Filhos de mãe solo

Por Jefferson Lula Sousa

 

“General Mourão,

Escrevo essa carta, mas a vontade era falar frente a frente. Falar que sou mais um dos milhares de brasileiro que foram criados por uma mãe solteira. Falar para você que desde pequeno tive que lidar com a crueldade de uma sociedade patriarcal, que não mede esforços para subjugar as mulheres. Falar para você como é difícil a ausência da mãe por causa da carga horária exaustiva nos dois trabalhos. Falar para você o quanto minha mãe, minha avó e minha bisavó lutaram para criar eu e meu irmão no interior do Maranhão. Falar para você, que diferente dos privilegiados, elas tiveram que se virar como puderam para dar conta do recado.

Mas acredito que você não conheça a realidade de um país a qual você vive. Não conhece porque vive de privilégios. Não conhece porque nunca precisou cuidar de uma família sozinho. Não conhece porque nunca precisou vender artesanato, revista ou qualquer coisa que gerasse lucro para trazer o pão de cada dia.

General Mourão, queria acreditar que você desconhece a realidade em que vive, mas eu sei que você é simplesmente mais um dos milhões de homens que não assumem suas responsabilidades e fogem quando é contrariado com a realidade.

General Mourão, estudei em escola pública e com muita garra e dedicação me formei em jornalismo pela Universidade Federal do Maranhão (Obrigado, presidente Lula!).

General Mourão, eu entendo o que é passar por dificuldade para alcançar sonhos, realizar metas.

General Mourão, o senhor, assim como esses milhares de homens, vai sentir a força das mulheres guerreiras, que lutam diariamente contra o machismo, a misoginia e o preconceito.

General Mourão, o senhor, assim como esses milhares de homens, vai sentir o gosto amargo da derrota. Derrota por uma classe historicamente aguerrida e unida.

General Mourão, o senhor não sabe com quem mexeu!”

 


Por Jacqueline Rodrigues

 

“Minha mãe se separou aos 24 anos por não suportar ser maltratada, numa época em que as mulheres para trabalhar precisavam da assinatura do marido e se fossem viver com outro homem, perdiam a guarda dos filhos. As leis eram bem piores , mas minha mãe encarou a vida. Foi costureira, vendedora de porta em porta, até passar num concurso público. Me criou sozinha, pois meu pai me ignorou. Tenho muito orgulho da minha mãe, de sua força e de sua coragem.”

 


Por Luciane Alves

“Queria ter estado na palestra(?) em que o Mourão proferiu tal asneira. Tomaria o microfone de suas mãos e lhe contaria (e àquela plateia lotada de homens brancos e preconceituosos) que minha mãe criou seus 3 filhos sozinha – meu pai morreu em 1969 -, no sertão cearense, trabalhando em 2 empregos, numa casa modesta e pequena, com pulso firme e coração abarrotado de amor. Nenhum de nós desvirtuou na vida, muito ao contrário. Hoje, temos nossa famílias formadas, nossas profissões e um agradecimento enorme à nossa mainha guerreira.”

 


Por Giovana Pereira

 

“Minha avó, pernambucana e doméstica criou os 9 filhos com a ajuda de minha bisavó. Todos trabalham e trabalharam muito na vida, e as mulheres aos 10 anos já a ajudavam a limpar as casas dos patrões. Sou filha de uma dessas mulheres, uma auxiliar de enfermagem super trabalhadora que nunca me deixou faltar nada, mesmo que isso custasse fazer plantões e plantões de 24h no hospital, e/ou trabalhar em dois empregos, e tendo que cuidar/educar/sustentar a mim praticamente sozinha. E mesmo na periferia, estudando em escolas públicas, estou na minha segunda graduaçāo em universidade pública, coisa que há tempos atrás era quase impossível para nós, pobres. Tenho muito a agradecer por crescer e saber das histórias de luta dessas mulheres guerreiras e seus legados.”

 


Por Rayana Felipe

“Essa é a história de uma mulher analfabeta que só sabia escrever o nome completo, vinda da cidade de Mossoró/RN para Natal/RN, sozinha, grávida e abandonada pelo pai da criança para ser empregada doméstica em troca de teto e comida, apenas.

Essa mulher precisou esconder a gravidez!

Ao ter sua gravidez descoberta, ouviu pessoas exigindo que ela TERIA que doar a filha no nascimento!

RESISTIU! Mas, viu a filha ser humilhada em sua primeira infância!

Batalhou por meio de serviços extras, lavando roupas, engomando, faxinando para fora (e escondida) até que conseguiu por meio de muito esforço comprar seus primeiros móveis e eletrodomésticos, os escondendo na casa de um vizinho.

Juntou dinheiro e alugou sua primeira casa numa vila, pequena e apertada, mas era dela.. lá ela criaria a filha e trabalharia em troca de remuneração!

Essa mulher conseguiu seu primeiro emprego “bom”, mesmo com uma filha pequena, numa clínica de dentista, limpando o chão de joelhos “para ficar tudo branquinho”.. mal imaginava ela que aquilo, futuramente, iria prejudicar sua rótula a ponto de deixa-la numa cadeira de rodas. Mas, ela fazia com gosto, ela tinha um emprego, ela tinha uma filha pra sustentar, ela era grata!

Depois, ela conseguiu um emprego de carteira assinada na ABO/RN, onde serviu por muitos anos.

Quanto orgulho essa mulher tinha de trabalhar de ASG na Associação Brasileira de Odontologia do RN. Tanto que mesmo após aposentada, ela sonhava com a ABO e, em posse de uma ingenuidade genuina pedia: “minha filha/neta olhe no livro de sonhos o que é sonhar com a ABO”. (Lágrimas de saudades!)

Continuou trabalhando, batalhando, se esforçando para dá o melhor a sua filha e deu! Alimentou! Educou! Viu sua filha crescer!

Após muita batalha, ela conseguiu sua primeira casa própria pela COHAB no Santarém, zona norte de Natal/RN.

O acesso era dificil, mas era dela.

Ela muito responsável e organizada com um salário mínimo da época, arquitetou aos poucos e deixou a casa, conforme ela queria. Era uma mansão! (Risos de orgulho!)

Sem homens em casa, educou tão bem sua filha que a viu terminar os estudos, casar, lhe dá sua primeira neta, lhe dá o segundo neto que veio a falecer com pouco tempo de nascido.

E viveu feliz por muitos anos com tudo que construiu SOZINHA, até que um infarto a tirou da terra, deixando um vazio enorme e incurável naqueles que ficaram.

**

Essa história (que só os fortes, conseguiram terminar) é da minha AVÓ – FRANCISCA FÉLIX BEZERRA, “lousa” como era conhecida!

O primeiro exemplo feminista que eu tive na minha vida!

Aquela que sempre me disse: “nunca baixe sua cabeça pra homem nenhum.. Pra ngm!”

Se eu tenho orgulho??? Tenho tanto que tô aqui contando a história dela, a história da minha mãe, a minha história!

É um insulto para mim, alguém dizer que uma pessoa criada sem pai/avô é/será desajustado! E se vc bate palmas pra isso, sim, vc é meu inimigo!

Eu tenho base! Eu tenho estrutura familiar!”

 


Por Lin Angel

“Eu e meus 5 irmãos menores fomos criados pela mãe. Quando eu tinha 8 anos e o mais novo 2 meses, meu pai decidiu que era jovem demais pra abrir mão da própria vida e caiu no mundo. Minha mãe lutou feito leoa pra alimentar os filhos com as poucas faxinas que conseguia. Com ela aprendi minhas primeiras lições de Contabilidade de Custos e Gestão Eficiente, na profissão que me especializaria mais tarde. Ela me mandava comprar, por vezes, a unica refeição do dia e dizia: “Filha, compre a maior batata que encontrar, pois a quantidade de cascas é menor que se forem varias batatas pequenas”

Ela descascava aquela batata cirurgicamente, cozinha e servia com chá de bergamoteira pra ajudar a nos acalmar, dizia.

Nunca perdeu nenhum filho pro tráfico, sempre nos ensinou que como pessoas muito pobres teríamos que ter conduta exemplar justamente por isso.

Sempre nos explicou que justamente pelo nosso sacríficio temos obrigação de reconhecer no outro o que vivemos um dia.

Hoje ela tem 9 netos, 2 bisnetos e sua maior satisfação é fazer fornadas de pão e esperar na frente do portão a garotada que sai da escola.

Quando perguntamos porque ela faz isso? Ela diz que não sabe que horas a mãe deles retornará do trabalho pra fazer a janta, e criança com fome não faz os temas direito.

Me orgulho muito dessa mulher e gostaria que o Gen. tivesse a decência de ao menos respeita-la.

Por ela, por todas #eleNão”

 


Por Jéssica Guimarães Leite

 

“Meu pai faleceu quando eu tinha apenas 6 anos. Quem trabalhou duro para me dar do bom e do melhor, quem se desdobrou para me dar um pouco de atenção enquanto trabalhava em dois empregos (perdendo, assim, boa parte da minha infância) , quem ficou de olho em como ia os meus rendimentos escolares, quem ficava toda preocupada em cuidar de mim enquanto eu estava doente foi unicamente minha mãe. Se hoje em dia, eu sou uma pessoa que nunca cometeu nenhum crime, que tem valores e está correndo atrás sonhos, é graças a ela.”


 

Por Vanessa Bouvier

“Meu pai faleceu qdo eu era pequena. Nunca conheci meus avós.

Minha mãe sempre foi A mãe, nunca deixou faltar nada, sempre apoiou nos estudos e graças à ela sou quem eu sou. Sou mto grata e tenho mto orgulho de ter sido criada por ela, e garanto que ela não podia ter feito melhor. Ensinou a ter educação, respeito e a ajudar quem precisa. Me ensinou a valorizar os estudos msm que ela só tenha estudado até a 2a série do fundamental (hj em dia ela faz EJA).

Ensinou acima de tudo a ser humana.

E como eu já disse, tenho mto orgulho da minha mãe e da criação que ela nos deu.”


Por Laura Carvalho

 

“O pai da minha filha não tem o nome do pai na certidão, criado pela mãe e avó, mora em uma das maiores favelas de Brasília. Sua mãe sendo doméstica fez com que ele fosse o primeiro graduado em nível superior da família… Eu engravidei não quis casar e virei a puta da história que só queria dinheiro… Detalhe ele não tinha dinheiro ? nem é rico agora pra se achar tanto…. E aí o machismo fica onde mesmo?! ? Fui mãe solteira, terminei faculdade e fiz pós (nem minha família acreditou, pq coitada virou mãe solteira acabou com a vida). Hoje subi um degrau de julgamento, sou ex mãe solteira que achou um macho pra me sustentar (visão das famílias de bem inclusive a minha)? e o pai da minha filha continua se achando superior a mim, o pai perfeito que eu perdi (machista ao extremo que sumiu nos 3 primeiros anos de vida mas contava vantagem que não deixava faltar nada, quando nem telefone atendia).”


Por Nadir Neres

“Criei meus filhos sozinha nunca pedi nada para ninguém só trabalhei nunca faltou o nessesario para eles graças a Deus tem o emprego deles cuidam das famílias tenho muito orgulho dos meus filhos que criei sozinha e muito triste ver e ouvir uma aberração dessa esse babaca nem ele sabe o que está falando cuanto mais governar nosso país sai fora Bolsonaro e sua corja”

 

 

Por Pedro Rocha

“Essa é a Regina Neves , minha mãe. Como inúmeras mulheres do mundo, criou seu filho sozinha. Me levou para muitos lugares onde trabalhou quando eu não podia me virar sozinho ainda. Dormi em baixo da mesa de professora dela, no sofá da sala da moviola, brinquei nos jardins do museu de imagens do inconsciente, entre muitas outras situações. Minha amiga e parceira. Hoje damos aula juntos, ela pode contar comigo e eu com ela. Regi não fez parecer que faltava nada durante todos os anos e até hoje, até porque uma criança não precisa de um pai, precisa de amor. Quando eu fui pai aos 23 anos, era eu quem precisava ser pai. Assim Luiza Alexander me ensinou o que eu não sabia sobre isso e ainda hoje me ensina.

Eu tenho certeza de que as mulheres é que vão salvar a vida. Fazer todas as revoluções que ainda precisam acontecer.

Eu tô aqui pra tudo. Contem comigo no que quiserem.

E eu não posso deixar de falar da minha companheira Amora Pêra, que é um lace muito enorme e lindo de vida junta e parceira.

Também preciso enaltecer e agradecer a Ligia Veiga e Marilia De Araujo Felippe, Graciela Figueroa, Paula Leal, Amora Pêra, Isadora Medella e Nanan Gonzaga e Anna Dantes. Cito essas aqui pq eu trabalhei e trabalho em projetos idealizados por elas, onde elas dão a direção.

Não acho verdadeiramente que eu não seja um desajustado. Eu sou. Isso já é um aspecto dessa revolução que está acontecendo.

Esse ajuste que o general generaliza , não nos interessa!”


Por Lia Laiol

“Excelentíssimo senhor Mourão!

Fui criada pela minha mãe, sozinha ela criou eu e a minha irmã  e cansei de ver ela ir trabalhar doente, lavar roupa na chuva e a única coisa que ela sempre exigiu de nós foi que estudassemos. Aí vem o senhor dono da verdade e vomita suas bossalidades? Desajustado é o senhor! Eu venho de família pobre e com pai ausente e por incrível que pareça ao senhor (para nós pobres é comum) trabalho desde os 13 anos e ajudo em casa. Estudei a vida toda em escolas públicas, nunca fiz cursinhos e pasme! Fiz agronomia numa universidade estadual ( a qual o excelentíssimo senhor Beto Richa lutou ferozmente para desmantelar aqui no Paraná! Ele provavelmente é de uma família ajustada com pai e mãe, como o senhor e aquele “coiso” que diz que pobre só serve para votar e com diploma de burro no bolso), faço mestrado tudo público, devo ser o próprio anti-cristo para essa doutrina de ódio que vocês tentam empurrar goela abaixo do povo brasileiro não é mesmo? Pobre, mulher, com curso superior e pós graduação e contra Bolsonaro? Haha perdoe mas a piada mais ridícula de vocês é dizer que quanto mais estudos mais apoiam vocês… Deus tenha piedade!”

COMENTÁRIOS

Uma resposta

  1. “excelentíssimo senhor Mourão”

    Fui criada pela minha avó, que com o meu avô de cama, por conta de um derrame me criou com meus oito irmãos, e mais 19 primos.
    Foi uma mulher guerreira, nunca deixou nada faltar para mim e meus irmãos, nos deu sempre o máximo e do bom e do melhor terminamos a escola, hoje cada um tem o seu cargo.
    Eu também sou mãe de um casal, mãe solteira e sigo o exemplo da grande mulher que tive na minha vida.
    Dou a minha vida a eles, e faço tudo por eles, muitos homens se dizem pai, tiram foto e tá tudo bem.
    Mas quando o filho tá doente, muita das vezes fica internado, quem passa a noite acordada é a mãe, quem sempre está ali ao lado dos filhos zelando pela segurança, e pedindo sempre a Deus para que tudo dê certo.

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