Informação sobre Covid-19 chega às aldeias nas línguas indígenas

Projeto de extensão ÁudioZap Povos da Terra já produziu quatro programas, em cinco ou seis línguas além do português, que estão sendo distribuídos por WhasApp pelos próprios líderes indígenas em Mato Grosso
Crianças Xavante na Aldeia São Jorge, Campinápolis, Mato Grosso, agosto 1990. Foto: www.mediaquatro.com

Tanto a atenção do governo brasileiro aos indígenas quanto o combate à pandemia do novo coronavírus, são alvo de representações no Tribunal Internacional de Haia por crime de genocídio. Assim, os povos originários estão sendo duplamente atingidos.

Por isso, e a partir de uma ideia da doutora Isabel Teresa Cristina Taukane, primeira indígena formada pelo ECCO-UFMT,  professores do Departamento de Comunicação da universidade montaram um projeto de extensão desenvolvido em conjunto por voluntários, indígenas e alunos da UFMT para promover a divulgação de informações importantes sobre o novo coronavírus aos povos indígenas de, pelo menos, sete etnias em Mato Grosso.

Já que a base da cultura dos povos indígenas é a comunicação oral e qualquer material impresso poderia ser vetor do vírus nas aldeias, a ideia foi criar pequenos arquivos de áudio, com quatro a seis minutos nas línguas faladas pelas etnias, para serem distribuídos em mensagens e grupos de WhatsApp.

Batizado de ÁudioZap Povos da Terra, o projeto visa fortalecer a rede de informações preventivas para o enfrentamento da COVID-19 por meio da produção e distribuição de conteúdo informativo direcionado para comunidades das etnias indígenas Bororo, Chiquitano, Kurâ-Bakairi, Paresí, Tapirapé, Umutina e Xavante, localizadas no estado de Mato Grosso.

Em cada “programa”, especialistas e profissionais de saúde dão orientações e a respeito das formas de transmissão e contágio do novo coronavírus e as complicações decorrentes da COVID-19 e as formas de tratamento e combate. Além dessas informações, há a fala de representantes dessas comunidades em português e também nas línguas das respectivas etnias, contando as experiências das comunidades com a pandemia e suas estratégias de combate e prevenção.

Até o momento, foram produzidos dois episódios-piloto e dois finais. Cada um têm versões inteiramente em português (compreendido também pelos Umutina), e também mesclando a língua nacional às dos Xavante, Bororo, Chiquitano e Kurâ-Bakairi.

As locuções em português são realizadas pelos integrantes do projeto de extensão e as falas nas línguas indígenas são capitadas por celular junto a líderes de seus povos. São eles e elas que traduzem as informações científicas sobre a doença e sua prevenção de maneira a ser melhor compreendida pelos indígenas de sua nação. O material finalizado volta às lideranças e já está correndo as aldeias, de celular em celular, ampliando dia a dia a rede que recebe e transmite os conteúdos.

Os próximos passos do projeto, que vai até dezembro, são a criação de um site para disponibilizar os materiais também na internet e a distribuição dos áudios para as rádios comunitárias de Mato Grosso.

Mais informações:

Professor Vinicius Souza ([email protected]

Felipe Seraine ([email protected])

Camila Rondon ([email protected])

COMENTÁRIOS

Uma resposta

  1. Esqueceu de trazer a Dra Isabel Taukane. Ela é tanto ou mais autora deste projeto, além de ser a articuladora dos povos e dos representantes indígenas que estão realizando os áudios e os divulgando semanalmente. O processo de descolonização é fundamental. Não é possível não reconhecer nossos limites colonizadores de ser, pensar e fazer, e ao nos reconhecer, aprendemos a pensar, fazer e enfim, ser, não colonizadores de indígenas.

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