JÁ QUE DEPOIS DE MAIS DE CINCO SÉCULOS

 

Querem tomar tudo que lhe resta, como uma mulher no fim do mundo, canta Elza Soares. Deixa o índio,  insiste o refrão ao fim da música gravada pelos que na MPB também resistem.

O mundo triste vai encantando aquilo que estava adormecido, aquilo que pensávamos superado. O retrocesso nos afoga quando acreditávamos que a democracia nos afagaria para sempre.  Querem revitalizar a economia dando riscos à vida. Criam novos códigos florestal, mineral e trabalhista; tudo embroma. Marcos regulatórios são a bola da vez; tudo descaminha. Sobre a humanidade talvez caia mesmo o céu, como preveem os índios Yanomami . A Carta de Brasília, manifesto em defesa dos povos indígenas, divulgada em 22 de junho de 2017, ao final do Encontro Internacional Olhares sobre as Políticas de Proteção aos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato, em seus princípios, torna avesso o Parecer vinculante  da Advocacia – Geral da União assinado por Temer essa semana, que determina a demarcação de novas terras desde que a área pretendida estivesse ocupada pelos indígenas na data da promulgação da Constituição Federal (05.10.1988).

 

Hoje mesmo leio na rede social um apelo de uma indígena Guarani Kaiowá, de Dourados:  precisamos de intervenção da Polícia Federal na retomada Yvu Verá em Dourados-MS, os ataques continuam. Pessoas machucadas, por fogos de artifícios ou facão. A Federal teve lá apenas para ouvir os chacareiros e o líder da milícia que é indígena. Eles não ouviram ninguém da retomada e essa noite essa milícia a mando dos donos da chacarás pretende pegas três lideranças da retomada. Estava com binóculo e os jovens da retomada se reunirão comigo e relataram que tem jovens ali que estudam com eles e estão sendo pagos para fazer ataque ao povo da retomada. Presenciei o senhor não índio no meio dos jovens da milícia e com binóculo consegui ver ele acenava para os jovens para atacar cada vez mais. E os jovens obedecia e iam para cima do povo da retomada. A situação é grave, precisamos de apoio de denúncias verdadeiras não a PF indo ouvir o líder da milícia e os chacareiros e deixar de ouvir o povo da retomada. A comunidade de Yvu Verá pede socorro.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O que há de podre nos odores que rodeiam as terras indígenas na última década? Se nos governos de esquerda pouco se resolveu para os povos indígenas, após o golpe tudo assusta. A bancada ruralista no Congresso, em sorrisos largos, há de comemorar tal parecer da AGU lambendo as cuecas do rei.

Em texto sobre o histórico da captura dos índios, Carmem Junqueira afirmava: apesar do crescimento populacional apontado, é difícil prever o futuro dos índios no Brasil, principalmente quando deixam de parecer “exóticos”e perdem visibilidade tanto para a sociedade como para o governo, passando a experimentar privações crescentes.

O tempo de vida de um observador é suficiente para que possa perceber como as políticas de Estado têm papel determinante na vida dos índios, principalmente quando se trata de planos de integração,  de desenvolvimento, de aproveitamento de riquezas e outros tantos gerados pelo dinamismo da sociedade moderna. O avanço da fronteira capitalista vai subvertendo a ordem da natureza, demolindo tradições e deixando muito pouco para as populações adaptadas a outro estilo de vida.

A quem pensam que enganam Temer e a bancada ruralista? Mudam as leis, reviram a terra, sujam as águas, queimam o mato e se pensam mais ricos e modernos. É um golpe nos sentidos.

 

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornalistas Livres

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