasileiríssimo samba-rock.

Foram movimentos, ações e reações muito distintas do momento atual, que nos faz lembrar muito de uma passagem importante de Macunaíma, escrito por outro Andrade da época, o Mário (que teve seu retrato feito por Tarsila e apresentado nesta exposição), quando Macunaíma comeu um pedaço do Curupira, o demônio da Amazônia com os pés virados e os cabelos de fogo e ao tentar fugir do demônio, esse pedaço do coisa ruim ficava gritando “tô aqui, tô aqui”, de dentro do herói enquanto esse tentava fugir.

Nas eleições o povo brasileiro comeu um pedaço de carne do fascismo e agora essa podridão fica chamando seu dono, gritando de dentro de nossas entranhas: reforma da previdência, talkey. Liberar o trabalho de domingo, talkey. Tirar os 40% do FGTS, talkey. E por aí vai.

Em tempo, após diversas declarações, diversos talkeys do presidente Jair Bolsonaro no sentido de promover a exploração, o garimpo e a mineração em terras indígenas, um grupo de garimpeiros armados invadiu a aldeia Waiãpi no Amapá e os habitantes da aldeia precisam fugir para outra aldeia vizinha. O líder da aldeia, cacique Emyra, de 68 anos, foi encontrado morto com sinais de facadas.

Mesmo após este ataque, o presidente reafirmou nesta segunda-feira, 29/07, sua intenção de legalizar o garimpo no país.

Michelle Bachelet, atual chefe da ONU para os Direitos Humanos e ex-Presidenta do Chile, condenou o assassinato

 

do cacique Emyra e solicitou ao governo que reconsidere a abertura de áreas da Amazônia à mineração.

Neste caso, precisamos considerar três fatores: os dois primeiros têm nome e sobrenome, os nomes são Mariana e Brumadinho, o sobrenome, crimes ambientais.

O terceiro fator é que metade do território dos Waiãpi fica na área da Renca (Reserva Nacional do Cobre e Associados), que o ex-presidente e e ex-detento (acusado de formação de cartel, fraude em licitações, etc) Michel Temer tentou extinguir em 2017.

Fica a pergunta, quais interesses unem Michael Temer e Jair Bolsonaro?

Novamente relembrando a obra de Mário de Andrade, os efeitos da indigestão de todo esse lixo retrógrado só vão melhorar quando fizermos como Macunaíma e vomitarmos todo essa podridão.

E gostaríamos de informar que o vômito não precisa ser literal, pode ser algo suave como o twitte seguinte de Lira Neto na continuação da resposta a seu leitor:

“Cultivar a subversão da alegria não significa deixar de denunciar – e lutar – contra a tristeza autoritária do bolsonarismo. É, ao contrário, uma forma de luta, um antídoto contra o derrotismo prévio e imobilista, a permanência no luto político. É chegada a hora de reagir.”

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Cultura

Dança, acessibilidade e profissionalização para artistas com deficiência

PROCENA começa nesta quarta-feira tematizando dança, acessibilidade e profissionalização para artistas com deficiência

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Desde 2016,  o PROCENA, festival de cultura que nasceu em Goiás com a leis de incentivo Fundo de Arte e Cultura de Goiás,  tem promovido a discussão sobre acessibilidade e diversos outros assuntos que atravessam as realidades dos artistas, produtores e profissionais com vocação para assistência à pessoa com deficiência. Realizado de dois em dois anos, o evento que começou envolvendo a comunidade regional, em 2020 se expande para todo o Brasil, via redes sociais.

A pandemia, que tem feito os brasileiros tentarem uma adaptação de suas vidas, na medida do que é possibilitado, frente a um governo federal negacionista que tem priorizado pouco ou quase nada salvar a vida dos cidadãos, também tem feito com que os produtores dos festivais culturais adaptem a realidade dos festivais, que costumavam ser espaços físicos não só de cultura, mas também acolhimento, troca e discussões transformadoras da nossa realidade.

Mas como bem colocado pelo coordenador do evento sobre o novo formato do PROCENA, Thiago Santana, “a realização virtual impediu o contato físico, porém ampliou o alcance do evento, gerando discussões que vão além das fronteiras”. O desafio agora é democratizar o espaço das redes sociais, para que o acesso chegue a todos e todas

De 7 a 10 de outubro, o Youtube, Facebook e Instagram serão os palcos de apresentações de danças de Goiás, grupos de outras regiões do Brasil e um de Portugal, já que este ano a dança como uma linguagem que inclui é o tema do PROCENA. Para aprofundar nas discussões, a cada dia será apresentado um webnário com um temas que envolvem política, arte e acessibilidade. Então, já assina o canal do YouTube, segue no Facebook e Instagram para garantir que não vai se esquecer desta programão super necessário.

As discussões apontaram a dança como uma linguagem que inclui e oferece mais possibilidades de acessibilidade para artistas e também para espectadores com deficiência. “Esses debates nos fizeram decidir por começar esta nova proposta com a dança, suas contribuições para a produção cênica, seus processos formativos e composições estéticas da cena inclusiva e acessível”, justifica Thiago Santana, coordenador do evento.

O coordenador também destaca a importância das leis de incentivo e mecanismos de fomento incluírem exigências e orientações para uma produção inclusiva e acessível às produções artísticas, como por exemplo, do Fundo de Arte e Cultura de Goiás. Ele lembra, contudo, que isso é fruto das metas do Plano Nacional de Cultura, aprovado em 2010 pela então presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, em diálogo com outros marcos legais como a Convenção da Pessoa com Deficiência e a Lei Brasileira da Inclusão. Instrumentos que, por sua vez, são resultados de debates e discussões da área, como esses que serão realizados nesta edição do Procena.

PROCENA 2020 – dança, acessibilidade e profissionalização para artistas com deficiência 

Datas: 7 a 10 de outubro

Transmissão: Instagram, Facebook e YouTube do Evento.

Programação completa: http://procenago.com/procena_2020/

7 de outubro: 

9h – Oficina “Dance ability”, com Ana Alonso

14h – Oficina “Corpo Zona Dissoluta”, com Alexandre Américo

17h – Webinário “Papo #PraCegoVer”, com Patrícia Braille e Luciene Gomes

19h – Espetáculo “Dez Mil Seres”, com a Cia Dançando com a Diferença (Portugal)


8 de outubro: 

8h – Websérie “Essa é a minha arte! Qual é a sua?”

9h – Oficina  de Dança Inclusiva “Estranho hoje?!!, normal amanhã?!!!”, com Marline Dorneles

14h – Oficina “Corpo Zona Dissoluta”, com Alexandre Américo

17h – Webinário “Políticas culturais e a produção de artistas com deficiência”, com Sacha Witkowski, Claudia Reinoso, Ingrid David e Eduardo Victor

19h – Espetáculo “Berorrokan – A origem do mundo Karajá”, com INAI/NAIBF – GO


9 de outubro: 

8h – Websérie “Essa é a minha arte! Qual é a sua?”

9h – Oficina  de Dança Movi(mente), com Ana Balata e Laysa Gladistone

14h – Oficina de Criação Cênica Acessível em ambiente virtual, com Thiago Santana

17h – Webinário “Formação em dança e recursos de acessibilidade”, com Marlini Dorneles (UFG), Vanessa Santana (UFG) e Marcelo Marques

19h – Espetáculo “Similitudo”, com Projeto Pés (DF)


10 de outubro: 

8h – Websérie “Essa é a minha arte! Qual é a sua?”

9h – Oficina  de Dança Movi(mente), com Ana Balata e Laysa Gladistone

14h – Oficina de Criação Cênica Acessível em ambiente virtual, com Thiago Santana

17h – Webinário “Corpos diferenciados e a cena”, com Henrique Amoedo, Mônica Gaspar e Alexandre Américo.

19h – Espetáculo  “die einen, die anderen – alguns outros”, com a Cia Gira Dança (RN)

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Cultura

Projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro #53 – Tiago Judas: Homem-Caixa

Tiago Judas apresenta o 53º ensaio do Projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro – Imagens que narram nossa história

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Tiago Judas: Homem Caixa

O Homem-Caixa, fora de sua casa-caixa, continua internalizado, privado, caminhando pelas ruas vazias de uma cidade-caixa em quarentena gerada pela pandemia do Coronavírus. É mais fácil percebê-lo em tempos de isolamento social, mas não é de agora que somos caixas dentro de caixas: empilhados, segregados, rotulados.

A princípio, o Homem-Caixa, não desperdiça espaços vazios, pois a sua capacidade de empilhamento é alta e facilita a gentrificação; mas, a propriedade descartável de seu material é, a longo prazo, entrópica.

Para realizar pela primeira vez o truque em que o mágico serra uma mulher ao meio em 1921, Percy Thomas Tibbles, teve que descobrir antes, até que ponto uma pessoa era capaz de se contorcer dentro de uma caixa apertada.

Em 2020 estamos tendo que redescobrir essa capacidade, mas as caixas desta vez, são as classes sociais; as etnias; as escolhas políticas. Uma vez encaixados, vivemos a ilusão de que podemos nos separar um do outro simplesmente serrando a caixa ao meio; mas tudo só faz parte desse antigo jogo de esconder.

O Homem-Caixa é frágil, descartável e fácil de ser armazenado.

Tiago Judas: Homem Caixa
Tiago Judas: Homem Caixa
Tiago Judas: Homem Caixa
Tiago Judas: Homem Caixa
Tiago Judas: Homem Caixa
Tiago Judas: Homem Caixa
Tiago Judas: Homem Caixa
Tiago Judas: Homem Caixa
Tiago Judas: Homem Caixa

Minibio

Tiago Judas (São Paulo, SP, Brasil, 1978) é bacharel em Artes Plásticas pela Fundação Armando Álvares Penteado – FAAP (São Paulo, SP, Brasil, 2001) e possui licenciatura plena em Arte pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo (São Paulo, SP, Brasil, 2009). Sua produção artística inclui desenhos, objetos e vídeos, além de histórias em quadrinhos.
Desde 2000, Judas tem exposto em importantes instituições culturais brasileiras e também expôs trabalhos em países como Alemanha, Áustria, Espanha, EUA e Peru. Em 2007, Judas foi contemplado com o Prêmio Aquisição do 14º Salão da Bahia (Salvador, BA, Brasil).

Em seus trabalhos, Tiago Judas busca conciliar as artes plásticas e as histórias em quadrinhos, fazendo com que uma influencie a outra. Vale ressaltar ainda que, ao longo dos últimos anos, Judas também tem trabalhado como ilustrador autônomo para jornais, revistas e editoras de livros e atua também como educador, desde 2001 orientou oficinas de arte em centros culturais como no Sesc, Museu da Imagem e do Som, Paço das artes, Museu de Arte Moderna de São Paulo, Fábricas de Cultura, além de outros projetos.

Para conhecer mais o trabalho do artista

https://www.instagram.com/tiago_judas/

http://portifoliotiagojudas.blogspot.com/

https://mesadeluzzz.blogspot.com/

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O projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro é um projeto dos Jornalistas Livres, a partir de uma ideia do artista e jornalista livre Sato do Brasil. Um espaço de ensaios fotográficos e imagéticos sobre esses tempos de pandemia, vividos sob o signo abissal de um governo inumanista onde começamos a vislumbrar um porvir desconhecido, isolado, estranho mas também louco e visionário. Nessa fresta de tempo, convidamos os criadores das imagens de nosso tempo, trazer seus ensaios, seus pensamentos de mundo, suas críticas, seus sonhos, sua visão da vida. Quem quiser participar, conversamos. Vamos nessa! Trazer um respiro nesse isolamento precário de abraços e encontros. Podem ser imagens revistas de um tempo de memória, documentação desses dias de novas relações, uma ideia do que teremos daqui pra frente. Uma fresta entre passado, futuro e presente.

Outros ensaios deste projeto: https://jornalistaslivres.org/?s=futuro+do+presente

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Cultura

Projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro #52 – Felipe Cretella: Procissão

Felipe Cretella apresenta o 52º ensaio do Projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro – Imagens que narram nossa história

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Procissão - Felipe Cretella

Procissão. Refotografias do Círio de Nazaré – Bélem do Pará – Brasil – 2013.

Círio é quando agradecemos pelo passado e pedimos pelo futuro. É onde estamos todos presentes e ligados numa mesma vibração de luz e fé. Um rio de gente de todas as crenças e lugares, aglomerados e misturados. Esse ano não teremos o Círio nas ruas. Não estaremos juntos fisicamente, mas estaremos presentes em energia. Unidos pela fé no futuro, no presente e no passado.

Sequência de fotografias registradas na noite da trasladação e refotografadas em TV de tubo.

A trasladação é uma procissão noturna que acontece na semana do Círio de Nazaré em Belém do Pará, e antecede o evento principal que é realizado no domingo. Reúne mais de 1 milhão de pessoas em uma onda de agradecimentos e esperança.

O processo: ensaio original registrado na noite da trasladação. Essas fotografias então são projetadas em TV de tubo e refotografadas em longa exposição e movimento.

Procissão - Felipe Cretella
Procissão - Felipe Cretella
Procissão - Felipe Cretella
Procissão - Felipe Cretella
Procissão - Felipe Cretella
Procissão - Felipe Cretella
Procissão - Felipe Cretella
Procissão - Felipe Cretella
Procissão - Felipe Cretella
Procissão - Felipe Cretella
Procissão - Felipe Cretella
Procissão - Felipe Cretella
Procissão - Felipe Cretella
Procissão - Felipe Cretella
Procissão - Felipe Cretella

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Felipe Cretella - Procissão

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Felipe Cretella nasceu em São Paulo, em 1977.

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Para conhecer mais o trabalho do artista

www.felipecretella.com.br

https://www.instagram.com/feecretella/

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O projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro é um projeto dos Jornalistas Livres, a partir de uma ideia do artista e jornalista livre Sato do Brasil. Um espaço de ensaios fotográficos e imagéticos sobre esses tempos de pandemia, vividos sob o signo abissal de um governo inumanista onde começamos a vislumbrar um porvir desconhecido, isolado, estranho mas também louco e visionário. Nessa fresta de tempo, convidamos os criadores das imagens de nosso tempo, trazer seus ensaios, seus pensamentos de mundo, suas críticas, seus sonhos, sua visão da vida. Quem quiser participar, conversamos. Vamos nessa! Trazer um respiro nesse isolamento precário de abraços e encontros. Podem ser imagens revistas de um tempo de memória, documentação desses dias de novas relações, uma ideia do que teremos daqui pra frente. Uma fresta entre passado, futuro e presente.

Outros ensaios deste projeto: https://jornalistaslivres.org/?s=futuro+do+presente

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