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Mulheres do DF lançam manifesto para o Dia Internacional de Luta das Mulheres

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Foto: Leonardo Milano / Jornalistas Livres

08 de março, Dia Internacional de Luta das Mulheres.

Pela vida de todas as mulheres! Contra o racismo, o machismo e o fascismo!

Em defesa da democracia

Somos um país historicamente marcado pela violência contra as mulheres e contra quem ousa se contrapor aos poderosos. Somos o 5o país do mundo com maior índice de feminicídios e o 1o em assassinato de LGBTIs. Vivenciamos estruturalmente o racismo e cotidianamente o genocídio da juventude negra. Somos o 4o país do mundo em casamentos infantis. Somos ainda a 3a nação do planeta em número de conflitos ecológicos e atividades de risco sobre os recursos naturais. Com o avanço da extrema-direita no DF e no Brasil, essa histórica realidade hostil se aprofunda e nossas vidas estão cada vez mais em risco.

O ataque à democracia, que começou com o golpe misógino contra Dilma Rousseff, alcança níveis inaceitáveis no governo Bolsonaro. Temos um presidente que apoia atos pelo fechamento do Congresso e do STF, ultrapassando todos os limites de desrespeito à Constituição e flertando abertamente com um novo golpe de Estado. Ao personificar a ascensão de forças autoritárias na política, ultraliberais na economia e retrógradas nos costumes, ao apoiar grupos conservadores, com feições neofascistas, e ao manter relações estreitas com milicianos, o governo de Bolsonaro destrói o Estado Democrático de Direito e se transforma numa ameaça real à vida das mulheres.

Por isso, neste 8 de Março, iremos às ruas mais uma vez para dizer:

Mulheres contra Bolsonaro! Ditadura nunca mais!

Pela primeira vez desde a redemocratização do país, o presidente e sua família apoiam publicamente o regime ditatorial e seus algozes, em manifestações reiteradas de apologia à tortura e ao AI-5. Neste 8 de Março, lembramos das mulheres que ousaram se levantar contra o autoritarismo e foram barbaramente torturadas e estupradas pelos militares da época, muitas vezes diante de suas crianças. Lembramos das mães que não puderam enterrar seus filhos e que morreram sem saber o destino de seus corpos. Não nos calaremos diante de um governo ditatorial e patriarcal, que se guia baseado em princípios de violência, opressão e desrespeito às liberdades

individuais e coletivas. O Estado de exceção se aprofunda, mas não podemos retroceder. Que a democracia não seja uma palavra retórica, utilizada por líderes autoritários, racistas, misóginos e lesbofóbicos!

Pelo fim da violência contra a mulher!

Vivemos em uma sociedade machista. Somos vistas como objetos de prazer e propriedade dos homens, que se sentem donos de nossos corpos e de nossas vidas; que nos violentam, nos estupram e nos matam. A cada duas horas, no Brasil, mais de mil mulheres são agredidas, uma é assassinada e onze

são estupradas. No DF, a situação não é diferente: ocupamos
a vergonhosa 5a posição no ranking de assassinatos de mulheres no Brasil. Em 2019, 34 mulheres foram vítimas de feminicídio, representando um aumento de 62% dos casos desde 2016. Em 2020, até o dia 3 de março, 6 mulheres já foram assassinadas. A morte da mulher está dentro de casa. São famílias mergulhadas em uma tragédia social, alimentada pelo pensamento de posse sobre a vida do outro.

Para barrar essa onda, precisamos de políticas concretas de enfrentamento à violência contra as mulheres. Porém, no ano passado, a maioria das vítimas ou de suas famílias no DF não chegou a procurar um equipamento público antes do feminicídio, revelando um quadro de ausência do Estado na proteção da vida das mulheres e de sucateamento dos equipamentos públicos de enfrentamento às violências. Enquanto a ministra da família corta verbas destinadas
às políticas públicas para o setor, no DF o governador Ibaneis tenta barrar o andamento da Comissão Parlamentar de Inquérito criada em novembro para investigar os feminicídios. E assim a cultura do estupro e da morte se fortalece, incentivada por iniciativas como a liberação
das armas e a ampliação da excludente de ilicitude, que autoriza a violência letal pelas polícias. No Brasil, a cada dois minutos uma mulher é vítima de armas de fogo. Lutamos pela superação da necropolítica e por uma cultura e políticas públicas de promoção da paz. Lutamos ainda pelo direito das mães de criarem suas filhas e seus filhos sem a manipulação da Lei de Alienação Parental, mais uma forma de violência contra as mulheres.

Contra o racismo!

A violência se intensifica de acordo com raça e etnia, orientação sexual, identidade de gênero, classe social, idade e situação de vulnerabilidade das mulheres, atingindo brutal- mente mulheres negras, jovens, pobres, trans. Cerca de 68% das mulheres assassinadas no Brasil são negras. Num país de história e presente escravagistas, mais de 90% das empre- gadas domésticas são mulheres negras. A elas também são destinados os empregos mais precarizados e as piores condi- ções de vida. Somente as ações de resistência promovidas no âmbito do movimento de mulheres negras dão voz e vez às problemáticas que o povo negro brasileiro vive em razão da cor da sua pele.

A promoção da cidadania das mulheres negras requer a garantia da implementação de políticas públicas de qualidade no combate ao racismo estrutural, presente nas instituições públicas e privadas. No Distrito Federal, é flagrante como
as políticas de gênero universais não alcançam as mulheres negras, criando um ciclo perverso de reiterada vitimização de nossos corpos nos serviços públicos. Por isso, lutamos pelo re- conhecimento de que vivemos em uma sociedade pluriétnica e plurirracial. Lutamos contra a extinção das políticas públicas afirmativas, contra toda forma de intolerância, pelo reconhe- cimento dos territórios ancestrais do candomblé e umbanda e para que regiões administrativas majoritariamente negras possam ser reconhecidas como territórios culturais.

Pelo bem-viver! Contra o capitalismo e o desmonte dos serviços públicos

A propriedade privada dos meios de produção e o modelo de desenvolvimento econômico exploratório e predatório estão na base do sistema capitalista. Neste 8 de Março, ergue- mos nossa voz por uma sociedade que tenha como horizonte a filosofia do bem-viver e que rompa com o patriarcado e sua compreensão de que as mulheres também são propriedade dos homens. Fruto do sistema capitalista, temos uma popu- lação cada vez mais empobrecida, adoecida física e psicologi- camente. E ainda mais oprimida pelas medidas econômicas ultraliberais e excludentes do governo federal. As ações de desmonte do Estado brasileiro, que começaram no governo ilegítimo de Michel Temer com a Reforma Trabalhista, seguem com Bolsonaro, na perversa destruição da Previdência e da Seguridade, na privatização e entrega dos serviços públicos.

Vivemos um cenário de precarização laboral crescente, com regime de trabalho intermitente, de ampliação do trabalho sem vínculo formal com as empresas ede perda de direitos, consistente com um quadro de desemprego estrutural. As mulheres, sobretudo as negras, são as mais impactadas, por receberem salários mais baixos por funções iguais às dos homens e por terem seus empregos concentrados em ativida- des informais e no trabalho doméstico. O desemprego no DF

é assustador e as mulheres são as primeiras a ficarem desem- pregadas. Neste cenário de desmonte do trabalho pelo capital, as mulheres que possuem jornada dupla ou tripla são as mais penalizadas pela Reforma da Previdência, pois terão que traba- lhar ainda mais para alcançar o direito à aposentadoria.

Enquanto isso, o desmonte de serviços públicos como a saúde e a educação nos sobrecarregam ainda mais, pois so- mos culturalmente responsabilizadas com os cuidados dos/as doentes e dos/as filhos/as. Somos nós que sofremos com os ataques ao SUS, a falta de creches e de escolas, de verbas para o serviço social. E que também sofreremos com a desvaloriza- ção do serviço público e as privatizações de setores estratégi- cos, uma ação orquestrada por defensores do Estado mínimo para atender a interesses de grandes grupos econômicos nacionais e internacionais. As mulheres em situação de vulne- rabilidade seremos novamente as mais atingidas, sobretudo as negras e as indígenas.

No DF, todos os dias morrem pessoas por não conseguirem atendimento médico. As escolas públicas vivem de contribui- ção de mães e pais para fazerem reformas básicas. O alto preço da passagem de ônibus nos obriga a pagar para trabalhar.

Este é o cenário de caos em que se encontram as mulheres, maiores atingidas pela política econômica de restrição de bens e direitos. Enquanto isso, Ibaneis militariza as escolas e constrói um projeto de educação cada vez mais conservador, seguindo o caminho de Bolsonaro, que quer calar a educação crítica e emancipatória. Neste 8 de Março, lutamos porque somos todas trabalhadoras. Nenhum direito a menos!

Contra a destruição do planeta e o genocídio dos povos indígenas!

A lógica exploratória que coloca a ganância acima
da vida humana e animal e da preservação do meio ambiente também ocupa o Palácio do Planalto. As tragédias de Brumadinho e Mariana não foram acidentes. Foram crimes, com danos ambientais e humanos irreparáveis, impostos pelo grande capital em busca
de lucro. A explosão de queimadas na Amazônia e os inúmeros assassinatos de lideranças indígenas precisam ser responsabilizados com vigor. Neste 8 de Março,
nós, mulheres do campo, do cerrado, das águas e das florestas, quilombolas, indígenas e ciganas, as principais responsáveis pela agricultura e pecuária familiares e
que mais sofremos com as grandes empresas em nossos territórios e com as desigualdades produzidas pela economia capitalista, estaremos nas ruas! Exigimos o direito à terra e ao território das comunidades indígenas, quilombolas e tradicionais. Lutamos por soberania popular e para não sermos expulsas de nossas terras. Pelo reconhecimento do acúmulo das vivências das nossas ancestralidades africana e indígena!

Pela vida de mulheres lésbicas, bissexuais e trans!

Nossas identidades de gênero e nossas sexualidades não são ideologias. São identidades genuínas. A luta por sua valorização não é doutrinária, mas libertária, para que ninguém sofra ou tenha direitos cerceados só por ser quem é. Nossa ideologia é o respeito às diferenças.
A famosa “ideologia de gênero” nada mais é do que
a doutrina de que “meninos vestem azul e meninas vestem rosa”, negando, desde a infância, nosso direito à autonomia e à singularidade. Neste 8 de Março, lutamos pela visibilidade LesBiTrans. Por uma educação laica e inclusiva às pessoas LGBTI! Por políticas de fomento à empregabilidade para pessoas trans e travestis!

Pela legalização do aborto!

Mulheres continuam abortando, mulheres continuam morrendo. O aborto clandestino é uma das principais causas de morte de mulheres no Brasil, vitimando uma de nós a cada dois dias. Esse grave problema de saúde pública mata sobretudo quem não pode pagar por uma intervenção segura: mulheres pobres, negras e menos escolarizadas. Lutamos por direitos reprodutivos e contra a criminalização das mulheres. Pelo reconhecimento à voz da mulher, para que ela possa ser ouvida em seu clamor pela vida! Que a decisão da mulher sobre seu corpo seja respeitada!

Por mais mulheres feministas nos espaços de poder!

Em 2020, teremos eleições municipais no Brasil, exceto no DF, nas isso não impede que as mulheres daqui se engajem em candidaturas de feministas no Entorno
do DF, fortalecendo seus projetos e atuando pela eleição dessas companheiras. Segundo o IBGE, o Brasil ocupava em 2018 a vergonhosa posição de 152° colocado em um ranking de 190 países na representação das mulheres na política. Vivemos o crescimento da extrema direita e de uma onda conservadora que pode levar ao redesenho
do papel social das mulheres, retrocedendo nossas conquistas emancipatórias. Precisamos de mais de nós na política para lutar por nossas causas e defender nossos direitos. Balas não vão nos intimidar. O assassinato covarde de Marielle nos transformou a todas em sementes que clamam por justiça e igualdade. Queremos mais mulheres feministas ocupando os espaços de poder e decisão! Democracia sem a participação de mulheres não é democracia.

Por justiça para Marielle, para todas e todos!

Em 2020, completam-se 2 anos da execução política da vereadora Marielle Franco (PSOL), uma mulher, negra, bissexual, da favela da Maré, brutalmente assassinada junto com seu motorista Anderson Gomes. As investigações têm mostrado que o mandante

e envolvidos neste bárbaro crime são vizinhos de condomínio do presidente Bolsonaro. A execução de Marielle é um crime político grave e sua resolução é de extrema importância para nossa democracia.Exigimos saber quem mandou matar Marielle e por quê! Também lutamos pelo fim da desigualdade na atuação do Poder Judiciário, que criminaliza os socialmente marginalizados. O Brasil é hoje o 3o país em número de encarcerados, o 4o em mulheres presase tem uma taxade aprisionamento superior à maioria dos países, de 335 pessoas presas a cada 100 mil. Pelo fim do encarceramento das lactantes e pela ressocialização das/os detentas/os.

Por liberdade de expressão e por outra comunicação no Brasil!

Somos um dos países com maior concentração
nos meios e com menor representação de nossas diversidades na mídia. Uma mídia que, quando não silencia nossas lutas, nos criminaliza; que não respeita a laicidade do Estado e que, nos programas policialescos (fundamentais para o crescimento do fascismo no Brasil), legitima uma cultura de violência contra mulheres, pobres e jovens negros. Uma mídia que respalda a ambição da elite econômica e desconsidera os impactos dessa política na vida da população. No 8 de Março, levantamos nossa voz por outra comunicação!

Por uma cultura viva!

A cultura representa geração e circulação de renda, bem estar social e formação de identidade cidadã e individual. É um espaço de diversidade e equidade,
de liberdade de expressão. É uma indústria potente,
que fala globalmente e que se fortaleceu através das políticas públicas. Mas, desde o início, o governo atual tem desmontado as políticas de desenvolvimento, fomento e promoção à cultura, prejudicando o sustento de milhares de famílias e atacando a sociedade em sua dimensão simbólica. Um país sem cultura é um país sem identidade e soberania. Queremos a volta das políticas públicas para a cultura e mais mulheres nestes espaços! Pelo direito à memória!

Nossa solidariedade internacional!

Aos povos que sofrem e que resistem aos golpes de estado e às políticas neoliberais, aos nossos irmãos e irmãs chilenas, equatorianas, haitianas, panamenhas, colombianas, hondure- nhas, bolivianas,externamosnossasolidariedadeeveemente repúdio aos governos opressores. Repudiamos as sanções eco- nômicas dos EUA impostas aos povos de Cuba e da Venezuela. A autodeterminação dos povos é fundamental. Não à invasão da Venezuela; não em nosso nome! Repudiamos também o acordo proposto por EUA e Israel. A Palestina não está à venda! E defendemos a libertação de Julian Assange, que revelou in- formações sobre a intervenção dos EUA na soberania de vários países, entre eles o Brasil.

Não podemos continuar pagando o preço de um pensamento fundamentalista e viver neste cenário de retrocessos e de terror que se instalou no Distrito Federal e no Brasil. É em cima do corpo das mulheres que o autoritarismo de Ibaneis e Bolsonaro se manifestam. Lutamos por uma sociedade com justiça social. Em, honra daquelas
que tombaram por sua liberdade e a das futuras gerações, seguiremos na defesa da democracia! Enquanto uma de nós estiver de pé, marcharemos contra essa ofensiva conservadora e a política econômica ultraneoliberal.

No dia 8 de Março, vamos ocupar as ruas de todo o país. Pela vida de todas as mulheres, contra o racismo, o machismo e
o fascismo. Vamos juntas!!! Mulheres contra Bolsonaro!

Nossa agenda de lutas em março

Nossa luta não termina no dia 8 de Março. Diante da grave conjuntura em que, se aprofundam os ata- ques à democracia, à soberania e aos nossos direitos, também estaremos nas ruas nos dias:

  • 14 de março, quando completam dois anos do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes
  • 18 de março, quando as centrais sindicais e entidades da classe trabalhadora realiza- rão um Dia Nacional de Luta em Defesa dos Serviços Públicos, da Educação e Contra as Privatizações

 

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Nota da ABI – Bolsonaro mente na ONU e envergonha o Brasil

No seu discurso na manhã desta terça-feira na Assembléia Geral das Nações Unidas, o presidente Jair Bolsonaro contribuiu para que o Brasil caminhe para se tornar um pária internacional.

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No seu discurso na manhã desta terça-feira na Assembléia Geral das Nações Unidas, o presidente Jair Bolsonaro contribuiu para que o Brasil caminhe para se tornar um pária internacional.
Sem qualquer compromisso com a verdade, o presidente afirmou que seu governo pagou um auxílio emergencial no valor de mil dólares para 65 milhões de brasileiros carentes, durante a pandemia. O auxílio foi de 600 reais.
Bolsonaro mentiu
O presidente responsabilizou, ainda, índios e caboclos pelos incêndios na Amazônia e no Pantanal, que alcançam níveis nunca antes vistos no País. Todas as investigações, inclusive de órgãos oficiais, indicam que fazendeiros estão na origem das queimadas.
Como se vê, de novo Bolsonaro mentiu.
O presidente transferiu a responsabilidade para governadores e prefeitos pelos quase 140 mil mortos vítimas do coronavírus. Todo o país é testemunha de sua leviandade, ao classificar a pandemia de “gripezinha” e ir na contramão dos procedimentos defendidos pelas autoridades de Saúde.
Assim, mais uma vez Bolsonaro mentiu.
A ABI, com a autoridade de seus 112 anos de existência em defesa da democracia, dos direitos humanos e da soberania nacional, repudia esse comportamento que vem se tornando recorrente e conclama o povo brasileiro a não aceitar o verdadeiro retrocesso civilizatório que o governo está impondo ao País.
Paulo Jeronimo – Presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI)

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Sem papas na língua. Juliano Medeiros no Dialogando de hoje

Quais interesses políticos estão por detrás da próxima disputa eleitoral? Tudo isso e um pouco mais, sem papas na língua, como diz o Pastor Fábio. Vem!

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Quais interesses políticos estão por detrás da próxima disputa eleitoral? No Programa Dialogando desse domingo (26/07), 18h, o Pastor Fábio recebe Juliano Medeiros, presidente do PSOL para um papo sobre eleições e aprendizados da pandemia que passa por uma das fases mais críticas do momento, onde prefeituras e governos de vários Estados do país programam reabertura de mais uma parcela considerável de setores, enquanto isso, a mídia normaliza as curvas ascendentes do número de infectados pelo Coronavírus.

Outra pergunta que precisa ser respondida é qual é o sentido das eleições serem realizadas ainda neste ano? Quais interesses políticos estão por detrás da próxima disputa eleitoral? Tudo isso e um pouco mais, sem papas na língua, como diz o Pastor Fábio. Vem!

Assista, compartilhe. comente e mande perguntas no Facebook.

Juliano Medeiros é um jovem dirigente político da esquerda brasileira e desde janeiro de 2018 ocupa a presidência do Partido Socialismo e Liberdade. Historiador e Mestre em História pela Universidade de Brasília, é Doutor em Ciências Políticas pela mesma instituição.

Co-autor e organizador de Um Mundo a Ganhar e Outros Ensaios (Multifoco, 2013), Um Partido Necessário – 10 anos do PSOL (Fundação Lauro Campos, 2015) e Cinco Mil Dias: o Brasil na era do lulismo (Boitempo, 2017), colabora com sites, jornais e revistas no Brasil e exterior.[2]

Em 2018 coordenou a campanha de Guilherme Boulos à Presidência da República pelo PSOL[3] e, no segundo turno, após decisão do partido, passou a integrar a coordenação da campanha de Fernando Haddad[4]. Desde a vitória de Jair Bolsonaro, participa do Fórum dos Presidentes de Partidos de Oposição[5].

Durante mais de uma década Juliano Medeiros foi dirigente da corrente interna Ação Popular Socialista – Corrente Comunista do PSOL. Em Junho de 2019, a APS-CC se fundiu com o Coletivo Rosa Zumbi e mais oito coletivos regionais para fundar a Primavera Socialista, atualmente maior tendência do PSOL, da qual Juliano também é dirigente.[6]

Fábio Bezerril Cardoso é Pastor, cientista social, ativista social e Cofundador & Coordenador da Escola Comum e atualmente apresenta o Programa Dialogando, todos os domingos, às 18h. É um dos pastores progressistas que têm lutado pela defesa dos povos periféricos e costuma não ter papas na língua para falar sobre a realidade desses lugares. A produção é de Katia Passos, com arte de Sato do Brasil.

Conheça mais sobre a atuação do Pastor Fábio https://www.facebook.com/fabio.bezerrilhttps://www.facebook.com/fabio.bezerril

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Hilário Ab Reta Awe Predzaw e a história de um povo, historicamente, moído pelo ódio ou indiferença

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Por Diane Valdez, professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás, militante do Movimento de Meninos(as) de Rua e Comitê de Direitos Humanos Dom Tomás Balduíno

 

 

Hilário Ab Reta Awe Predzaw, 43 anos, morador da Aldeia Xavante N. S. de Guadalupe, em Barra do Garças, Mato Grosso, morreu na madrugada de 18 de junho de 2020, vítima do descaso governamental que permitiu a chegada do Coronavírus em sua comunidade. Era aluno do 5º período do curso de Pedagogia da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás. Sua tia morreu há pouco mais de uma semana vítima do mesmo descaso, a mãe e seus dois irmãos, seguem contaminado pelo vírus, assim como outros Xavantes e outras pessoas de etnias indígenas de todo o Brasil.

Hilário entrou na UFG, pelo sistema de cota para indígenas, no ano de 2018. Chegou com o já conhecido atraso histórico de acesso dos povos originários no ensino superior, ainda que a UFG seja uma das universidades públicas que tem buscado cumprir com o direito de povos indígenas ao ensino universal, o acesso e a permanência ainda sofrem de fragilidade.

A trajetória de Hilário, na UFG, não se limitou às dificuldades ocasionadas pela pobreza, como muitos de nossas/os alunas/os enfrentam. A academia era um outro mundo, distante de sua comunidade, não só em quilômetros, como também em movimentos culturais, sociais e políticos. Talvez essa distância, o fazia um aluno reservado e observador, sem abrir mão da seriedade e interesse pelo conhecimento.

Era umas das lideranças de seu povo, portanto, sabia da responsabilidade que assumia frente a comunidade, ele seria um professor, um educador de seu chão, de sua gente. Hilário trabalhava em uma escola, com o formato de um Tatu Bola, na sua aldeia, trabalhava na área de serviços gerais, em breve voltaria como Professor!

No primeiro ano de curso, Hilário, na desconfiança de seu silêncio indígena, que não significava submissão, tentava se inserir no mundo acadêmico. Veio um tempo, que largou tudo e voltou para a aldeia, não por opção dele, mas por opção deste desgoverno que é incansável na destruição de direitos dos povos originários.

O Ministério da Educação e Cultura, suspendeu todas as bolsas de permanência para a população indígena e quilombola. Um grupo de alunas e professoras se juntaram, arrecadaram dinheiro e o trouxeram de volta para a Faculdade. Foi feita uma mobilização de docentes e discentes sensibilizados e a Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis da UFG, cumprindo seu importante papel, disponibilizou uma bolsa e outros auxílios emergenciais.

Nessa ocasião, quando perguntado sobre o porquê de não falar nada dos problemas para colegas, e voltar para sua comunidade, Hilário disse que achava que ninguém sentiria falta dele.

No segundo ano, trouxe seu curumim para estudar em Goiânia, começou a trabalhar como intérprete na escola, acompanhando seu filho na dificuldade com a lingua. Era visível seu orgulho de exercer a função de intérprete. Lutou e enfrentou as diferenças que separavam as culturas e, como muitos, guerreou como seus ancestrais, para não perder seu lugar de legítima conquista.

No início da Pandemia, que começou junto com o semestre letivo, Hilário resistiu em voltar para sua comunidade, tinha medo das aulas retornarem e ele não estar presente na Faculdade, isso aponta o lugar que a UFG ocupava em sua vida. Quando percebeu que seu povo não estava acreditando na letalidade do vírus, retornou para alertar todos sobre o perigo. A UFG, cumprindo seu papel de instituição pública, providenciou o transporte para seu retorno no Mato Grosso.

Em maio, informou para duas amigas, que sua comunidade precisava de cobertores, pois fazia muito frio, e seu povo estava adoecendo. Elas mobilizaram, imediatamente, uma Vakinha On Line, onde arrecadou-se pouco mais de três mil reais, no entanto, como o total da arrecadação demora para ser liberado, emprestaram dinheiro e compraram os cobertores de forma mais hábil, enviando-os dia seguinte.

Os sintomas que atingia a comunidade, febre, falta de ar etc. já indicavam que era Coronavírus, no entanto, isso não foi motivo de interesse governamental, que poderia ter evitado o alastramento do vírus.

Ao apresentar os sintomas da doença, Hilário mostrou-se resistente em ir para o hospital, tinha dificuldade de aceitar o tratamento “dos brancos”. Acreditava nos rituais de seu povo, no tratamento natural que conhecia há tempos. Por outro lado, a histórica resistência dele, fazia todo sentido, pois sabemos como os povos indígenas são tratados neste país tão indígena que não se reconhece como indígena. Foi convencido a ir para o hospital e, na última conversa com as amigas em chamada por vídeo, estava muito escuro, e a família arrumou uma lanterna para as meninas verem o rosto dele, que disse para elas, em lágrimas, que estava somente suado, quando perguntado se estava com medo, disse que sim, que estava com muito medo…

A ida para o hospital foi acompanhado de longe pelas amigas, falavam sempre com a Assistente Social que afirmava que Hilário estava se recuperando, que receberia alta a qualquer momento. Nessa madrugada, ao pedirem informações sobre o amigo no hospital, alguém disse que alguém havia morrido, mas não sabia o nome. O nome de mais um número morto é Hilário Ab Reta Awe Predzaw, que deixou a mulher, filhos e todo seu povo Xavante.

O acesso dos povos indígenas ao ensino superior é recente, no entanto, é marcado por extrema coragem e resistência, pois o mundo acadêmico não é de todo um espaço acolhedor. Ainda que a dureza prevaleça na universidade, Hilário encontrou solidariedade e amizade na Faculdade de Educação, ainda que não seja uma solidariedade coletiva, foi construído uma rede de apoio, tanto de alunas/os, como também de docentes, isso pode ter aliviado sua dura estrada longe de seu chão.

Hilário não morreu porque “chegou a hora dele”, morreu por não ter o direito de ser mais um indígena, digno de necessários cuidados. Hilário, era um homem parte do “povo indígena”, um povo invisibilizado, injustiçado, espezinhado, humilhado e, odiado por este desgoverno.

Um povo com suas terras ameaçadas e roubadas pelo latifúndio, mortos por pistoleiros do agronegócio, ironizado e menosprezado por representantes deste desgoverno, ignorado por gente nativa que se acha descendente de europeus, machucados por todos que acham que universidade não é lugar de indígenas.

Não sei falar de fé, nem de ‘destino’, nem de coragem para aliviar o cansaço de um tempo incansavelmente dolorido. Ironicamente, para não dizer, funestamente, o tal ministro da educação, que afirmou odiar a expressão “povos indígenas”, ampliando seu descaso com a educação, revogou hoje [H OJ E], (19/06) a portaria assinada pelo ex-ministro de educação, Aluísio Mercadante, que estabelecia a política de cotas para negros, indígenas e pessoas com deficiência em cursos de pós-graduação. Hilário, estaria fora da pós-graduação, se dependesse deste ser desumano.

Quando lanternas começaram a iluminar caminhos de direitos para esta população, no interior de nossas universidades públicas, ainda que timidamente, um furacão de perversidade em formato de governo, dá pontapés e pisa, moendo, as possibilidades de justiça. Feito bandeirantes, grupos genocidas a frente das decisões da nação, estimulam a morte em todos os formatos. Deixar que o coronavírus atue, sem controle, é a proposta de morte atual para os povos originários.

Como Hilário, temos medo, muito medo, mas agarremos as lanternas, e assumimos nosso lugar na defesa dos povos indígenas, não os condenando a escuridão, como muitos fazem.

Hilário Ab Reta Awe Predzaw presente!

Este texto foi escrito com informações coletadas com as alunas, companheiras de Hilário, da turma do quinto período de Pedagogia da Faculdade de Educação/UFG, Dorany Mendes Rosa e Raysa Carvalho.

A elas e a toda turma, meu carinho e solidariedade.

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