Jovens entram na disputa por novas leis

Foto: Buzzo

Por Tatiana Pansanato, da Mídia NINJA, especial para os Jornalistas Livres


“Gostaria que o Governo do Estado permitisse que dois ou mais negros pudessem conversar na esquina de casa, na rua e a noite, sem que fossem associados ao crime, ao tráfico, ou autuados por formação de quadrilha, essas questões precisam ser pautadas no Executivo”.

Foto: Márcio Pinheiro

Esse é o tom das falas da deputada Leci Brandão (PCdoB) na celebração do Sarau de lançamento da Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos da Juventude, liderada também pelo deputado Caio França (PSB). O auditório Paulo Kobayashi da Assembléia Legislativa de São Paulo recebeu dezenas de jovens de movimentos sociais, como estudantes, artistas, coletivos da periferia e de mídia e suas lideranças.

Foto: Márcio Pinheiro

O que aconteceu na última quarta-feira (21) foi a ocupação do espaço legislativo pelos jovens da periferia, legitimando que ali também é seu lugar, ao som dos batuques e batidas de funk. Adolescentes de diversas idades que se encontram na música, na dança, na expressão corporal, na cultura, na comunicação e em inúmeros eixos, participavam ativamente do evento, que teve como Mestre de Cerimonia Alessandro Buzo, poeta, escritor e cineasta que está à frente do projeto Sarau Suburbano.

Nação Hip Hop Brasil também teve participação representativa, assim como a Liga do Funk, movimentos que emergiram nas extremidades e que hoje impulsionam a juventude e as motivam a conhecer e se apropriar de politicas públicas. Não existia na Assembleia Legislativa um espaço onde esses jovens pudessem criar mais políticas — e a Frente Parlamentar vem mostrar que os jovens precisam conquistar seus espaços e ter representantes na Casa da Lei. “Entende-se que esse espaço é criado pelos gabinetes mas os verdadeiros protagonistas dessa história são os jovens”, afirma o deputado Caio França.

Tubarão do Lixo, poeta e rimador, depois de sua apresentação, que citou mais de uma vez o golpe contra a juventude na tentativa de reduzir a maioridade penal, contagiou os presentes com a sua rima. E veio o grito em uníssono: “Não, não, não à redução”.

Foto: Buzzo

Maria das Neves, Diretora de Jovens Mulheres Feministas da UJS, uma das convidadas do sarau, disse que a frente vem para defender incondicionalmente a democracia brasileira contra “aqueles que tentam tomar o poder do nosso país para implementar uma agenda machista e fascista. Contra quem tenta golpear a democracia”.

O Coordenador da Juventude do Estado de SP, Cleuder de Paula, comentou que “São Paulo é um Estado complexo, com todos os problemas sociais. Estamos organizando a Conferência Estadual da Juventude, visando à instituição do Conselho (referindo-se ao Conselho Estadual da Juventude). É um legado que quero deixar, sabemos que é uma demanda antiga, vai ser necessário muito diálogo e compromisso. Eu como negro e da periferia, quero a participação dos jovens que mais precisam desse espaço.”

Além da forte participação dos movimentos sociais e estudantis, a Frente já conta com o apoio de 46 parlamentares e das Coordenadorias Municipal, Estadual e Nacional de Juventude que também apoiaram e (re)construíram juntos esse avanço nos direitos socias e humanos dos adolescentes e jovens do Brasil.

Foto: Márcio Pinheiro

No Manifesto da Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos da Juventude está dito que se trata de um colegiado suprapartidário constituído por membros do Poder Legislativo estadual e de um Conselho Consultivo formado por membros da sociedade civil. A frente é destinada a promover o aprimoramento da legislação estadual em defesa dos direitos da juventude.A frente visa ainda à melhora dos aspectos da vida do jovem, como educação, empregabilidade decente, acesso ao esporte e cultura, direito à sociabilidade, enquanto elementos-chave para o desenvolvimento humano

Ao encerrar, Leci questionou: “Eles pensam que a gente é só isso, e aí? A gente é só isso?”, disse, referindo-se ao samba e ao futebol… “Sim, a gente é isso também, mas a gente também é discussão política. Se eles quiserem fazer as coisas desse jeito conservador, reacionário, que discrimina, que criminaliza…a gente vai pro pau.”

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