Noite em fim de feriado, e nos arredores diários da Vila Mariana vejo gente pendurada na parede alta de prédio desenhando índio de tinta em forma moderna de guerra.
É maluquice de artista, logo identifico.
Penso na maluquice sana entre toda a loucura que permeia as notícias nacionais. À luz do dia de hoje voltei à avenida Domingos de Moraes e me inteirei do assunto: é Crânio, o Fábio Oliveira, da periferia norte que encucou com índios em sua arte. É coisa de periferia enfiada na cuca da gente, coisa de índio no sangue que ninguém finda ou dá na conta, coisa que insiste no código da gente do Brasil.
Subo nas alturas com Crânio em determinado momento de vento na tarde. Spray na mão enquanto conversa comigo, ele insiste em dar pequenos detalhes em preto na bandeira verde e amarela em tapar o sexo do índio. Crânio me fala baixo entre o vento alto que sopra no guindaste que nos ergue:
a gente é tudo índio na floresta urbana, hoje só tem prédio onde era árvore, floresta de pedra. A gente tá aqui na máquina, mas eram dois homens antes conversando em cima da árvore. Dois índios. É isso que penso.