Na emblemática Funarte MG, local que já foi Casa do Conde e hoje é ponto de resistência da cultura contra o golpe em diversos estados, representantes da comunicação do Coletivo Intervozes, da Rádio Inconfidência e do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra discutiram a importância da resistência da comunicação no momento político brasileiro e de lutar pela democratização dos meios.
Como disse Mayrá Lima, representante da comunicação do MST: “A política também passa pelos meios de comunicação.”. No Festival Nacional, Mayrá ressalta a importância de discutir os impactos da não-democratização da comunicação, que são sentidos pelos movimentos sociais pela forma como são retratados nas mídias tradicionais, que detém o monopólio da comunicação brasileira.
“A gente não está tratando de um assunto que é simples. Tratar de comunicação é lidar com a ideologia, a formação de ideologias e de cultura de um povo e nós estamos em maus lençóis. Eles tem a facilidade de padronizar discursos que podem até criminalizar os movimentos sociais.” – Mayrá Lima, comunicação do MST.
Sobre a criminalização, Ana Cláudia Mielke, do Coletivo Intervozes, aponta a importância de resistir na luta pela democratização, ainda que o senso comum, endossado pelas reportagens de jornais, rádios e TVs hegemônicos, ainda julgue como censura a pluralidade de vozes.
“Toda vez que nós que somos militantes da democratização da comunicação, falamos sobre o tema, nós somos carimbados como censuradores. Mas se formos olhar países liberais, eles já regulam a comunicação. A ideia é garantir que quando haja uma violação dos direitos humanos, as emissoras sejam punidas, e hoje isso não acontece no Brasil.” – Ana Cláudia Mielke, Coletivo Intervozes.
Para ela, “uma das nossas lutas além de garantir a regulação dos meios, é a regulação do conteúdo. Os meios de comunicação, que são um bem nosso, devem nos garantir um bom conteúdo. Quando a gente fala em regular o conteúdo não falamos de censura, mas de um mecanismo para garantir um conteúdo de qualidade e que não fira os direitos humanos.”
No campo da comunicação pública, Elias Santos fala do modo como a Rádio Inconfidência atua em Belo Horizonte e batalha pelas pautas que são de interesse público. ” Na Rádio Inconfidência trabalhamos sob os pilares da educação, cultura e cidadania, esta é uma batalha porque qualquer emissora que se ponha num contraponto ao que está acontecendo no país estará com problemas.”
Elias também explica que “a comunicação é algo inerente ao ser humano. Nós todos temos a necessidade de comunicar”, e por isso, é importante discutir com as pessoas, principalmente com os jovens, sobre o tema da comunicação.
“Há um incômodo numa parcela da juventude com o que está acontecendo na comunicação. Direito é uma batalha todo dia.” – Elias Santos, Rádio Inconfidência.
Dentro da luta de classes, o MST enxerga que a comunicação é um tema que deve ser educador, propagandeador, formador e agitador. Para o movimento, a garantia de direitos só vem com luta. Se a resistência no campo, nos acampamentos e assentamentos, se dá com o plantio da terra, a necessidade de comunicar é o que garante ao movimento mais organicidade e leva para a população uma visão mais realista sobre a própria atuação do MST. E se depender do movimento, cada vez mais a voz da mídia estará na boca do povo.