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Grupo vegano sofre golpe machista e moderadoras são banidas

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Foi através do ativismo antiespecista e culinário que surgiu no Facebook o Ogros Veganos, o maior grupo de veganismo do Brasil – e um dos maiores do mundo. Falando de comida por um viés político, sua a ideia é mostrar que a alimentação sem exploração animal não é só salada, como pensa a maioria das pessoas, e que pode, sim, ser variada e apetitosa.

Ellen Guimarães, 31, é vegana há sete anos e foi uma das idealizadoras do grupo. Na época, Paulo Victor Pinheiro, 33, era casado com Ellen e criou através de seu perfil o grupo na plataforma. Apesar de “criador”, ele não se envolveu com o grupo por muito tempo. Pelo menos desde 2016 Paulo não tem qualquer atuação dentro do espaço de ativismo culinário vegano.

Até a noite do último dia 29 de setembro o grupo contava com sete moderadoras, seis mulheres feministas e um moderador aliado à luta das mulheres. Durante a madrugada do dia 30 o golpe foi dado: todas foram retiradas da moderação e excluídas do grupo.

“Paulo não fez nada além de criar o grupo através de seu perfil. Estávamos eu e ele na cozinha quando ele abriu o computador, criou e colocou uma capa – coisa que ele adora usar como prova para dizer que o grupo é dele. Quem compôs a moderação fui eu, quem administrou as confusões fomos nós, moderadoras. Nós criamos as regras, quem cuida do grupo há mais de cinco anos somos nós. Eu e todas as moderadoras, nunca Paulo. Ele se absteve de moderar o grupo há muitos anos. Não participava das discussões, não se inteirava dos assuntos e não estava presente em nada” disse Ellen em um comentário no Facebook que foi apagado por Paulo minutos depois.

Sem diálogo e usando de uma autoridade técnica-virtual, Paulo baniu, e vem banindo, todas as mulheres que se posicionaram contra sua ação tirana. Nas redes sociais, ele se apresenta como Paru Vegan – fisioculturista vegano – e “defende” os direitos das mulheres.

Antes do golpe, a última publicação de Paulo no grupo aconteceu no dia 17 de julho de 2017 e não se tratava de uma publicação de moderação.

paru vegan

Ativismo com dedicação

Com 175 mil membros, o grupo é o maior do segmento no país e serve como fonte de informação, inspiração e troca de experiencias entre pessoas do mundo todo. No ambiente é possível falar sobre veganismo, libertação animal, reforma agrária, direito a alimentação, ecologia, meio ambiente e feminismo. O Ogros Veganos se define como ativismo antirracista, anticapitalista, feminista, pelo direitos humanos e pela libertação animal.

O grupo é declaradamente de esquerda e defende um veganismo político e não um movimento dependente da indústria e pautado pelo mercado.

Durante as eleições de 2018, foi um dos poucos grupos de Veganismo a adotar uma postura contrária a Bolsonaro. Em 28 de outubro, dia em que Bolsonaro foi eleito presidente, uma das moderadoras sofreu uma tentativa de invasão em sua conta do Facebook.

Da esquerda pra direita:
Talita, Mieko, Sara, Tamine e Ellen, moderadoras do Ogro Veganos. Tamine e Sara não compõem o time atual de moderação. A foto foi feita após a acusação de que a moderação era muito dura por colocar sempre as regras em primeiro lugar

Com dedicação diária por parte das sete moderadoras, o grupo conta com a contribuição de mulheres de diferentes regiões do país. A pesquisadora Talita Silva Xavier, de 32 anos, entrou na moderação quando o grupo tinha apenas 18 mil membros e diz que desde essa época Paulo não participava com frequência. Mãe de uma bebê de 6 meses, ela se divide entre as tarefas da vida pessoal, o ativismo vegano e materno.

“Dedico umas duas horas por dia ao grupo. Vou moderando ao longo do dia e quando acordo para amamentar minha filha de madrugada. Na madrugada/manhã do último domingo, por exemplo, ajudei uma mulher também puérpera que postou uma dúvida sobre amamentação. Dividi minha experiência pessoal e recomendei um grupo específico de maternidade vegana” explicou Talita. “Diariamente, temos centenas de posts e dezenas deles estão fora das regras. Além disso, cuidamos do conteúdo dos comentários – não pode ferir direitos humanos ou dos animais”, observou.

Mieko Cabral, 28, e a advogada Andréa Albuquerque, 36, também eram moderadoras. Elas destacam a importância de pontuar que todo o trabalho é voluntário e que não há nenhum envolvimento financeiro dentro do grupo. Em 2018 uma empresa chegou a procurar a moderação interessada em comprar o grupo, mas a proposta foi recusada por conta dos principios ideológicos e éticos do Ogros Veganos.

Posicionamento do Facebook e deturpação da missão do grupo

Segundo apurou os Jornalistas Livres, o Facebook entende a questão com uma lógica empresarial e vê Paulo como criador da empresa, mesmo que ele nunca tenha atuado. Portanto, cinco anos de trabalho diário feito por mulheres serão roubados com o aval da plataforma, já que ela se recusou a fazer uma análise específica sobre o caso, levando em conta que o grupo Ogros Veganos não se trata de uma empresa.

Ainda segundo a apuração o grupo somente seria devolvido caso o conteúdo atual deturpasse a missão e visão do grupo. Desde ontem os posts estão passando pela aprovação de Paulo e diversos deles tem conteúdos não-veganos. As moderadoras aguardam agora o posicionamento do Facebook sobre a questão.

  1. Publicação com uso de Mel – proibido pelas regras do grupo
  2. Publicação com marca não-vegana – proibido pelas regras do grupo

Manifestação dos membros

Em todas as publicações do grupo há comentários pedindo que o grupo seja devolvido às moderadoras. Pelas redes sociais Paulo foi cobrado por centenas de pessoas pela atitude tirana e, excluindo de qualquer possibilidade de diálogo, trancou os comentários de suas publicações.

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21 Comments

21 Comments

  1. Fran Casanova

    01/10/19 at 11:05

    Ótima matéria, estou revoltada acompanhando tudo pelo face até agora, apenas uma ressalva, o Ogros não foi o único grupo a se declarar abertamente contra o Bolsonaro nas eleições, o grupo CerVeganos também foi, inclusive perdeu boa parte dos membros por se colocar no lugar politicamente.

  2. Robson Fernando de Souza

    01/10/19 at 11:40

    Olá. Sobre esse trecho: “Durante as eleições de 2018, foi o único grande grupo de Veganismo a adotar uma postura contrária a Bolsonaro.”, preciso discordar.

    Eu fui admin (o mais ativo) do grupo Veganismo na época, e tenho propriedade de dizer que o grupo teve um posicionamento claramente anti-Bolsonaro – inclusive antes mesmo do início da campanha eleitoral:
    https://www.facebook.com/groups/grupoveganismo/permalink/1950003261743581/ (no começo da campanha do segundo turno)
    https://www.facebook.com/groups/grupoveganismo/permalink/1475690339174878/ (post de 2017)

    Hoje não sou mais admin de lá porque deixei o trabalho de moderador/administrador de todos os grupos que eu moderava, por motivos de saúde mental.

    Portanto, peço que, por favor, corrijam essa informação. Grato

  3. Henrique Bellini

    01/10/19 at 13:10

    É o mundo da voltas mesmo. 😂

  4. franque

    01/10/19 at 17:14

    Realmente muito preocupante…. Por isso os neo pentecostais, os milico, o bostonaro e os neo liberais estão com tudo. Se depender dessa esquerda cirandeira tamo fodido mesmo.

  5. Aline

    01/10/19 at 18:06

    Fui banida do Ogros Veganos pelo Paru (Paulo Vitor) por colar o link dessa reportagem nos posts para informar aos membros do golpe que o grupo levou.

  6. André Fernandes

    01/10/19 at 21:07

    Gostaria de saber se vocês procuraram ouvir a versão dele sobre o fato. É importante ouvir os dois lados da conversa. Percebi pelos comentários que os ânimos estão muito exaltados. O Paulo Victor também precisa dar a sua versão sobre o caso. Espero que tudo seja esclarecido e que toda esta confusão seja logo esclarecida.

  7. Revirandoosolhos

    01/10/19 at 23:07

    Briguinhas de ego pra ver quem é mais famosinho enquanto os animais estão sendo explorados e assassinados. Sinceramente, quem consegue olhar para a cara ou para o perfil nas redes sociais desse Paru e acreditar na imagem que ele tenta passar? Sério mesmo que só descobriram agora que ele é o esquerdomacho feministo que só quer surfar nas causas pra ficar mais famosinho e ganhar dinheiro?

  8. Ana Cristina Torres

    01/10/19 at 23:45

    Gente, ele votou 17 ! E quer dindin! Não viu quem não quis! O nome é ogros, ele fez a capa, nunca administrou, ou seja, deixou para a mulher fazer, quando soube que poderia ganhar com a venda do ogros, expulsou as mulheres! Tão canalha e misógino quanto o bolsobesta!

  9. Reginaldo Pena

    02/10/19 at 0:34

    “Durante as eleições de 2018, foi um dos poucos grupos de Veganismo a adotar uma postura contrária a Bolsonaro.”

    Essa informação não é correta! Na época das eleições 2018 muitas pessoas foram expulsas do grupo por ser contra Bolsorano, inclusive foi criado o grupo Ogros Vegans Politizados na época com mais de 2000 pessoas expulsas por não concordar com os mods apoiadores de Bolsonaros. Temos prints de comentários no grupo Ogro Vegans Politizados foi a resistência contra o obscurantismo e a desinformação.
    Além de outros grupos também serem contra Bolsorano na época…
    Revisionismo histórico aqui não né… 🙁

  10. Reginaldo Pena

    02/10/19 at 0:55

    https://m.facebook.com/groups/254016328567403?view=permalink&id=254123878556648&ref=m_notif&notif_t=group_comment_follow

    30/10/2018 no grupo Ogros Vegans Politizados está documentado a posição bolsonarista que o Ogro Vegans teve na época…

  11. Mariane

    02/10/19 at 2:09

    É preciso entender de uma vez por todas que é inadmissível compactuar com uma postura como a dele ao mesmo tempo que se levanta a bandeira do veganismo. Veganismo é luta interseccional. Se você não compreende a amplitude disso, é necessário voltar algumas casinhas e se permitir aprender com diversos grupos sociais qual a melhor conduta e de que modo pode respeitá-los e apoiá-los. O Paru por muito tempo conseguiu se esconder, pelo menos de muita gente, sob a máscara de bom moço, consciente e machista em desconstrução. Eram muitos os stories feministas, vários os discursos sobre masculinidade tóxica. Não estou aqui pra duvidar de todos os homens cis, mas há de se admitir que quando uma pessoa tenta muito te convencer de que é a, pode ter certeza que há grandes riscos de ser b. E isso é muito comum entre homens da esquerda: se fazer de aliado da luta feminista enquanto esconde seu machismo latente. Estava na nossa cara que havia algo de muito errado nesse homem que adorava se promover em meio a uma onda de ampliação do feminismo. Paru nunca foi aliado e nunca fez mais do que usar camisa “respeita as mina”. Dane-se se ele era o dono do Ogros. A sua conduta foi tirana e não há como negar.
    Inclusive, aproveito pra pedir pra que quem for de Salvador ou costuma visitar essa minha cidade, que boicote o Veganza, empório do qual Paulo (Paru) é dono. Não adianta boicotá-lo via internet enquanto continua enriquecendo esse infeliz. Eu adorava o lugar, mas de mim ele não terá nem mais um real. Que lide com todas as consequências e que seja finalmente visto como o homem covarde e misógino que é. Que perda o prestígio e enxergue que suas ações provocam reações duras como ele bem merece.
    Todo o apoio e carinho à Ellen e às outras mulheres. Mais uma vez fomos vítimas da tirania masculina. Que lutemos juntas!

  12. Elaine

    02/10/19 at 10:34

    As moderadoras provando um pouco do próprio veneno. O grupo era: falou alguma coisinha que eu não gosto, te expulso do grupo. Nunca vi a síndrome do pequeno poder atuando tanto em um grupinho como nesse. O prazer nunca foi defender os animais, mas ter autoridade no grupo. Se são tão ativistas e fazem tanta questão de divulgar o veganismo, continuem postando no grupo, seguindo as regrinhas, mesmo sem ser moderadoras! Aaaaaaainnnnnnnnnnnnnnn… mas se não for pra ser moderadora, prefiro nem participar. Crio outro grupinho onde posso continuar mandando, que é o que importa. Deixo só os puxa-sacos lá, pois é assim que gosto! Banir pessoas > Defender veganimso. Grande Paru! Parabéns pela atitude! Já fez mais pelo veganismo sozinho do que esse grupinho de moderadoras nunca farão na vida inteira!

  13. larissa caumo

    02/10/19 at 12:09

    participei do grupo durante um bom tempo e vi dezenas de pessoas sendo banidas injustamente. as minas usavam do poder no grupo pra banir pessoas de quem discordavam, ainda que ninguém tivesse quebrado qualquer regra do grupo. bom ver que o castigo vem a cavalo. desçam do pedestal, veganismo não é instrumento pra ficar arranjando treta com quem vocês discordam! tenho certeza que agora muita gente massa vai voltar pro grupo. <3

  14. ventomar

    02/10/19 at 14:19

    Hora de criarem outro grupo, se pá com mesmo nome, e divulgarem para que todos veganos deixem de participar daquele grupo ali.

  15. RB

    02/10/19 at 14:51

    Fui expulsa do grupo ontem e todas as mensagens de denúncia que coloquei na página da Veganza (https://www.facebook.com/Veganzaemporiosalvador/
    administrada por esse usurpador ) são apagadas. Ele deu um golpe e vai ficar por isso mesmo, afinal, isso é Brasil. Certamente vai vender o grupo ou ganhar com anúncios na página…

  16. Rodrigo Guglieri

    02/10/19 at 18:32

    Não foi o único grupo que se posicionou contra o Bolsonaro o VegAjuda que é dos maiores do país foi contra. Nos posicionamos claramente. Também o Free Vegans. Na épocas os moderadores do grupo criaram até um terceiro grupo. “Vegans contra Bolsonaro”, hoje com o nome mudado para “Vegans Pela Democracia”

  17. Julia

    03/10/19 at 0:08

    Seria legal atualizar a matéria com o link e o nome do novo grupo que as verdadeiras donas criaram depois do golpe! Chama Veganismo sem firula. Entrem lá e saiam do Ogros. Não vamos compactuar com golpe, vamos apoiar o lado certo!!

  18. Macgyver Freitas

    03/10/19 at 17:53

    Eu nem fazia parte do grupo usurpado, mas fiz questão de entrar no novo grupo “veganismo sem firulas” das meninas, atitude lamentável do tal do Paulo, ridículo vindo de alguém que se dizia feminista

  19. Carla Lima

    03/10/19 at 21:11

    Jornalistas Livres, escute o outro lado da história. Isso será bem maduro da parte de vcs.

    Aguardo.

  20. Juliana Mattos dos Santos

    03/10/19 at 23:37

    Isso, galera, entrem no “Veganismo sem Firula” mas não deixem de: a) avisar a todos os seus amigos que estão no “Ogros Veganos” sobre o golpe, convidá-los pro “Veganismo sem Firula” e falar pra eles espalharem a notícia também para todos os seus amigos. ahh, e denunciem o golpe lá no “Ogros Veganos” até o fim!

  21. Edu

    06/10/19 at 17:27

    Eu vou fazer um contraponto porque acho que tudo isso está no mínimo muito distorcido. Postei no meu perfil um comentário e vou colocar aqui. Sou amigo pessoal dos dois ( ou era, a Ellen ficou pistola com o que eu disse).

    Sobre o lance que rolou no Ogros veganos vou dizer o que penso aqui porque muita gente me procurou. Ando fugindo de treta e sem tempo pra face mas com eu acho que tem um modo de funcionar da coisa que me chama atenção vou fazer meus comentários.

    Eu gosto bastante tanto do Paru quanto da Ellen, não tenho mais contato com nenhum seja pela correria da vida seja pelos caminhos que cada pessoa decidiu tomar. Isso não diminui em nada o carinho.

    Vou falar o que penso com liberdade de pensamento. Não falei com nenhum dos dois a respeito então fica aqui o espaço caso alguém queria conversar.

    1. Aparentemente uma das administradoras ofendeu o Paru no grupo, teve print. Aí ele foi lá e deletou todas elas.

    2. A postura foi arbitrária? Certamente foi. Eu chamo de infantil a postura de deletar alguém que está enchendo o saco. Mas esse sou eu. Disso se conclui que elas tenham algum direito ao grupo? Não, é mais complicado que isso.

    3. É preciso em primeiro lugar pensar no que é um grupo de Facebook. Se tem a ver com uma representação democrática ou com a gestão de um clube privado. Um dado: nenhuma das pessoas ali foi eleita. Outro dado: muitas pessoas , eu inclusive, foram banidas por crimes de opinião em questões alheias ao grupo. No caso dos sacrifícios religiosos ou você aceitava que ser contra o sacrifício é necessariamente racismo ou você era banido. Guardem essa informação. Em resumo até aqui sabemos que o grupo de facebook não tem legitimidade democrática, não tem eleição e os banimentos acontecem porque simplesmente aquele que expulsa pode fazer isso pelas regras do Facebook. Modelinho de clube privado.

    4. Por que Paru deletou as ex moderadoras ativas do grupo? Paru deletou essas pessoas porque pode fazer isso. Não por legitimidade popular, não por voto, simplesmente pela regra do Facebook : quem cria pode banir.

    4. Elas, por sua vez, baniram pessoas. Elas foram eleitas? Não. Não tem legitimidade popular, igual ao Paru. Elas baniram apenas por questões envolvendo as regras? Não, baniram porque não gostavam de pessoa X ou Y, igual o Paru fez. Muitas pessoas foram banidas por serem contra o sacrifício de animais, ou por curtirem comentários contrários, ou comentários que reclamavam de pessoas serem excluídas. Em suma mesmo curtir um comentário em OUTRO GRUPO foi motivo pra banimento do Ogros Veganos por essas pessoas que não foram eleitas . Isso tem que ficar muito claro.

    5. Como essas pessoas (Ellen e outras moderadoras) tinham poder pra banir? Simples: Ellen era esposa do Paru que criou e foi moderadora desde início. Paru deu poderes pra ela para banir e para delegar poderes. Ela passou para amigas. Fim da história. Ellen foi ativa? Certamente. O que se tem sobre legitimidade até aqui? Nada. Qual a base para banimentos até aqui? O poder derivado das regras do Facebook. Qual o fundamento do banimento dessas pessoas por Paru? O poder derivado das regras do Facebook.

    6. Assim sendo, Paru fez EXATAMENTE A MESMA COISA que elas fizeram até aqui com quem não gostasse. Se eu acho arbitrário ter banido, e acho, de forma coerente acho pra todo mundo.

    7. O fato delas ficarem indignadas é sintomático. Significa que elas acham ultrajante que recebam o mesmo tratamento que conferiram a outras pessoas. Elas, portanto, quebram o princípio democrático da igualdade e se colocam como mais importantes. Por legitimação popular? Não, simplesmente por exercício de poder.

    8. Poderiam dizer que elas fizeram um “trabalho” e por isso teriam “direito” ao grupo. Não existe usucapião de grupo – ou a representação é legítima ( e estamos falando de poder popular) ou é mera gestão de clube privado, com delegação de funções que derivam de relações privadas.

    Elas exerceram poder, fizeram o que fizeram pelo poder que lhes era autorizado. Não tem como dizer que o grupo chegou ao tamanho que tem por causa delas. É até contraditório: elas baniram pessoas por motivo estranho aos do grupo ( comidas ogras). O grupo cresce em virtude dos pratos veganos ogros que a comunidade como um todo posta. Então a comunidade constrói, elas banem pessoas sem relação com a comunidade, e querem se apropriar dos méritos que são coletivos. Elas tem direito de terem gostado do exercício do poder? Claro que tem. Elas podem achar ruim? Claro que podem: foi arbitrário. Elas podem reivindicar uma postura diferente daquelas que elas praticaram até aqui com outros eu inclusive? Não.

    9. Poderiam dizer que ainda que a origem do poder tenha sido ilegítima, o fato das pessoas aceitarem a liderança legitima. Digo que isso não favorece a tese de que elas devem ter o grupo de volta já que isso também favoreceria o Paru. Se as pessoas não saíram do grupo então aceitam a liderança dele, certo? Elas são livres pra sair e criar outro.

    Em suma: Eu vou achar bonito uma punição arbitrária? Não, de nenhum lado.Posso dizer com a consciência tranqiula que tanto uma quanto a outra foi por motivos pessoais. Existe direito sobre grupo? Não, muito menos em grupo que não foi fundado na eleição dos membros para liderar, e que essa eleição deve ser periódica é desnecessário dizer.

    Enfim, era o que eu tinha pra falar. Eu não vou entrar no afã de demonizar ninguém, nem de apedrejar ou qualquer coisa do tipo. Eu recusei essa postura lá em 2014 quando todo mundo tinha esse afã e achava bonito, vou continuar recusando agora 0 ainda mais que vimos que com Bolsonaro eleito a esquerda precisa repensar essa estratégia de hostilização. Vamos conversar numa boa que ninguém precisa disso.

    Algumas observações jurídicas para o Jornalistas Livres:
    1. Não existe usucapião de grupo. Qualquer governo ou é legítimo e tem eleições ou não é legítimo e não se trata de um governo. É o caso. Ali é gestão privada – se quisessem democracia teriam agido democraticamente, inclusive com eleições, coisa que nunca aconteceu.

    2. Não existe autofurto – muito menos “roubo”, que envolve violência ou grave ameaça. Banir alguém não se enquadra nesse critério de roubo, tampouco tomar algo que já é seu pode ser entendido como qualquer modalidade de furto.

    3. Foi arbitrário? Claro que foi. Elas agiam diferente? Não. O Facebook tem qualquer coisa a ver com isso, como empresa? Também não. Se seguiu as regras que ele determinou de antemão, juridicamente, não há o que o Facebook possa fazer. Estranho seria se ele “devolvesse” o grupo para quem não o criou ( e como pontuei em 1 não teve qualquer tipo de eleição [ e , sim, se tivesse poderia ter alguma chance de reverter isso judicialmente] ) . Se o FB abre mão das regras prévias para beneficiar um ou outro então ninguém garante que não poderá fazer isso para beneficiar alguém de direita por exemplo.

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Nota da ABI – Bolsonaro mente na ONU e envergonha o Brasil

No seu discurso na manhã desta terça-feira na Assembléia Geral das Nações Unidas, o presidente Jair Bolsonaro contribuiu para que o Brasil caminhe para se tornar um pária internacional.

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No seu discurso na manhã desta terça-feira na Assembléia Geral das Nações Unidas, o presidente Jair Bolsonaro contribuiu para que o Brasil caminhe para se tornar um pária internacional.
Sem qualquer compromisso com a verdade, o presidente afirmou que seu governo pagou um auxílio emergencial no valor de mil dólares para 65 milhões de brasileiros carentes, durante a pandemia. O auxílio foi de 600 reais.
Bolsonaro mentiu
O presidente responsabilizou, ainda, índios e caboclos pelos incêndios na Amazônia e no Pantanal, que alcançam níveis nunca antes vistos no País. Todas as investigações, inclusive de órgãos oficiais, indicam que fazendeiros estão na origem das queimadas.
Como se vê, de novo Bolsonaro mentiu.
O presidente transferiu a responsabilidade para governadores e prefeitos pelos quase 140 mil mortos vítimas do coronavírus. Todo o país é testemunha de sua leviandade, ao classificar a pandemia de “gripezinha” e ir na contramão dos procedimentos defendidos pelas autoridades de Saúde.
Assim, mais uma vez Bolsonaro mentiu.
A ABI, com a autoridade de seus 112 anos de existência em defesa da democracia, dos direitos humanos e da soberania nacional, repudia esse comportamento que vem se tornando recorrente e conclama o povo brasileiro a não aceitar o verdadeiro retrocesso civilizatório que o governo está impondo ao País.
Paulo Jeronimo – Presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI)

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Sem papas na língua. Juliano Medeiros no Dialogando de hoje

Quais interesses políticos estão por detrás da próxima disputa eleitoral? Tudo isso e um pouco mais, sem papas na língua, como diz o Pastor Fábio. Vem!

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Quais interesses políticos estão por detrás da próxima disputa eleitoral? No Programa Dialogando desse domingo (26/07), 18h, o Pastor Fábio recebe Juliano Medeiros, presidente do PSOL para um papo sobre eleições e aprendizados da pandemia que passa por uma das fases mais críticas do momento, onde prefeituras e governos de vários Estados do país programam reabertura de mais uma parcela considerável de setores, enquanto isso, a mídia normaliza as curvas ascendentes do número de infectados pelo Coronavírus.

Outra pergunta que precisa ser respondida é qual é o sentido das eleições serem realizadas ainda neste ano? Quais interesses políticos estão por detrás da próxima disputa eleitoral? Tudo isso e um pouco mais, sem papas na língua, como diz o Pastor Fábio. Vem!

Assista, compartilhe. comente e mande perguntas no Facebook.

Juliano Medeiros é um jovem dirigente político da esquerda brasileira e desde janeiro de 2018 ocupa a presidência do Partido Socialismo e Liberdade. Historiador e Mestre em História pela Universidade de Brasília, é Doutor em Ciências Políticas pela mesma instituição.

Co-autor e organizador de Um Mundo a Ganhar e Outros Ensaios (Multifoco, 2013), Um Partido Necessário – 10 anos do PSOL (Fundação Lauro Campos, 2015) e Cinco Mil Dias: o Brasil na era do lulismo (Boitempo, 2017), colabora com sites, jornais e revistas no Brasil e exterior.[2]

Em 2018 coordenou a campanha de Guilherme Boulos à Presidência da República pelo PSOL[3] e, no segundo turno, após decisão do partido, passou a integrar a coordenação da campanha de Fernando Haddad[4]. Desde a vitória de Jair Bolsonaro, participa do Fórum dos Presidentes de Partidos de Oposição[5].

Durante mais de uma década Juliano Medeiros foi dirigente da corrente interna Ação Popular Socialista – Corrente Comunista do PSOL. Em Junho de 2019, a APS-CC se fundiu com o Coletivo Rosa Zumbi e mais oito coletivos regionais para fundar a Primavera Socialista, atualmente maior tendência do PSOL, da qual Juliano também é dirigente.[6]

Fábio Bezerril Cardoso é Pastor, cientista social, ativista social e Cofundador & Coordenador da Escola Comum e atualmente apresenta o Programa Dialogando, todos os domingos, às 18h. É um dos pastores progressistas que têm lutado pela defesa dos povos periféricos e costuma não ter papas na língua para falar sobre a realidade desses lugares. A produção é de Katia Passos, com arte de Sato do Brasil.

Conheça mais sobre a atuação do Pastor Fábio https://www.facebook.com/fabio.bezerrilhttps://www.facebook.com/fabio.bezerril

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Hilário Ab Reta Awe Predzaw e a história de um povo, historicamente, moído pelo ódio ou indiferença

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Por Diane Valdez, professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás, militante do Movimento de Meninos(as) de Rua e Comitê de Direitos Humanos Dom Tomás Balduíno

 

 

Hilário Ab Reta Awe Predzaw, 43 anos, morador da Aldeia Xavante N. S. de Guadalupe, em Barra do Garças, Mato Grosso, morreu na madrugada de 18 de junho de 2020, vítima do descaso governamental que permitiu a chegada do Coronavírus em sua comunidade. Era aluno do 5º período do curso de Pedagogia da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás. Sua tia morreu há pouco mais de uma semana vítima do mesmo descaso, a mãe e seus dois irmãos, seguem contaminado pelo vírus, assim como outros Xavantes e outras pessoas de etnias indígenas de todo o Brasil.

Hilário entrou na UFG, pelo sistema de cota para indígenas, no ano de 2018. Chegou com o já conhecido atraso histórico de acesso dos povos originários no ensino superior, ainda que a UFG seja uma das universidades públicas que tem buscado cumprir com o direito de povos indígenas ao ensino universal, o acesso e a permanência ainda sofrem de fragilidade.

A trajetória de Hilário, na UFG, não se limitou às dificuldades ocasionadas pela pobreza, como muitos de nossas/os alunas/os enfrentam. A academia era um outro mundo, distante de sua comunidade, não só em quilômetros, como também em movimentos culturais, sociais e políticos. Talvez essa distância, o fazia um aluno reservado e observador, sem abrir mão da seriedade e interesse pelo conhecimento.

Era umas das lideranças de seu povo, portanto, sabia da responsabilidade que assumia frente a comunidade, ele seria um professor, um educador de seu chão, de sua gente. Hilário trabalhava em uma escola, com o formato de um Tatu Bola, na sua aldeia, trabalhava na área de serviços gerais, em breve voltaria como Professor!

No primeiro ano de curso, Hilário, na desconfiança de seu silêncio indígena, que não significava submissão, tentava se inserir no mundo acadêmico. Veio um tempo, que largou tudo e voltou para a aldeia, não por opção dele, mas por opção deste desgoverno que é incansável na destruição de direitos dos povos originários.

O Ministério da Educação e Cultura, suspendeu todas as bolsas de permanência para a população indígena e quilombola. Um grupo de alunas e professoras se juntaram, arrecadaram dinheiro e o trouxeram de volta para a Faculdade. Foi feita uma mobilização de docentes e discentes sensibilizados e a Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis da UFG, cumprindo seu importante papel, disponibilizou uma bolsa e outros auxílios emergenciais.

Nessa ocasião, quando perguntado sobre o porquê de não falar nada dos problemas para colegas, e voltar para sua comunidade, Hilário disse que achava que ninguém sentiria falta dele.

No segundo ano, trouxe seu curumim para estudar em Goiânia, começou a trabalhar como intérprete na escola, acompanhando seu filho na dificuldade com a lingua. Era visível seu orgulho de exercer a função de intérprete. Lutou e enfrentou as diferenças que separavam as culturas e, como muitos, guerreou como seus ancestrais, para não perder seu lugar de legítima conquista.

No início da Pandemia, que começou junto com o semestre letivo, Hilário resistiu em voltar para sua comunidade, tinha medo das aulas retornarem e ele não estar presente na Faculdade, isso aponta o lugar que a UFG ocupava em sua vida. Quando percebeu que seu povo não estava acreditando na letalidade do vírus, retornou para alertar todos sobre o perigo. A UFG, cumprindo seu papel de instituição pública, providenciou o transporte para seu retorno no Mato Grosso.

Em maio, informou para duas amigas, que sua comunidade precisava de cobertores, pois fazia muito frio, e seu povo estava adoecendo. Elas mobilizaram, imediatamente, uma Vakinha On Line, onde arrecadou-se pouco mais de três mil reais, no entanto, como o total da arrecadação demora para ser liberado, emprestaram dinheiro e compraram os cobertores de forma mais hábil, enviando-os dia seguinte.

Os sintomas que atingia a comunidade, febre, falta de ar etc. já indicavam que era Coronavírus, no entanto, isso não foi motivo de interesse governamental, que poderia ter evitado o alastramento do vírus.

Ao apresentar os sintomas da doença, Hilário mostrou-se resistente em ir para o hospital, tinha dificuldade de aceitar o tratamento “dos brancos”. Acreditava nos rituais de seu povo, no tratamento natural que conhecia há tempos. Por outro lado, a histórica resistência dele, fazia todo sentido, pois sabemos como os povos indígenas são tratados neste país tão indígena que não se reconhece como indígena. Foi convencido a ir para o hospital e, na última conversa com as amigas em chamada por vídeo, estava muito escuro, e a família arrumou uma lanterna para as meninas verem o rosto dele, que disse para elas, em lágrimas, que estava somente suado, quando perguntado se estava com medo, disse que sim, que estava com muito medo…

A ida para o hospital foi acompanhado de longe pelas amigas, falavam sempre com a Assistente Social que afirmava que Hilário estava se recuperando, que receberia alta a qualquer momento. Nessa madrugada, ao pedirem informações sobre o amigo no hospital, alguém disse que alguém havia morrido, mas não sabia o nome. O nome de mais um número morto é Hilário Ab Reta Awe Predzaw, que deixou a mulher, filhos e todo seu povo Xavante.

O acesso dos povos indígenas ao ensino superior é recente, no entanto, é marcado por extrema coragem e resistência, pois o mundo acadêmico não é de todo um espaço acolhedor. Ainda que a dureza prevaleça na universidade, Hilário encontrou solidariedade e amizade na Faculdade de Educação, ainda que não seja uma solidariedade coletiva, foi construído uma rede de apoio, tanto de alunas/os, como também de docentes, isso pode ter aliviado sua dura estrada longe de seu chão.

Hilário não morreu porque “chegou a hora dele”, morreu por não ter o direito de ser mais um indígena, digno de necessários cuidados. Hilário, era um homem parte do “povo indígena”, um povo invisibilizado, injustiçado, espezinhado, humilhado e, odiado por este desgoverno.

Um povo com suas terras ameaçadas e roubadas pelo latifúndio, mortos por pistoleiros do agronegócio, ironizado e menosprezado por representantes deste desgoverno, ignorado por gente nativa que se acha descendente de europeus, machucados por todos que acham que universidade não é lugar de indígenas.

Não sei falar de fé, nem de ‘destino’, nem de coragem para aliviar o cansaço de um tempo incansavelmente dolorido. Ironicamente, para não dizer, funestamente, o tal ministro da educação, que afirmou odiar a expressão “povos indígenas”, ampliando seu descaso com a educação, revogou hoje [H OJ E], (19/06) a portaria assinada pelo ex-ministro de educação, Aluísio Mercadante, que estabelecia a política de cotas para negros, indígenas e pessoas com deficiência em cursos de pós-graduação. Hilário, estaria fora da pós-graduação, se dependesse deste ser desumano.

Quando lanternas começaram a iluminar caminhos de direitos para esta população, no interior de nossas universidades públicas, ainda que timidamente, um furacão de perversidade em formato de governo, dá pontapés e pisa, moendo, as possibilidades de justiça. Feito bandeirantes, grupos genocidas a frente das decisões da nação, estimulam a morte em todos os formatos. Deixar que o coronavírus atue, sem controle, é a proposta de morte atual para os povos originários.

Como Hilário, temos medo, muito medo, mas agarremos as lanternas, e assumimos nosso lugar na defesa dos povos indígenas, não os condenando a escuridão, como muitos fazem.

Hilário Ab Reta Awe Predzaw presente!

Este texto foi escrito com informações coletadas com as alunas, companheiras de Hilário, da turma do quinto período de Pedagogia da Faculdade de Educação/UFG, Dorany Mendes Rosa e Raysa Carvalho.

A elas e a toda turma, meu carinho e solidariedade.

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