Caetaneando o que há de bom nos 20 anos do MTST

Festa dos 20 anos do MTST no Largo da Batata, em Pinheiros (SP) - foto de Guilherme Silva

 

 

Neste domingo, 10 de dezembro, o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) comemorou em praça pública, em companhia de 30.000 pessoas (o que não é para qualquer um), seus 20 anos de luta. Tinha Caetano Veloso, Criolo, Maria Gadú e outras jóias preciosas da Música Brasileira, cantando num show de graça, uma festa aberta a todo mundo. Uma celebração.

Mas dona Martha Rodrigues achou de criticar o rolê, argumentando que tinha pouco MTST na festa do MTST. Veja o link aqui.

Vamos falar a real: se tem um movimento que não precisa mostrar as credenciais populares e o enraizamento entre a gente oprimida, preta e pobre, esse movimento é o MTST.

São ocupações, lutas, atos públicos, caminhadas épicas imensas, cenas bíblicas, com milhares e milhares de mulheres, idosos, LGBTs, pretos, homens sofridos e guerreiros. Não tem Moisés abrindo o Mar Vermelho, efeito especial de todos os jeitos, nas novelas da Record, que rivalize em emoção com o povo do MTST de carne e osso lutando unido pela sua terra prometida.

Bom, aí o MTST faz uma festa-celebração com alguns dos maiores artistas brasileiros, e vem a amargura se pronunciar: “festa sem povo”, “festa da Vila Madalena”, “festa de branco”.

Eu prefiro um milhão de vezes focalizar o fato de que esses brancos, essa Vila Madalena, provavelmente, foi pela primeira vez a um evento do Movimento dos Sem-teto. Que, pela primeira vez, eles puderam ver que o MTST é cultura, é arte, é amor. É festa. É praça aberta, é felicidade.

Quando se sabe que os Kim Kataguiri, Alckmin, os latifundiários urbanos, e os poderosos sempre imputam aos lutadores a pecha de “criminosos”, a praça lotada caetaneando o que há de bom é a melhor contra-narrativa ao discurso dominante.

Caetano canta na festa dos 20 anos do MTST – foto de Guilherme Silva

Por fim, disponibilizo para vocês o depoimento de uma linda guerreira sem-teto, da Ocupação Marisa Letícia Lula da Silva, ligada à Frente de Luta pela Moradia (um movimento distinto do MTST e, num certo sentido, rival deste). Toninha é negra e é pobre. E é da luta. E estava lá, no largo da Batata, acompanhada de outras mulheres pobres da mesma ocupação. Mas dona Martha Rodrigues não as viu e nem as entrevistou.

Em vez de se ater ao que separa as duas organizações, essas mulheres falaram sobre a necessidade de todos se unirem contra os retrocessos, contra o confisco dos direitos do povo, por um mundo mais justo.

Elas estavam felizes, dançando, cantando –gloriosas–, com Caetano Veloso. É, esse cara, a quem elas nunca teriam tido acesso se não fosse o feliz encontro do artista com o MTST, estava ali, generosamente, espalhando a sua poesia e arte para todos.

Aprende, Martha! União e gratidão levam a gente a brilhar. O resto é a treva da amargura e da depressão. Ninguém precisa disso.

 

 

 

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornalistas Livres

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