Lollapalooza 2017: bons shows, desorganização e discurso político

O Lollapalooza 2017, um dos maiores festivais musicais de massa que ocorre no país, foi marcado por manifestação contra a presidência da república (“Fora Temer”), melodia da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva, “Olé, Olé, Olé, Olá, Lula, Lula”, repúdio ao discurso machista, costumeiro ecletismo cultural, bons shows e muita desorganização.

A desorganização e desrespeito ao público foram verificados nas gigantescas filas nos bares (até 1 hora de espera), a pane no sistema Lolla Cashless e problemas no abastecimento de cerveja (sábado). Passou-se a impressão que os organizadores não esperavam um público de 190 mil pessoas, recorde no Lollapalooza Brasil.

O ecletismo cultural pôde ser notado, mais uma vez, nos diferentes estilos musicais das apresentações, de Metallica a Maschemello, passando por Rancid, Duran Duran, Tegan and Sara, entre outros. O público também era variado, dos adolescentes fãs de música pop com flores na cabeça a famílias inteiras vestidas de preto, especialmente com a camisa do Metallica. Aliás, o show do Metallica foi um grandíssimo espetáculo. Apresentou as músicas do novo álbum, mas não deixou de tocar as suas canções clássicas, levando o público ao delírio. A simpatia dos metaleiros e disposição no palco chamaram a atenção dos mais de 90 mil fãs.

Mesmo caracterizado por um público tão dispare, os participantes demonstraram relativa sintonia quando o assunto era preconceito e a tentativa de extinguir direitos arduamente conquistados pela população brasileira. No show da banda brasileira Baiana System, ouvimos sonoros “Fora Temer”, e o vocalista não se conteve e estourou: “A voz do povo é a voz de Deus”. Reafirmando o seu engajamento político, o grupo estendeu uma bandeira contra a reforma da previdência.

Esse discurso político também foi registrado no palco principal com o grupo Cage The Elephant, quando a banda entoou a melodia da canção de uma das campanhas de Luiz Inácio Lula da Silva, “Olé, Olé, Olé, Olá, Lula, Lula”. O público rapidamente identificou a música e começou a gritar: “Olé, Olé, Olé, Olá, Lula, Lula”. Alguns podem concluir que o público cantou, na realidade, “Lolla, Lolla”. Mas muitos presentes, surpreendidos com a melodia, celebraram “Lula, Lula”.

No show de Criolo o “Fora Temer” tornou-se uma espécie de mantra que em diferentes momentos o público empunhou contra o atual mandatário do país. Sem pronunciar o esperado “Fora Temer”, o rapper, após mais uma participação calorosa da plateia, soltou: “Manda esses caras saírem das trevas. Chega de desigualdade”. Com seu habitual ar professoral, Criolo lembrou para os presentes que “Qualquer mulher que você mexer no rolê é um ato de violência. Diga não à cultura do estupro”. O discurso anti-machista foi aplaudido por todos, menos pelos organizadores do evento que convidou o artista Borgore, caracterizado por vociferar uma visão misógina, como lembrou a apresentadora Titi Müller.

Antes de terminar a sua apresentação, Criolo reafirmou a sua visão sobre o que vem acontecendo no Brasil. Resgatou o rap “Colarinho branco” de Duck Jam e Nação Hip Hop e repetiu o refrão “Colarinho branco dá o golpe no Estado, no Estado, no Estado”, enfatizando “o golpe”, “o golpe”, “o golpe…”

O público do Lollapalooza 2017, formado principalmente por jovens de classe média (os ingressos custavam R$ 450,00 e o pacote para os dois dias girava próximo a R$ 900,00), confirmou um sentimento que aumenta em diferentes regiões do país, independente da condição social, o repúdio ao governo Temer. Associando-se o fato às esvaziadas manifestações convocadas pelo MBL e Vem Pra Rua deste domingo, pode-se concluir que a classe média, que serviu de esteio para o processo de impeachment de Dilma Rousseff, está pulando fora do barco desgovernado por Michel Temer.

Foto: Agnes Cruz de Souza

Vídeo do Cage The Elephant

 

Lula, Lula (Cage The Elephant)

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