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Lição de coragem e Democracia: dois alunos do Colégio Bandeirantes exigem Lula Livre bem ao lado de Bolsonaro

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O menino Ivan, de 15 anos, e G., de 16 anos, fizeram o sinal de Lula Livre a dois metros do rosto de Bolsonaro e mostram que acreditam no direito de divergir

Por Laura Capriglione e Lina Marinelli, dos Jornalistas Livres

 

“E este movimento do pessoalzinho aí que eu cortei verba, o que vocês acharam?”, indagou Jair Bolsonaro a um grupo de 36 alunos do Colégio Bandeirantes, o Band, como a escola é carinhosamente chamada, que faziam uma excursão pela Capital Federal neste sábado (18).

“Um lixo. A gente é estudante de verdade. A gente estuda”, respondeu um dos alunos.

A imprensa deu destaque para a frase do aluno chamando seus colegas das escolas públicas e de várias particulares de “lixo”. Deu voz para os estudantes gritando “Ô Bolsonaroooo, cadê você, eu vim aqui só pra te ver”.

Seria a prova de que, ali, onde se pratica um ensino hiper-competitivo, todos os alunos e professores endossam os cortes de 30% nos orçamentos das universidades e institutos federais de ensino. Só que não.

O que não se mostrou, o que a assessoria de imprensa de Bolsonaro escondeu e o Colégio Bandeirantes convenientemente deletou foi a “foto pra posteridade” do encontro de Bolsonaro com os alunos. Por quê?

Porque ali, no meio de tanta festa, de tanta balbúrdia, de tantos sorrisos perfeitos de estudantes brancos, 15-16 anos, frequentadores de uma escola de elite, que cobra mensalidades de R$ 4.000… Ali, bem pertinho de um Bolsonaro “simplão” na medida certa, de sandália, short amarelo e a camisa do segundo uniforme da Seleção Brasileira, feliz por ainda receber algum apoio quando até mesmo os entusiastas de sua candidatura pulam do barco… Bem, ali, no meio da festa, dois estudantes tiveram a coragem de destoar da farra, conscientes de que não há o que comemorar no Brasil dos nossos dias.

Trata-se de Ivan, de 15 anos, e G., de 16 anos, que corajosamente, no meio da euforia juvenil do presidente e seus fãs, ousaram desafinar o coro dos contentes e fazer um “L” perfeito, “L” de Lula Livre, contra o desmanche da Educação e a destruição de direitos, que Bolsonaro representa.

Tem mais: quatro alunas não quiseram sair na foto-felicidade e retiraram-se, chorando.

Mauro de Salles Aguiar, diretor presidente do Colégio Bandeirantes, apoiou o presidente Jair Bolsonaro nas últimas eleições (fez campanha contra Fernando Haddad e o PT), além de explicitamente endossar a candidatura da atual senadora Mara Gabrilli, do PSDB de São Paulo, enviando propaganda aos pais.

Para ele, os Jornalistas Livres enviaram o seguinte questionamento:

Prezado professor Mauro Aguiar,

Estamos escrevendo uma reportagem sobre o encontro do presidente Jair Bolsonaro com os estudantes do Colégio Bandeirantes, neste sábado (18).

Segundo uma mãe de aluno essa atividade de visita a Brasília é realizada todos os anos. Havia outros colégios visitando o palácio no mesmo momento, mas o presidente resolveu conversar apenas com os seus alunos. Por quê?

O senhor apoiou o presidente Jair Bolsonaro nas últimas eleições (fez campanha contra Fernando Haddad e o PT), além de apoiar a candidatura da atual senadora Mara Gabrilli, do PSDB. Qual a sua opinião sobre a Escola Sem Partido, projeto tão caro ao presidente Jair Bolsonaro?

Gostaríamos de entrevistar o estudante que trava o diálogo a seguir com o presidente. Claro que isso seria feito com a anuência dos pais ou responsáveis. O senhor poderia intermediar esse contato?

Aqui o diálogo:

“E este movimento do pessoalzinho aí que eu cortei verba, o que vocês acharam?”, indagou Jair Bolsonaro a um grupo de 36 alunos do Colégio Bandeirantes, uma das escolas mais caras de São Paulo, que faziam uma excursão pela Capital Federal neste sábado (18).
“Um lixo. A gente é estudante de verdade. A gente estuda”, respondeu um dos alunos.”

 

Hoje, domingo (19), os meninos e meninas do Band chegarão a São Paulo, vindos de avião de Brasília. No saguão do desembarque, a mãe de Ivan, Fabiana Kelly, estará com outras mães, para levar uma mensagem de tolerância e amor a todos os alunos, e de solidariedade a Ivan e aos demais membros da comunidade escolar que se sentiram usados e ultrajados pela propaganda pró-Bolsonaro.

“Eles não autorizaram que tivessem suas imagens juvenis usurpadas pela máquina de campanha do presidente.”

“Mas nossos cartazes são de amor e de ênfase no diálogo. O bullying com quem pensa diferente de nós é um caminho sem volta para a barbárie”, diz Fabiana.

 

Nesta segunda-feira (20), o Colégio Bandeirantes enviou à imprensa a seguinte nota, que reproduzimos na íntegra:

“Há 6 anos, os estudantes do ensino médio do Colégio Bandeirantes fazem uma viagem para Brasília. Acompanhados de professores de história e geografia, os alunos têm a oportunidade de conhecer o Palácio da Alvorada, o Senado, a Catedral Metropolitana de Brasília, entre outros espaços. A proposta é promover uma vivência em lugares onde a política brasileira acontece, saber mais sobre personagens da história do Brasil e, ainda, desfrutar da arquitetura e da arte presentes na capital. Para a surpresa da equipe pedagógica e dos próprios jovens, pela primeira vez, um Presidente da República  recepcionou-os de forma não programada e casual. Sem restrição ideológica, a instituição valoriza a pluralidade, o pensamento crítico e a liberdade de expressão de sua comunidade de estudantes.”

 

 

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20 Comments

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  1. KAUE

    19/05/19 at 22:27

    Que merda em kkkkk, corte de 30%, ainda estão insistindo nessa ?

    • Laura Capriglione

      19/05/19 at 23:44

      Sim, Kauê! O próprio Bolsonaro chama de cortes, quando lhe convém. Foi assim na própria conversa entre ele e o estudante do Bandeirantes. Preste atenção! E é corte (e Bolsonaro sabe disso) porque não há hipótese de a economia melhorar, com a bagunça que o governo está patrocinando em todas as áreas –inclusive no comércio exterior, dificultando as exportações de commodities do Brasil para os países árabes e a China, além da Europa.

  2. José Carlos

    19/05/19 at 22:46

    Muito bom ver jovens reagindo. Sinal de que não estão vendados como tantos outros. Em relação a imaturidade do sr presidente no comentário infeliz, como tantos outros, a respeito do “movimento do pessoalzinho aí que eu cortei verba”, todos os alunos precisavam reagir, principalmente porque, pelo que sei, muitos pagam uma boa mensalidade com desejos de ingressarem numa faculdade Federal, agora com corte nos investimentos. Amei a foto e, como já era de se esperar, nenhum negro!

  3. THEREZINHA DE CARVALHO ALVES

    19/05/19 at 22:49

    Coragem para enfrentar o imbecil. Esses alunos estão de parabéns. Apesar da maioria desses pais apoiarem Bolsonaro, dois alunos esclarecidos e politicamente conscientes pensam o contrário. Parabéns Ivan e J. Brasil livre. Imbecis voltaram em Bolsonaro. O brasileiro precisa acordar antes que ele afunde ainda mais o Brasil
    Impichemany

  4. Marcos

    20/05/19 at 0:28

    Bolsonaro desgraçado

  5. Marcos

    20/05/19 at 0:31

    O que esperar de um cara que defende bandido igual o edir macedo

  6. Francisco Erinaldo de sousa

    20/05/19 at 0:39

    o mal nunca vencerá! e esse pessoalzinho sem capacidade pode até tentar, mas não vai conseguir nos vencer!LULA LIVRE.

  7. Valdir

    20/05/19 at 2:24

    Parabéns
    Estes jovens têm personalidade.

  8. Douglas Neto

    20/05/19 at 2:56

    LULA LIVRE 🔴Nova eleições

  9. Josué

    20/05/19 at 5:12

    Como uma pessoa que dissemina ódio e intolerância e ainda é capaz de usar o nome de Deus em seu slogan (“conhecereis a verdade e a verdade vos libertará… Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”)… É muita hipocrisia! Infelizmente, tem muito brasileiro cego, que ainda insiste em defender esse cara, que fala mal da educação do país, e a atitude que ele toma pra melhorar é cortar verba da educação…

  10. João Neto

    20/05/19 at 7:15

    Esse bostonaro é um comediante não sei como é que o povo elege um desequilibrado desse pra presidente

  11. João Neto

    20/05/19 at 7:16

    Lula livre já

  12. Lúcia V.

    20/05/19 at 8:25

    É preciso ser muito mentecapto para apoiar esse desgoverno.

  13. Leandro

    20/05/19 at 10:40

    Sinceramente esse Bolsonaro pra mim não passa de um lixo. Que não entende de nada de política. Muito menos de governar um país. Ele tem é que pedir pra sair. Só quem apoia esse b… são os burgueses. Que nunca precisaram de cotas, universidade federais, entre outros.

  14. Danielle Mariano

    20/05/19 at 12:29

    Fabiana Kelly, fada sensata, ensinar tolerância e respeito é algo raro hoje em dia. Conheço as crianças, e hoje vejo que o Ivan é espelho da Educação e respeito que aprendeu com os pais!

    Independente de ser pró ou contra deve-se respeitar as opiniões e exaltar o amor!

  15. Adriana

    20/05/19 at 14:05

    O Presidente Bolsonaro zomba dos pobres e menos favorecidos, diz que nas escolas do Estado só tem miseráveis burros e ignorantes, e ainda têm gente apoiando essa palhaçada? Sendo de direita ou de esquerda todos somos iguais perante a Deus, e ele que se dizia tão religioso está mostrando seu pior lado, o demoníaco, voltado aos bens materiais! Não se arrependeu de chamar nossos filhos(as) de idiotas úteis, imbecis, não pediu desculpas, pelo contrário continua batendo de frente, dizendo que ele está certo, e pq a pessoa é de outro partido vai prejudicar a todos, isso não é política. General Mourão chegou a hora do senhor parar esse homem, pois ele tem que ser contido! Bolsonaro vai acabar com nosso país, agindo com ameaças, ditador do medo, eu votei nele e hoje ao orar peço perdão a Deus pelo meu erro! Pelo meu pecado, pois não imaginava que ele tinha um coração tão duro, um homem impiedoso!😭😭😭

  16. Marcelo Dias Montero

    20/05/19 at 17:56

    Lindo de ver a consciência e coragem dessa dupla

  17. Renata

    20/05/19 at 18:39

    Foram corajosos, sem dúvida, assim como as estudantes que se recusaram a sair na foto e também os que reclamaram depois de terem se sentido obrigados a dar paisagem para o horroroso presidente. É difícil ir contra a maré num colégio tão caro e espero que estes estudantes sejam respeitados pelos demais, não são obrigados a agir como robôs e se há um resquício de democracia têm direito à liberdade de expressão, ou seja, têm direito ao gesto Lula Livre e a se retirar da foto. Dois alunos do Colégio Bandeirantes se suicidaram no ano passado, o que já deve ter sido trauma suficiente para a comunidade escolar. Que convivam todos democraticamente e sejam capazes de respeito mútuo.

  18. Idalia Iezzi

    20/05/19 at 21:34

    Parabéns pela iniciativa e coragem desdes alunos. Que outros jovens se manifestem com repúdio a esse e muitos atos desse coisa ruim.

  19. Amanda Fernandes Teixeira Cordeiro

    21/05/19 at 1:37

    Posar para foto com quem quer acabar com a universidade brasileira… Isto não tem sentido nenhum. Parabéns aos garotos que protestaram.

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Nota da ABI – Bolsonaro mente na ONU e envergonha o Brasil

No seu discurso na manhã desta terça-feira na Assembléia Geral das Nações Unidas, o presidente Jair Bolsonaro contribuiu para que o Brasil caminhe para se tornar um pária internacional.

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No seu discurso na manhã desta terça-feira na Assembléia Geral das Nações Unidas, o presidente Jair Bolsonaro contribuiu para que o Brasil caminhe para se tornar um pária internacional.
Sem qualquer compromisso com a verdade, o presidente afirmou que seu governo pagou um auxílio emergencial no valor de mil dólares para 65 milhões de brasileiros carentes, durante a pandemia. O auxílio foi de 600 reais.
Bolsonaro mentiu
O presidente responsabilizou, ainda, índios e caboclos pelos incêndios na Amazônia e no Pantanal, que alcançam níveis nunca antes vistos no País. Todas as investigações, inclusive de órgãos oficiais, indicam que fazendeiros estão na origem das queimadas.
Como se vê, de novo Bolsonaro mentiu.
O presidente transferiu a responsabilidade para governadores e prefeitos pelos quase 140 mil mortos vítimas do coronavírus. Todo o país é testemunha de sua leviandade, ao classificar a pandemia de “gripezinha” e ir na contramão dos procedimentos defendidos pelas autoridades de Saúde.
Assim, mais uma vez Bolsonaro mentiu.
A ABI, com a autoridade de seus 112 anos de existência em defesa da democracia, dos direitos humanos e da soberania nacional, repudia esse comportamento que vem se tornando recorrente e conclama o povo brasileiro a não aceitar o verdadeiro retrocesso civilizatório que o governo está impondo ao País.
Paulo Jeronimo – Presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI)

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Sem papas na língua. Juliano Medeiros no Dialogando de hoje

Quais interesses políticos estão por detrás da próxima disputa eleitoral? Tudo isso e um pouco mais, sem papas na língua, como diz o Pastor Fábio. Vem!

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Quais interesses políticos estão por detrás da próxima disputa eleitoral? No Programa Dialogando desse domingo (26/07), 18h, o Pastor Fábio recebe Juliano Medeiros, presidente do PSOL para um papo sobre eleições e aprendizados da pandemia que passa por uma das fases mais críticas do momento, onde prefeituras e governos de vários Estados do país programam reabertura de mais uma parcela considerável de setores, enquanto isso, a mídia normaliza as curvas ascendentes do número de infectados pelo Coronavírus.

Outra pergunta que precisa ser respondida é qual é o sentido das eleições serem realizadas ainda neste ano? Quais interesses políticos estão por detrás da próxima disputa eleitoral? Tudo isso e um pouco mais, sem papas na língua, como diz o Pastor Fábio. Vem!

Assista, compartilhe. comente e mande perguntas no Facebook.

Juliano Medeiros é um jovem dirigente político da esquerda brasileira e desde janeiro de 2018 ocupa a presidência do Partido Socialismo e Liberdade. Historiador e Mestre em História pela Universidade de Brasília, é Doutor em Ciências Políticas pela mesma instituição.

Co-autor e organizador de Um Mundo a Ganhar e Outros Ensaios (Multifoco, 2013), Um Partido Necessário – 10 anos do PSOL (Fundação Lauro Campos, 2015) e Cinco Mil Dias: o Brasil na era do lulismo (Boitempo, 2017), colabora com sites, jornais e revistas no Brasil e exterior.[2]

Em 2018 coordenou a campanha de Guilherme Boulos à Presidência da República pelo PSOL[3] e, no segundo turno, após decisão do partido, passou a integrar a coordenação da campanha de Fernando Haddad[4]. Desde a vitória de Jair Bolsonaro, participa do Fórum dos Presidentes de Partidos de Oposição[5].

Durante mais de uma década Juliano Medeiros foi dirigente da corrente interna Ação Popular Socialista – Corrente Comunista do PSOL. Em Junho de 2019, a APS-CC se fundiu com o Coletivo Rosa Zumbi e mais oito coletivos regionais para fundar a Primavera Socialista, atualmente maior tendência do PSOL, da qual Juliano também é dirigente.[6]

Fábio Bezerril Cardoso é Pastor, cientista social, ativista social e Cofundador & Coordenador da Escola Comum e atualmente apresenta o Programa Dialogando, todos os domingos, às 18h. É um dos pastores progressistas que têm lutado pela defesa dos povos periféricos e costuma não ter papas na língua para falar sobre a realidade desses lugares. A produção é de Katia Passos, com arte de Sato do Brasil.

Conheça mais sobre a atuação do Pastor Fábio https://www.facebook.com/fabio.bezerrilhttps://www.facebook.com/fabio.bezerril

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Hilário Ab Reta Awe Predzaw e a história de um povo, historicamente, moído pelo ódio ou indiferença

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Por Diane Valdez, professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás, militante do Movimento de Meninos(as) de Rua e Comitê de Direitos Humanos Dom Tomás Balduíno

 

 

Hilário Ab Reta Awe Predzaw, 43 anos, morador da Aldeia Xavante N. S. de Guadalupe, em Barra do Garças, Mato Grosso, morreu na madrugada de 18 de junho de 2020, vítima do descaso governamental que permitiu a chegada do Coronavírus em sua comunidade. Era aluno do 5º período do curso de Pedagogia da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás. Sua tia morreu há pouco mais de uma semana vítima do mesmo descaso, a mãe e seus dois irmãos, seguem contaminado pelo vírus, assim como outros Xavantes e outras pessoas de etnias indígenas de todo o Brasil.

Hilário entrou na UFG, pelo sistema de cota para indígenas, no ano de 2018. Chegou com o já conhecido atraso histórico de acesso dos povos originários no ensino superior, ainda que a UFG seja uma das universidades públicas que tem buscado cumprir com o direito de povos indígenas ao ensino universal, o acesso e a permanência ainda sofrem de fragilidade.

A trajetória de Hilário, na UFG, não se limitou às dificuldades ocasionadas pela pobreza, como muitos de nossas/os alunas/os enfrentam. A academia era um outro mundo, distante de sua comunidade, não só em quilômetros, como também em movimentos culturais, sociais e políticos. Talvez essa distância, o fazia um aluno reservado e observador, sem abrir mão da seriedade e interesse pelo conhecimento.

Era umas das lideranças de seu povo, portanto, sabia da responsabilidade que assumia frente a comunidade, ele seria um professor, um educador de seu chão, de sua gente. Hilário trabalhava em uma escola, com o formato de um Tatu Bola, na sua aldeia, trabalhava na área de serviços gerais, em breve voltaria como Professor!

No primeiro ano de curso, Hilário, na desconfiança de seu silêncio indígena, que não significava submissão, tentava se inserir no mundo acadêmico. Veio um tempo, que largou tudo e voltou para a aldeia, não por opção dele, mas por opção deste desgoverno que é incansável na destruição de direitos dos povos originários.

O Ministério da Educação e Cultura, suspendeu todas as bolsas de permanência para a população indígena e quilombola. Um grupo de alunas e professoras se juntaram, arrecadaram dinheiro e o trouxeram de volta para a Faculdade. Foi feita uma mobilização de docentes e discentes sensibilizados e a Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis da UFG, cumprindo seu importante papel, disponibilizou uma bolsa e outros auxílios emergenciais.

Nessa ocasião, quando perguntado sobre o porquê de não falar nada dos problemas para colegas, e voltar para sua comunidade, Hilário disse que achava que ninguém sentiria falta dele.

No segundo ano, trouxe seu curumim para estudar em Goiânia, começou a trabalhar como intérprete na escola, acompanhando seu filho na dificuldade com a lingua. Era visível seu orgulho de exercer a função de intérprete. Lutou e enfrentou as diferenças que separavam as culturas e, como muitos, guerreou como seus ancestrais, para não perder seu lugar de legítima conquista.

No início da Pandemia, que começou junto com o semestre letivo, Hilário resistiu em voltar para sua comunidade, tinha medo das aulas retornarem e ele não estar presente na Faculdade, isso aponta o lugar que a UFG ocupava em sua vida. Quando percebeu que seu povo não estava acreditando na letalidade do vírus, retornou para alertar todos sobre o perigo. A UFG, cumprindo seu papel de instituição pública, providenciou o transporte para seu retorno no Mato Grosso.

Em maio, informou para duas amigas, que sua comunidade precisava de cobertores, pois fazia muito frio, e seu povo estava adoecendo. Elas mobilizaram, imediatamente, uma Vakinha On Line, onde arrecadou-se pouco mais de três mil reais, no entanto, como o total da arrecadação demora para ser liberado, emprestaram dinheiro e compraram os cobertores de forma mais hábil, enviando-os dia seguinte.

Os sintomas que atingia a comunidade, febre, falta de ar etc. já indicavam que era Coronavírus, no entanto, isso não foi motivo de interesse governamental, que poderia ter evitado o alastramento do vírus.

Ao apresentar os sintomas da doença, Hilário mostrou-se resistente em ir para o hospital, tinha dificuldade de aceitar o tratamento “dos brancos”. Acreditava nos rituais de seu povo, no tratamento natural que conhecia há tempos. Por outro lado, a histórica resistência dele, fazia todo sentido, pois sabemos como os povos indígenas são tratados neste país tão indígena que não se reconhece como indígena. Foi convencido a ir para o hospital e, na última conversa com as amigas em chamada por vídeo, estava muito escuro, e a família arrumou uma lanterna para as meninas verem o rosto dele, que disse para elas, em lágrimas, que estava somente suado, quando perguntado se estava com medo, disse que sim, que estava com muito medo…

A ida para o hospital foi acompanhado de longe pelas amigas, falavam sempre com a Assistente Social que afirmava que Hilário estava se recuperando, que receberia alta a qualquer momento. Nessa madrugada, ao pedirem informações sobre o amigo no hospital, alguém disse que alguém havia morrido, mas não sabia o nome. O nome de mais um número morto é Hilário Ab Reta Awe Predzaw, que deixou a mulher, filhos e todo seu povo Xavante.

O acesso dos povos indígenas ao ensino superior é recente, no entanto, é marcado por extrema coragem e resistência, pois o mundo acadêmico não é de todo um espaço acolhedor. Ainda que a dureza prevaleça na universidade, Hilário encontrou solidariedade e amizade na Faculdade de Educação, ainda que não seja uma solidariedade coletiva, foi construído uma rede de apoio, tanto de alunas/os, como também de docentes, isso pode ter aliviado sua dura estrada longe de seu chão.

Hilário não morreu porque “chegou a hora dele”, morreu por não ter o direito de ser mais um indígena, digno de necessários cuidados. Hilário, era um homem parte do “povo indígena”, um povo invisibilizado, injustiçado, espezinhado, humilhado e, odiado por este desgoverno.

Um povo com suas terras ameaçadas e roubadas pelo latifúndio, mortos por pistoleiros do agronegócio, ironizado e menosprezado por representantes deste desgoverno, ignorado por gente nativa que se acha descendente de europeus, machucados por todos que acham que universidade não é lugar de indígenas.

Não sei falar de fé, nem de ‘destino’, nem de coragem para aliviar o cansaço de um tempo incansavelmente dolorido. Ironicamente, para não dizer, funestamente, o tal ministro da educação, que afirmou odiar a expressão “povos indígenas”, ampliando seu descaso com a educação, revogou hoje [H OJ E], (19/06) a portaria assinada pelo ex-ministro de educação, Aluísio Mercadante, que estabelecia a política de cotas para negros, indígenas e pessoas com deficiência em cursos de pós-graduação. Hilário, estaria fora da pós-graduação, se dependesse deste ser desumano.

Quando lanternas começaram a iluminar caminhos de direitos para esta população, no interior de nossas universidades públicas, ainda que timidamente, um furacão de perversidade em formato de governo, dá pontapés e pisa, moendo, as possibilidades de justiça. Feito bandeirantes, grupos genocidas a frente das decisões da nação, estimulam a morte em todos os formatos. Deixar que o coronavírus atue, sem controle, é a proposta de morte atual para os povos originários.

Como Hilário, temos medo, muito medo, mas agarremos as lanternas, e assumimos nosso lugar na defesa dos povos indígenas, não os condenando a escuridão, como muitos fazem.

Hilário Ab Reta Awe Predzaw presente!

Este texto foi escrito com informações coletadas com as alunas, companheiras de Hilário, da turma do quinto período de Pedagogia da Faculdade de Educação/UFG, Dorany Mendes Rosa e Raysa Carvalho.

A elas e a toda turma, meu carinho e solidariedade.

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