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CARTA ABERTA A FERNANDO HOLIDAY DE UM NEGRO A OUTRO NEGRO

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O democrata Fernando Feriado (DEM-SP), aquele que construiu uma legislatura contra o holiday da consciência negra, entra na frente sul-americana de batalha, iniciada por Trump (o que salvou a América do socialismo-democrata de Berni… Hilary!), contra o FAKE NEWS.
Tudo começou quando a intrépida jornalista Tatiana Farah, do site BuzzFeed Brasil (site que todos conhecemos por listas tiradas de pérolas do Twitter), publicou uma matéria que denunciava Caixa 2 na campanha de Holiday. Dada a repercussão da acusação,  Fernando Holiday foi convidado a dar entrevista por telefone a Fábio Pannunzio da Rádio Bandeirantes.

Como “confusão” é palavra usada por jornalismo ruim que nada esclarece, vamos ao que aconteceu nos quase quatro minutos de “entrevista”: (I) o jornalista iniciou a entrevista com a convicção formada a respeito da culpa do suspeito, que é negro. (II) Por meio de tom intimidatório, deixou o acusado em situação desconcertante; (III) fazendo com que logo perdesse o controle sobre suas emoções. (IV) O acusado grita, desesperado para provar a inocência, e (V) logo é acusado de mal-educado pelo jornalista que encerra a entrevista. Nada de novo no jornalismo brasileiro: a narração que vemos aqui poderia muito bem ser aplicada a algum repórter de noticiário sangrento de algum programa de televisão como Brasil Urgente, também do Grupo Bandeirantes. Mais uma vez o negro foi colocado como um “marginal”.
Mas em respeito ao Vereador, não vamos colocá-lo na posição de vítima do jornalismo brasileiro. Lembremos que toda a sua campanha e legislatura se dão contra o “vitimismo” dos pobres, negros e homossexuais. Pannunzio repetiu o jornalismo ruim das grandes mídias; mas seu maior demérito foi não ter deixado Holiday falar. Por isso, vamos nos atentar mais ao vídeo divulgado pelo próprio Fernando.

Primeiro o vereador começa seu ataque ao site e à jornalista, que é acusada de apoiar o PT e o PSOL. E eis a primeira contradição: se é mentira tudo o que é dito por jornalista com posição política, então o próprio vereador não deveria dar tanto crédito a denúncias contra o PT feitas pelos “jornalismo” da Veja e da Globo, que por sua vez, são veículos de imprensa nitidamente de direita. Logo, se o que se falou do Holiday pela Tatiana Farah é mentira, o que se falou do Lula pelo William Waack também é?!
Depois diz que há um incômodo pelo jeito novo de se fazer campanha. Eu desafio o Fernando Holiday a provar a novidade em: (I) fazer parte de um partido envolvido em várias denúncias de corrupção, (II) fazer campanha de ódio contra movimentos, partidos e conquistas sociais à esquerda, (III) usar a internet e compartilhamentos por parte de seguidores (GRANDE NOVIDADE, COMO NINGUÉM MAIS TINHA PENSADO NISSO?!) e, claro (IV) uso de dinheiro não declarado à justiça eleitoral (caixa 2 se fosse petista) para pagar panfleteiros. O “inventor da roda” das campanhas eleitorais cai no “eterno retorno” de criticar a Dilma.

É um niilista, que procura preencher o vazio da política com a demonização de determinadas personalidades.
Mas Fernando Holiday é “Legal”, amigo da Lei e inimigo da corrupção. Então ele vem com seu grande trunfo, que nós, conspiradores-bolivarianos-militantes não esperávamos, o Art. 27 da Lei 9.504/97 que diz:  Qualquer eleitor poderá realizar gastos, em apoio a candidato de sua preferência, até a quantia equivalente a um mil UFIR, não sujeitos a contabilização, desde que não reembolsados.

Se eu fosse o Pannunzio, teria deixado o vereador explicar este artigo num verdadeiro malabarismo de hermenêutica jurídica. Eu adoraria perguntar se o problema de Fernando Holiday é não entender do que é acusado ou não conseguir intepretar o texto legal (ou o que é pior: tirar o cidadão de ignorante). Pois, o que tem a ver um artigo que fala que o “eleitor pode realizar gastos” com o “eleitor que recebe R$ 60,00 para fazer campanha”? Será que eles pagaram a própria força de trabalho? Ninguém falou em um militante super engajado que desembolsou dinheiro para a campanha do então candidato. Mas de um candidato que desembolsou dinheiro sem declarar à Justiça Eleitoral.

Mas num ponto, falando por mim, que sou negro, o vereador tem razão: eu não admito na Câmara qualquer pessoa, negra ou branca, que seja contrária às cotas raciais, ou qualquer outra política pública para negros. Mas Fernando Holiday é negro, e se acha, por conta disso, legitimado para falar em nome de todos nós. Mas há algo que preciso ressaltar aqui: não existe superioridade moral alguma em ser um oprimido. E eu não nego que Holiday, por ser negro, de classe baixa e homossexual, seja um oprimido. Mas quando está trabalhando pela causa opressora, não age de modo tão diferente daqueles negros que se submeteram ao UNDAR, imposto pelos brancos, para, por meio da vassalagem, agirem contra outros negros.

Nossa legitimidade, Fernando, vem de nossa luta. Nossa legitimidade vem de nos recusarmos a perpetuar este longo histórico de escravidão, exclusão social e genocídio negro. Um negro na política não significa que somos livres e temos poder político enquanto negros. O racismo não é mera questão subjetiva, mas material: significa mais mortes, mais encarceramento, menos espaço para negros e salários menores. E eu não espero que você aceite o argumento da História, quando nega seu próprio histórico apagando todas os seus vídeos anteriores à sua campanha. Vídeos em que chamava de “vermes” aquele que lutam contra o racismo.

Minha solidariedade a ti, vai ao limite de você não sofrer tudo aquilo que o nosso povo sofre. Não te quero longe das universidades; nem encarcerado em prisões terríveis e muito menos morto. Eu te quero vivo, por mais que te veja engrossando as fileiras de uma política racista, machista e classista. Lembre-se, Fernando Holiday, que um negro que age contra nós negros, é como um austríaco que atacou a Áustria.

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3 Comments

3 Comments

  1. Gorete Batistasilva

    27/03/17 at 14:46

    Hermínio Porto, a história está cheia de “Fernandos Holiday. Resta-nos esperar para ver o que vai acontecer com o nosso contemporâneo. Acredito que, daqui a pouco nem seus apoiadores o aguentarão, de tão arrogante. Infelizmente já terá prestado um grande desserviço à causa dos oprimidos brasileiros, sejam negros ou não.

  2. Elio Flores

    30/03/17 at 16:21

    Talvez o primeiro Holiday tenha sido Henrique Dias, que lutou contra os negros e a favor dos brancos no século XVII. Foi até Lisboa lamber as botas dos escravocratas pelos altos serviços prestados, isto é, assassinar outros negros quilombolas.
    Mas eu concordo com o articulista, nem por isso vamos deixar de seguir a nossa luta, batalhar uma educação antirracista, visibilizar o protagonismo negro libertário e emancipador.
    Eu sou mais Zumbi, Dandara, Luiz Gama, e todos aqueles que realmente representaram o povo negro.
    Holiday representa a si mesmo, apenas a si mesmo. É odioso e raivoso, ao passo que as grandes lideranças negras foram generosas e alegres. Vide Lélia Gonzalez.

  3. Soeli

    05/04/17 at 16:44

    Este Holiday não passa de versão atualizada do capitão do mato.

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LUTA ANTIRRACISTA PRECISA ACERTAR A ‘CABECINHA’ DE WILSON WITZEL

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Há anos a tática sobre segurança pública no Rio se concentra em operações espetaculares que resultam, de tempos em tempos, em um derramamento de sangue, com direito a traficantes, moradores de comunidades e policiais mortos.

O roteiro todos já conhecem. Unem-se policiais de diversos batalhões, eles invadem determinada localidade com poder de fogo muito superior, e terminam matando principalmente a ponta da cadeia do tráfico, a base da estrutura das facções, enquanto seus líderes comandam tudo de longe ou de dentro dos presídios, e no dia seguinte um novo comando paralelo se instala no mesmo lugar.

É uma máquina de moer gente. Mata-se loucamente, e no dia seguinte é como se nada tivesse mudado.

A situação é esta porque em certos locais do Rio a única chance de um jovem criado em situação de miséria comprar um tênis da moda é segurando uma arma que ele não sabe atirar direito. A parcela da população favelada que sobra do espaço da cidadania, por motivos que vão desde abandono familiar, déficit educacional ou imposição de terceiros, é seduzida por uma rede comércio ilegal que promete dignidade no contexto da extrema exclusão e sacrifica a vida destas pessoas como copos descartáveis.

São quase sempre jovens negros, no tráfico, na polícia ou nas casas vizinhas ao confronto entre eles. E suas mortes não comovem nem de perto tanto quanto o cãozinho morto na porta do Carrefour.

É assim desde que a abolição foi seguida pela recusa em absorver os negros no mercado formal de trabalho e a imigração de estrangeiros brancos para substituí-los. A pobreza se perpetuou a partir da negligência em gerar oportunidades e condições de vida saudável, e nela a criminalidade floresceu desde sempre.

Se soubesse da história do Rio, Wilson Witzel, o novo governador eleito no estado, que repete a palavra matar o tempo todo para agradar os ouvidos de uma classe média tanto preocupada com roubos quanto é racista, adepta de praias segregadas, odienta do funk, do samba e de pagode, faria algo para interromper a espiral macabra que corrói sua sociedade por dentro.

Alteraria o atraso social com políticas públicas inteligentes de ensino integral, cooperativas de trabalho, reforma do sistema penitenciário, investimento em tecnologia da informação e preparo de suas polícias. Enfrentaria o racismo com mais educação e cultura, e não faria coro com privilegiados que gostam de se remeter aos negros com termos tipicamente usados para animais, como “abate”.

Em 2010, o Rio viu Sérgio Cabral vencer Fernando Gabeira aproveitando-se, em parte, da crença de que o adversário era veado e maconheiro. Dali seguiu-se uma bandalheira que resultou, nos últimos anos, no colapso total das contas públicas. Já não há mais espaço de tempo para novos demagogos. E nem a população suporta mais mentiras no lugar de competência. Algo melhor que matar precisa vir à cabeça do novo governador. E eu sugiro que superar o seu racismo entranhado seja o melhor começo.

Por: Rodrigo Veloso – Colaborador dos Jornalistas Livres morador do Rio do Janeiro formado em Relações Internações

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OS BACHARÉIS DA RESISTÊNCIA

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Artigo de Rodrigo Perez Oliveira, professor de Teoria da História da Universidade Federal da Bahia, com ilustração de Duke

 

O ano de 2005 é chave para a compreensão da crise brasileira contemporânea. Foi aí, no chamado “mensalão”, que se desenhou pela primeira vez aquela que, na minha percepção, é a característica mais importante da crise: o ativismo político dos profissionais da lei.

Desde 2005 que juízes, desembargadores, ministros dos tribunais superiores e procuradores são personagens recorrentes na crônica política. Depois de 2014, a Operação Lava Jato se tornou palco para a fama desses profissionais. Mais do que nunca, o Brasil é a República dos Bacharéis.

Os marqueteiros da Operação Lava Jato afirmam que pela primeira vez na história do Brasil os empresários milionários sentiram na pele o peso da lei. É uma meia verdade. Se é meia verdade, por consequência lógica, é meia mentira também.

Os empresários presos atuavam no ramo da construção civil e de obras de infraestrutura. Os agentes econômicos envolvidos com atividades financeiras e especulativas não foram incomodados. Somente os mais ingênuos são capazes de acreditar que Marcelo Odebrecht ou Léo Pinheiro são mais corruptos que os executivos do Itaú ou do Santander, que também financiavam campanhas eleitorais, que também estabeleciam relações nada republicanas com a classe política.

Por que uns foram presos, enquanto os outros estão aí, lucrando bilhões todos os anos?

A seletividade da Operação Lava Jato é óbvia e salta aos olhos de qualquer um que queira enxergar a realidade. A narrativa do combate à corrupção está sendo utilizada como pretexto para o desmanche do Estado e dos investimentos públicos em infraestrutura, o que favorece os interesses ligados ao capital financeiro nacional e internacional. A comunidade jurídica brasileira colaborou com esse projeto, ajudou a desmontar parques industriais, levando empresas nacionais à falência, sempre com o pretexto do “combate à corrupção”.

Como bem disse Eugênio Aragão, ex-ministro da Justiça, a Justiça brasileira “prometeu acabar com os cupins, mas acabou ateando fogo à casa”.

Porém, seria um erro dizer que a comunidade jurídica é um bloco homogêneo, que todos os seus integrantes se movem na mesma direção. Alguns momentos na cronologia da crise mostram que o cenário não é tão simples, que há bacharéis dispostos a confrontar a hegemonia daqueles que entregaram seus serviços aos interesses do capital financeiro internacional.

Destaco aqui três nomes: Rodrigo Janot, Rogério Favreto e Marco Aurélio de Mello.

Em algum momento da crise, os três contrariaram interesses hegemônicos. Meu objetivo aqui é relembrar esses episódios e sugerir que a resistência democrática não pode abrir mão da institucionalidade. Ir às ruas e disputar o imaginário das pessoas não significa deixar de operar por dentro das instituições burguesas, explorando suas contradições. Uma coisa não exclui a outra. Uma coisa complementa a outra.

 

Rodrigo Janot

Rodrigo Janot foi empossado pela presidenta Dilma Rousseff como procurador geral da República em 2013, sendo reconduzido ao cargo, também por Dilma, em 2015. Janot foi personagem protagonista em alguns dos momentos mais agudos da crise brasileira, no período que compreendeu a derrubada de Dilma Rousseff e a ascensão de Michel Temer.

Sinceramente, não sou capaz de definir a identidade ideológica de Rodrigo Janot, de dizer se ele é de esquerda ou de direita. Talvez ele não pense a realidade nesses termos. Antes de se tornar procurador geral da República, Janot tinha atuação engajada na defesa dos direitos da população carcerária. No segundo turno das eleições presidenciais de 2018, Janot se manifestou a favor da candidatura de Fernando Haddad.

26 de agosto de 2015. Sabatina de recondução de Janot à chefia da Procuradoria Geral da República. Senado Federal. A crise institucional se aprofundava e começava a se desenhar no horizonte o golpe parlamentar que meses depois derrubaria Dilma Rousseff.

A oposição, liderada por senadores do PSDB e do DEM, colocou Janot contra a parede. Ana Amélia, Aécio Neves, Aloísio Nunes, Antonio Anastasia exigiam que a PGR denunciasse a presidenta Dilma Rousseff. Foram quase 12 horas de uma sabatina tensa e atravessada pelo partidarismo político. Por inúmeras vezes, Janot disse que não havia indícios suficientes para fundamentar uma denúncia contra a presidenta da República.

Janot não denunciou Dilma enquanto ela estava no exercício do mandato.

Já com Temer, o comportamento de Rodrigo Janot foi completamente diferente. Foram duas denúncias, em pleno exercício do mandato. A primeira denúncia foi apresentada em junho de 2017. A segunda veio três meses depois, em setembro.

Michel Temer precisou acionar suas bases na Câmara dos Deputados para barrar as duas denúncias. Precisou liberar verbas para os deputados aliados. Precisou gastar capital político. Acabou lhe faltando fôlego político para aprovar a Reforma da Previdência, que era a grande agenda do seu governo. Capital político tem limite, igual a peça de queijo: diminui um pouco a cada fatia retirada.

Se Temer não conseguiu aprovar a Reforma da Previdência, parte da derrota pode ser explicada pelas flechas disparadas por Rodrigo Janot, que acabou colaborando para defender os direitos previdenciários dos trabalhadores brasileiros do ataque do capital especulativo.

Qual era o seu objetivo? Comprometimento com uma agenda social-democrata? Um republicanismo genuíno que parte do princípio de que não pode existir seletividade na aplicação da lei? As duas coisas juntas?

Não dá pra saber. Fato mesmo é que ao desestabilizar Michel Temer, Janot contrariou os interesses do rentismo.

 

Rogério Favreto

Quem acompanha a trama da crise brasileira lembra bem do dia 8 de julho de 2018. Era manhã de domingo e o país foi sacudido pela notícia que dividiu a sociedade, deixando metade da população em estado de graça e a outra metade babando de ódio.

“Lula vai ser solto!”. Assim, estampado em letras garrafais em todos os veículos da imprensa.

Rogério Favreto, desembargador do Tribunal da 4° Região em diálogo direto com lideranças petistas, autorizou um habeas corpus de urgência, determinando a soltura imediata de Lula.

Todos os envolvidos sabiam que Lula não seria solto. Lula nem fez as malas. O objetivo ali era tático: levar as instituições burguesas a extrapolar os limites da própria legalidade.

Sérgio Moro despachou estando de férias e negou o habeas corpus, o que ele não poderia fazer. Moro contrariou a ordem de um superior, subvertendo a hierarquia do Poder Judiciário.

Thompson Flores, presidente do Tribunal da 4° Região, cassou a decisão de Favreto, o que somente poderia ser feito pelo colegiado dos desembargadores.

Em um ato de resistência, Rogério Favreto deixou claro para o mundo que Lula é um preso político que a todo momento inspira atos de exceção.

 

Marco Aurélio Mello

Marco Aurélio Mello, tendo mais coragem que juízo, vem sendo a voz da resistência no Supremo Tribunal Federal. Eu poderia dar vários exemplos de ações de Marco Aurélio em defesa da Constituição, da legalidade democrática e da soberania nacional. Fico apenas com dois.

1°) Em 19 de dezembro de 2018, na véspera do recesso do Judiciário, Marco Aurélio soltou um bomba: em decisão autocrática determinou que a Constituição fosse respeitada, ordenando a libertação de todos os presos condenados em segunda instância, o que beneficiaria o presidente Lula.

É que a Constituição é clara. Só pode prender depois do trânsito em julgado. Se está errado ou não é outra discussão. Constituição não se questiona, a não ser para fazer outra Constituição.

Liminar pra cá, liminar pra lá. Procuradores da Lava Jato convocando entrevista coletiva para dizer como STF deveria agir. Mais uma vez a sociedade dividida. Novamente, Lula nem fez as malas, pois experimentado que é, sabia muito bem que não seria solto.

Dias Toffoli, presidente do STF, derrubou a decisão de Marco Aurélio, contrariando o regimento interno da Casa, que diz que somente a plenária do colegiado é legítima para anular ato autocrático de um ministro.

Se Lula não estivesse preso, o regimento seria respeitado. Lula não é um preso comum.

2°) Na última semana, vimos outro embate entre Marco Aurélio e Dias Toffoli. Dessa vez, o motivo foi a venda dos ativos da Petrobras. Marco Aurélio, outra vez em decisão autocrática, proibiu a venda, num ato de defesa da soberania nacional. Dias Toffoli autorizou a venda, se alinhando aos interesses privados e internacionais.

Apresentei três exemplos, de três profissionais da lei que em algum momento da crise contrariaram os interesses que hoje ditam os rumos da política brasileira. Não existiu nenhuma articulação entre eles. Os exemplos mostram apenas que as instituições burguesas não são homogêneas, que existem contradições que devem ser exploradas.

A resistência democrática, portanto, precisa se equilibrar sobre dois pés. Um nas ruas, agitando e apresentando soluções para o nosso povo, que já vai começar a sentir na pele as consequências de um governo ultraliberal, autoritário e entreguista. O outro pé deve estar bem fincado nos corredores palacianos, onde se desenrolam as tramas institucionais.

Precisamos, sim, de líderes populares, de líderes que saibam falar ao coração do povo, que entendam as angústias da nossa gente. Precisamos também de articuladores, de conhecedores da lei e dos regimentos, de lideranças versadas no jogo jogado nos bastidores. Resistência democrática é trabalho de equipe.

 

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Armai-vos uns aos outros

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Por José Barbosa Junior
O presidente da República Fundamentalista de Vera Cruz (antigo Brasil – porque agora nada pode ser vermelho), decretou nesta terça-feira algumas flexibilizações na Lei que regulamentava a posse de armas, o que, na prática, significa que ele liberou geral. A proposta anterior, de no máximo duas armas por cidadão, passou para quatro armas, sendo liberadas outras mais, conforme a necessidade apresentada pelo futuro portador.
Em resumo, a barbárie está liberada oficialmente em nosso país. “Cidadãos de bem” agora vão poder, finalmente, matar os bandidos que lhe atormentam a vida. Por bandidos leia-se pobres, pretos, pardos e párias, que de já tão coisificados, tornaram-se sem valor e pessoalidade em sua existência.
O que mais me choca, porém, é que Bolsonaro foi eleito e é apoiado, inclusive e principalmente nesta questão, por gente que se afirma cristã. Isso mesmo! Gente que diz seguir aquele nazareno marginal que afirmou que “bem-aventurados são os pacificadores, pois eles serão chamados filhos de Deus”, aliás o mesmo que afirmou que “quem vive pela espada, morrerá pela espada”.
Parece estranho. E é.
Mais estranho ainda porque em toda a campanha do atual presidente, ele fez questão de repetir o versículo que diz “e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”.
A verdade é que a liberação de armas só gerará mais violência num país que respira violência.
A verdade é que mais mulheres serão vítimas de feminicídio, já que seus maridos machões agora poderão ter suas armas para suprirem seus outros fracassos.
A verdade é que mais LGBT’s morrerão nas mãos de homofóbicos que disfarçam seus preconceitos em discursos machistas e religiosos.
A verdade é que agora fica mais fácil planejar o suicídio, endêmico numa sociedade cada vez mais doente e adoecedora, refém de um sistema que empurra pessoas à depressão (sem contar as depressões que independem de fatores externos) e num país onde adolescentes cada vez mais se matam por conta de bullying e outras coisas mais. Ah! E sem falar no alto índice de suicídio entre pastores, tema cada vez mais recorrente nos últimos anos.
A verdade é que as brigas de trânsito, de bares, de baladas agora serão resolvidas na base do “quem saca primeiro”, porque com essa liberação a ideia de que o outro possa estar armado será sempre evidente e, entre ele e eu, é melhor que eu saque antes dele.
A verdade é que temos um governo violento, que ampara e incita à violência, que não esconde o prazer na tortura e na morte dos inimigos. Isso legitima e legitimará a barbárie!
Em nome da verdade… no governo mais mentiroso que já temos! E eu aguardo o dia da liberdade! Ela virá… mais cedo ou mais tarde!

*Teólogo e Pastor da Comunidade Batista do Caminho em Belo Horizonte.

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