Por Marcha Mundial das Mulheres
Nesta quarta-feira (19), último dia do seminário internacional “Resistência e construção de movimento: confrontando o neoliberalismo desde a economia feminista e os comuns”, que teve início no dia 17 de junho, feministas de diversos países discutiram construção estratégica para o feminismo. A atividade, organizada pela Marcha Mundial das Mulheres (MMM), reuniu militantes das das Américas, Europa, África, Ásia e Oriente Médio.
Nesta reflexão, conduzida por Miriam Nobre, da MMM do Brasil, e Cindy Wiesner, da Glassroot International (EUA), as mulheres buscaram pensar sobre as especificidades do atual momento histórico e os desafios para a construção política de uma agenda internacionalista para o feminismo. A discussão foi dividida em três momentos diferentes: no primeiro, Tica Moreno, militante da Marcha no Brasil e Carmen Diaz, da MMM do México, compartilharam reflexões sobre a economia feminista. No segundo, Nalu Faria e Clarisse Paradis, da MMM no Brasil, falaram sobre democracia e Estado. Por fim, houve um momento de discussões em grupos, que foram coletivizadas em seguida.
Tica afirmou que a economia feminista é uma aposta política e teórica, uma ferramenta de construção de imaginários da nova sociedade que queremos construir, tanto quanto é a base das práticas que estão sendo empreendidas pelas mulheres nesta construção. Neste sentido, o feminismo faz uma crítica a ideia reducionista de economia como aquilo que é passível de monetarização. A economia é o conjunto de trabalhos, processos e relações que sustentam a vida.
O modelo hegemônico que propõe uma separação artificial entre o trabalho produtivo e reprodutivo o faz hierarquizando, explorando e invisibilizando a esfera dita reprodutiva, da qual as mulheres seguem sendo as principais responsáveis. Ao colocar a vida e a sustentabilidade no centro do debate e da ação política, a economia feminista nos coloca em uma outra posição, não hierarquizada, mas de interdependência entre as pessoas e ecodependência em relação à natureza.
Carmen organizou os elementos que já haviam aparecido durante o Seminário e que tem relação com este debate sobre economia feminista. Falou sobre a crise internacional, o ataque às democracias e as falsas soluções que estão sendo apresentadas neste cenário pelas empresas e forças de direita. Embora o atual momento político guarde características que são de fato novas, muitas contradições que hoje estão aparentes para o conjunto da sociedade são, na verdade, características intrínsecas do capitalismo heteropatriarcal e racista. Hoje falamos em “plataformização” do trabalho e destruição do vínculo laboral. Há muito falamos da precarização do trabalho e da vida das mulheres e homens.
“Extrativismo, megaprojetos, cortes em educação, saúde, privatização dos comuns, do Estado e mudança climática são todas manifestações concretas da lógica predatória que organiza o neoliberalismo”, listou. Desde territórios diversos, as mulheres denunciam há tempos que esta organização é incompatível com a vida.
Nalu reafirmou que temos a tarefa militante de refletir, historicamente, sobre o papel e a formação do Estado. Neste momento, é preciso considerar a anormalidade da conjuntura. Forjar uma suposta normalidade democrática nos coloca de frente para falsos dilemas e, sobretudo, falsas soluções. “Não há como estar nos espaços de poder sem um processo de construção de poder popular, de organização e mobilização permanente”, nos lembra.
Ela completa dizendo que o capitalismo se consolidou com um discurso de liberdade que falseia a realidade, o que não significa que a liberdade e a democracia não sejam uma luta de quem quer superar este sistema econômico e político. “Somos quem melhor podemos falar de liberdade e democracia, porque queremos construir condições para que elas aconteçam. Queremos acumular forças para uma mudança mais forte e transformadora”, afirma Nalu.
Para Clarisse, “a ideia dos comuns vem como um instrumento de enfrentamento ao processo de mercantilização e de esvaziamento da política”. Os comuns dizem respeito à natureza, à nossa comunicação feminista, à luta contra-hegemônica, aos nossos espaços auto-organizados e populares. São, portanto, uma das chaves fundamentais para nossa organização, que precisa “cumprir seu necessário papel diante dos ataques do capitalismo”.
Cindy, da MMM dos EUA, refletiu sobre as sínteses e convergências na construção da economia feminista como alternativa e estratégia de luta e de força popular para transformar as estruturas de poder e as bases que sustentam a vida.