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Rio de Janeiro

O que acontece na Rocinha?

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O repórter fotográfico Francisco Proner fez o registro em imagens da principal ação repressiva do Exército Brasileiro desde o fim da Ditadura Militar, em 1985.

Trata-se da mega-operação no Morro da Rocinha, no Rio de Janeiro, iniciada na sexta-feira (22/09) em que mais de 1.000 militares estão envolvidos por ordem do ministério da Defesa. O objetivo tático da operação é conseguir um cessar-fogo entre dois grupos de traficantes: o de Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157, e o de Antônio Bonfim Lopes, o Nem, que está preso desde 2011.

Os confrontos entre facções pelo controle do tráfico de drogas na Rocinha começaram a se intensificar no dia 17 deste mês.

De dentro do presídio federal onde está preso em Rondônia, Nem ordenou a invasão da Rocinha por “soldados” da ADA (facção Amigos dos Amigos), que é a segunda maior do Rio. O motivo seria a insatisfação com a atuação de Rogério , que ordenou o aumento dos preços de produtos e serviços controlados pelos traficantes, como água e mototáxi. Rogério teve o reforço de criminosos do Comando Vermelho (CV).

A Rocinha é a maior favela do país, com seus 70.000 habitantes. Tornou-se um ponto de disputa ferrenha entre os líderes do tráfico de drogas porque se localiza entre os bairros endinheirados da Gávea e São Conrado (os dois detentores do metro quadrado mais valorizado da cidade). Os ricos moradores da Gávea e de São Conrado garantem o mercado consumidor das drogas que o tráfico provê.

Vítima da violência policial de um lado, e da cobiça dos traficantes de outro, a população da Rocinha, entretanto, é muito pobre. Seu índice de desenvolvimento humano (IDH) no ano 2000 era de 0,732, o 120º colocado entre 126 regiões analisadas no Rio de Janeiro.

O fotógrafo Francisco Proner chegou à Rocinha às 10h de sexta-feira e lá permaneceu até as 19h. Ele assistiu à chegada de 950 soldados, nove blindados, vários jipes, dois ou três helicópteros. Viu quando fecharam o espaço aéreo sobre a favela. Na verdade, o Exército chegou atrasado. Era para ter entrado às 10h, mas só subiu as ladeiras da comunidade a partir das 17h30 –comenta-se que a demora foi para tentar convencer Rogério 157 a se entregar, o que acabou não acontecendo.

“Na noite de sexta para sábado, houve vários tiroteios. No sábado já estava tudo mais calmo. Eu tive acesso à rua 2, onde se vêem paredes, carros e motocicletas crivados de balas de longo alcance. Muitos moradores dizem que foram os traficantes que fizeram isso, para mostrar autoridade”, explica Francisco Proner.

Rogério 157 sucedeu Nem no comando do tráfico na Rocinha, depois da prisão deste. Os moradores dizem que o sucessor “tem alma de miliciano”. Para quem não sabe, as comunidades pobres do Rio de Janeiro são oprimidas por traficantes, policiais e milicianos, que são policiais da ativa ou da reserva que, depois de prender ou matar um líder local do tráfico, resolvem assumir, com mão de ferro, os negócios do traficante eliminado). Na linguagem das favelas, ter “alma de miliciano” equivale a ser autoritário, controlador, controlador de preços.

Na Rocinha, o botijão de gás de 13 kg custa R$ 100, o dobro do que custa a mercadoria entregue nos bairros de classe média. Rogério aumentou todos os preços da favela. O pão está mais caro, o leite idem, a água também. “Está tudo mais caro para mostrar a autoridade que ele tem, que os tempos são outros. Que não é mais o tempo de Nem. É tempo de Rogério 157.”

Na sexta-feira, o contingente de militares fazendo ronda na favela era impressionante e assustador. Em cada beco era um blindado cercado por 10 a 15 homens armados com fuzis e metralhadoras. Eles subiam e desciam as escadarias da favela, apontando suas armas para todos os lados. Neste domingo, o contingente militar diminuiu bastante. Os guardas são encontrados a cada 100 metros… Mas ainda assim são poucas pessoas nas ruas.

Em tempo: Acaba de chegar a informação de que vem mais uma tropa com vários carros e um blindado. Eles estão chegando agora na Rocinha. Guerra que segue. Triste Rocinha.

Imagens: Francisco Proner
Texto: Laura Capriglione

Rio de Janeiro

Quem é o autor da foto que viralizou do BRT no Rio

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A foto que mostra um vagão do BRT (ônibus de transito rápido), na cidade do Rio de Janeiro, com uma super lotação viralizou na internet enquanto o Brasil assume a liderança de infectados pelo novo coronavírus e assume um dos primeiros lugares de número de mortes.

Quem tirou a foto foi Yan Marcelo Carpenter, após sair do trabalho na segunda por volta das 21:30, “assim que eu bati a cara no VRT,  vi que estava impraticável. [Estava]  o auge da doença. Estava ali, proliferando”. Ele conta que não manifesta nenhum sintoma até agora, mas se preocupou. A cidade esta em processo de flexibilização do isolamento, mas o movimento já é mais intenso do que nas ultimas semanas. O fotógrafo ainda conta o que impressionou “voltou a ser os dias comuns, só que com a maioria de máscara. É sinistro. E todos os veículos de transporte público são assim, em praticamente todas as linhas”.

O fotógrafo Yan Marcelo Carpenter / Arquivo Pessoal

O Yan, que atualmente trabalha em uma hamburgueria, é formado em história e começou a fotografar após sair de uma banda na qual tocava como baterista “no tempo em que a bateria estava ali encostada, eu já vinha fotografando com câmeras emprestadas. Depois consegui comprar a minha câmera. Já estou há seis anos na fotografia”.

A imagem que mostra uma cena comum dos transportes públicos brasileiros, os pequenos espaços de vagões de trens e cabines de ônibus lotados, ganha mais simbolismo enquanto explode no mundo protestos antiracistas que começaram por conta do assassinato de George Floyd, nos EUA, e passaram a adotar pautas internas em outros países, como aconteceu no Brasil. Os dois últimos finais de semana viram grandes atos nas principais cidades do país em solidariedade aos atos estadunidenses, mas também por conta de assassinatos causados por policiais, como a do menino João Pedro , ou de casos de racismo explícito, como o que resultou na morte do garoto Miguel. A foto (que já passou a ocupar lugar na história da fotografia brasileira) mostra que os trabalhadores aglomerados no vagão são, em sua maioria, negros. Não é preciso dizer mais nada.

Ao longo dos últimos três meses, quando  o país passou a adotar as primeiras medida de isolamento social,  o abismo econômico e racial brasileiro se mostrou novamente. Quem pôde parar de se locomover nas cidades foi a classe média, majoritariamente branca. Quem teve que se manter em movimento? A foto de Yan responde.

Conheça mais o trabalhode Yan

https://instagram.com/yanzitx?igshid=1u1ex87gav3gb

 

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Moradia

Moradia digna: um direito essencial em tempos de pandemia

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Luciana Novaes, vereadora do PT do Rio de Janeiro
Durante a pré-história os seres humanos desenvolveram técnicas de domesticação de plantas e animais em um processo que historiadores e antropólogos conhecem como sedentarização. Aos poucos deixamos de vagar pelo mundo em busca de alimentos e passamos a construir o que chamamos hoje de moradia. Desde então, as habitações se tornaram elementos indispensáveis para a boa manutenção da vida humana. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, no artigo 25°, reconhece que todo ser humano deve ter um padrão de vida suficiente para garantir a si e a sua família saúde e bem-estar, e isso inclui a habitação. O mesmo faz a Constituição Brasileira ao garantir no artigo 6º que a moradia é um direito social.
Porém, os dispositivos legais não foram suficientes para assegurar moradia digna para todos os brasileiros. Estima-se que o Brasil tenha um déficit habitacional de cerca de 7,7 milhões de residências. Na cidade do Rio de Janeiro, a situação é dramática e faltam mais de 220 mil habitações. Ao mesmo tempo, a capital fluminense é a segunda cidade com o aluguel mais caro do país, perdendo apenas para São Paulo. A defasagem no número de domicílios é um dos fatores que fizeram a população de rua do município crescer acentuadamente. Dados da Defensoria Pública do Rio de Janeiro de 2019 estimam que ao menos 15 mil cariocas estão no relento. Por sua vez,os abrigos atendem apenas 2,3 mil pessoas menos de 15% do necessário.
No meio da crise do coronavírus, não são apenas os desabrigados que preocupam, mas também quem reside em habitações insalubres. É preciso lembrar que 22,5% da população da cidade do Rio de Janeiro mora em favelas. Na periferia da cidade o isolamento social mostrou-se inviável, e um dos motivos é a precariedade das habitações. Na Rocinha, por exemplo, 38% dos moradores dividem o mesmo cômodo com uma ou mais pessoas, já na Tijuca esse percentual cai para apenas 2% dos habitantes.
Contudo, o poder público municipal parece dar de ombros para o problema habitacional, mesmo quando se trata de conter o vírus. Medidas paliativas que poderiam amenizar a situação de quem não dispõe de uma casa segura nesse momento não foram tomadas. É o caso do arrendamento de hotéis inoperantes, que poderiam abrigar parcela da população de rua, ou mesmo servir para isolar casos suspeitos. Essa medida foi importante, por exemplo, na Itália, cuja rede hoteleira acolheu moradores de rua e cidadãos que não tinham condições de isolamento, uma vez que nos centros urbanos como a Lombardia grande parte das habitações são apartamentos verticais pouco espaçosos.
A pandemia escancara aos gestores públicos que é preciso frear a grande especulação imobiliária no município do Rio de Janeiro, que supervaloriza imóveis enquanto escanteia para os morros e os cantões urbanos os pobres e desabrigados, negando a eles o direito à cidade. É necessário também apostar em uma política pública justa de urbanização e construção de moradias populares. Moradia digna não pode ser o privilégio de poucos, deve ser direito de todos.

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EUA

João Pedro e George Floyd

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Eles têm compulsão e gozo pelo jorro do nosso sangue. Eles não nos deixam respirar, quebram nosso pescoço e se regozijam com nossa dor. Eles atiram em nossos meninos rendidos dentro de casa, pelas costas.

Eles fazem publicidade do genocídio como mecanismo de controle, de domesticação dos corpos negros-alvo.

Eles nos matam por prazer e sadismo, investidos da condição de heróis, exterminadores do inimigo gestado nos porões de seu imaginário branco, podre e encurralado.

Nós emudecemos. O abate tem mesmo essa função, é diuturno, imparável, incansável, é disparado de todas as direções em nossa direção.

Nós portamos um alfanje para incisões precisas e profundas, uma cabaça com ervas para cuidar da úlcera, punhados de pólvora e sabedoria para fazer fogo, para explodir em fogo esse mundo que nos aniquila.

Nós somos búfalos, uma manada de búfalos. Nós temos a força que faz o leão chorar, e o esmaga, feito barata.

*Cidinha da Silva é autora de # Parem de nos matar! (Kuanza Produções / Pólen, 2019) e Um Exu em Nova York (Pallas, 2018), entre outros.

MAIS SOBRE:
https://jornalistaslivres.org/policial-americano-tortura-e-mata-no-meio-da-rua-george-floyd-negro-que-estava-algemado/

 

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