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A crise no jornalismo está na mídia tradicional, e não na mídia alternativa

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O 14° Congresso Estadual dos Jornalistas em Minas Gerais trouxe o debate “Jornalismo e Comunicação em tempos de crise”. Para a mesa de debate foram convidados o jornalista João Paulo Cunha, colunista do jornal Brasil de Fato e presidente do BDMG Cultural, e Laura Capriglione, repórter e uma das fundadoras da rede Jornalistas Livres.

Para o jornalista João Paulo Cunha, que também é formado em filosofia e psicologia, o jornalismo vive quatro crises: a do capital (econômica); a política; a da técnica e linguagem e a epistemológica, que se traduz na falta de conhecimento.

Mas nem tudo está perdido no mundo da informação. Para ele, Jornalistas Livres, NINJA e Brasil de Fato são exemplos da imprensa alternativa no Brasil que estão na guerrilha da informação: “o que a chamada grande mídia sempre fez e vem fazendo é silenciar o outro lado, anulando qualquer tipo de divergências e diálogo”.

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A crise do jornalismo parece mesmo afetar apenas a velha e tradicional mídia, principalmente a brasileira, que para os jornalistas, sempre esteve muito voltada a interesses econômicos e políticos: o jornalismo não dá dinheiro e traz menos poder, tudo o que os grandes meios de comunicação nunca quiseram.

Laura Capriglione, que foi por anos repórter da Folha de São Paulo, disse que a mídia tradicional não representa as pessoas, e por isso ela está perdendo cada vez mais espaço para as narrativas independentes. “O jornalismo está voltando para os jornalistas e está mais vivo do que nunca. Nunca houve representação na mídia tradicional, mas hoje há um esgotamento. Sobre o processo histórico que vivemos (impeachment de Dilma), ela só fala disso, só pensa nisso, e só quer isso. A prioridade é vender o golpe”.

Laura, que é uma das fundadoras dos Jornalistas Livres, disse que o problema da mídia alternativa é não pensar grande. ” Temos que entrar na disputa com o coração aberto e se apropriar das armas do inimigo. Se o que atrai público é cultura, esporte e Gerais, vamos fazer também. Na época da ditadura, a imprensa alternativa, que eu consumia, era chamada de nanica. Por que? porque era cara uma produção. Mas hoje temos a internet e somos milhões de conectados”.

Para a jornalista, que também é formada em sociologia, a mídia tradicional, além não ser ser representativa, é preconceituosa: “as redações são brancas, nem isso eles têm o cuidado ainda em São Paulo. Outra forma de preconceito é só mostrar morte nas favelas, não mostram as manifestações culturais. Nós temos que melhorar muito também, precisamos melhorar. Mas no dia da votação do impeachment na Câmara, por exemplo, os Jornalistas Livres alcançaram 20 milhões de pessoas. A gente recebe mensagens de pessoas se dizendo apaixonadas, além de representadas, com nosso trabalho. Eu não fico feliz de ver revista fechando, pois há sempre os colegas jornalistas que passam pelo triste processo de desemprego, mas podemos e devemos criar meios para a mídia alternativa existir cada vez mais.

O 14º  Congresso Estadual dos Jornalistas  é realizado pelo Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais e ocorreu nos dias 29 e 30 de abril.

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1 Comment

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  1. Renato Souza

    04/05/16 at 0:09

    Só pode ser piada. O suposto jornalista João Paulo Cunha dizer que a mídia alternativa é representada por grupos como Jornalistas Livres, NINJA e Brasil de Fato, que nem se quer fazem jornalismo. Esses grupos apenas apresentam sua versão totalmente parcial e politizada dos fatos de acordo com suas ideologias pessoais, sem dar espaço para quem pensa o contrário. Para se fazer jornalismo, a primeira regra é sempre dar espaço para os dois lados da história. A segunda é prezar pela imparcialidade, mesmo que não alcance sua totalidade. A mídia tradicional vive uma crise econômica, como todos os setores do País. A mídia alternativa vive uma crise de espaço, onde grupos com interesses ideológicos se acham no direito de falar por esse tipo de imprensa.

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Feminismo

ATO: MULHERES CONTRA O DESMONTE DAS POLÍTICAS DE ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA NA CIDADE DE SÃO PAULO

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#CDCMFicaDoriaSai #CDCMsFicamDoriaSai! As políticas de atendimento às mulheres vítimas de violência na cidade de São Paulo estão em risco!

Desde que assumiu, o prefeito Doria Jr. opera um verdadeiro desmonte das políticas para as mulheres na cidade de São Paulo. Num de seus primeiros atos, Doria extinguiu a Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres e criou dentro da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania, uma Coordenação de Políticas.

Os serviços e equipamentos, como os Centros de Cidadania da Mulher – CCM e Centro de Referência a Mulher – CRM, sob responsabilidade da extinta secretaria padecem sem funcionárias, sem recursos e correm risco de serem fechados, como já aconteceu como CRM Onóris Ferreira Dias, em São Miguel Paulista. A Casa da Mulher Brasileira, apesar de já estar pronta, segue fechada e não se sabe se e quando ela começará a atender as mulheres vítimas de violência na cidade de São Paulo.

Como se não bastasse, Doria Jr. anuncia o corte de cerca de R$ 3,5 milhões nos serviços que atendem as mulheres vítimas de violência, os Centros de Defesa e Convivência da Mulher – CDCM, sob gestão da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social.

Doria Jr. determina esse corte mesmo sabendo que nos primeiros 3 meses desse ano, os atendimentos realizados por esses serviços aumentaram em mais de 30%. Enquanto isso, crescem as estatísticas de violência contra as mulheres na cidade de São Paulo. Os casos de estupro também aumentaram na cidade em mais de 20%, em relação ao mesmo período do ano passado. Alarmantes também são os números de assassinatos de mulheres – feminicídios – sobretudo na zona sul e leste da capital.

Essas iniciativas evidenciam que para Dória Jr. as políticas de enfrentamento à violência e de atendimento das mulheres vítimas de violência não são prioridade! Assim, o movimento de mulheres na cidade de São Paulo, atento ao desmonte das políticas para as mulheres na cidade, convoca para o ato contra o desmonte das políticas públicas para as mulheres, em especial as destinadas ao enfrentamento e a atendimento as mulheres vítimas de violência.

Por Lina Marinelli | Jornalistas Livres

 

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Geral

Relatório denuncia violações de direitos humanos aos Guarani do Oeste do Paraná

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Por Júlio Carignano – Guaíra (PR)

“Você tem que ir agora, senão quiser morrer aqui mesmo. Fiquei assustado, mas tive coragem e falei: se você quiser fazer alguma coisa, matar alguém do nosso povo, pode matar. Se tem coragem me mata agora. Mas ele não me matou. Deu cinco tiros pra cima e foi embora. Eram mais de cinquenta. Muitos, muita gente”.

“(…) eu não nasci pra isso. Pra mim é dor. Dói muito, muito mesmo, porque eu nunca vivi assim. Mas não vou me entregar. Por isso estamos aqui”. Esse relato simboliza a luta de um povo que reivindica as terras de seus ancestrais numa região de colonização forçada pelo esbulho dos territórios das comunidades tradicionais estabelecidas às margens do Rio Paraná.

São histórias de quem viveu e ainda convive com violência, agressões e preconceitos e que estão reunidas no relatório “Guaíra & Terra Roxa sobre violações de direitos humanos contra os Avá Guarani”, lançado neste 9 de agosto, Dia Internacional dos Povos Indígenas, data de várias mobilizações pelo país contra a tese do marco  temporal (leia abaixo) e os retrocessos impostos aos direitos dos povos originários pelo governo Temer.

Elaborado pela Comissão Guarani Yvy Rupa, com apoio do Centro de Trabalho Indigenista (CTI), o relatório traz violações aos direitos humanos cometidos contra os quase dois mil Avá Guarani que habitam a região. Pesquisa realizada por uma equipe de oito pessoas – entre indígenas e não indígenas – que visitaram pelo menos três vezes cada uma das 14 aldeias da região com o propósito de fazer entrevistas, reunir dados e documentos que comprovassem essas violências e violações.

Além de ouvir o testemunho direito de indígenas, o grupo colheu depoimentos de não indígenas que trabalham em contato permanente com as comunidades. “O objetivo deste trabalho é dar voz as comunidades Guarani do Oeste do Paraná. É trazer ao conhecimento das autoridades as violações que nosso povo sofre e também ser um documento de fortalecimento de nossa luta pelo direito a terra, a saúde, a educação diferenciada como previsto na Constituição”, explica Alexandre Ferreira, da coordenação da Comissão Guarani Yvy Rupa.

O objetivo de caciques e lideranças Guarani é que o relatório chegue ao conhecimento de entidades e organizações internacionais. “As autoridades locais e estaduais sabem o que acontecem aqui nas nossas comunidades, estão cansados de saber e não fazem nada. Por isso queremos que essas denúncias cheguem a autoridades maiores, cheguem até as organizações internacionais para que saibam que no Oeste do Paraná não se respeita a Constituição e os tratados internacionais”, diz Paulina Martines, liderança da aldeia Tekoha Y’hohy.

Foto: Júlio Carignano

Marcha

O lançamento oficial do relatório aconteceu na Escola Mbyja Porã da Aldeia Marangatu, município de Guaíra, com a participação de comunidades de Guaíra e Terra Roxa, lideranças indígenas de outros estados, autoridades políticas e do poder judiciário, da FUNAI (Fundação Nacional do Índio) e entidades ligadas aos direitos humanos e a causa indígena. Cerca de 500 indígenas saíram em marcha pelo município até a prefeitura e o Ministério Público Federal, órgãos públicos onde o documento foi protocolado.

Antes do protocolo oficial, os indígenas fizeram rezas e danças tradicionais em frente ao paço municipal, além de pronunciamentos públicos denunciando o retrocesso em seus direitos, o preconceito e hostilidade de parte da sociedade da região e o discurso dos veículos de comunicações locais aliados aos interesses do agronegócio e que criminalizam a luta indígena. Essa atuação da mídia regional também faz parte do relatório, que compilou matérias e reportagens contrárias às comunidades tradicionais.

Foto: Júlio Carignano

Proteção

A publicação revela a negação de direitos básicos fundamentais, tais como o acesso à água, ao saneamento básico e aos serviços de saúde e educação. Além disso, reúne diversos casos de violências físicas, agressões, tentativas de assassinato e os inúmeros casos de preconceito contra indígenas no Oeste do Paraná.

Todas essas situações são acompanhadas pelo Ministério Público Federal, que também foi fonte do documento e que desde novembro do ano passado tem ampliado sua atuação de proteção às comunidades tradicionais de Guaíra e Terra Roxa, tanto os povos indígenas quanto os quilombolas, como explica o procurador da República Dermeval Ribeiro Vianna.

“Temos a missão constitucional de ouvir as comunidades, suas necessidades e resguardar seus direitos previstos na Constituição Brasileira e dentro dos ditames da Corte e Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Nosso papel é buscar a resolução dos conflitos agrários e das violações de direitos fundamentais”, aponta.

Para o procurador, a violação dos direitos fundamentais – como acesso à luz, alimentação, saneamento básico, educação – está diretamente ligada à questão territorial. “Essa região sofre com a ausência de demarcações, não há nenhuma terra demarcada em Guaíra e Terra Roxa e, a partir do momento que eles não têm terras, esse povo sofre um dano espiritual. São territórios em batalhas judiciais, não conseguem acesso a luz, não tem moradia adequada, os serviços públicos não chegam, há casos de desnutrição, vivem de cesta básica em situação de vulnerabilidade e miséria”.

A ausência de demarcações na região é alvo de uma das ações civis públicas do MPF que requer condenação da FUNAI. Além disso, o órgão tem agido extra judicialmente, expedindo recomendações e notificações a entidades que promovem o preconceito e a violência contra os indígenas. Uma delas é a intitulada “ONGDIP” – Organização Nacional de Garantia ao Direito de Propriedade.

“Há inquéritos policiais em andamentos, algumas ações penais já foram ajuizadas no passado contra pessoas que promoviam manifestações de preconceito e expedimos recentemente uma recomendação, há um mês, para que uma dessas “ONGs” retire de sua página manifestações de ódio e façam controle de suas publicações por parte de terceiro”, comenta o procurador, explicando que o MPF está sempre em vigilância e recebendo denúncias tanto na forma física ou virtual.

Foto: Júlio Carignano

Marco temporal: o novo ataque ruralista

Uma das principais bandeiras dos grupos contrários aos direitos territoriais indígenas, com forte representação no Congresso Nacional e no governo federal, é o chamado “marco temporal” – uma tese político-jurídica inconstitucional, que estabelece que só teriam direito à demarcação os povos que estivessem em suas terras em 5 de outubro de 1988, data de promulgação da Constituição.

A tese ignora o histórico de remoções forçadas e outras violências sofridas ao longo de séculos pelos povos indígenas. O marco temporal pode ser adotado em julgamentos do Supremo Tribunal Federal marcados para o dia 16 de agosto.

Em meio às negociações do presidente Michel Temer para evitar seu afastamento da presidência, os ruralistas do Congresso conseguiram emplacar essa pauta no governo federal. Temer assinou, em julho, um parecer da Advocacia Geral da União obrigando todos os órgãos do Executivo a aplicar o “marco temporal” e a vedação à revisão dos limites de terras já demarcadas – inclusive visando influenciar o STF.

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Comportamento

Sobre formas e a nova cara do Jornal Nacional

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Durante o trabalho noturno de leituras e correção de trabalhos de alunos(as), rendo-me à assistência do JN, agora com nova roupagem. Em meus interesses sobre a forma das coisas, comecei a observar detidamente o cenário, a bancada. E confesso que tive dificuldade em permanecer atenta por uma questão de ótica: o exagero dos (d)efeitos visuais, como bem lembrou Valmir Costa, as luzes que se assemelham aos holofotes de grandes eventos e, assim, vão nos anestesiando com seus efeitos alucinógenos. Letreiro de motel de beira de estrada perde feio. Mas como forma não é mero detalhe, dá pra intuir que essa mudança (mais uma num lapso de tempo relativamente curto) sinaliza para algo de fundo, para a decadência do jornalismo global que tenta nos engabelar por meio de uma duvidosa plasticidade e beleza visual (o termo global aqui tem sentido duplo: planetário e da Rede Globo. Refiro-me, claro, a esse modelo de negócio que se desmancha).

Vem de longa data a relação forma X conteúdo, todos(as) sabemos. Vistos de maneira dicotômica, quase sempre o segundo levou vantagem sobre a primeira no que diz respeito à produção de sentidos. No entanto, temos uma longa discussão teórica, eu mesma a enfrentei no doutorado, sobre a importância da forma na produção de sentidos. O pensador Mouillaud, já teria afirmado o quanto a hierarquização entre forma e conteúdo não é produtiva: o termo conteúdo remete à metáfora de uma caixa ou de um escrínio nos quais um objeto está, de fato, “contido”. Para esses analistas, a própria língua era apenas um envelope do sentido, do qual era necessário extrair as “categorias”, assim como se separa a amêndoa do caroço. (…). À primeira vista, a embalagem e o objeto podem ser separados sem que o objeto perca sua identidade; entretanto, um perfume continuaria a ser um perfume sem seu frasco? O presente permanece um presente sem as fitas e as graças que os envolvem? A prece é prece sem seu gestual? (MOUILLAUD, 1996: 29).

Renata Vasconcellos, Roberto Irineu Marinho e William Bonner na inauguração do novo estúdio do Jornal Nacional (Foto: João Cotta/Globo)

Considerando, então, que forma e conteúdo são indissociáveis, a nova identidade visual deve ser percebida e analisada como um forte indício de que as matérias, os textos também já foram solapados, rebaixados a uma categoria estética e política que de jornalismo não tem nada. A cobertura política da política disso nos dá testemunho. Prospectemos, portanto, novas formas, formatos de notícia. Decididamente, o JN é triste retórica que atrasa o país. Descendo ladeira abaixo, quer nos levar a todos para o precipício.
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*Rosane Borges, 42 anos, é jornalista, professora universitária e autora de diversos livros, entre eles “Esboços de um tempo presente” (2016), “Mídia e racismo” (2012) e “Espelho infiel: o negro no jornalismo brasileiro” (2004).

Foto: Divulgação/ Globo

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