“O estado de exceção e a inimizade se converteram na base normativa do direito de matar. Nessas situações, o poder (que não é necessariamente um poder estatal) faz referência contínua e invoca a exceção, a urgência e uma versão ficcionalizada do inimigo”. (Achille Mbembe)
A extrema-direita fala…
A epígrafe é utilizada como sinopse do filme, um documentário-colagem com discursos de extrema-direita colhidos na internet durante 2015 e 2016, e que segundo os diretores, serviram de motor/animador ideológico no processo que culminou no impeachment da Presidente Dilma Rousseff e levou ao poder o líder fascista Jair Bolsonaro.
O que parecia delírio, paranoia e alucinação de ex-militares reformados, jovens e velhos ideólogos de extrema-direita, sugerindo, em 2015, manifestações na porta de quartéis pedindo a volta de um regime autoritário, ganhou corpo, forma e vida no atual governo, como demonstra a bizarra participação do Presidente da República no ato que pedia o fechamento do Congresso e do STF em frente ao Quartel General, em Brasília, no último dia 19.
Por mais que o presidente venha minimizar o peso simbólico dos seus atos e palavras, é dever do jornalismo levar ao público conteúdos que ajudem a sociedade a se entender e pensar seus destinos. Nesse sentido, Intervenção – Amor Não Quer Dizer Grande Coisa tem o mérito de nos colocar em contato com um Brasil que ninguém quer ver, mas que ganha cada vez mais participação na vida pública.
Inédito na internet, o filme foi exibido pela primeira vez em 2017 no 50º Festival de Brasília, na Mostra Terra em Transe. Na época, segundo um dos diretores, Rubens Rewald, “a sensação do público ao ver o filme era de profundo mal estar por parte de alguns, por travarem conhecimento com esse “novo” mundo desconhecido e assustador para eles, e de distanciamento por parte de outros, que consideraram o filme um mero catálogo de bizarrices. Quase três anos depois, nada mudou, ou melhor, as coisas pioraram, e muito, e aquilo que era considerado bizarro, hoje é normal, e cada vez faz mais parte do nosso dia a dia”.
Para Tales Ab’Sáber “o que em um passado recente mal disfarçava o ódio e o desejo corpóreo de violência sobre alguém no ato limite de calar e atordoar o inimigo batendo panelas, hoje ultrapassou esta barreira, e prossegue, como compulsão à repetição indomável, tentando cada vez mais, cada dia mais, alcançar o corpo de direitos e o corpo real dos inimigos maléficos, sempre inventados, para animar esse sistema psíco-político. Do comunista imaginado de 2014/2015 chegamos aos artistas pedófilos, e às filósofas críticas bruxas do presente, sonhados para serem queimados”.
Gustavo Aranda acredita que “a esquerda ainda não entendeu o processo revolucionário proposto pela extrema-direita. Ela apenas reage, se apegando às estruturas políticas que sempre foi crítica. Está abdicando de disputar a revolução em nome de uma ‘democracia’ que nunca fez parte da realidade da maioria da população brasileira”.
Jornalistas Livres exibem Intervenção – Amor Não Quer Dizer Grande Coisa dia 21 de abril, terça-feira, às 21H30 pelo seu canal no Youtube.
Assista ao filme à partir das 21:30
Sobre os diretores:
Rubens Rewald e Tales Ab’Sáber (Rewald & Ab’Sáber)
São formados em cinema, professores na USP e na UNIFESP em São Paulo e realizaram o documentário Esperando Telê em 2010. Rewald dirigiu também os filmes Corpo, Super Nada e Segundo Tempo. Ab’Saber é psicanalista e ensaísta. Juntos pesquisam um cinema de ensaio de baixíssimo orçamento.
Gustavo Aranda é Jornalista Livre, documentarista e montador.
Ficha Técnica:
direção e montagem: Rubens Rewald, Tales Ab’Sáber (Rewald & Ab’Sáber) e Gustavo Aranda
argumento: Tales Ab’Sáber
edição de som: João Godoy
musica: Romulo Fróes
produtor executivo: Rubens Rewald
produtora: Confeitaria de Cinema / Cérebro Eletrônico
documentário de longa metragem: 76 minutos
Uma resposta
Guerra civil já