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Ditadura

Existir e Resistir

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Chegar na USP hoje (12.11.18) me despertou fortes emoções.

Cursei Pedagogia nesta Universidade de 1967 a 1970. Vivíamos a Ditadura que se aprofundou na Universidade com a invasão do Exército em 1968: fechamento do CRUSP, residência estudantil, prisão de estudantes e professores, perseguição política, expurgo de professores, exílio, desaparecimentos. Terminar a Faculdade para mim neste período exigia um esforço e um convencimento pessoal cotidiano de que era importante naquele momento conseguir o “canudo”. Com a morte de meu pai precocemente em 1968, tive que me transferir para a noite para ajudar no sustento da família. Arrumei 2 empregos. Eram muitos deslocamentos, desgaste e quase nenhuma compensação do ponto de vista de minha formação profissional que se forjou muito mais pelos desafios do trabalho do que pela formação acadêmica. Tinha aula à noite, muitas vezes nos barracões improvisados das Ciências Sociais, da Psicologia.

Na Faculdade de Educação embora o que me tivesse movido a escolha da profissão tivesse sido Paulo Freire, ele não entrava no currículo, centrado em Administração Escolar em que tínhamos que decorar as leis, Filosofia apenas dos filósofos gregos, História da Educação em que diante da reivindicação de estudarmos educadores mais recentes, nos forçaram a ler a “Educação do Príncipe” de Maquiavel, com apenas 2 exemplares na biblioteca. Em Psicologia Social, o programa que versava sobre comunicação, formação política e consciência crítica, foi revisto para estudarmos o comportamento social das focas e das formigas, muito mais oportuno e importante para o momento… Quase todas as noites os espaços do campus estavam tomados por cavalarias e militares que nas janelas de vidro das portas das salas de aula, vigiavam professores e alunos.

Afinal que conteúdos e reflexões estavam propondo nas salas de aula?

Nos finais da década de 80 e início de 90, a USP já era outra, com professores comprometidos, centros de estudos voltados para inserção e compromisso com a construção de uma sociedade mais digna e justa.

Lembrei-me hoje de trabalhos apresentados na década de 90 em espaços acadêmicos da USP, a partir de minha vivência profissional na Prefeitura, acolhidos na História e Geografia pelo Professor Milton Santos e no Centro de Estudos Rurais e Urbanos CERU pela professora Maria Isaura Pereira de Queirós.

Diante da conjuntura que estamos vivendo não pude deixar de fazer memória: a quebra da democracia, a perda de direitos, a onda de conservadorismo, o desrespeito às diferenças e a violência institucionalizada, o ataque às universidades e o cerceamento à liberdade de ensino e de pesquisa, os retrocessos em todas as áreas, me remeteram ao tempo da ditadura.

Confesso que ao chegar no auditório da História e Geografia, fiquei emocionada. A convocatória para eventos de 2 dias “Existir e Resistir”, por professores e lideranças de institutos de pesquisa e de movimentos sociais de diversas áreas, fez acionar o motor da esperança!

Na mesa sobre o Ódio, conduzida pelos professores Tessa Lacerda e Renan Quinalha, com apoio de outras áreas, senti o afirmar o compromisso da Universidade com a sociedade, situar a pesquisa e o conhecimento como instrumento e apropriação da realidade para poder transformá-la.

ESCOLA SEM PARTIDO, NÃO!

No que podemos contribuir para enfrentar essa realidade? Vivemos em tempos sombrios em que atônitos queremos entender o que se passa e o que se passou para que Bolsonaro, deputado federal há 28 anos, sem ter aprovado nenhum projeto de importância para o país, um capitão do exército despreparado, temperamental, truculento e sem nenhuma compostura para ser Chefe de Estado, obteve 59 milhões de votos. Sua campanha não tinha propostas, suas falas agressivas, anunciando perda de direitos e destilando ódio, ganharam adesão e tiveram écos em milhões de corações brasileiros.
Tessa Lacerda, professora da Faculdade de Filosofia da USP, filha cujo pai foi torturado e morto pela Ditadura Militar com sua reflexão e depoimento, mexeu na ferida: nosso país foi o único que não quis investigar e penalizar os responsáveis pelas torturas, mortes e desaparecimentos.
Temos que lembrar dos vivos e temos que lembrar dos mortos. Este não é um trabalho perdido. Ainda em 2014 foram descobertas valas de Perus, a tortura, desaparecimento e morte ainda é uma prática e lembra Brecht em seu poema “Porque meu nome ainda será lembrado?” Em maio deste ano, uma nota questiona a Lei da Anistia aos presos políticos. É difícil falar em um país que não nos deixa falar que mais de 200 mil pessoas foram torturadas…

 

Em 06.11.18 a ponte de Brasília que no governo do PT passou a se chamar Honestino Guimarães, volta a se chamar General Costa e Silva.

Porque lembrar o passado não vivido? A memória faz parte do passado para buscar o sentido para o presente. Como fazer para que o olhar do passado extrapole a dimensão individual para o sentido coletivo. A memória dos sem nome (Benjamin) é que deve ser relembrada, a história dos oprimidos que ganhariam alguma voz com a Comissão da Verdade e outros, passou a ser sufocada a partir de agosto de 2016. Conhecer o passado para interferir no presente. Falar tem um sentido não apenas terapêutico mas um sentido político. Muitos das novas gerações e das pessoas que nestas eleições defenderam e defendem a ditadura militar, não tem ideia do que ela foi.

A história do século XX é de que muitos que viram o horror, já não podem falar. A descoberta do documento da CIA denunciando o extermínio é segundo Jean Marie uma história que não deixou túmulos, ossos e rastros.

Porque a ditadura se perpetua? A negação dos agentes da repressão como política de Estado, mesmo após a Comissão da Verdade é uma maneira de se relacionar com o passado que sanciona a opressão e o extermínio de minorias e lideranças. Hoje a prática da tortura se naturalizou, permitindo incêndio de aldeias indígenas, assassinato de pessoa que se pronunciou diferente e lideranças do campo, Marielles, morte de LGBTs entre o 1o e o 2o turno, extermínio cotidiano de jovens negros.

Segundo o Professor de Direito da UNIFESP, Renan Quinalha, o Brasil é o único país do mundo que após a Ditadura e a Comissão da Verdade, articulou o golpe.

Para ele, a LGBTfobia faz parte da ideologia de gênero que sempre segregou a sociedade. Esta divisão binária provocou o desequilíbrio, a submissão e a estigmatização do feminino. 2% da população mundial é de população intersexo, hermafrodita. A fobia é fruto de uma ordem compulsória de sexo, gênero e desejo. Nos dias de hoje há 1 assassinato de LGBTs a cada 19 hs, dado que é subestimado e o Brasil é um dos países que mais matam LGBTs. A violência é algo constitutivo do nosso estado de direito, faz parte da hegemonia biopolítica em que impera a dominação de uma minoria sobre a grande massa da população. Exemplo disso é Dandara no Ceará, olham o deslocamento da violência como algo “natural” da sociedade.

O que estamos vivendo hoje no Brasil, a violência e o ódio, é reação a conquistas recentes: ao direito a mudar o nome no cartório conforme orientação sexual, casamento homossexual, maior acesso à educação, abertura de novas universidades e política de cotas, conquistas de espaços públicos. Esses novos costumes e direitos que mudaram provocaram cruzadas morais como resposta as conquistas em que a Escola Sem Partido é um exemplo. Esta onda conservadora é cíclica, e hoje estamos no olho do furacão. Temos a obrigação de barrar esta onda conservadora, estamos vivendo um ciclo de degradação institucional. É necessário sair do pânico, olhar com certa serenidade novas formas de resistência e luta. Desde já o governo Bolsonaro se aponta como um bate cabeça generalizado entre diferentes atores Paulo Guedes, Moro, Alexandre de Moraes… O governo do Bolsonaro não tem nenhum compromisso político, não há clima de unanimidade, a crise econômica não será superada facilmente. Esse é nosso pano de fundo.

É importante repensar quais eram os limites dessa democracia pois só algumas parcelas da população tinham direitos. A dimensão identitária não foi pensada, é preciso e urgente a esquerda se abrir.Momento de repensar e acumular forças e ver uma perspectiva mais generosa das esquerdas. É aí e nos movimentos sociais que nasce a esperança!

Aberto o debate algumas pessoas reforçaram a importância de retomar o trabalho de base junto ao povo, às periferias, fortalecer e organizar a resistência da sociedade civil. Falou-se dos Coletivos da Resistência que envolvem vários grupos da cultura e outros: Linhas de Sampa, midias independentes como Jornalistas Livres, Flores pela Democracia, Lulaço, Flores da Resistência, Camisa 13, e tantos outros. São novos desafios, nova realidade, novos costumes, novos contornos. Precisamos ser criativos, valorizar as diversas formas de manifestação da cultura, reforçar laços de solidariedade, criar novas linguagens, estar junto, escutar, seguir, avançar…

Nossos desafios não poderiam ser explicitados de maneira mais clara mediante a intervenção de um professor da História, quando um grupo de Maracatu iria se apresentar como parte da programação. Chegou com muita arrogância, indignado, furioso com o barulho da música.O barulho atrapalharia as aulas, ele tem razão, mas era preciso tanta truculência? Disseram que é um professor de esquerda, dialogar e escutar o outro é um dado fundamental do EXISTIR E RESISTIR.

Há disposição e compromisso: professores, alunos e coletivos na luta! Estamos juntxs!

Ditadura

Volkswagen recusa local de memória

Para fugir do passado criminoso, empresa tenta fugir de reparação coletiva que crie um local de memória aos seus operários perseguidos dentro da empresa

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A Volkswagen, empresa automotiva alemã, tenta escapar da criação de uma reparação coletiva e pública, um memorial para os seus operários, vítimas de perseguição, tortura e sequestro dentro da empresa, durante a ditadura civil-militar brasileira. As denúncias contra a empresa foram apresentadas em setembro de 2015, por iniciativa do Fórum de Trabalhadores por Verdade, Justiça e Reparação. Além disso, existem outras acusações sobre a colaboração ativa, assim como denúncias de exploração de mão de obra escrava, leia mais no artigo abaixo.

Por Murilo Leal e Gabriel Dayoub, especial para os Jornalistas Livres

Há 5 anos, a Volkswagen enfrenta um Inquérito Civil Público que a investiga por graves violações de direitos humanos cometidas durante a ditadura civil-militar brasileira. É o primeiro caso do tipo no Brasil, em que uma empresa é formalmente acusada por crimes em conjunto com o regime autoritário. Após anos de uma difícil negociação, a montadora segue criando novas dificuldades, impedindo a chegada num acordo e sabotando o pilar central da reparação por seus crimes: a constituição de um espaço de memória dos(as) trabalhadores(as).

O Inquérito é uma operação conjunta do Ministério Público Federal, Ministério Público do Estado de São Paulo e Ministério Público do Trabalho. Foi motivado por denúncia apresentada em setembro de 2015, por iniciativa do Fórum de Trabalhadores por Verdade, Justiça e Reparação. A pesquisa, que deu continuidade aos trabalhos da Comissão Nacional da Verdade (2012-2014) e da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo – Rubens Paiva (2012-2015), foi realizada pelo IIEP e teve o apoio unitário de todas as Centrais Sindicais brasileiras, juristas e personalidades da luta por direitos humanos.

Um rastro de crimes da Volkswagen

As investigações comprovaram que as violações cometidas pela empresa faziam parte de um método sistemático de intimidação dos trabalhadores nas fábricas, inibindo sua organização política e em movimentos reivindicatórios. Seu Departamento de Segurança Industrial foi chefiado por 30 anos pelo Coronel Adhemar Rudge, militar com relações estreitas com a repressão política. Prisões de funcionários pela polícia política com a participação direta da empresa foram registradas com dois depoimentos muito contundentes, de Lúcio Bellentani e Heinrich Plagge. No caso de Lúcio, as sessões de tortura se iniciaram no interior da fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo, com a participação do Departamento de Segurança Industrial. Os dois foram sequestrados em 1972, numa onda de capturas que atingiu mais de 10 militantes do Partido Comunista Brasileiro (PCB) que trabalhavam na fábrica.

A montadora participou, ainda, como membro mais ativo e espécie de coordenadora, de organismos que reuniam grandes empresas e órgãos da repressão política para trocas de informações. Dentre eles, o mais bem documentado é o Centro Comunitário de Segurança do Vale do Paraíba, região industrial estratégica no interior de São Paulo. Nas diversas atas de reunião encontradas, fica comprovada a participação de grandes empresas, como Caterpillar, Ford, General Motors, Kodak, Rhodia, Villares, Embraer e Petrobras, do Exército, da Aeronáutica e das Polícias Militar, Civil e Federal.

A Volkswagen enfrenta, ainda, fortes questionamentos em relação a seu famoso empreendimento na Amazônia, a Fazenda Vale do Rio Cristalino, iniciado em 1974. Construída com forte incentivo da ditadura brasileira, a Fazenda pretendia estabelecer um novo modelo de exploração pecuária. Foram desmatados 4.000 hectares, num crime ambiental de proporções gigantescas. A empresa valeu-se, ainda, da exploração de mão de obra escrava para sua fazenda “modelo”, como comprovado em 1983 por comissão da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, encabeçada pelo Deputado Expedito Soares (PT-SP). A expedição foi realizada a partir de denúncia do Padre Ricardo Resende, da Comissão Pastoral da Terra, que acompanhou e testemunhou trabalhadores amarrados e jagunços armados na Fazenda [1].

Caso ainda mais nebuloso é o de Franz Paul Stangl. Responsável por chefiar os campos de extermínio de Sobibór e Treblinka na Polônia ocupada pelo III Reich alemão, Stangl conseguiu escapar por uma das muitas rotas de fuga criadas para proteger os grandes criminosos de guerra do nazismo. Após passar pela Síria, chegou ao Brasil em 1951 com documento de refugiado emitido pela Cruz Vermelha. Em 1959, Stangl passou a trabalhar na Volkswagen do Brasil, sempre com seu nome verdadeiro. Embora tivesse um gigantesco aparato de segurança e repressão interno, em conexão direta com o Estado brasileiro, a montadora nega que soubesse do passado sombrio de seu funcionário. Stangl seria localizado graças à ação de Simon Wiesenthal, o “caçador de nazistas”. Foi preso em 1967 e teve sua extradição solicitada pela Áustria, Polônia e República Federal da Alemanha. Em entrevista ao jornalista Marcelo Godoy, José Paulo Bonchristiano, chefe da Divisão Política do Dops de São Paulo e responsável pela prisão do nazista a pedido da Interpol, mencionou o incômodo da empresa durante a captura [2]. A Volkswagen chegou a recomendar um advogado para a defesa de Stangl, que acabaria condenado pelo assassinato de 400 mil pessoas.

Da participação na ditadura à saudação de Bolsonaro

Ainda hoje, figuras importantes da história da Volkswagen não escondem seu apreço por regimes ditatoriais, como registrado no documentário Cúmplices [3], produzido em 2017. É o caso, por exemplo, de Jacy Mendonça, executivo que chefiou a área de Recursos Humanos da montadora, que qualificou a ditadura como “um período extraordinariamente positivo” para as empresas e para o Brasil, “porque havia ordem”. Ou Carl Hahn, presidente do Grupo Volkswagen entre 1982 e 1993, que afirmou que na época não se inquietou com o golpe militar de 1964 e que não se recordava que os dirigentes da Volkswagen tivessem “chorado pelo desaparecimento da democracia”. Sua lembrança coincide com a opinião expressa à época por Werner Shmidt, presidente da empresa no Brasil de 1971 a 1973, que declarou à imprensa alemã: “É claro que a polícia e os militares torturam prisioneiros. Dissidentes políticos (…) são assassinados. Mas uma análise objetiva deveria sempre ter em conta que as coisas simplesmente não avançam sem firmeza. E as coisas estão avançando” [4].

Recentemente, a companhia fez um investimento de R$2,4 bilhões no Brasil, em excelente relação com o atual governo brasileiro. Após a eleição de Jair Bolsonaro – numa campanha marcada pelo saudosismo da ditadura militar, pelo elogio à tortura e pelo anticomunismo – diretores da Volkswagen registraram o apoio da empresa ao “recomeço do Brasil”, posaram para fotos com o governador do Rio de Janeiro, o então bolsonarista Wilson Witzel. O argentino Pablo de Si, presidente da Volkswagen na América Latina, saudou com entusiasmo a chegada da extrema-direita ao poder [5].

A reparação necessária

O Inquérito Civil Público que investiga a empresa foi instaurado em setembro de 2015, coincidindo com o escândalo do Dieselgate, que colocou a Volkswagen na mira da opinião pública mundial. Após uma fase de desprezo pelo procedimento, a pressão pública obrigou a companhia a iniciar uma negociação com as autoridades brasileiras. Para a tentativa de uma reparação pelos crimes cometidos, foram elencados pontos caros à Justiça de Transição.

Entre os diversos pontos levantados, destacamos a constituição de um espaço de memória, dedicado à luta da classe trabalhadora contra a ditadura e à participação empresarial no golpe de 1964 e em violações de direitos humanos durante o regime. A tentativa de constituir esse local – que vem sendo sistematicamente sabotada pela empresa – faz parte de um compromisso firmado entre as Centrais Sindicais brasileiras e todos os que participaram do GT Ditadura e repressão aos trabalhadores e ao movimento sindical (GT-13) da Comissão Nacional da Verdade, como registrado nas recomendações do grupo à CNV. Sela, ainda, a compreensão comum construída: o golpe de 1964 não foi uma quartelada, mas uma ação de classe que contou com a participação ativa do empresariado nacional e transnacional e suas organizações, rebaixando os padrões de vida da classe trabalhadora, destruindo suas organizações e maximizando lucros. Daí a centralidade do registro da classe trabalhadora como sujeito da resistência e como alvo da ditadura civil-militar.

Como afirmaram Adriano Diogo*, Rosa Cardoso** e Sebastião Neto*** em manifesto distribuído em 13 de março de 2020, durante o seminário que marcou os 5 anos da Comissão Verdade do Estado de São Paulo – Rubens Paiva:

ação padrão das empresas é agir para apagar a seus crimes. Por todo o mundo, corporações sempre mobilizam seu poder financeiro para apagar seus crimes e não serem mais perturbados. Não aceitaremos esse tipo de chantagem. Garantir um local de referência – que possa ser visitado e conhecido e, também, atuar na produção e difusão de conhecimento – é reafirmar que nossa memória não está a venda.


Murilo Leal é professor do Departamento de História da Unifesp-Osasco e integrante do Projeto memória da Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo.

Gabriel Dayoub é pesquisador do IIEP e integrante do Projeto memória da Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo.

* Presidente da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo – Rubens Paiva (2012-2015)

** Integrante da Comissão Nacional da Verdade (2012-2014) e coordenadora do Grupo de Trabalho Ditadura e repressão aos trabalhadores e ao movimento sindical (GT-13)

*** Secretário-executivo do GT-13 da CNV (2013-2014) e coordenador do IIEP


Referências:

[1] https://www.brasildefato.com.br/2019/08/21/ditadura-e-volkswagen-promoveram-o-maior-incendio-da-historia-nos-anos-1970

[2] https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,o-dops-sabia-da-presenca-de-mengele-no-brasil,1028459

[3] https://www.youtube.com/watch?v=1iWmAmvNMNg

[4] A declaração foi lembrada pelo historiador Antoine Acker no artigo “‘The Brand that Knows our Land’: Volkswagen’s “Brazilianization” in the “Economic Miracle”, 1968-1973”. Disponível em: https://www.cairn.info/revue-mondes1-2014-1-page-197.htm?contenu=auteurs

[5] Ver o importante artigo de Acker “A responsabilidade histórica da Volkswagen no Brasil de Bolsonaro”, disponível em: https://www.cartacapital.com.br/opiniao/a-responsabilidade-historica-da-volkswagen-no-brasil-de-bolsonaro/

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Brasília

Agora com a ajuda do genro de Silvio Santos, brasileiros são levados ao matadouro

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A muvuca que o vírus gosta: Doria "libera" comércio para a Covid-19

Por Ricardo Melo*

O Brasil está no fundo do poço. Não pretendia gastar muito tempo com Bolsonaro, um facínora orgulhoso de sua condição.

Mas não pode passar sem registro seu ato mais recente: criar um ministério para o genro de Silvio Santos, o tal Fabio Faria.

Para quem não se lembra, Fabio Faria é aquele mesmo, deputado pilhado pagando passagens com verba parlamentar para namoradas como Adriane Galisteu e família.

Membro do tal centrão, agora “colega de trabalho” do sogro decrépito e capacho de qualquer governo, Fabio Faria une o inútil ao desagradável aos olhos do povo: engrossa a gangue do capitão no Congresso e fortalece os laços com o dono de uma emissora já conhecida como Sistema Bolsonaro de Televisão. Sim, o SBT, que entrou para a história ao tirar do ar um telejornal de horário nobre para não se indispor com seu patrão do Planalto.

A patiFaria corre solta.

Falemos dos governadores e prefeitos que tentaram posar de equilibrados de olho em dividendos eleitorais.

Não durou muito tempo. Um exemplo. João Dória, o Bolsodória, e seu assecla Bruno Covas vinham fazendo discursos ¨humanitários” até outro dia. Seu repertório esgotou-se tão rápido quanto sua sinceridade.

São Paulo, assim como o Brasil, vive um momento de ascenso da pandemia. O número de vítimas cresce sem parar. Qualquer aspirante a médico sabe que é hora de reforçar as poucas medidas de defesa à disposição. A única à mão enquanto não se descobre uma vacina é manter as pessoas isoladas e dar a elas condições de sobreviver.

O que faz Bolsodória? O contrário. Libera geral. Manda abrir tudo obedecendo ao comando de seus tubarões do Lide de sempre. As fotos estampadas nas redes mostram multidões circulando pelas ruas indefesas diante do apetite do coronavírus e dos senhores das bolsas de valores.

No Rio, a mesma coisa. Assim como Bolsodória, Witzel segue na prática os mantras de quem o elegeu: “E daí”. Ou: “todos vão morrer mesmo. É o destino”. Enquanto isso, faz o que parecia inacreditável. Alimenta uma máquina de corrupção à custa do sofrimento de milhares de brasileiros. Contrata a construção de hospitais a preços hiper super faturados que nunca saíram do papel. Assim acontece em vários outros estados. “Governantes” valem-se da morte do povo para engordar seus cofres particulares.

Tentei evitar, mas tenho que falar de Bolsonaro novamente. Depois de tentar esconder as mortes e roubar o Bolsa Família, ele e seu capanga preferido, Paulo Guedes, estudam ampliar o prazo da esmola aos desvalidos. Como? Em vez dos trocados de 600 reais que até hoje não chegaram a milhões que morrem de fome, fala-se em… 300 reais!! Faça vc mesmo os cálculos para ver o tamanho do disparate.

O destino dos países, mais do que nunca, depende da juventude, do povo trabalhador e de governantes responsáveis (a esse respeito, pesquisem no google o nome Jacinda Ardern, da Nova Zelândia. uma sugestão: https://www.brasil247.com/oasis/jacinda-ardern-quando-a-coragem-restaura-a-politica).

Chega. Não, não pague as dívidas, apenas as indispensáveis que podem te deixar sem luz, água, gás. Peça ajuda aos poucos advogados honestos, cada vez mais raros, é verdade. Procure a parte sadia da OAB. Recorra às organizações populares, aos sindicatos ainda dignos deste nome e, sobretudo, aos coletivos de jornalistas que se libertaram da mídia oficial. Ignore o palavrório dos políticos cínicos, hipócritas e ladrões, seja qual for o partido. E, se puder, fique em casa.

O Brasil depende dos brasileiros dignos desse nome.

 

*Ricardo Melo, jornalista, foi editor-executivo do Diário de S. Paulo, chefe de redação do Jornal da Tarde (quando ganhou o Prêmio Esso de criação gráfica) e editor da revista Brasil Investe do jornal Valor Econômico, além de repórter especial da Revista Exame e colunista do jornal Folha de S. Paulo. Na televisão, trabalhou como chefe de redação do SBT e como diretor-executivo do Jornal da Band (Rede Bandeirantes) e editor-chefe do Jornal da Globo (Rede Globo). Presidiu a EBC por indicação da presidenta Dilma Rousseff.

 

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Censura

Militares fazem o que sabem de melhor: esconder os mortos

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Imagine uma epidemia que se alastra rapidamente e mata entre 10% e 20% dos infectados. Imagine que essa epidemia mata principalmente crianças e em especial as da periferia, com menor acesso ao saneamento básico e à saúde. Agora, imagine que por três anos os meios de comunicação sejam censurados nas reportagens sobre a epidemia, que os médicos sejam proibidos de dar entrevistas e que o Ministério da Saúde, controlado por militares, não divulgue os números corretos sobre a doença e as mortes. Isso já aconteceu no Brasil, e não faz tanto tempo assim.

Entre 1971 e 1974, pelo menos 60 mil pessoas de sete estados brasileiros (40 mil só em São Paulo, o epicentro da epidemia) foram infectadas pela bactéria causadora da meningite. Até hoje é impossível precisar quantos morreram. Mas para impedir o que achavam ser uma histeria dos médicos, os militares decidiram esconder esses fatos, e os mortos, da população. Centenas, talvez milhares de crianças, aliás, foram enterradas na mesma vala comum clandestina do cemitério de Perus, na capital paulista, onde eram jogados os corpos de dissidentes políticos torturados e mortos pelo Doi Codi.

Um ótimo vídeo curto sobre a epidemia de meningite e a maquiagem de dados da ditadura militar está disponível no canal Meteoro.doc. Ontem, o canal publicou um novo vídeo, tratando especificamente da atual maquiagem de dados e da disputa de narrativas entre o novo governo militar, que teoricamente ainda não é uma ditadura, e os meios de comunicação para se informar ou desinformar a população.

O tratamento governamental da epidemia de meningite dos anos 1970 só vai mudar em 1974, com um novo general no poder e a aquisição pelo governo de 80 milhões de doses da vacina. Sim, já havia vacina para a meningite e o governo sabia que se tivesse feito uma campanha de vacinação anos antes, teria poupado milhares de vidas. Mas pra que admitir um genocídio se podia dizer que havia um “milagre econômico”? É como disse a ex-secretária da Cultura, Regina SemArte: é muito peso carregar essa fileira de mortos.

Telegrama da Polícia Federal ordenando a censura nos dados sobre a epidemia de meningite. Fonte: Twitter do historiador Lucas Pedretti @lpedret. Como os telegramas não tinham pontuação, usavam a sigla VG para vírgula e PT para ponto final.

Assim, em julho de 1974, com a admissão oficial de que havia uma epidemia, o jornalista Clovis Rossi, então trabalhando no jornal O Estado de São Paulo, preparou uma grande reportagem de capa, intitulada Epidemia de Silêncio, na qual dizia: “Desde que, há dois anos aproximadamente, começaram a aumentar em ritmo alarmante os casos de meningite em São Paulo, as autoridades cuidaram de ocultar fatos, negar informações, reduzir os números referentes à doença a proporções incompatíveis com a realidade — ou seja, levando, deliberadamente, a desinformação à população e abrindo caminho para que boatos ocupassem rapidamente o lugar que deveria ser preenchido per fatos. Fatos que as autoridades tinham a obrigação, por todos os títulos de esclarecer ampla e totalmente”. Leia a matéria completa aqui.

Mas, claro, militares não gostam que digam quais são suas obrigações e publiquem que estão desinformando a população. Assim, a matéria de Rossi foi censurada e em seu lugar o Estadão publicou um trecho do poema Os Lusíadas, de Luís de Camões.

Por causa da Lei da Anistia, de 1979, os militares jamais foram responsabilizados criminalmente pelas mortes na pandemia e nem pelas torturas, mortes, desaparecimentos e ocultação de cadáveres de dissidentes políticos. Mas talvez a história não se repita com a pandemia de coronavírus. Ontem, o Supremo Tribunal Federal, atendendo a uma ação dos partidos Psol, PCdoB e Rede Sustentabilidade, determinou a divulgação diária das informações sobre os dados de Covid-19 até às 19h30, pelo Ministério da Saúde. E também ontem, o Tribunal Penal Internacional de Haia, na Holanda, decidiu analisar a denúncia do PDT de genocídio promovido pelo Governo Bolsonaro. Esse é um caso raro, já que normalmente o TPI só julga ex-governantes acusados de crimes contra a humanidade.

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