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Golpe

O boato exequível, plausível e com gosto amargo antecipa e prepara o direita volver e convoca o esquerda prá valer

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A notícia do último dia 05/05 de que a Câmara dos Deputados preparava a conclusão do golpe, postergando as eleições para 2020, depois esclarecida pelo deputado petista Vicente Cândido, assustou muitos e correu as redes sociais. Não são poucos os que se lembraram das eleições que nunca ocorreram, prometidas para 1966, dois anos após o golpe de 64. Muitos também se lembram do início do processo de impeachment, lançado imediatamente após a segunda vitória de Dilma, mas que, na ocasião, poucos levaram a sério.

Em 1964, vimos dois anos se transformarem em 20

e o governo ditatorial ganhar volume e forma,

cujas consequências desastrosas ainda pairam

sobre o sistema político, o corpo e a alma dos brasileiros.

Estamos hoje imersos nos efeitos imediatos de um golpe não ultrapassado e o bom funcionamento de seus mecanismos recém azeitados se atualizam todos os dias no novo golpe do presente. Hoje, vivemos no seio de outro golpe que anseia novamente por se consolidar indefinidamente. Seus autores não o reconhecem como golpe, portanto, seus protagonistas não reconhecem a necessidade de seu término. O golpe hoje é indefinido, sem tempo para acabar. Sua conclusão não ocorrerá após ‘uma destruição total dos direitos dos trabalhadores’ porque não há limites para alcançar essa totalidade.

Estabilidade, direitos trabalhistas, previdência social

não é tudo o que pode ser retirado dos trabalhadores.

Ainda muitos podem ser empurrados para a pobreza através de mecanismos de hiperconcentração de renda sem limites, promovidos ou tolerados pelo Estado; sistemas como saúde e educação podem ser reduzidos a pó; escolas sem partido podem se tornar uma prática; o sistema judiciário pode ser completamente aparelhado pela ultradireita; milhões de pessoas comuns podem ser criminalizadas, perseguidas, etc. Ainda há muito por fazer. O poço não tem fundo.

O passo decisivo, para o início do sem fim do golpe, após a deposição de Dilma, seria a subsequente prisão de Lula. Contudo esse passo ainda não pôde ser dado, já está atrasado e logo pode se tornar inviável. Portanto, e justamente por isso, nada indica que não se tentará fazê-lo a todo custo a partir de agora.

19/03/2017- Monteiro- PB, Brasil- Os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff viajam para Monteiro-PB ao lado do governador Ricardo Coutinho. Foto: Ricardo Stuckert / Instituto Lula

O momento é, contudo, de extremo risco porque a cada dia se torna mais difícil dar esse passo sem a possibilidade de gerar uma reação violentíssima e sem precedentes daqueles que, não apenas avaliam a gestão do ex-presidente como a melhor de toda a história brasileira, como observam e aguardam cada passo dado pelo juiz Sérgio Moro para denunciar seus novos arbítrios.

Hoje, o juiz Moro não representa apenas aquele que comanda a operação Lava-Jato,

ainda um herói para alguns,

mas é também aquele que pode sepultar a democracia

ao inviabilizar a candidatura à reeleição do presidente mais bem avaliado do Brasil e, ao mesmo tempo, deixar ilesos outros delatados sob sua jurisdição: Aécio Neves, Geraldo Alckmin, José Serra hoje descansam em berço esplêndido nas suas barbas, a despeito das inúmeras delações premiadas citando seus respectivos nomes associados a dezenas de milhões de reais em propinas por eles, supostamente, recebidas.

Pouco a pouco as pessoas passam a enxergar a figura do Juiz como um efeito de luzes e sombras preservados pela Rede Globo e grupos que não tem plataforma política para o conjunto da nação a não ser o Fora Dilma! E o prende o Lula!

A retórica vazia de grupos como MBL e Vem prá Rua,

se esgoela como nunca e se torna cada vez mais verborrágica e violenta

pela prisão do ex-presidente,

porque é a única plataforma que lhes resta.

Como um dos Brothers do reality show da emissora, o Juiz Moro, deve toda a sua fama e visibilidade à veiculação de seu nome e imagem pelos veículos de comunicação comandados pela Rede Globo. Sem ela, seria apenas um juiz de 1a instância como qualquer outro dos milhares que existem no país: desconhecidos e anônimos como qualquer trabalhador.

30/03/2017- Brasília – Juiz Sergio Moro durante depoimento na comissão de reforma do Código de Processo Penal
Foto: Lula Marques / AGPT

Justiceiro, figurando nas pesquisas de intenção de votos para 2018 e rei dos pedidos de selfie, o juiz atua para se manter no centro do holofotes globais.

O golpe jurídico-midiático-parlamentar alimenta fantasias

instruídas pela pulsão de morte e práticas de pendor totalitário,

portanto nunca será uma incoerência e nem um absurdo

encontrarmos entre seus apoiadores devotos da volta à ditadura.

Mas, isso significa apenas: queremos os milicos trabalhando para nós, fazendo nossa segurança, salvaguardando nosso patrimônio e torrando o dinheiro público para fazer a guarda pretoriana dos muito ricos e dos privilegiados. É claro que isso precisaria ser combinado com a bola antes do jogo, ou seja, com os militares.

O discurso que apregoa dicotomizações é tolo e perigoso por princípio. Trabalha para simplificar questões muito complexas que exigem paciência e trabalho de pensamento. Trata-se de propagar o fim de algo, alguém, algum grupo, etnia ou categoria construído sobre os ideais da mesmidade. Proclama-se: um dia seremos um só, iguais, indiscerníveis e contentes. Um mundo de mesmidade, onde apenas os iguais subsistiriam se embebendo em sua própria semelhança.

É essa fantasia secreta

que alimenta muitas práticas violentas e discricionárias no Brasil

e que se manifesta em inúmeras práticas corriqueiras

travestidas de civilização, depuração, higienização e ordem.

Essa é a ofensa que ninguém mais do que os mais brasileiros dos brasileiros, os indígenas e suas comunidades indígenas representam no Brasil. São os mais próximos e os mais distantes. São os estranhos em nós e por isso são vítimas dos maiores ataques e atrocidades, e negligenciados em sua semelhança e diferença por todos os governos até hoje. São os brasileiros, do Brasil profundo, que não se pode ver, conviver e deixar viver.(entrevista do diretor funai)

Brasília – Índios do Acampamento Terra Livre fazem nova manifestação na Esplanada dos Ministérios (José Cruz/Agência Brasil)

Com essa estratégia eliminacionista os grupos que hoje apoiam e compõem o governo conseguiram empurrar muitos ao cataclisma, instruindo e conclamando muitos a começar do zero, acabar com a raça dos petistas (não conseguem sequer analisar o espectro imenso dos movimentos de esquerda no país), dos comunistas, dos índios, dos vândalos, dos terroristas, dos vagabundos que fazem greve e que não acordam cedo. Porém, eliminar, matar, decepar, acabar são façanhas que só podem ser cometidas com um instrumento bem conhecido: a violência. Então, claro, são os aparatos de promoção e autorização das violências como o sistema de justiça, o sistema penitenciário, o sistema de segurança e as forças armadas que são, direta ou indiretamente, convocados para a realização da façanha. Desse modo trata-se de usar boa parte do estado brasileiro para realizar essa tarefa.

Hoje, milhões em dinheiro público estão sendo gastos para acusar alguns, perseguir alguns e caçar a cidadania de alguns; milhões gastos na prática de injustiças e perseguições espetaculosas para violentar índios e movimentos sociais e para cometer graves violações de direitos sem a devida apuração.

Malversação do dinheiro público não é apanágio dos que recebem propinas,

mas dos que utilizam cargos e salários públicos

para agir em interesse próprio, corporativo ou de classe.

Nesse sistema e convocação aberta capturaram no conjunto da população os que passam as vidas procurando quem atacar e de quem se defender. São muitos, então a oferta de atacar os odiados construídos sob medida funcionou em sua primeira fase.

Mas, a segunda fase do golpe encontra seu primeiro atoleiro. A despeito dos ataques vindos de todas as formas e todos os lugares, principalmente contra membros do partido dos trabalhadores, as pessoas estão comparando a virulência desses ataques com suas razões.

Não entendem por que são tão atacados aqueles que realizaram conquistas incontestes para a população pobre e miserável, num contexto em que os muito ricos também ganharam. E não entendem porque conquistas inegáveis dos governos passados, claramente constatadas no cotidiano das pessoas mais pobres, são hoje tão atacadas por um governo que é flagrantemente poupado pelas mídias nacionais. O resultado disso é que pesquisas recentes indicam que uma eventual candidatura de Lula, alavancaria 6 vezes mais eleitores do que teria o atual presidente não eleito do país, o rejeitado Michel Temer que não teria qualquer chance de chegar a um eventual segundo turno.

Nesses últimos anos nem Lula, nem o PT e nem a esquerda foram destruídos.

Ao contrário, muitos grupos e movimentos se fortaleceram, continuam nas ruas e outros foram criados. Exemplo disso é que meses após a conclusão da primeira fase do golpe seria impossível pensar numa greve geral com a adesão de 35 milhões de pessoas, porém no último dia 28 ela foi realizada com êxito.

28 04 2017-São Paulo SP Brasil -Manifestação das Centrais Sindicais contra as mudanças trabalhistas e da Previdencia no Largo da Batata .Foto Ricardo Stuckert

Começaram a falhar os artifícios do golpe e seus artífices são empurrados para acentuar seus ataques aos instrumentos de preservação da democracia. Diante disso, certamente, preparam o segundo tempo do golpe que só virá a tona mais próximo das eleições, caso a prisão de Lula não seja realizada a fórceps. Nesse caso, os desdobramentos sociais e políticos são imprevisíveis.

Inúmeras novas forças de esquerda surgem no país e as já existentes se fortalecem, mais cientes do que houve no país e da premência em assegurar, num futuro breve, a democracia que perdemos.

Mesmo parte significativa da população que atendeu os chamados da Globo, bateu panelas e apoiou o impeachment percebe hoje a parcialidade flagrante do juiz Sérgio Moro quando, a despeito das dezenas de delações sobre Aécio Neves, José Serra, Michel Temer e seus ministros tudo é feito com grande discrição, sem alarde, quase no silêncio, enquanto qualquer fato envolvendo Lula e membros do PT se transforma em espetáculo. Pois bem, o exagero desse espetáculo começa a gerar o efeito contrário. Como um bolo predileto enfiado goela abaixo começa a gerar náuseas.

Esses ex-batedores de panelas não esperam que membros do partido dos trabalhadores sejam poupados, mas esperariam tratamento igualitário para todos os delatados, sem o que tudo ganha a feição de quadrilha, grupo e facção que se auto protege sob as asas do mais novo caçador de marajás: Sérgio Moro

Já é possível entrever e suspeitar das intenções da operação Lava-Jato e do juiz e, se tudo seguir como está, logo mais se poderá se chegar à seguinte conclusão: afinal não se tratava de combater a corrupção, mas deixar a corrupção apenas para os parceiros, amigos, comparsas. Não havia embate ideológico e concepção de país, mas pressa em proteger apaniguados e neutralizar inimigos.

Aécio Neves, José Serra até ontem arautos da decência e da honestidade, hoje não tem moral para subir na tribuna do Senado para acusar ninguém. Não há coerência, não há lógica e não há como justificar isso, a não ser como fábula, brincadeira de mau gosto e delírio.

Os governistas e golpistas ultrapassaram,

não apenas os limites da decência,

mas da lógica, da compreensão e do entendimento.

Quem, em sã consciência,

acreditaria que a retirada avassaladora de direitos do trabalhador

é para o bem do trabalhador?

Quem acreditaria que as medidas de ataque aos direitos humanos dos indígenas, dos trabalhadores e da população que depende de seus salários é para o bem dos brasileiros?

A quem os governistas estão se dirigindo supondo que são completos imbecis? Ao conjunto da população brasileira?

O rebote Lula, que o coloca nas alturas nas pesquisas de intenção de votos em 2018, está ocorrendo também porque há uma carência de discursos fiáveis, inteligíveis e inteligentes, porque a prática e os discursos burros, violentos, dicotômicos já exauriram a muitos e todos precisam da volta à alguma sanidade, a alguma palavra e ação pautada por uma ética compartilhável e plausível.

Lula na cadeia, fora Dilma…o que mais? Tais bravatas não comunicam mais e juram de morte o devir da palavra e da própria linguagem no debate público.

As pessoas voltam a buscar a palavra fiável e acreditam nas palavras de Lula, a partir daquilo que cumpriu do que prometeu no passado. Nem se lembram do que prometeu e não cumpriu, tamanha a carência de algo e alguém em quem acreditar.

06/05/2017-São Paulo- SP, Brasil – O ex presidente Luiz Inacio Lula da Silva durante visita a Feira de organicos do MST na Parque da agua Branca.
Foto: Filipe Araujo

Todos sabemos que estamos diante de um presidente ilegítimo, que age antes como um usurpador de direitos da população pobre e vulnerável na calada da noite, e que agravará severamente o momento frágil e delicado pelo qual o país atravessa.

Presidir para destruir.

O atual presidente sem votos vai à televisão anunciar que vai abandonar a vida política em 2018. Não é verdade, como nada do que diz é fidedigno. A verdade de sua entrevista estará em outra frase: “Só espero que as reformas deem certo e que não haja necessidade de pedirem para eu continuar“. As intenções se encontram do lado oposto onde a grande imprensa jogou o foco e a luz. Podemos assim traduzir: “Fico até concluir minha tarefa porque há forças capazes de me manter no poder até lá.”

Essa forças estão entre os 2% que hoje o apoiam.

Prepara-se um conflito de 2% contra 98%.

Por outro lado, na hipótese de Lula chegar ao poder uma vez mais, não haverá mais concessões ao Partido dos Trabalhadores. Ele terá de cumprir as promessas ainda não realizadas em seus dois mandatos anteriores e no tempo de Dilma, cujo não cumprimento colocou a democracia sob ataque, vulnerável e em risco; terá de trabalhar para devolver o que foi retirado dos trabalhadores; terá de se cercar de grupos e pessoas que hoje estão nas ruas construindo uma nova esquerda; terá de abrir o PT à sua transformação radical ouvindo os que, verdadeiramente, lutam pela democracia dentro e fora de seu partido; terá de lutar com unhas e dentes contra os oligopólios da grande mídia que massacram a democracia possível todos os dias.

Ninguém pode mais se dar ao luxo da ingenuidade,

após ter vivido a história recente do país,

muito menos Lula.

Quanto ao juiz Sérgio Moro, hoje parece que ele já se arrisca a ser lembrado no anais da história menos ao lado de um Giovanni Falcone e mais ao lado de um Lalau.

Campinas

Ocupação Mandela: após 10 dias de espera juiz despacha finalmente

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Depois de muita espera, dez dias após o encerramento do prazo para a saída das famílias da área que ocupam,  o juiz despacha no processo  de reintegração de posse contra da Comunidade Mandela, no interior de São Paulo.
No despacho proferido , o juiz do processo –  Cássio Modenesi Barbosa –  diz que  aguardará a manifestação do proprietário da área sobre eventual cumprimento de reintegração de posse. De acordo com o juiz, sua decisão será tomada após a manifestação do proprietário.
A Comunidade, que ocupa essa área na cidade de Campinas desde 2017,   lançou uma nota oficial na qual ressalta a profunda preocupação  em relação ao despacho  do juiz  em plena pandemia e faz apontamento importante: não houve qualquer deliberação sobre as petições do Ministério Público, da Defensoria Pública, dos Advogados das famílias e mesmo sobre o ofício da Prefeitura, em que todas solicitaram adiamento de qualquer reintegração de posse por conta da pandemia da Covid-19 e das especificidades do caso concreto.

Ainda na nota a Comunidade Mandela reforça:

“ Gostaríamos de reforçar que as famílias da Ocupação Nelson Mandela manifestaram intenção de compra da área e receberam parecer favorável do Ministério Público nos autos. Também está pendente a discussão sobre a possibilidade de regularização fundiária de interesse social na área atualmente ocupada, alternativa que se mostra menos onerosa já que a prefeitura não cumpriu o compromisso de implementar um loteamento urbanizado, conforme acordo firmado no processo. Seguimos buscando junto ao Poder público soluções que contemplem todos os moradores da Ocupação, nos colocando à disposição para que a negociação de compra da área pelas famílias seja realizada.”

Hoje também foi realizada uma atividade on-line  de Lançamento da Campanha Despejo Zero  em Campinas -SP (

https://tv.socializandosaberes.net.br/vod/?c=DespejoZeroCampinas) tendo  a Ocupação Mandela como  o centro da  discussão na cidade. A Campanha Despejo Zero  em Campinas  faz parte da mobilização nacional  em defesa da vida no campo e na cidade

Campinas  prorroga  a quarentena

Campinas acaba prorrogar a quarentena até 06 de outubro, a medida publicada na edição desta quinta-feira (10) do Diário Oficial. Prefeitura também oficializou veto para retomada de atividades em escolas da cidade.

 A  Comunidade Mandela e as ocupações

A Comunidade  Mandela luta desde 2016 por moradia e  desde então  tem buscado formas de diálogo e de inclusão em políticas  públicas habitacionais. Em 2017,  cerca de mais de 500 famílias que formavam a comunidade sofreram uma violenta reintegração de posse. Muitas famílias perderam tudo, não houve qualquer acolhimento do poder público. Famílias dormiram na rua, outras foram acolhidas por moradores e igrejas da região próxima à área que ocupavam.  Desde abril de 2017, as 108 famílias ocupam essa área na região do Jardim Ouro Verde.  O terreno não tem função social, também possui muitas irregularidades de documentação e de tributos com a municipalidade.  As famílias têm buscado acordos e soluções junto ao proprietário e a Prefeitura.
Leia mais sobre:  
https://jornalistaslivres.org/em-meio-a-pandemia-a-comunidade-mandela-amanhece-com-ameaca-de-despejo/

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#EleNão

EDITORIAL – HOJE É DIA DE LUTO! PERDEMOS O MENINO GABRIEL

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Gabriel e Lula: aniversário no mesmo dia: 27/10

Gabriel e Lula: aniversário no mesmo dia: 27/10

Gabriel e Lula: aniversário no mesmo dia: 27/10

Perdemos um camarada valoroso, um menino negro encantador de feras, um sorriso no meio das bombas e da violência policial, um guerreiro gentil que defendeu com unhas e dentes a Democracia, a presidenta Dilma Rousseff durante todo o processo de impeachment, e o povo brasileiro negro e pobre e periférico, como ele.

Gabriel Rodrigues dos Santos era onipresente. Esteve em Brasília, na frente do Congresso durante o golpe, em São Paulo, nas manifestações dos estudantes secundaristas; em Curitiba, acampando em defesa da libertação do Lula. Na greve geral, nas passeatas, nos atos, nos encontros…

O Gabriel aparecia sempre. Forte, altivo, sorrindo. Como um anjo. Anjo Gabriel, o mensageiro de Deus

Estamos tristes porque ele se foi hoje, no Incor de São Paulo, depois de um sofrimento intenso e longo. Durante três meses Gabriel enfrentou uma infecção pulmonar que acabou levando-o à morte.

Estamos tristíssimos, mas precisamos manter em nossos corações a lembrança desse menino que esteve conosco durante pouco tempo, mas o suficiente para nos enriquecer com todos os seus dons.

Enquanto os Jornalistas Livres estiverem vivos, e cada um dos que o conheceram viver, o Gabriel não morrerá.

Porque os exemplos que ele deixou estarão em nossos atos e pensamentos.

Obrigada, querido companheiro!

Tentaremos, neste infeliz momento de Necropolítica, estar à altura do Amor à Vida que você nos deixou.

 

 

Leia mais sobre quem foi o Gabriel nesta linda reportagem do Anderson Bahia, dos Jornalistas Livres

 

Grande personagem da nossa história: Gabriel, um brasileiro

 

 

 

 

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Golpe

Presidência cavalga para fora dos marcos do Estado de Direito

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Por Ruy Samuel Espíndola*

O Governo, num Estado de Direito, deve ser eleito, e, depois de empossado, deve ser exercido de acordo com regras pré-estabelecidas na Constituição. Essas são as regras do jogo, tanto para a tomada do poder, quanto para o seu exercício, como ensina Norberto Bobbio. Governo entendido aqui como o conjunto das instituições eletivas, representadas por seus agentes políticos eleitos pelo voto popular. Governo que, numa República Federativa e Presidencialista como a brasileira, é exercido no plano da União Federal, pela chefia do Executivo, pela Presidência da República e seus ministros, como protagonistas e pelo Congresso Nacional, com os deputados federais e senadores, como coadjuvantes.

Ao Governo, exercente máximo da política, devem ser feitas algumas perguntas, para saber de sua legitimidade segundo o direito vigente: quem pode exercê-lo e com quais procedimentos? Ao se responder a tais questões, desvela-se o mote que intitula este breve ensaio.

Assim, pode-se dizer “Governo constitucional” aquele eleito segundo as regras estabelecidas na Constituição: partido regularmente registrado, que, em convenção, escolheu candidato, que, por sua vez, submetido ao crivo do sufrágio popular, logrou êxito eleitoral. Sufrágio que culminou após livre processo eleitoral, no qual se assegurou, em igualdade de condições, propaganda eleitoral e manejo de recursos para a promoção da candidatura e de suas bandeiras, e que não sofreu, ao longo da disputa, nenhum impedimento ou sanção do órgão executor e fiscalizador do processo eleitoral: a justiça eleitoral. Justiça que, através do diploma, habilita, legalmente, o candidato escolhido nas urnas, a se investir de mandato e exercê-lo. Um governo constitucional, assim compreendido, merece tal adjetivação jurídico-politica, ainda que durante o período de campanha ou antes ou depois dele, o candidato e futuro governante questione o processo de escolha, coloque em dúvida sua idoneidade, ou mesmo diga que não estará disposto a aceitar outro resultado eleitoral que não o de sua vitória, ou, após conhecer o resultado da eleição, diga que o conjunto de seus adversários podem mudar para outros países, pois não terão vez em nossa Pátria e irão para a “ponta da praia” .

O Governo constitucional, sob o prisma de seu exercício, após empossado, é aquele que respeita a mínimas formas constitucionais, enceta suas políticas mediante os instrumentos estabelecidos na Constituição: sanciona e publica leis que antes foram deliberadas congressualmente; dá posse a altas autoridades que foram sabatinadas pelas casas do congresso; não usa de sua força, de suas armas, a não ser de modo legítimo, respeitando a oposição, as minorias e os direitos fundamentais das pessoas e de entes coletivos; administra os bens públicos e arrecada recursos públicos de acordo com a lei pré-estabelecida, sem confisco e de modo impessoal; acata as prerrogativas do Judiciário e do Legislativo, ainda que discorde ou se desconforte com suas decisões; prestigia as competências federativas, tanto legislativas, quanto administrativas, etc, etc. Promove a unidade nacional, em atitudes, declarações públicas e políticas concretamente voltadas a tal fim.

O “Governo constitucionalista”, por sua vez, além de ascender ao poder e exercê-lo, tendo em conta regras constitucionais, como faz um governo constitucional, defende o projeto constitucional de Estado e Sociedade, através do respeito amplo, dialógico e progressivo do projeto constituinte assentado na Constituição. Respeita a história política que culminou no processo reconstituinte e procura realizá-lo de acordo com as forças políticas e morais de seu tempo, unindo-as, ainda que no dissenso, através da busca de consensos mínimos no que toca ao projeto democrático e civilizatório em constante construção sempre inacabada. E governo constitucionalista, no Brasil, hoje, para merecer esse elevado grau de significação político-democrática e civilizatória, precisa respeitar a gama de tarefas e missões constitucionais descritas em inúmeras normas constitucionais que tutelam, entre outros grupos sociais, os índios, os negros, os LGBT, os ateus, os de inclinação política ideológica à esquerda, ou a à direita, ou ao centro, sem criminalização ou marginalização no discurso público de quaisquer tendências ideológicas. É preciso o respeito ao pluralismo político e aos princípios de uma democracia com níveis de democraticidade que não se restringem ao campo majoritário das escolhas políticas, mas, antes, se espraiam para as suas dimensões culturais, sociais, econômicas, sanitárias, antropológicas e sexuais etc, etc.

Governos que ascenderam sem respeito a normas constitucionais, como foi o de Getúlio Vargas em 1930 e o que depôs João Goulart em 1964, são inconstitucionais. E governo que se exerce fechando o congresso e demitindo ministros do STF, como se fez em 1969, com a aposentação compulsória dos ministros da Corte Suprema Evandro Lins e Silva, Hermes Lima e Victor Nunes Leal, são governos inconstitucionais, arbitrários, autocráticos, fora do projeto civilizatório e democrático de 1988.

O ponto crítico de nosso ensaio é que um governo pode ascender de modo constitucional, mas passar a ser exercido de modo inconstitucional e/ou de modo inconstitucionalista. O governo do presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, é um exemplo deste último e exótico tipo: consegue ser inconstitucional e inconstitucionalista no seu exercício, embora investido de maneira constitucional.

E o conjunto de declarações da reunião ministerial de 22/4, dadas a conhecer em 22/5, é um exemplo recente a elucidar nossa asserção: na fala presidencial, a violação ao princípio da impessoalidade (art. 37, caput, CF) ressoa quando afirma que deseja agir para que familiares seus e amigos não sejam prejudicados pela ação investigativa de órgãos de segurança (polícia federal). Na fala do ministro da Educação, quando afirma “que odeia” a expressão “povos indígenas” e os “privilégios” garantidos a esses no texto constitucional, o que indica contrariar o constitucionalismo positivado nos signos linguístico-normativos “população”, “terras”, “direitos”, “língua”, “grupos” e “comunidades indígenas”, constantes nos artigos 22, XIV, 49, XVI, 109, XI, 129, V, 176, § 1º, 215, § 1º, 231, 232 da CF e 67 do ADCT. Essa fala ministerial, aliás, ressoa discurso de campanha de 2018, quando o então candidato disse, no clube israelita de São Paulo: “No meu governo, não demarcarei nenhum milímetro de terras para indígenas. Também há inconstitucionalismo evidente na fala do Ministro do Meio Ambiente quando defendeu que se fizessem “reformas infralegais” “de baciada”, “para passar a boiada”, “de porteira aberta”, no momento em que o País passa pela pandemia de covid-19, pois o foco de vigília crítica da imprensa não seria o tema ambiental, mas o sanitário e pandêmico, o que facilitaria os intentos inconstitucionalistas contra a matéria positivada nos arts. 23, VI, 24, VI e VII, 170, VI, 174, § 3º, 186, II, 200, VII, 225 e §§ da CF.

Outras falas e atitudes presidenciais ainda mais recentes, e de membros do governo, contrastam com as normas definidoras da separação de poderes, da federação e da democracia, princípios fundamentais estruturantes de nossa comunidade política naciona. A nota do general Augusto Heleno, chefe do GSI, ao dizer que eventual requisição judicial do celular presidencial pelo STF, levaria à instabilidade institucional, traz desarmonia e agride ao artigo 2º, caput, da Constituição Federal. “Chega, não teremos mais um dia como hoje” e “Decisões judiciais absurdas não se cumprem”. Essas falas presidenciais, após o cumprimento de mandados judiciais no âmbito do inquérito judicial do STF, ordenados pelo Ministro Alexandre Moraes, agridem o mesmo dispositivo constitucional, com o agravante do artigo 85, II e VIII, da CF, que positiva ser crime de responsabilidade do presidente atentar contra o livre exercício do Poder Judiciário. E o atentado contra a democracia poderia ser também destacado na fala do filho do Presidente, deputado federal Eduardo Bolsonaro, que declarou estarmos próximos de uma ruptura e que seu pai seria chamado, com razão, de ditador, a depender das atividades investigativas do judiciário, tomadas como agressões ao governo de seu genitor. E o atentado contra a federação se evidencia nas falas presidenciais contra os governadores e prefeitos que estão a tomar medidas sanitárias no combate a covid-19, em que o presidente objetiva desacreditá-los e incitar suas populações contra esses chefes dos executivos estaduais e municipais, para que rompam o isolamento social, com agressão patente aos artigos 1º e 85, II, da Constituição. Os ataques diários aos órgãos de imprensa e a jornalistas, assim como sua atitude contra indagações de repórteres, também afrontam o texto da constituição da República: 5º, IX e XIV, 220 §§ 1º e 2º, protegidos pelo art. 85, III, da CF.

Em nossa análise temporalmente situada e teoricamente atenta, o conjunto de declarações públicas conhecidas do então deputado federal Jair Bolsonaro, desde seu primeiro mandato parlamentar, alcançado em 1990, portanto após o marco constitucional de 1988, embora constituam falas inconstitucionais e inconstitucionalistas, não servem para descaracterizar a “constitucionalidade” de sua eleição em 2018. Embora ainda reste, junto ao TSE, o julgamento de ação de investigação judicial eleitoral por abuso dos meios de comunicação social, que poderão ganhar novos elementos de instrução resultantes da CPI no Congresso sobre fake news e do inquérito judicial do STF com objeto semelhante. Sua eleição presidencial se mantém válida, assim como sua posse, enquanto essa ação eleitoral não for julgada definitivamente  pela Suprema Corte eleitoral brasileira.

Algumas de suas falas públicas inconstitucionalistas e inconstitucionais pré-presidenciais devem ser lembradas: “Erro da ditadura foi torturar e não matar”; “O Brasil só vai mudar quando tivermos uma guerra civil, quando matarmos uns trinta mil, não importa se morrerem alguns inocentes”; “Os tanques e o exército devem voltar às ruas e fechar o congresso nacional”, etc. E durante o processo eleitoral de 2018, falas inconstitucionalistas também foram proferidas: “No meu governo, não demarcarei um milímetro de terras para indígenas”. “O Brasil não tem qualquer dívida com os descendentes de escravos. Nossa geração não tem culpa disso, mesmo porque os próprios negros, na África, escravizavam a si mesmos”, entre outras.

A resposta a nossa indagação: embora tenhamos um governo eleito de modo constitucional – até decisão final do TSE -, ele está sendo exercido de modo inconstitucional e de modo inconstitucionalista. A Presidência da República atual, caminha, inconstitucionalmente para fora do marco do Estado de Direito. E o passado pré-presidencial do presidente da República demonstra que o seu inconstitucionalismo governamental não é episódico e sim coerente com toda a sua linha de pensamento e ação desde seu primeiro mandato parlamentar federal.

  • Advogado – mestre em Direito UFSC Professor de Direito Constitucional – Presidente da Comissão de Direito Constitucional da OAB-SC – Membro Consultor da Comissão de Estudos Constitucionais do Conselho Federal da OAB – Imortal da Academia Catarinense de Letras Jurídicas, cadeira 14, Patrono Advogado Criminalista Acácio Bernardes. 

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