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Carnaval sem Racismo

Não foi mais um caso isolado

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tiros terça negra recife

Por Pedro Stilo

Mais um caso de racismo institucional no Recife. Estávamos em um espaço de luta e ancestralidade, que é o Pátio de São Pedro, no evento Terça Negra, palco das nossas manifestações há mais de 20 anos, quando o Grupo Tático de Operações da Guarda Municipal chegou fazendo diversas abordagens truculentas, até encontrar um jovem negro, que estava com amigos não negros, que foram afastados para acontecer a abordagem. Ele foi logo estigmatizado e acusado com perguntas sobre onde estava a droga que estaria vendendo. O jovem respondeu que não tinha nenhuma droga e logo houve uma tentativa de imobilização.

Começamos a intervir e tentar argumentar sobre o que estava acontecendo e uma companheira da comissão de Direito Humanos da Assembleia Legislativa de Pernambuco (ALEPE) – a pedido da própria não iremos revelar o nome – tentou dialogar, pacificamente, para saber qual motivo da abordagem e tentativa de imobilização, de uma pessoa que não oferece riscos nem perigo. Os guardas nos informaram que precisavam de espaço para terminar a revista. Por volta de 10 minutos, uma viatura de reforço foi chamada e fomos informados que o jovem seria conduzido a uma delegacia pelo crime de RESISTÊNCIA.

Isso gerou um tumulto na saída da guarnição e os guardas atiraram diversas vezes. Um grupo de pessoas dirigiu-se a central de flagrantes, para o acompanhamento do jovem. Ele foi acompanhado por advogados da Comissão de Direitos Humanos da ALEPE e foi constatado uma denúncia por consumo de drogas. As pessoas que acompanharam o rapaz desde do inicio da confusão testemunharam que ele não estava portando nenhuma droga quando foi abordado, afirmando que o tratamento dos representantes da Guarda Municipal foi, no mínimo, preconceituoso.

O fato, noticiado também por outros coletivos de comunicadores do Recife, escancara a face racista e classista da Segurança Pública na cidade. O jovem assinou um TCO (Termo Circunstanciado de Ocorrência), foi liberado e voltou com sua família para casa. No entanto, não foi liberado das acusações de posse de drogas, resistência e desacato. Nós que estivemos na delegacia presenciamos como é banal e preconceituosa a ação de uma Guarda Municipal, que persegue pretos e pretas na cidade. NÃO FOI UM FATO ISOLADO.

Carnaval da Resistência

Combate ao assédio no carnaval de São João da Barra (RJ)

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Conhecida por promover o melhor carnaval de rua do interior do Estado do Rio, a cidade de São João da Barra decidiu aproveitar a presença dos milhares de foliões que recebe durante a festa para falar de assédio. As mensagens estão nos guarda-corpos, pirulitos e painéis de led dos arcos e do palco oficial que enfeitam a Avenida do Samba. A Prefeitura também distribui panfletos e adesivos na cidade e nos distritos onde acontecem os eventos. A decoração também inclui mensagens de combate à homofobia e respeito à diversidade.

 

A secretária de Comunicação Social do município, Mônica Terra, explica que a ideia tem tudo a ver com o slogan do carnaval deste ano: “Alegria de estar aqui!”, por propor uma reflexão sobre a importância do respeito. “Carnaval é tempo de ser feliz, de aproveitar a festa, mas é também tempo de paz, gentileza, cuidado, de combater preconceitos”, afirma.

A telefonista Kamila Porto, 28, que saiu de Vitória (ES) para curtir o carnaval sanjoanense, aprovou o tema escolhido para a decoração da avenida.

“A gente quer curtir, mas quer respeito, não quer que confundam as coisas”.

 

Uma mulher no comando contra o assédio no carnaval

O município de São João da Barra tem uma mulher como prefeita, que fez questão de enfatizar a importância do combate ao assédio ao dar as boas-vindas aos foliões na abertura oficial do carnaval, que aconteceu sexta-feira, 21. “São João da Barra promove um ótimo carnaval e todos são acolhidos com muito carinho. O que pedimos aos foliões é que ajudem a manter o clima sadio da festa, de confraternização e respeito. Não esqueçam que não é não!”, disse Carla Machado.

Além da decoração temática, o combate ao assédio é abordado durante o carnaval por meio da distribuição de panfletos e folhetos. A campanha #NãoéNão é desenvolvida pela secretaria municipal de Assistência Social e Direitos Humanos. “Nosso objetivo é orientar os foliões sobre a diferença entre uma paquera e uma importunação sexual. A diferença é o consentimento”, explica a secretária Michelle Pessanha.

 

No carnaval de 2019, falamos sobre a comissão feminina de Carnaval de Rua em São Paulo.

Pra quando o carnaval chegar – Representatividade, segurança e inclusão feminina

 

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Arte

Olori Xangô: Salgueiro leva seu padroeiro para a Sapucaí

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Sem dúvida, um dos pontos altos do ano de 2019, e que merecerá toda nossa atenção, será o desfile que a escola de samba Acadêmicos do Salgueiro preparou para Marques de Sapucaí.Mordida depois do terceiro lugar obtido no último ano, em que homenageou as mulheres negras com um carnaval luxuoso, o Salgueiro aposta desta vez em nada menos que seu padroeiro, Xangô, em um enredo que mexe com emocional de seus componentes de uma forma especialíssima.

Impulsionada, ainda, por samba entre os melhores que foram apresentados nos últimos anos, com versos em português e iorubá, a melodia parece convocar, de fato, o orixá que também dá o tom das cores da escola, para disputa pelo título.

Diz o refrão:

“Olori, Xangô, oiêo
Kabelice, meu padroeiro
Traz a vitória para o meu Salgueiro”

Na Umbanda e Candomblé, Xangô é associado à justiça, ao fogo e aos trovões. Quem viu os ensaios técnicos pelas ruas da Tijuca, imediações do morro do Salgueiro, onde fica a escola, ou na Sapucaí, garante que há muito não se via essa escola tão afiada e animada.

Na bateria, que teve troca de comando, o maestro Jorge Cardozo ouviu a cinco ogãs, e introduziu o alujá, espécie de marcha de percussão que é um toque para Xangô nos ritos tradicionais de matriz africana. Mais um ponto de intersecção entre fé e carnaval nesse desfile.

Em um ano que marca para o Rio de Janeiro a consagração política de personalidades hostis às tradições afrobrasileiras, com Crivella, Witzel e Bolsonaro no poder, e ainda sob ameaças persistentes de corte de patrocínios para os desfiles apesar da festa atrair milhares de turistas para cidade, a ode à entidade nagô será também uma catarse para boa parte do público.

Outras boas novidades devem aparecer neste carnaval, mas o que todas as plumas e paetês do Rio de Janeiro sabem neste momento é que o desfile do Salgueiro será histórico.

Rodrigo Veloso

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Carnaval da Resistência

18 anos do Bloco “Banda do Fuxico”, o primeiro bloco LGBTIQ+ no Estado de São Paulo

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Nesta entrevista exclusiva e especial, Roberto Mafra (44 anos),Presidente na Associação Recreativa e Cultural – ONG Banda do Fuxico e gerente-geral na FLASH CLUB, analisa a conjuntura real que vivemos na esfera política e pública, além das situações negativas que vem ocorrendo com a falta de patrocinador no Carnaval de Rua em SP. Ex-diretor artístico da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo – APOGLBT entre os anos de 2016 e 2017, Mafra atuou também como Property Master no Grêmio Recreativo Cultural Social Escola de Samba Vai-Vai e foi Coreógrafo no Grêmio Recreativo Social Cultural Escola de Samba Pérola Negra.

Neste Carnaval, as responsabilidades são enormes devido à 18ª realização do Trio Elétrico “Banda do Fuxico”, bloco fundado em 2001, sendo o primeiro bloco LGBTIQ+ no Estado de São Paulo. A ONG é registrada pela Associação das Bandas Carnavalescas da Cidade de São Paulo (ABASP). Hoje, possui mais de 60 ONGs parceiras em diversos segmentos, apenas na cidade de São Paulo, levando a eles toda forma de apoio e inclusão.

O desfile este ano ocorrerá no pré-carnaval (24/2) no Largo do Arouche, região central de São Paulo, com o título “MULHERES EMPODERADAS DA BANDA DO FUXICO, SOMOS A VOZ DA FOLIA”. Estima-se em mais de 40 mil pessoas seguindo o bloco em seus percursos pelas ruas do centro.

HUMBERTO MERATTI – Mafra, como é encarar essa responsabilidade de dar voz e levar a alegria através do Carnaval, ao seu público em específico, que vem nos últimos tempos passando por tantas desigualdades frente às questões de diversidade e gênero?

ROBERTO MAFRA – Humberto, somos o primeiro bloco assumidamente LGBTIQ+ na cidade de São Paulo. Quando surgimos no dia 29/01/2001, não existia essa gama gigantesca de blocos de rua na cidade. Só existiam os blocos da ABASP à qual nosso bloco é associado. Hoje, somos mais de 600 blocos e bandas de rua. Acredito que 30% desses blocos tenha temática LGBTIQ+ e os outros alternativos. É lógico, que as coisas ficaram mais difíceis aos órgãos públicos sobre a questão de logística, para essa quantidade de blocos, mas acredito também que atraímos mais cultura dentro do Carnaval de Rua, colocando nas ruas um grito de liberdade através de temas que trazem essa linguagem LGBTIQ+ e acredito que o carnaval é uma manifestação popular onde podemos esbanjar nossa alegria através da folia. Não é fácil fazer carnaval, principalmente hoje, quando os poucos patrocinadores escolhem os blocos e fazem questão de investir nos blocos de grandes artistas que chegam de fora para somar no nosso carnaval com os seus megablocos. Isso só tende em crescer.

“Estamos lutando para resguardar nossas tradições de blocos que começaram há mais de 20 anos e que sejamos reconhecidos pela prefeitura e por cada gestão nova que chega a cada quatro anos e não conhece nossa historia, pois só queremos levar alegria para o povo desse País lindo e festivo que é o Brasil.”

HUMBERTO MERATTI – Mafra, você também acredita que os movimentos artísticos e culturais da comunidade LGBTIQ+ estão chegando pra valer nos Carnavais de Rua pra ficar e não sair mais, ocupando assim seus lugares de direito?

ROBERTO MAFRA – Com certeza Humberto, isso foi mais uma forma de expressar nossa cultura e gritar por nossos direitos. Através da cultura popular estamos cada vez mais nos fortalecendo e assumindo nossos gêneros e orientações sexuais.

Foto: Roberto Mafra

HUMBERTO MERATTI – Em relação ao dia de desfile do Bloco Bando do Fuxico, qual será a mensagem que vocês pretendem passar ao público presente, sabendo-se que hoje o Carnaval de Rua em SP é tão misto, que reúne em diversos blocos LGBTIQ+, uma quantidade altíssima de aliados ao movimento.

ROBERTO MAFRA – Primeiro que o nosso tema será “MULHERES EMPODERADAS DA BANDA DO FUXICO, SOMOS A VOZ DA FOLIA”, e precisamos além da alegria e da folia, conscientizar as pessoas sobre os direitos para/e cada gênero, além de promover campanhas contra a homofobia e o machismo, e principalmente campanhas de uso do preservativo, para combate a doenças sexualmente transmissíveis, através da distribuição de insumos.

“Mas o nosso maior objetivo é que todos sejam felizes nessa festa popular, assegurando inclusive o respeito”.

HUMBERTO MERATTI – Vivemos em um cenário político completamente conturbado, onde pessoas no poder todo dia noticiam frases ingratas ou inoportunas, além das mensagens de ódio, principalmente, sobre a comunidade LGBTIQ+ e com isso, muitos replicam. Para o bloco, como é visualizado este cenário político e público atual?

Foto: Roberto Mafra

ROBERTO MAFRA – Um país onde se mata um LGBTIQ+ a cada 19 horas por homofobia e ódio, e olha que isso acontecia antes do atual cenário político de vitória da direita. Agora, com essa nova gestão presidencial, que tem um governo assumidamente homofóbico, machista, racista e que prega o ódio escancaradamente, infelizmente só tende a piorar. Acompanhamos diariamente as notícias sobre as mortes dos nossos LGBTIQ+ em nosso Brasil.

“Infelizmente a maioria dos brasileiros também são assim, homofóbicos e racistas, tanto é, que elegeram o Bolsonaro. Acredito que a luta continua e não iremos desistir de nos defender e defender nossa população, somos todos iguais independente da raça, cor, religião e etnia.”

 

*Humberto Meratti é especialista em políticas públicas culturais e gestor cultural

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