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Cresce o protagonismo de travestis e transexuais no ativismo LGBT

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A III Conferência Municipal LGBT de São Paulo( CMLGBT-SP), que foi realizada nos dias 04 e 05 de março, foi marcada por um fato inédito na história do movimento LGBT brasileiro: os novos atores e atrizes travestis, mulheres transexuais e homens trans participando de forma maciça da cena política. “Isso está incomodando, principalmente a comunidade gay, porque eram sempre os gays que falavam por todas as letrinhas. Agora a nossa comunidade de travestis, mulheres transexuais e homens trans está se levantando com voz própria”, declarou Lam Matos do Instituto Brasileiro de Transmasculinidade (Ibrat).

Desde o seu surgimento, no final da década de 70, como o “movimento homossexual”, a militância LGBT sempre foi marcada pela presença hegemônica de ativistas homossexuais masculinos. Já nos anos 80, as mulheres lésbicas se reuniam de forma independente, sendo incorporadas pelo nascente movimento feminista brasileiro. Foi apenas em 1993 que travestis e mulheres transexuais começaram a se articular politicamente, tendo em vista a luta contra a epidemia de Aids que sempre fez muitas vítimas na comunidade trans, fragilizada pela extrema vulnerabilidade social.

Embora já houvesse o protagonismo individual de homens trans desde 2004, a criação da Associação Brasileira de Homens Trans (ABHT), em 2012, e do Instituto Brasileiro de Transmasculinidades (IBRAT), em 2013, deu o impulso final a uma crescente articulação política de pessoas transmasculinas.

A III Conferência Municipal LGBT foi organizada pelo Conselho Municipal LGBT, um órgão “de caráter consultivo, deliberativo e propositivo” formado por 10 representantes da sociedade civil LGBT e 10 representantes do poder público, em parceria com a Coordenação Municipal de políticas LGBT. Foi realizada no Hotel Dan, no centro de São Paulo, e contou, em sua abertura no dia 04 de março, com a presença de Rogério Sotilli, secretário de Direitos Humanos da Presidência da República e de Eduardo Suplicy, secretário de Direitos humanos e Cidadania de São Paulo.

JL - Chapa Renovar a esperança

A Conferência aconteceu efetivamente no dia 05, com a parte da manhã destinada ao credenciamento dos delegados com direito a voz e voto que iriam participar do evento. Depois do almoço, oferecido apenas aos credenciados no próprio hotel, foi colocado à apreciação o regimento interno da Conferência para os delegados. O artigo 25, que tratava das regras da eleição dos representantes da sociedade civil que devem participar da Conferência Estadual LGBT, foi o ponto de maior disputa política.

As regras básicas para a formação das chapas eram que elas deveriam ter no mínimo 20 e, no máximo 100 integrantes, e que cumprissem os pré-requisitos de representatividade da comunidade LGBT, obedecendo os seguintes critérios: 60% de pessoas do gênero feminino, 35% de pretos e pardos, e ter pelo menos um morador/a das cinco regiões de São Paulo.

Thomas Fernando, do Ibrat, apresentou uma proposta alternativa ao sistema de chapas propondo que a disputa fosse individual que, segundo ele, garantiria maior paridade entre os representantes de cada segmento envolvido. Dessa forma, seria possível a eleição de pelo menos oito homens trans em vez de apenas um, ” levando em consideração que o número de homens trans que as chapas incluem é sempre para manter a cota.

Thomas criticou o governo por ao tornar pública as regras da composição das chapas apenas dois dias antes da conferência. “Como é que a gente vai compor as chapas dois dias antes, agregando tantos diferenciais: raça, idade, segment. Como é que a gente vai montar uma chapa com gente que a gente não conhece?”, desabafou a lideranca do Ibrat. Por votação por contraste, manteve-se o texto original das regras das chapas e foram formadas duas chapas.

A chapa “Bonde do rabo solto” teve 44 votos e foi defendida pelo advogado Dimitri, que declarou em seu discurso que o nome, “embora pareça jocoso, significa que temos a liberdade de falar em nome dos nossos interesses e não dos interesses da administração pública”, afirmou.

“Renovar a esperança” foi a chapa ganhadora com 118 votos, e que tinha em sua composição o maior número de travestis, mulheres transexuais e homens trans. A maior parte dos votos foram da comunidade trans que compareceu em peso à Conferência, em especial as alunas do programa Transcidadania que oferece, além das aulas tradicionais, o curso de Direitos Humanos e Cidadania. A chapa foi defendida pela bolsista do transcidadania, a travesti Aline Marques, num discurso inflamado que levantou a platéia aos gritos: “Viva as travestis, viva as travestis”.

“A gente quer a realidade, a gente quer que todas essas políticas saia do papel de uma vez por todas e venha até nós. Eu trabalhei 21 anos numa esquina e nenhuma dessas polítcas nunca me atingiu, a não ser o que está acontecendo agora.” concluiu Aline.

O coordenador municipal de políticas LGBT da cidade de são Paulo, Alessandro Melquior, pontuou em uma entrevista exclusiva para os Jornalistas Livres, que depois do lançamento do programa Transcidadania em 29 de janeiro de 2015, tem surgido uma nova articulação política mais empoderada da comunidade trans com o surgimento de três novas organizações na cidade de São Paulo: o Fórum Municipal de Travestis e Transexuais (FMTT) , o Grupo de resistência de travestis e transexuais ativistas (GRETA) e o Centro de Apoio e Inclusão de travestis e transexuais (CAIS).

“Não só a política LGBT, mas a política trans de uma maneira geral tem conquistado uma visibilidade enorme em São Paulo e isso, obviamente, tem gerado impacto positive. As trans se sentem mais valorizadas, se sentem mais emponderadas para ocupar um espaço”, diz Alessandro.

Ele avaliou também, que, apesar de todas as dificuldades estruturais, a III Conferência Municipal LGBT de São Paulo teve o mérito de ter sido a maior de toda a história de conferências desse ciclo no Brasil, com a participação de mais 450 pessoas LGBT e observadores. Além disso, ele acredita que o grande diferencial foi a mudança nos atores que sempre tiveram seu lugar de fala na militância lgbt.

“Esses novos atores que estão surgindo no movimento de travestis, principalmente as novas atrizes, estão querendo espaço e estão conquistando. Acho que o resultado da conferência é isso. Um número gigantesco de travestis e mulheres transexuais que saíram delegadas dessa conferência. Mostrando que tem muita gente nova querendo o microfone, e conseguindo. As pessoas vão ter que conviver com essa realidade”, resume Alessandro Melquior.

Com relação aos futuros desafios, Alessandro declarou que quer que as conquistas que há existem e que vão aparecer até o final desse ano passem a ser políticas de Estado, e não fiquem suscetíveis a governos. “Que os Centro de Cidadania LGBT e o programa Transcidadania possam ser leis. Assim, o próximo governo, seja ele qual for, não coloque em risco o que se conquistou. O que conseguimos na cidade de São Paulo não é patrimônio de São Paulo, é patrimônio do Brasil. ”

#EleNão

Moradores da Maré são bailarinos em espetáculo com temporada na Suiça

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Foto: Andi Gantenbein, de Zurique, Suíça, para os Jornalistas Livres

Denúncias sobre os atuais tempos de antidemocracia, assassinatos da população preta, pobre e periférica e o da vereadora Marielle Franco aparecem em cartazes erguidos pelos bailarinos de “Fúria”, espetáculo de Lia Rodrigues, considerada uma das maiores coreógrafas brasileiras da atualidade e uma das mais engajadas na realidade política do país.

A foto é da noite deste sábado (16), durante apresentação do grupo brasileiro no ‘Zürcher Theaterspektakel’, em Zurique, Suíça.

No Brasil, Fúria estreou em Abril, no Festival de Curitiba. A montagem evidencia, de maneira crítica, relações de poder, desigualdades, e as interligações entre racismo e capitalismo.

O espetáculo foi concebido no Centro de Artes da Maré, na Maré, RJ. O local foi inaugurado em 2009, e o projeto nasceu do encontro de Lia Rodrigues Companhia de Danças com a Redes da Maré. Os bailarinos são moradores da favela e de periferias do RJ.

Fruto dessa mesma parceria é a Escola Livre de Dança da Maré que resiste, em meio ao caos do governo violento de Witzel contra as favelas do RJ.

 

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Temer/Kassab preparam ataque ao seu direito à Internet

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O método Temer de solapar direitos dos cidadãos brasileiros tem novo alvo: a Internet. Sem qualquer discussão prévia, os golpistas querem mudar a composição do Comitê Gestor da Internet.

A consulta pública determinada pelo governo, sem diálogo prévio com os membros do Comitê e com apenas 30 dias de duração, certamente pretende aumentar o poder e servir apenas aos interesses das empresas privadas. As operadoras de telefonia têm todo o interesse do mundo em abafar as vozes de técnicos, acadêmicos e ativistas que lutam pela neutralidade da rede, por uma Internet livre, plural e aberta.

Veja, abaixo, a nota de repúdio ao atropelo antidemocrático da consulta pública determinada por Temer/Kassab. A nota é da Coalizão Direitos na Rede que exige o cancelamento imediato desta consulta.

Nota de repúdio

Contra os ataques do governo Temer ao Comitê Gestor da Internet no Brasil

A Coalizão Direitos na Rede vem a público repudiar e denunciar a mais recente medida da gestão Temer contra os direitos dos internautas no Brasil. De forma unilateral, o Governo Federal publicou nesta terça-feira, 8 de agosto, no Diário Oficial da União (D.O.U.), uma consulta pública visando alterações na composição, no processo de eleição e nas atribuições do Comitê Gestor da Internet (CGI.br).

Composto por representantes do governo, do setor privado, da sociedade civil e por especialistas técnicos e acadêmicos, o CGI.br é, desde sua criação, em 1995, responsável por estabelecer as normas e procedimentos para o uso e desenvolvimento da rede no Brasil.

Referência internacional de governança multissetorial da Internet,

o Comitê teve seu papel fortalecido após a

promulgação do Marco Civil da Internet (Lei 12.965/2014)

e de seu decreto regulamentador, que estabelece que cabe ao órgão definir as diretrizes para todos os temas relacionados ao setor. A partir de então, o CGI.br passou a ser alvo de disputa e grande interesse do setor privado.

Ao publicar uma consulta para alterar significativamente o modelo do Comitê Gestor de forma unilateral e sem qualquer diálogo prévio no interior do próprio CGI.br, o Governo passa por cima da lei e quebra com a multissetorialidade que marca os debates sobre a Internet e sua governança no Brasil.

A consulta não foi pauta da última reunião do CGI.br, realizada em maio, e nesta segunda-feira, véspera da publicação no D.O.U., o coordenador do Comitê, Maximiliano Martinhão, apenas enviou um e-mail à lista dos conselheiros relatando que o Governo Federal pretendia debater a questão – sem, no entanto, informar que tudo já estava pronto, em vias de publicação oficial. Vale registrar que, no próximo dia 18 de agosto, ocorre a primeira reunião da nova gestão do CGI.br, e o governo poderia ter aguardado para pautar o tema de forma democrática com os conselheiros/as.

Porém, preferiu agir de forma autocrática.

Desde sua posse à frente do CGI.br, no ano passado, Martinhão – que também é Secretário de Política de Informática do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações – tem feito declarações públicas defendendo alterações no Comitê Gestor da Internet. Já em junho de 2016, na primeira reunião que presidiu no CGI.br, após a troca no comando do Governo Federal, ele declarou que estava “recebendo demandas de pequenos provedores, de provedores de conteúdos e de investidores” para alterar a composição do órgão.

A pressão para rever a força da sociedade civil no Comitê cresceu,

principalmente por parte das operadoras de telecomunicações,

apoiadoras do governo.

Em dezembro, durante o Fórum de Governança da Internet no México, organizado pelas Nações Unidas, um conjunto de entidades da sociedade civil de mais de 20 países manifestou preocupação e denunciou as tentativas de enfraquecimento do CGI.br por parte da gestão Temer. No primeiro semestre de 2017, o Governo manobrou para impor uma paralisação de atividades em nome de uma questionável “economia de recursos”.

Martinhão e outros integrantes da gestão Kassab/Temer também têm defendido publicamente que sejam revistas conquistas obtidas no Marco Civil da Internet, propondo a flexibilização da neutralidade de rede e criticando a necessidade de consentimento dos usuários para o tratamento de seus dados pessoais. Neste contexto, a composição multissetorial do CGI.br tem sido fundamental para a defesa dos postulados do MCI e de princípios basilares para a garantia de uma internet livre, aberta e plural.

Por isso, esta Coalizão – articulação que reúne pesquisadores, acadêmicos, desenvolvedores, ativistas e entidades de defesa do consumidor e da liberdade de expressão – lançou, durante o último processo eleitoral do CGI, uma plataforma pública que clamava pelo “fortalecimento do Comitê Gestor da Internet no Brasil, preservando suas atribuições e seu caráter multissetorial, como garantia da governança multiparticipativa e democrática da Internet” no país. Afinal, mudar o CGI é estratégico para os setores que querem alterar os rumos das políticas de internet até então em curso no país.

Nesse sentido, considerando o que estabelece o Marco Civil da Internet, o caráter multissetorial do CGI e também o momento político que o país atravessa – de um governo interino, de legitimidade questionável para empreender tais mudanças –

a Coalizão Direitos na Rede exige o cancelamento imediato desta consulta.

É repudiável que um processo diretamente relacionado à governança da Internet seja travestido de consulta pública sem que as linhas orientadoras para sua revisão tenham sido debatidas antes, internamente, pelo próprio CGI.br. É mais um exemplo do modus operandi da gestão que ocupa o Palácio do Planalto e que tem pouco apreço por processos democráticos.

Seguiremos denunciando tais ataques e buscando apoio de diferentes setores,

dentro e fora do Brasil,

contra o desmonte do Comitê Gestor da Internet.

 

8 de agosto de 2017, Coalizão Direitos na Rede

 

Notas

1 A Coalizão Direitos na Rede é uma rede independente de organizações da sociedade civil, ativistas e acadêmicos em defesa da Internet livre e aberta no Brasil. Formada em julho de 2016, busca contribuir para a conscientização sobre o direito ao acesso à Internet, a privacidade e a liberdade de expressão de maneira ampla. O coletivo atua em diferentes frentes por meio de suas organizações, de modo horizontal e colaborativo. A nota está em https://direitosnarede.org.br/c/governo-temer-ataca-CGI/ .

2 Para ouvir a entrevista, à Rádio Brasil Atual, de Flávia Lefévre, conselheira da Proteste e representante do terceiro setor no Comitê Gestor da Internet, que afirma que as mudanças visam a atender interesses do setor privado e ferem caráter multiparticipativo do Comitê: https://soundcloud.com/redebrasilatual/1008-enrevista-flavia-lefevre

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Artigo

FRAGMENTO E SÍNTESE

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Ligar a tv logo cedo num pequeno quarto de hotel no interior do país é desentender-se dos fatos nos telejornais matutinos. Abre-se a janela e uma menina vai à escola à beira do rio, um menino faz gol de bicicleta entre guris e o homem ergue a parede de sua casa.  Tudo tão distinto das ruas em alvoroço de protestos urbanos ou políticos insanos.  No rincão o que se busca é continuar vivo entre chuvas e trovões, sem não ou talvez. Tudo é certo. Sem modernidades calam ou arremedam nossa urbanidade, gente que se defende com pimentas e ervas, oração e vizinhança. Voz sem boca, boca sem voz, essa gente não é parte nas notícias selvagens dos jornais distantes.  Se resolvem entre cozidos, arte, bola e santos. No país de tantos cantos, muitos voam fora da asa e sem golpes entre si vão tocando suas mazelas e graça.

Mas vivemos tempos obscuros, a noite persiste em nossos avançados quinhentos e tantos anos e muitos santos. Dizem que burro velho é difícil se corrigir nos hábitos. Em manhã chuvosa na grande São Paulo, ligo a tv e o notbook, as janelas se abrem antes que a cortina deixe entrar o novo dia. Surpreendente ver na tv o deputado Jair Bolsonaro afirmando em um clube israelita na cidade do Rio, que se presidente for, não teremos mais terras indígenas no país. Ao mesmo tempo o computador expõe na rede social a opinião de meu amigo Ianuculá Kaiabi Suiá, jovem liderança do Parque Indígena do Xingu, onde leio ao som do deputado que ladra:

Jair Bolsonaro, obrigado por você existir. Graças a você, hoje, temos noção de quanto a população brasileira carece de conhecimento, decência, consciência, juízo, amor e que carrega um imenso sentimento de ódio sem saber o porque. Sim, sim, não sabem. Um exemplo? Veja a bandeira de quem te aplaude, é de um povo que, assim como nós, sofreu as piores atrocidades cometidas pelas pessoas que pensavam como você. Enfim, eu não sei se essa parcela do povo brasileiro pode ser curada, mas vou pedir para um pajé fumar um charuto sagrado e revelar se o espírito maligno que se apossou da tua alma pode ser desfeita com uma grande pajelança.

Ianuculá sabe o que diz, sabe de todo martírio vivido pelos povos originários, e mesmo assim se propõe a consultar o mundo dos espíritos.

 

É deus e diabo na terra do sol, a mesma terra que ofende também abriga e anuncia uma mostra de cinema indígena nos próximos dias. Terra de etnias e corpos na terra, a cidade maravilhosa do Rio não se calará diante do fascismo desses tempos sombrios, acompanhe.

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