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Movimentos Sociais

Marcha das Margaridas: O que tem a nos ensinar?

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A solidariedade para que o Coletivo Flores pela Democracia estivesse em Brasília, começou antes. Com o por do sol de Brasília no dia 12 de agosto, seis representantes chegaram de São Paulo, à casa de Maria e Samuel. Acolhidas com calor especial e muito amor, fizeram flores, brincaram, cozinharam. Dividiram desejos, risos, sonhos, lágrimas… Ouviram música e cantaram. Marcharam com as Margaridas. Vibraram com tantos e tantos sentimentos…

Com a Marcha, a oportunidade de encontrar o nosso verdadeiro Brasil! Um misto de emoções indescritíveis! Cada Margarida, um histórico de vida, um motivo para participar desse grande evento. Não dimensionaram esforços para seu deslocamento, ainda que fosse de um dos quatro pontos mais longínquos do nosso país.

Emoção à flor da pele. Passos firmes, determinados, vidas marcadas pela força e sabedoria da lida da terra. Brotaram Margaridas dos profundos rincões do Brasil. Muito fizeram para lá estarem presentes. De longe, com muitas horas de viagem, altivez e dignidade foram representar suas comunidades.

“Saímos de Mocajuba,  Pará, no baixo Tocantins no domingo meio dia, viajando 2ª dia e noite e chegando na 3ª por volta das 8 hs da manhã. Viemos numa delegação de 26 pessoas, fizemos um trabalho de base sobre o que é a marcha, a mobilização e as vozes das mulheres ocupando espaços de ousadia… O simples  fato das pessoas saírem de suas casa, da zona de conforto, enfrentar esses dias de viagem, ir prá rua é uma forma de ousadia, se rebelando contra o sistema. Larga sua família, seu trabalho e vem se mantendo, acreditando que a mobilização é um processo importante. A própria viagem é um aprendizado político. A marcha é tão bonita, a Marcha das Margaridas começa desde o processo de mobilização, a solidariedade, reunião da comunidade, torneios, futebol de mulheres, quermesses para fundos. Esta mulher que veio está representando a sua comunidade. A solidariedade na viagem, é dessa forma que a gente tem que crescer, as mulheres cada vez mais solidárias, a solidariedade na vida, a partir das mulheres.(Joyce Dandara, 25 anos)

Viemos de ônibus, do Maranhão 70 ônibus, 3 dias de viagem. Sou solteira, brasileira, naturalizada maranhense. Sou do Município de Matinha,quebradeira de côco babaçu. Nossos objetivos da Marcha das Margaridas é para que a gente tenha nossos pamerás livres, nossos cocos, nossos campos cercados. Outra coisa: Lula Livre. Se tem ladrão, bota os outros na cadeia, não puxa debaixo do tapete. Estamos nessa luta há muito tempo” (Maria Valdelina).

Sou de José Boiteau, Sta. Catarina, faço faculdade em Blumenau, odontologia. Fiquei espantada com a multidão de gente, um aprendizado que dá mais força pra gente estar na luta estudantil, demarcação de terras indígenas. Muita emoção ainda mais neste tempo que estamos vivendo , dá vergonha. Tem poucos jovens formados,  pouco tempo de cotas raciais, todos que se formaram, voltaram para a aldeia, somos muito apegados, faz parte da cultura nossa”  (Djadjá, da etnia Xokleng)

 

A presença no Planalto Central

80.000 Margaridas acamparam e marcharam… Com a sua garra, bandeiras, faixas, cantos e gritos, mostraram sua força, deixaram seu recado e estiveram presentes no Planalto Central do país.

O dia a dia rude da lida no campo não ceifou suas energias. Em suas expressões, alegria de participar, solidariedade e garra.  Nas suas reivindicações luta por terra e trabalho, direitos, vida digna no campo, afirmação de identidades, uma agricultura sem veneno, preservação da natureza, soberania. A vivência com a natureza, as lições de garra no domar o trato da terra, a sabedoria do plantio, cultivo e colheita dos alimentos, as tornaram mais humanas, mais solidárias e com mais disponibilidade para a luta?

Sou de Bom Conselho, PE, trabalhadora rural, participo do sindicato, vim prá Marcha por luta por melhorias. Lá as pessoas passam dificuldades sofrem mesmo de verdade, falta emprego. O agricultor sofre muito, a comunidade tem a terra mas não tem como trabalhar, quando aparece, pagam muito pouco ...” (Cleide, 41 anos)

“Meu objetivo hoje é brigar para que nossos direitos sejam alcançados, Bolsonaro cai fora e Lula Livre. Essa é minha intenção. Tô aqui lutando pelos meus netos, meus filhos e pelas gerações futuras. Sou professora aposentada, me formei depois de 56 anos… A maior parte da juventude está alienada, não teve uma educação política. Pode ver que ele ta acabando com a Universidade, com a educação, com tudo. Enquanto Lula criou várias universidades, ele está destruindo e isso é lamentável. Nós que já temos uma caminhada, temos que lutar prá que isso não aconteça”  (Anadina , 72 anos, presidente da Associação dos Pequenos Produtores Rurais , Vila Bonita, Itacarambi, prá lá de Montes Claros, Norte de MG)

O problema é que no campo não se oferece políticas públicas então o jovem tá saindo para estudar e muitas vezes esse jovem não volta prá comunidade e isso vai dificultando a vida no campo, pra se fazer uma sucessão. A ideia é que o jovem possa ficar no campo com condições dignas, compreendendo a importância rural para que ele possa assumir a terra, continuar produzindo, se percebendo como classe trabalhadora de agricultores familiares(Joyce Dandara, 25 anos).

Moro em Palhoça, Sta. Catarina. Sou assistente social e faço parte do movimento de economia solidária. Trabalho com mulheres no artesanato. Nesta conjuntura  política é muito importante a gente se empoderar e retomar o espaço por direitos.Levo de volta muita experiência, muito conhecimento, muitas amizades, parece que todo mundo se conhece” (Inês, 57anos)

Sou de Bom Sossego, PE. Estou aqui para que meus filhos, meus netos, mais etnias, tenham como viver melhor. Não temos saúde, escolas, garantia de nossas terras. Acho importante como homem, estar na Marcha, sinto um grande amor pelas mulheres e por Margarida Alves. Uma grande admiração pela mulher que foi lutadora, batalhadora. Por todas as mulheres batalhadoras que vivem na luta do dia a dia, não importa o trabalho que tenham, são guerreiras. De volta levo uma mala cheia de alívio no peito por ver tantas mulheres lutando como Margarida Alves” (José Roberto, 50 anos, indígena)

Venho da Amazônia brasileira. Meu povo, minha etnia vem da Amazônia, dentro do Acre. Meu povo sofreu muito, vive na Amazônia há 5 mil anos. Prá vir prá cá foram muitas horas de viagem. Viemos de van, a gente se organizou…  Sou artesã e assim como todas as mulheres do mundo, somos muitas coisas: sou professora, sou costureira, sou ativista do movimento indígena, ambiental, do movimento de liberação da maconha como uso medicinal e recreativo para que nosso país pare com essa pouca vergonha, pare de prender nossos filhos, nossos jovens por causa de um cigarro natural enquanto liberam cigarro cheio de química…Para nós indígenas a saúde está precária, um monte de desvios, muita falta de atenção pras comunidades indígenas do Brasil inteiro. A minha pauta também é da educação.Nós indígenas pertencemos a 6 troncos. Somos mais de 365 povos e não é possível que o governo brasileiro queira enfiar goela abaixo a mesma educação que oferece a todos os brasileiros, sem respeitar cada região brasileira, cada povo. Paulo Freire  em 1964 foi expulso de nosso país, se seu método tivesse sido implantado, nosso país seria outra coisa. Nas aldeias existe um preconceito que nos ensinaram nesses anos todos de dominação colonial que éramos inferiores, incapazes. O que fizeram com a gente, com os povos da América Latina foi uma atrocidade, restou muito pouco. Digo sempre aos meus alunos que nós somos o que restou do paraíso.  Paulo Freire vive em cada região mamadi da Amazônia. Enquanto eu viver o método dele vai ser aplicado na minha aldeia e por onde eu passar no mundo” (Quichirá, aquela que nasceu para guiar, 43 anos).

Sou de uma aldeia no município de José Boiteau, representante das mulheres que cultivam ervas medicinais, um chá da Índia. Eu e minha mãe estamos desenvolvendo um projeto com as mulheres que estavam entrando em depressão e com os estudantes. Mobilizamos os estudantes para que tenham um lugar para buscar informação sobre nossa cultura indígena que não é só o falar, mas o artesanato, a comida, os costumes, ervas medicinais, as palestras e as vivências que tínhamos e que hoje estamos um pouco distanciados. Projeto faz lembrar como éramos antes da pacificação, nossas crianças brincavam juntas, a gente comia no mesmo prato e isso é muito importante de lembrar. Na Marcha é muito importante ver nós mulheres brigando pelos direitos. Eu sou uma que não  paro e isso eu vou levar para as nossas mulheres. Com é importante a luta política hoje e nós temos que nos levantar” (Antõnia Batlé, 36 anos, etnia Xhokleng)

 

Margaridas: Encontros de Sujeitos por outro país

Na Marcha das Margaridas num agosto seco do cerrado brasileiro, vários encontros se deram. Encontros de seres humanos, de pessoas, de sujeitos fortes e, ao mesmo tempo, delicados. Encontros de corpos que estão juntos na luta por outro país. Encontros de olhares de identidade da luta coletiva. Encontros que simbolizam uma chama que não se apaga porque há vida latente… ainda. E sempre.

Daquelas mulheres simples do campo, de todos os cantos do país, a garra por justiça e direitos, solidariedade e preocupação com a preservação da natureza.

“A Marcha é tão bonita, começa desde o processo de mobilização. A solidariedade, reunião da comunidade, torneios, futebol de mulheres, quermesses para fundos. Esta mulher que veio está representando a sua comunidade. A solidariedade na viagem das companheiras que ajudam as companheiras. Eu trouxe meu filho e todo mundo ajudou. A solidariedade, é dessa foram que a gente tem que crescer, as mulheres cada vez mais solidárias, a solidariedade na vida, a partir das mulheres” (Joyce Dandara, 25 anos).

“Tudo o que estão fazendo agora na minha casa no Acre, a fumaça, vai ter repercussão no Sul, no Sudeste, no Nordeste. A única coisa que vai salvar o planeta é a solidariedade. Nós indígenas estamos resistindo. Cada gesto nosso vai refletir no outro. Minha ação no planeta, onde eu estiver,  vai refletir no outro. Temos que ter essa consciência. Quando liberam os agrotóxicos, estamos envenenando nossa própria casa. É como minha mãe dizia, é uma cobra que morde o próprio rabo. O que estão fazendo (o governo, o povinho lá de fora, os banqueiros), não nos interessa, eles vão nos levar à morte. Deixe nós nações indígenas e o povo brasileiro a nos guiar. Esse povo dos grandes lá, só ta pensando em dinheiro. Gostaria que meus descendentes recebessem a casa e o rio que eu recebi. Eu pude nadar no rio da Amazônia . junto com os peixes e agora não tá podendo mais. Eu pude respirar um ar limpo. O que vale realmente a pena na vida é a família, é ser feliz, é estar no ambiente que a natureza esteja bem. Não podemos comprar o sol, a água. Eles vão entender que a  água não é mercadoria, a Bolívia entendeu e graças aos índios eles recuperaram aquilo que eles tem. O que fizerem com os povos da América Latina foi uma atrocidade, restou muito pouco. digo sempre aos meus alunos que nós somos o q restou do paraíso”

“Como disse Krenáh, nós estamos em guerra  e prá nós não temos trégua. Vocês também estão em guerra, é um tipo de guerra sem bomba, mas é . Vamos mostrar prá esse povo que eles podem até querer fazer mas a gente vai ter reação” (Quichirá, 43 anos)

 

Juntas Somos Muitas!

 

 

Não consigo retirar a pulseira  do meu braço.

Margaridas, Margaridas!Quantas somos?

Ainda não consigo retirar a pulseira do meu braço.

Serei eu uma Margarida?

Quantas somos?

Ainda não consegui retirar a pulseira do meu braço …

Conseguirei confeccionar tantas margaridas pra quantas somos?

A pulseira…  Nossos braços.

 

Nossa força que carrega nossas Flores.

Flores que tem perfume de Brasil

Do nosso Brasil soberano, livre!

 

Campinas

Famílias da Comunidade Mandela fazem ato em frente à Prefeitura de Campinas

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Comunidade Mandela Luta por Moradia

Em busca de uma solução, mais uma vez, moradores tentam ser atendidos

Os Moradores da Comunidade Mandela  fizeram nesta quinta-feira (17), um ato de protesto em frente à Prefeitura  de Campinas. O motivo da manifestação  é o   impasse  para o  problema da moradia das famílias que se arrasta desde 2016. E mais uma vez,  as famílias sem-teto  estão ameaçadas pela reintegração de posse, de acordo com despacho  do juiz  Cássio Modenesi Barbosa, responsável pelo processo a  sua decisão  só será tomada após a manifestação do proprietário.
Entretanto, o juiz  não considerou as petições as Ministério Público, da Defensoria Pública que solicitam o adiamento de qualquer reintegração de posse por conta da pandemia da Covid-19, e das especificidades do caso concreto.
O prazo  final   para a  saída das famílias de forma espontânea  foi encerrado no dia 31 de agosto, no dia  10 de setembro, dez dias depois de esgotado o a data  limite.

As 104 famílias da Comunidade ” Nelson Mandela II” ocupam uma área de de 5 mil metros quadrados do terreno – que possui 300 mil no total – e fica  localizado na região do Ouro Verde, em Campinas . A Comunidade  Mandela se estabeleceu  nessa área em abril de 2017,  após sofrer  uma violenta reintegração de posse no bairro Capivari.

Negociação entre o proprietário do terreno e a municipalidade

A área de 300 mil metros quadrados é de propriedade de Celso Aparecido Fidélis. A propriedade não cumpre função social e  possui diversas irregularidades com a municipalidade.

 As famílias da Comunidade Mandela já demonstraram interesse em negociar a área, com o proprietário para adquirir em forma de cooperativa popular ou programa habitacional. Fidélis ora manifesta desejo de negociação, ora rejeita qualquer acordo de negócio.

Mas o proprietário  e a municipalidade  – por intermédio da COAB (Cia de Habitação Popular de Campinas) – estão negociando diretamente, sem a participação das famílias da Comunidade Mandela que ficam na incerteza do destino.

As famílias querem ser ouvidas

Durante o ato, uma comissão de moradores  da Ocupação conseguiu ser liberada  pelo contingente de Guardas Municipais que fazia  pressão sobre os manifestantes , em sua grande maioria formada pelas mulheres  da Comunidade com seus filhos e filhas. Uma das características da ocupação é a liderança da Comunidade ser ocupada por mulheres,  são as mães que  lideram a luta por moradia.

A reunião com o presidente da COAB de Campinas  e  Secretário de  Habitação  – Vinícius Riverete foi marcada para o dia 28 de setembro.

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Campinas

Ocupação Mandela: após 10 dias de espera juiz despacha finalmente

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Depois de muita espera, dez dias após o encerramento do prazo para a saída das famílias da área que ocupam,  o juiz despacha no processo  de reintegração de posse contra da Comunidade Mandela, no interior de São Paulo.
No despacho proferido , o juiz do processo –  Cássio Modenesi Barbosa –  diz que  aguardará a manifestação do proprietário da área sobre eventual cumprimento de reintegração de posse. De acordo com o juiz, sua decisão será tomada após a manifestação do proprietário.
A Comunidade, que ocupa essa área na cidade de Campinas desde 2017,   lançou uma nota oficial na qual ressalta a profunda preocupação  em relação ao despacho  do juiz  em plena pandemia e faz apontamento importante: não houve qualquer deliberação sobre as petições do Ministério Público, da Defensoria Pública, dos Advogados das famílias e mesmo sobre o ofício da Prefeitura, em que todas solicitaram adiamento de qualquer reintegração de posse por conta da pandemia da Covid-19 e das especificidades do caso concreto.

Ainda na nota a Comunidade Mandela reforça:

“ Gostaríamos de reforçar que as famílias da Ocupação Nelson Mandela manifestaram intenção de compra da área e receberam parecer favorável do Ministério Público nos autos. Também está pendente a discussão sobre a possibilidade de regularização fundiária de interesse social na área atualmente ocupada, alternativa que se mostra menos onerosa já que a prefeitura não cumpriu o compromisso de implementar um loteamento urbanizado, conforme acordo firmado no processo. Seguimos buscando junto ao Poder público soluções que contemplem todos os moradores da Ocupação, nos colocando à disposição para que a negociação de compra da área pelas famílias seja realizada.”

Hoje também foi realizada uma atividade on-line  de Lançamento da Campanha Despejo Zero  em Campinas -SP (

https://tv.socializandosaberes.net.br/vod/?c=DespejoZeroCampinas) tendo  a Ocupação Mandela como  o centro da  discussão na cidade. A Campanha Despejo Zero  em Campinas  faz parte da mobilização nacional  em defesa da vida no campo e na cidade

Campinas  prorroga  a quarentena

Campinas acaba prorrogar a quarentena até 06 de outubro, a medida publicada na edição desta quinta-feira (10) do Diário Oficial. Prefeitura também oficializou veto para retomada de atividades em escolas da cidade.

 A  Comunidade Mandela e as ocupações

A Comunidade  Mandela luta desde 2016 por moradia e  desde então  tem buscado formas de diálogo e de inclusão em políticas  públicas habitacionais. Em 2017,  cerca de mais de 500 famílias que formavam a comunidade sofreram uma violenta reintegração de posse. Muitas famílias perderam tudo, não houve qualquer acolhimento do poder público. Famílias dormiram na rua, outras foram acolhidas por moradores e igrejas da região próxima à área que ocupavam.  Desde abril de 2017, as 108 famílias ocupam essa área na região do Jardim Ouro Verde.  O terreno não tem função social, também possui muitas irregularidades de documentação e de tributos com a municipalidade.  As famílias têm buscado acordos e soluções junto ao proprietário e a Prefeitura.
Leia mais sobre:  
https://jornalistaslivres.org/em-meio-a-pandemia-a-comunidade-mandela-amanhece-com-ameaca-de-despejo/

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Campinas

Em meio à Pandemia a Comunidade Mandela amanhece com ameaça de despejo

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O dia de hoje (31/08) será decisivo para as 108 famílias que vivem na área ocupada na região do Jardim Ouro Verde em Campinas, interior de São Paulo.  Assim sendo, o último dia do mês de agosto, a data determinada como prazo final para que os moradores sem-teto deixem a área ocupada, no Jardim Nossa Senhora da Conceição.   A comunidade está muito apreensiva e tensa aguardando a decisão do juiz  Cássio Modenesi Barbosa – da 3ª Vara do Foro da Vila Mimosa que afirmou só se manifestar sobre a suspensão ou não do despejo na data final, tal afirmativa só contribuiu ainda mais para agravar o estado psicológico e a agonia das famílias.

A reintegração é uma evidente agressão aos direitos humanos  dos moradores e moradoras  da ocupação, segundo parecer socioeconômico  do Núcleo  Habitação da Defensoria Pública do Estado de São Paulo . As famílias não têm para onde ir e cerca de entre as/os moradoras/es estão 89 crianças menores de 10 anos, oito adolescentes menores de 17 anos, dois bebês prematuros, sete grávidas e 10 idosos. 62 pessoas da ocupação pertencem ao grupo de risco para agravamento da Covid-19, pessoas idosas e com doenças cardiológicas e respiratórias, entre outras podem ficar sem o barraco que hoje as abriga.

A Defensoria Pública do Estado de São Paulo, a Comissão dos Direitos Humanos da Câmara de Campinas e o Ministério Público (MP-SP) se manifestaram em defesa do adiamento da reintegração durante a pandemia. A Governo Municipal  também  se posicionou favoravelmente  a permanência após as famílias promoverem três atos de protesto. Novamente  a  Comunidade  sofre com a ameaça do despejo. As famílias ocupam essa área desde 2017 após sofrem uma reintegração violenta em outra região da cidade.

As famílias

Célia dos Santos, uma das lideranças  na comunidade relata:

“ Tentamos várias vezes propor  a compra do terreno, a inclusão das famílias em um programa habitacional, no processo existem várias formas de acordo.  Inclusive tem uma promessa que seriam construídas unidades habitacionais no antigo terreno que ocupamos e as famílias do Mandela  seriam contempladas. Tudo só ficou na promessa. Prometem e deixam o tempo passar para não resolver. Eles não querem. Nós queremos, temos pressa.  Eles moram no conforto. Eles não têm pressa”

Simone é mulher negra, mãe de cinco filhos. Muito preocupada desabafa o seu desespero

“ Não consigo dormir direito mais. Eu e meu filho mais velho ficamos quase sem dormir a noite toda de tanta ansiedade. Estou muito tensa. Nós não temos para onde ir, se sair daqui é para a rua. Eu nem arrumei  as  coisas porque não temos nem  como levar . O meu bebê tem problemas respiratórios e usa bombinha, as vezes as roupinhas dele ficam sujas de sangue e tenho sempre que lavar. Como vou fazer?”

Dona Luisa é avó, mulher negra, trabalhadora doméstica informal e possui vários problemas de saúde que a coloca no grupo de risco de contágio da covid-19. Ela está muito apreensiva com tudo. Os últimos dias têm sido de esgotamento emocional e a sua saúde está abalada. Dona Luisa está entre as moradores perderam tudo o que possuíam durante a reintegração de posse em 2017. A única coisa que restou, na ocasião, foi a roupa que ela vestia.

“ Com essa doença que está por aí  fica difícil  alguém querer dar abrigo  para a gente. Eu entendo as pessoas. Em 2017 muitos nos ajudaram e eu agradeço a Deus. Hoje será difícil. E eu entendo. Eu vou dormir na rua, junto com meus filhos e netos.
Sou grupo de risco, posso me contaminar e morrer.
E as minhas crianças? O quê será das crianças? Meu Deus! Nossa comunidade tem muitas crianças. Esses dias minha netinha me perguntou onde iríamos morar? Eu me segurei para não chorar na frente dela. Se a gente tivesse para onde ir não estaria aqui. Não é possível que essas pessoas não se sensibilizem com a gente.
Não é possível que haja tanta crueldade nesse mundo.”

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