Vivemos em uma sociedade patriarcal que vê o corpo da mulher como algo do Estado e dos homens, mas nunca das próprias mulheres. Nossa sociedade é doente ao ponto de controlar e condenar a autonomia das mulheres sobre seus próprios corpos. Mulheres são objetificadas e fetichizadas todos os dias e isso independe da forma com que estão vestidas. A cultura do estupro culpabiliza mulheres para camuflar os verdadeiros culpados por tais crimes: quem estupra.
Ontem, 24, a revista AzMina lançou a campanha #MamiloLivre com a falácia da liberdade sexual e de exposição do corpo feminino. As criadoras da campanha, uma fotógrafa e uma psicóloga, dizem que o objetivo do movimento é questionar a censura ao corpo da mulher, que sempre tem que ser visto como “obsceno” ou “sexual”.
Mas isso é mais do mesmo.
A campanha serve aos homens e ao patriarcado, e não às mulheres. Nós vivemos diariamente sendo objetificadas e esse tipo de campanha apenas reforça o que já acontece: os homens continuarão sexualizando os corpos das mulheres. Não é estranho perceber que a campanha recebeu, de imediato, o apoio dos homens.
A campanha se revela parte da falácia da liberdade sexual quando alimenta a fantasia e o fetiche masculino sobre os corpos das mulheres.
É sintomático que campanhas que colocam os corpos das mulheres à disposição dos homens ganhem tão rápido a mídia, e as pautas emergenciais, que as feministas gritam todos os dias, não apareçam nem em uma nota de rodapé. Não há interesse em falar sobre feminicídio, estupro, estupro marital, mulheres barriga de aluguel, sobre a estrutura de família que aprisiona mulheres, violência masculina (porque somente um dos gênero mata por misoginia e é o gênero masculino), maternidade, maternidade compulsória, heterossexualidade compulsória, lesbianidade e tantas outras pautas, que são ignoradas diariamente.
O intuito do sistema patriarcal não é dar autonomia de suas vidas e corpos às mulheres, muito pelo contrário.
O site da campanha diz que os seios não são o problema e sim a objetificação sexual que é feita deles, mas propõem uma campanha incentiva a objetificação. Com nenhuma responsabilidade, induzem meninas menores de idade a participarem da campanha (não há nenhum aviso no site que fale sobre nudez infantil, prevista como crime no art. 241-A da Lei nº 8.069/90).
É simbólico que apenas os seios considerados bonitos sejam aprovados pelos homens apoiadores da campanha. Quando mulheres gordas ou idosas postam imagens no corpo nu, são hostilizadas e ridicularizadas pelos mesmos homens que gritam apoio ao #MamiloLivre. É curioso também lembrar que mulheres mães são condenadas, julgadas e proibidas de amamentar seus filhos em público porque consideram algo impróprio.
Uma sociedade que condena uma mulher que amamenta uma criança, mas incentiva meninas adolescentes a tirarem suas blusas é, no mínimo, machista e misógina. Em nenhum momento a preocupação é com as mulheres e com os direitos que elas não tem, e sim sobre como os homens vão se aproveitar de tal ato.
A sociedade sempre “aceitou” nossos corpos, ou melhor dizendo, usou. Eles estão nas embalagens de bebida alcoólica, nas propagandas de cerveja, nos filmes pornôs e nas revistas para o publico adulto. O capitalismo usa nossos corpos há muito tempo. O corpo feminino está exposto nas novelas, revistas, portais, filmes, outdoors e todo tipo de propagada. Nosso corpo não passa de uma mercadoria aos olhos do capitalismo.
E aí, pra quem serve o mamilaço? Você, mulher, se sente dona do seu corpo sabendo que um homem está se aproveitando da tua falsa sensação de liberdade como estimulo sexual? Conta pra gente!
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