S. Paulo — Cento e trinta e três anos após sua morte, Luiz Gama, ex-escravo, jornalista, poeta, ativista político e líder abolicionista, que com sua oratória brilhante e inflamada, ajudou a libertar mais de 500 negros nos Tribunais, será finalmente reconhecido oficialmente como advogado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
A cerimônia vai acontecer na próxima terça-feira (03/11) na Universidade Presbiteriana Mackenzie. Segundo o presidente do Conselho Federal da OAB, Marcus Vinicius Furtado Coelho “no atual modelo de advocacia é a primeira vez que isso ocorre”.
Gama nasceu em 1.830 e morreu em 1.882 e, além da sua história (filho de um português com uma escrava liberta foi vendido pelo pai quando tinha apenas 10 anos), foi um ativista de enorme prestígio não apenas entre os negros, mas também entre setores liberais da sociedade da época. Ele estudou Direito por conta própria e passou a exercer a função de advogado (rábula) após conseguir a alforria aos 17 anos.
É dele uma frase que o colocaria hoje como um militante radical:
“O escravo que mata o senhor, seja em que circunstância for, mata sempre em legítima defesa”.
“Embora não fosse advogado, Gama era um grande defensor da abolição e sua atuação como rábula livrou inúmeras pessoas dos grilhões escravistas”, acrescenta o presidente da OAB.
Tataraneto
Na cerimônia, Luiz Gama será representado por um tataraneto, o empresário Benemar França, 68 anos, um de seus 20 e tantos descendentes vivos, o engenheiro e empresário Benemar França, 68. “Tomei contato com a biografia desse meu antepassado quando estava no 2º ano ginasial e um professor de história pediu que pesquisássemos, cada um, sobre as nossas famílias, a nossa genealogia”, conta o empresário. “O que descobri encheu-me de orgulho”, acrescenta.
Além da condecoração póstuma, o evento Luiz Gama: Ideias e Legado do Líder Abolicionista prevê dois dias de palestras e debates no Mackenzie.
Morte e enterro
O enterro do líder abolicionista no Cemitério da Consolação foi um dos maiores já registrados em S. Paulo à época com 40 mil habitantes: 10% da população paulistana compareceu. Segundo o jornal “O Estado de S. Paulo”, não houve transporte oficial para o cortejo fúnebre. Do Brás, onde morava, o caixão foi passando de mão em mão até chegar à sepultura.