Há sombras. Sombras azuis iluminam o campus. Não faltam lembranças em prédio tão firme, construção sólida que abriga a Geografia e História na cidade universitária da USP. Tantas aulas abertas já se fizeram ali nos últimos 40 anos, muitas delas históricas.
Recordo-me do geógrafo Milton Santos e seu bocão em grandes abraços, sorriso amplo entre os olhos, minando água limpa em nossas línguas. Tantas bocas, faces e visão atenta na geografia e história das utopias.

Ouvi muitas promessas verdadeiras nesses cantos. Muitos professores já silenciaram, é verdade, morreram ensinando aqui. Octávio Ianni, Florestam Fernandes, Milton Santos foram os que, próximo aprendi na década de 1980, onde a professora Marilena Chauí ainda solta a voz, com o peso do verbo, clara em neve sobre um bom bolo.

Há uma nudez no dia de hoje, dos pés à cabeça. Após tantas décadas, as armas ainda são as canetas, lápis e ideias, papéis de estudantes. Uma grande aldeia. Impressiona-me tantas caras juntas olhando para o mesmo local, atentos tantos olhos a mirar, como quem na tribo ouve seus caciques, maduras mentes e opiniões.
Ouve-se.

A aula aberta Construindo a Democracia, realizada essa semana no edifício da faculdade de geografia e história, na FFLCH da USP, com Vladimir Pinheiro Safatle , Marilena Chauí, André Singer e Ruy Braga , foi daqueles fatos que colocam a vida à frente do cortejo. Pensar é possível, há esperança na universidade.
Tanta frase densa de nuvens de chuva:
Formar uma frente democrática que coloque um dique nessa onda autoritária.
Só pode entrar numa universidade para pensar, debater ideias, estudar.
A sociedade mobilizada que não permita nosso isolamento, o pensamento crítico, numa grande Frente da Sociedade Civil, ampla, em favor da defesa da democracia em que os partidos terão que se somar ou ficarão sem base.
Se o inverno é deles a primavera é nossa.
Cada um deve compreender o que sabe. Um não saber que sabe é o totalitarismo em seu núcleo mais duro, que torna todas as instituições sociais e políticas indiferenciadas, homogêneas. Quando tudo é o mesmo, um todo formado por ele mesmo. Sua cara contemporânea é o neoliberalismo, onde tudo é gerido pela lógica de uma empresa, ilumina Marilena Chauí.
Se estamos entre crises que inundam a todos, também um celeiro de ideias nos envolve. Tudo brilha em noite nesse momento, é tempo de abraço coletivo e olhos nos olhos.
É tempo de andar juntos, cuidar.
*imagens por Shiro A© e Helio Carlos Mello©, Jornalistas Livres.
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