Por Patrícia Cornils, especial para os Jornalistas Livres
Este é um país em movimento. Ainda que as categorias ligadas ao transporte na em São Paulo (ferroviários, metroviários, motoristas de ônibus) tenham decidido não entrar em greve nesta sexta-feira, dia 30 de junho, em outros estados houve paralisações: o metrô de Belo Horizonte não funcionou, ônibus e metrô de Brasília também não, Salvador parou, rodoviários fizeram greve em Belém do Pará. Sindicatos e federações de bancários de praticamente todo o país, de acordo com a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), aderiram à greve geral. O Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região estima em 30 mil o número de trabalhadores parados em 212 locais, sendo 12 centros administrativos e 200 agências. Os petroleiros também aderiram à greve geral. Além de terminais e plataformas, pararam dez refinarias. A greve nas refinarias, iniciada hoje, não tem data para acabar. É uma resistência à intenção da Petrobras de reduzir de 15% a 25% o número de trabalhadores na área de refino.
A greve foi maior que a de 28 de abril? Não. Naquele momento as centrais sindicais foram unânimes no apoio à paralisação, o que não aconteceu desta vez. A União Geral dos Trabalhadores (UGT), por exemplo, decidiu fazer mobilizações de protesto contra as reformas trabalhista e da Previdência, mas não aderiu à greve. “As centrais, já na preparação desse movimento, disseram: vamos parar o Brasil com diferentes atividades e não necessariamente com uma greve geral como a do dia 28”, constata o economista Marcio Pochmann em entrevista à Rádio Brasil Atual. As explicações para isso são várias. Categorias como os motoristas de São Paulo receberam severas multas por conta da paralisação do dia 28 de abril, repara Pochmann.
A União Geral dos Trabalhadores, à qual o Sindicato dos Motoristas de São Paulo é filiada, decidiu não convocar greve. “Não tivemos capacidade de conscientizar os trabalhadores da dimensão da reforma trabalhista. Estamos estarrecidos com o fato de que 513 deputados a aprovaram, um texto que passou de sete itens para 117 itens e que pretende, cirurgicamente, acabar com os sindicatos no Brasil, permite que patrões escolham interlocutores para negociar com a empresa, permite o trabalho de mulheres em condições insalubres, permite a realização de acordos individuais”, diz Ricardo Patah, presidente da UGT. Isso quer dizer que não se repetirá mobilização como a de 28 de abril no Brasil? Também não. A própria UGT avalia a possibilidade de chamar nova greve geral em julho/agosto, desta vez contra a reforma da Previdência. “Contra esta o povo vai para a rua e vai fazer o governo recuar”, acredita ele.
A reforma trabalhista, objeto de curto prazo da greve de hoje, é “muito mais perversa do que a reforma da Previdência” mas também é “menos conhecida”, explica Clemente Ganz Lúcio, diretor técnico do Dieese, também à Rádio Brasil Atual. “As pessoas têm uma menor compreensão do impacto que a reforma trabalhista terá sobre a vida dos brasileiros e das brasileiras”. Independente disso, o que se viu, hoje, é resultado de um movimento que, acredita ele, não vai arrefecer. Os movimentos envolvem cada vez mais gente, constata ele, “cada um fazendo na base, no seu sindicato, na sua cidade, na sua categoria, o movimento que os próprios trabalhadores definiram, uns paralisando atividades, outros fazendo passeatas, marchas, manifestações, atos”, explica. “Este é um ganho que pouco se vê, mas cada vez mais categorias e pessoas são incorporadas ao debate sobre as reformas. Há diferentes iniciativas e o que se observa é que de fato o movimento atinge pequenas, médias e grandes cidades, e algumas capitais com uma paralisação mais intensa”, diz.
Para Ganz, a resistência agora é importante para que o país não perca nem direitos nem os instrumentos para sustentar seu desenvolvimento, como as empresas públicas, os recursos naturais, as indústrias nacionais. “Há tanta coisa sendo destruída nesse processo e esses movimentos precisam dar conta de entender o que está acontecendo e construir um posicionamento para que a trajetória de nosso país seja alterada em direção a uma estratégia de desenvolvimento com justiça, igualdade, distribuição de renda e bem estar”. As centrais e movimentos vão conseguir construir esta posição conjunta? Ainda não sabemos. Mas a dinâmica do governo contribui para que isso aconteça, de uma forma perversa, como se pode constatar pela fala de Guilherme Boulos, coordenador da Frente Povo Sem Medo, também à Rede Brasil Atual. “Nós temos um Congresso Nacional que legisla de costas para a sociedade brasileira, 70% da população rejeita a reforma trabalhista e eles estão levando adiante; 89% da população quer diretas, e eles estão barrando. Estão criando cada vez mais um perigoso abismo do Congresso Nacional e também do governo para o resto da sociedade brasileira. Você para, os caras continuam; faz luta, os caras continuam; para o Brasil, os caras continuam; vai chegando um ponto em que o povo perde a paciência e só resta a desobediência civil. É isso que essa turma está plantando no Brasil.”
“Todos os estados e o DF têm protestos contra reformas do governo Temer”, é a manchete do portal G1 neste momento, às 17h35 da tarde. Na cobertura minuto-a-minuto da Central Única dos Trabalhadores pode-se ver como o dia foi em todo o país. Os Jornalistas Livres cobriram durante todo o dia as manifestações e lutas dos trabahadores. Helicópteros já sobrevoam as proximidades da Avenida Paulista, onde há um ato das frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular. Planta-se algo neste país. O que brotará, veremos nos próximos meses.
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