Muita arte e criatividade no ato em Curitiba contra o novo coordenador de Saúde Mental do país

Por Wagner de Alcântara Aragão, do Macuco Blog e fotos de Laiza Marinho, para os Jornalistas Livres

Profissionais de saúde, professores, estudantes e, principalmente, usuários da Rede de Assistência Psicossocial, do Sistema Único de Saúde (SUS) promoveram na tarde desta quinta-feira, dia 17, um ato em Curitiba contra a nomeação do médico psiquiatra Valencius Wurch Duarte Filho como coordenador-geral de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas, do Ministério da Saúde. Dado o histórico do novo coordenador, a nomeação coloca em risco os avanços das políticas de saúde mental adotadas pelo Brasil, reconhecidas mundialmente como exemplares.

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Fotos: Laiza Marinho/Jornalistas Livres

A manifestação ocorreu na Praça Rui Barbosa, uma das mais movimentadas da cidade, por concentrar pontos iniciais de diversas linhas de ônibus. Depois, seguiram em caminhada até a Rua XV de Novembro, outra movimentada área da região central. Lá, fizeram breve apresentação teatral. Os manifestantes portavam cartazes, quase todos feitos pelos próprios atendidos pelo sistema, e bradavam palavras de alerta contra o retrocesso representado pela nomeação de Wurch.

“Doutor, eu não me engano, o manicômio é desumano”, “Loucura é você não me aceitar”, “Loucura é pensar em voltar ao manicômio”, “Manicômio, só para o novo coordenador”, “Cuidar não é trancar” e “Nenhum passo atrás, manicômio nunca mais” foram algumas das mensagens transmitidas pelos manifestantes.

Foto: Laiza Marinho/Jornalistas Livres

A mobilização na capital paranaense se somou a outras que têm ocorrido nesta semana em outras partes do país, explicou a porta-voz do movimento, a psiquiatra Sílvia Cardim, que trabalha em um dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) de Curitiba e região metropolitana. “A nomeação de Wurch é um retrocesso, fere não só a política de saúde mental como fere a integridade do SUS”, advertiu a psiquiatra.

Wurch historicamente é um opositor da política de humanização da saúde, experimentada com êxito no Brasil em 1989, em Santos, quando um manicômio sofreu intervenção da prefeitura municipal e novas práticas de tratamento dos pacientes foram adotadas, relembrou Sílvia Cardim.

Fotos: Laiza Marinho/Jornalistas Livres

“O até então coordenador do Ministério da Saúde era Roberto Tykanori, que integrou a equipe de humanização da saúde mental em Santos, um modelo que virou referência, e foi se espalhando. Já [o atual coordenador, Wurch] foi diretor do maior manicômio privado da América Latina, a Casa de Saúde Dr. Eiras [de Paracambi, RJ]. O manicômio foi fechado em 2012 depois de muitas denúncias e investigações de graves violações de direitos humanos”, argumentou a porta-voz.

Um dos atendidos pela rede de Caps de Curitiba e região é Reginaldo Alves, 44 anos, que no ato se mostrava indignado contra a ameaça de retrocesso na área de saúde mental. Reginaldo afirmou ser dependente químico. Há quase um ano é atendido pelo Caps do bairro Boa Vista, região norte de Curitiba. De início, frequentava a unidade diariamente. Agora, o tratamento ocorre duas vezes por semana.

Foto: Laiza Marinho/Jornalistas Livres

“Eu tenho acompanhamento psicológico e faço terapia ocupacional. Desde que estou me tratando no Caps não tive recaída. Trancar [doentes mentais ou dependentes químicos] não resolve, não trata. Eu mesmo já fiquei trancado, quando fiquei preso — quatro anos numa penitenciária. Quando saí, voltei a ser usuário e dependente de drogas. O que trata é o acompanhamento, como o Caps faz”, contou Reginaldo. Uma mostra do quanto evoluiu, nas palavras do próprio Reginaldo, está no fato de ter voltado a estudar. “Estou fazendo curso de Técnico em Informática”, contou, com satisfação.

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