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O FOTÓGRAFO CONDENADO

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Sérgio Silva nasceu no dia 22 de outubro de 1980, teve uma infância humilde e sofrida e, embora seja o mais velho seis irmãos, sempre recebeu o mesmo cuidado e carinho da D. Carlinda, sua mãe, uma senhora baiana, de pele enrugada, sofrida, mas de fala e olhar doce, que não mediu esforços para criar em carreira solo, esse time de filhos, na baixada do Ipiranga, em São Paulo.

O pouco ou quase nenhum dinheiro não travou Sérgio. Ele se esforçou e, logo no início da adolescência, tratou de se interessar pela arte, pelos livros e daí, para se interessar pela fotografia foi um pulo. Mas a caminhada não foi fácil. Muita ralação misturada com muito apoio e carinho de sua mãe e mais tarde de sua família, formada em seu primeiro casamento, deram forças para que ele se tornasse o que é hoje, um fotógrafo talentosíssimo e que, através de suas imagens, faz com que a gente se transporte para dentro das realidades que as mídias tradicionais não mostram. As realidades são duras e muito parecidas com a que ele vive agora. Sérgio está condenado.

Hoje, em mais um julgamento no Tribunal de Justiça de São Paulo, espaço de privilégios de magistrados que em suas togas causam uma impressão de imponência, confiança e autoridade e que têm em suas mãos o poder de decidir se interrompem o curso normal ou a justiça sob a vida dessa ou daquela pessoa. Sérgio perdeu tudo.

O fotógrafo não só teve a indenização pedida no processo contra o Estado negada, como também ouviu durante a audiência que não há provas que uma bala de borracha o atingiu no olho esquerdo, naquela noite violenta do tão conhecido 13 de junho de 2013.

O Estado presente na audiência é caótico, atrasado e completamente alheio à realidade da vida do povo. Certamente por isso, a cada caso parecido com o de Sérgio, que envolva provas claras de “nasce” que mais uma vítima da violência do Estado, esse mesmo Estado representado pelos homens de toga, só consiga provar, ironicamente, que não tem nenhuma habilidade para decidir nesses casos. Os homens de toga se auto absolvem e condenam a vítima.

O Estado condena hoje, mais uma vez, Sérgio e certamente sua mãe que está viva e jamais imaginou que esse pudesse ser o destino de nenhum de seus seis filhos que criou com tanto carinho. A mãe de Sérgio também está condenada.

As filhas do fotógrafo, duas meninas de 11 e 17 anos, presentes no Tribunal de Justiça e que presenciaram toda audiência e fatalmente a atroz decisão, também foram hoje condenadas. São mulheres que já traçam a partir de agora, um caminho de forte descrença num Estado falido, cruel e vergonhoso. E embora as duas meninas estejam desde o seu nascimento, traçando um caminho de melhores condições financeiras e de formação, do que na época em que o pai era criança, as meninas têm muita história e bastante realidade para contar pelo resto de suas vidas sobre o significado do Estado em suas vidas. Elas não se calarão.

Como pode um indivíduo investido de importante autoridade, um juiz, um promotor, ser cego à realidade do que é agora a vida de Sérgio sem um olho? Como imaginar o que se passa na mente de alguém com poder para julgar e mandar na vida de outro indivíduo?

Queremos repetir aqui um convite que Sérgio fez para todos quando perdeu olho e entrou com o processo contra o Estado, só que desta vez, o convite é direcionado somente para aqueles que tiveram hoje o poder de decidir pela condenação de Sérgio: os magistrados.

Os senhores já experimentaram tapar o olho esquerdo com a mão e fazer as atividades cotidianas? Se não, tentem, por favor. E pensem que esse olho foi perdido quando se trabalhava, quando se exercia o direito de ser cidadão, para conquistar melhores condições de vida para a família. Um milhão de reais não paga um olho e o trauma que a perda trouxe para ele, as filhas, e a mãe que sofre desde quando colocou Sérgio no mundo e a maior certeza que podemos ter é que o valor não tira os privilégios que uma Casa tão imponente oferece aos senhores. Então, revejam essa decisão.

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2 Comments

2 Comments

  1. DanAQ

    01/12/17 at 13:11

    Autoridades “Públicas”…

    INCAPAZES + INCESSÍVEIS + DISTANTES E IGNORANTES DA REALIDADE JULGADA + EXCESSO DE PODER =

    DEUSES SAGRADOS, ABSOLUTOS E INTOCÁVEIS =

    BRASIL DO SÉCULO 21 (pleno 2017 = a espada ainda é “A LEI”)

    DanAQ 20171201

  2. Jacqueline

    04/12/17 at 21:48

    Nunca me esqueci da história desse cara… E espero que não seja só eu.

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Justiça suspende reintegração de posse no RN e evita despejo de 2 mil pessoas em comunidade pesqueira

Empresa Incorporadora Teixeira Onze não conseguiu provar propriedade do terreno no município de Enxu Queimado, onde vivem 2.389 pessoas de 554 famílias

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Por Mirella Lopes, da agência Saiba Mais

O desembargador do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte Vivaldo Pinheiro suspendeu o despejo de 554 famílias na comunidade pesqueira tradicional Exu Queimado, em Pedra Grande. O pedido de reintegração de posse do terreno havia sido acatado pelo juiz de primeira instância, mas revertido pelo desembargador. Ele avaliou que a empresa Incorporadora Teixeira Onze não conseguiu provar a posse da área.

No local, vivem 2.389 moradores de uma comunidade pesqueira fundada há mais de 100 anos, distante 150 quilômetros de Natal (RN). Das 810 moradias, 97% está situada na zona rural. O conflito na região começou em 2007, mas se intensificou durante a fase de pandemia da Covid-19 com ameaças e incêndio de barracos, como relatam alguns moradores.

“Os barracos foram montados há 4 meses para evitar que a empresa avance sobre a área. Não houve agressão física, mas eles contrataram dois seguranças para retirar os barracos, só que não conseguiram. Oito dias depois, dois barracos foram incendiados. Eles chegaram à comunidade em 2007 colocando cercas nas terra, o que não aceitamos porque as áreas sempre foram coletivas, os terrenos nunca tiveram donos, a comunidade foi fundada por pescadores que se alojaram na praia para ficar mais perto do trabalho, que é a pesca. Moramos aqui há mais de 100 anos e a empresa foi formalizada só pra comprar as terras”, denuncia Leonete Roseno do Nascimento, moradora de Enxu Queimado.

Os moradores contam que duas pessoas de Recife se apresentaram como donos do local, venderam terrenos sem que a comunidade soubesse e começaram uma campanha de regularização.

“Eles tentaram vender as terras pra Prefeitura pra tentar fazer a regularização, mas nem a prefeitura aceitou. Foi aí que nós nos unimos e fizemos um movimento. Nós não aceitamos que a empresa, que não tem função social, nem nada construído na comunidade, se apresente como proprietária”, reage Leonete, que também é educadora popular e esposa de pescador.

Em Enxu Queimado, localidade de Pedra Grande, 97% dos moradores vivem na zona rural (foto: divulgação)

Os moradores conseguiram apoio e uma equipe de advogados populares na causa. Em um vídeo, um engenheiro civil de uma empresa que presta serviço à empresa Teixeira Onze oferece a transferência do imóvel para o nome do morador que não tem escritura pública. O advogado Gustavo Freire, que representa os moradores, denunciou a prática à justiça:

“Eles reivindicam a propriedade de toda a área, entram com uma ação possessória com base nesses títulos de propriedade e, por fora, tentam fazer com que as pessoas regularizem as suas posses pra que possam vender pra eles. Em resumo: se dizem donos da terra ao mesmo tempo que se colocam à disposição pra comprar essa mesma terra. A decisão do TJRN acatou nossa tese que isso não é possível”, explicou.

Ele ressalta, também, que apesar de reivindicar a posse do terreno, a empresa nunca esteve lá.

“Ela não planta, mora ou edifica. Você não pode reivindicar uma posse que nunca exerceu. Ela (a empresa) está pedindo de volta algo que nunca foi dela”, argumenta.

Foi esse argumento da posse exercida de fato pelos moradores que o Tribunal de Justiça do RN levou em consideração para decidir pela permanência da comunidade de pescadores.

A equipe da Agência Saiba Mais tentou entrar em contato com o número disponibilizado no vídeo da empresa, mas nossas chamadas não foram atendidas, nem as mensagens respondidas.

Com a decisão do desembargador Vivaldo Pinheiro, a Incorporadora não pode mais recorrer. No entanto, ainda é possível tentar reverter o mérito, mas se não conseguirem, terão que esperar o processo ser sentenciado para, então, recorrer novamente.

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#EleNão

EDITORIAL – HOJE É DIA DE LUTO! PERDEMOS O MENINO GABRIEL

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Gabriel e Lula: aniversário no mesmo dia: 27/10

Gabriel e Lula: aniversário no mesmo dia: 27/10

Gabriel e Lula: aniversário no mesmo dia: 27/10

Perdemos um camarada valoroso, um menino negro encantador de feras, um sorriso no meio das bombas e da violência policial, um guerreiro gentil que defendeu com unhas e dentes a Democracia, a presidenta Dilma Rousseff durante todo o processo de impeachment, e o povo brasileiro negro e pobre e periférico, como ele.

Gabriel Rodrigues dos Santos era onipresente. Esteve em Brasília, na frente do Congresso durante o golpe, em São Paulo, nas manifestações dos estudantes secundaristas; em Curitiba, acampando em defesa da libertação do Lula. Na greve geral, nas passeatas, nos atos, nos encontros…

O Gabriel aparecia sempre. Forte, altivo, sorrindo. Como um anjo. Anjo Gabriel, o mensageiro de Deus

Estamos tristes porque ele se foi hoje, no Incor de São Paulo, depois de um sofrimento intenso e longo. Durante três meses Gabriel enfrentou uma infecção pulmonar que acabou levando-o à morte.

Estamos tristíssimos, mas precisamos manter em nossos corações a lembrança desse menino que esteve conosco durante pouco tempo, mas o suficiente para nos enriquecer com todos os seus dons.

Enquanto os Jornalistas Livres estiverem vivos, e cada um dos que o conheceram viver, o Gabriel não morrerá.

Porque os exemplos que ele deixou estarão em nossos atos e pensamentos.

Obrigada, querido companheiro!

Tentaremos, neste infeliz momento de Necropolítica, estar à altura do Amor à Vida que você nos deixou.

 

 

Leia mais sobre quem foi o Gabriel nesta linda reportagem do Anderson Bahia, dos Jornalistas Livres

 

Grande personagem da nossa história: Gabriel, um brasileiro

 

 

 

 

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Coronavírus

#JusticeForFloyd em Portugal: atos antirracistas tomaram conta do país neste último sábado.

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por Isabela Moura e Luiza Abi Saab, Jornalistas Livres em Portugal

 

 

Os atos antirracistas #JusticeForFloyd tomaram conta de Portugal neste último sábado, 06 de junho de 2020. As principais cidades de Portugal foram ocupadas por milhares de manifestantes em atos antirracistas que pediam justiça para George Floyd. Os atos aconteceram principalmente nas cidades de Lisboa, Coimbra, Porto e Braga.

 

Em LISBOA, a manifestação  levou milhares de pessoas em marcha até à Praça do Comércio – importante espaço de reivindicação política da capital portuguesa. O encontro em Lisboa foi articulado entre diversas organizações, estavam previstos três atos em dias diferentes, mas as iniciativas foram unificadas em apenas um ato.

O contexto português e a questão da colonização foram abordagens presentes nos cartazes e nas vozes que se fizeram ouvir. José Falcão, da SOS Racismo, afirma que é necessário mudar o currículo escolar para que se possa saber de fato o que foi o passado português. “A história deste país é só a história do colonialismo, não é das vítimas do colonialismo, não é das pessoas que lá estavam a quem não pedimos autorização par ir. Onde ficamos durante 500 anos a escravizar as pessoas e essa história nunca é contada”, justifica o integrante de umas das associações que organizou a manifestação de sábado.

Mayara Reis, escritora de 25 anos e uma das vozes intervenientes menciona também a importância da educação nesse combate:  “É preciso falar sobre isso nos manuais de história, falar sobre o Tratado de Tordesilhas, porque Portugal não é inocente”.  “Não foi nossa escolha, foi escolhido por nós. O futuro que eu estou a ter agora vem disso”, refere a escritora sobre as decisões históricas que marcaram o passado colonial de países  como  a terra de onde veio – a Guiné-Bissau.

 

Em Lisboa, 06/06/2020. Foto de Geraldo Monteiro.

 

Em Lisboa, 06/06/2020. Foto de Geraldo Monteiro.

 

Em Lisboa, 06/06/2020. Foto de Geraldo Monteiro.

 

 

 

No PORTO o ato aconteceu na Avenida dos Aliados. Em referência ao norte americano George Floyd, assassinado pela polícia dos Estados Unidos, vários manifestantes trouxeram consigo os dizeres “I Can’t Breathe”, em português, “Não Consigo Respirar”. As reivindicações ecoavam pela avenida com o grito “Nem mais uma morte”, denunciando também os casos de racismo em Portugal.

 

Porto, 06/06/2020. Foto de Pedro Kirilos.

 

Porto, 06/06/2020. Foto de Pedro Kirilos.

 

Porto, 06/06/2020. Foto de Pedro Kirilos.

 

Porto, 06/06/2020. Foto de Pedro Kirilos.

 

 

 

Em COIMBRA a manifestação aconteceu na Praça da República, próxima à Universidade de Coimbra e foi organizada por estudantes da cidade. Centenas de pessoas se reuniram no local, seguindo as regras de segurança da Direção Geral de Saúde de Portugal (DGS).
O ato contou com depoimentos, gritos por reivindicações da luta antirracista e uma performance que representava Jesus negro interpretando trecho do texto “A Renúncia Impossível”, de Agostinho Neto.

 

 

Coimbra, 06/06/2020. Foto de Daniel Soglia.

 

Coimbra, 06/06/2020. Foto de Raoni Arraes.

 

Coimbra, 06/06/2020. Foto de Daniel Soglia.

 

Coimbra, 06/06/2020. Foto de Raoni Arraes.

 

 

 

Em BRAGA, a manifestação “Vidas Negras Importam” uniu cerca de 300 pessoas que prestaram sua solidariedade aos atos por George Floyd que acontecem há 10 dias nos Estados Unidos. Os presentes também denunciaram a violência policial contra negros, lembrando os casos de vítimas como Cláudia Simões e Alcindo Monteiro.

 

Braga, 06/06/2020. Foto de Rafa Lomba.

 

Braga, 06/06/2020. Foto de Rafa Lomba.

 

Braga, 06/06/2020. Foto de Rafa Lomba.

 

Braga, 06/06/2020. Foto de Rafa Lomba.

 

 

 

 

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