O ônibus de BH pode custar R$3,45

Por Josué Gomes, para os Jornalistas Livres 

O dia de hoje marcou e ainda irá marcar um capítulo na história da mobilidade urbana de Belo Horizonte. Reunidos na Escola de Arquitetura da UFMG trabalhadores, estudantes, duas vereadoras (Cida Falabella e Bella Gonçalves) e um vereador (Pedro Patrus), e militantes de diversas causas presenciaram o lançamento do primeiro cálculo tarifário do transporte público da capital mineira em 10 anos. Organizado pelo movimento Tarifa Zero BH, o evento “Você pode pagar” menos aconteceu na noite da terça-feira 18/12. A intensidade dessa marca só será possível de se medir em um futuro, que por mais mais próximo que esteja, parece se distanciar devido ao medo das incertezas que nos aguardam.

O cálculo tarifário reúne uma série de fatores que resultam no preço final da passagem dos ônibus que atendem BH. Essa operação pode ser entendida como a divisão dos custos totais de operação do sistema pelo número de passageiros, considerando a reunião de três tipos de gastos: os variáveis, os fixos operacionais, impostos e custos da frota reserva. A modalidade de impostos é a primeira a ser retirada de jogo, pois desde junho de 2013, as empresas de transporte coletivo estão suspensas do imposto ISSQN – Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza, segundo a BHTrans, assim como os impostos PIS e COFINS. Os custos variáveis são compostos por gastos das empresas de ônibus em relação ao modelo do veículo, comparando os  custos do óleo diesel e lubrificantes, a rodagem e as peças de manutenção dividindo pelo preço do quilômetro rodado. Já o custo operacional engloba todos os gastos que as empresas de ônibus possuem como salários, diversos encargos sociais e benefícios de motoristas, cobradores, despachantes, pessoal administrativo e diretoria, investimento nas frotas, depreciação dos carros e demais gastos institucionais.

De Lucca Mezzacapa | Jornalistas Livres

Somando todas essas modalidades de gasto, descontando o ganho em publicidade e dividindo pelo número de usuários tem-se o resultado do preço mínimo da passagem.  As operações foram com base no ano de 2017 apontam o um preço justo de R$3,45 em contraste com os R$4,05 cobrados desde dezembro do mesmo ano. Dessa forma, o lucro das empresas com os R$0,60 seguindo os sistemas de gratuidade e meio passe para estudantes de ensino fundamental e médio chega a superar os 179 milhões de reais nos últimos 12 meses. CONFIRA TODO O PROCESSO DO CÁLCULO AQUI!

De Lucca Mezzacapa | Jornalistas Livres

Durante as duas horas de conversa no evento, o movimento fez questão de reiterar que acredita em uma mobilidade urbana enquanto direito. Portanto, mesmo com o preço justo calculado, cobrar pela a oportunidade de ir e vir é limitar o acesso à cidade. O Tarifa Zero aposta em um projeto político de cidade em que andar de ônibus seja de graça. Em um cenário que reúne os murmúrios da Comissão Parlamentar de Inquérito da BHTrans (Caixa Preta da BHTrans), onde pretende-se auditar os gastos do transporte público de BH, junto as declarações recentes do prefeito Alexandre Kalil e temor de mais um aumento da passagem, o cálculo tarifário se constitui como uma ação que exige resposta. A mobilidade urbana belorizontina conhecida por sua falta de participação da sociedade recebe um “cutucão” e o reagir das empresas e órgãos públicos é o que parte da população espera. O que ouviremos sobre os R$3,45? O que ouviremos sobre os R$179.259.975,38?

 

De Cadu Passos | Jornalistas Livres

Ao fim do evento uma confraternização sem tarifas refrescou os ânimos de quem aplaudiu as falas do movimento e de pessoas usuárias do transporte público no auditório. Todos que ali estavam testemunharam o resultado do esforço de pessoas que lutam pelo básico. Aos poucos, assim como eu, as pessoas que dependem de ônibus em escalas reduzidas durante a noite (embora cheios), sem cobradores e que não chegam até às ruas do tradicionalíssimo bairro Funcionários tomaram seu rumo levando consigo a esperança de um dia alcançarmos um projeto de mobilidade para se mover e não lucrar. 

 

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