Brasileiros passam frio e fome em Portugal enquanto esperam pelo voo de repatriamento

Foto: Fernanda Barros

Por Luiza Abi Saab e Ligia Bugelli, de Portugal, especial para Jornalistas Livres

Desde que Portugal entrou em estado de emergência em 18 de Março de 2020, muitos brasileiros/as viram-se em conflito com o encerramento dos vôos para o Brasil. O Consulado brasileiro em Portugal deu início, ainda que de forma pouco eficaz, a um formulário para organizar os futuros voos de repatriação, disponibilizando ao longo de Março e Abril algumas oportunidades de retorno. 

Porém, desde sábado (25/04), um grupo de cerca de 25 brasileiros/as não inscritos no formulário dirigiu-se ao aeroporto para clamar vagas nos vôos já agendados. Sendo estes residentes em Portugal e com sua subsistência ameaçada (sem trabalho e salário), pedem para que sejam incluídos na lista de repatriação.

Clique aqui para ver a situação dos brasileiros no aeroporto de Lisboa ainda em março


A brasileira Fernanda Barros, residente em Lisboa, voluntariamente foi ao aeroporto no dia 28 e 29/04 para prestar auxílio ao grupo. Fernanda registrou alguns vídeos e fotos, além de colher depoimentos, sobre a situação no aeroporto de Lisboa, fazendo com que o caso tivesse repercussão midiática e denunciasse as condições precárias em que se encontram.  

O grupo que se encontra no aeroporto tenta pressionar as autoridades brasileiras e portuguesas para ser incluído em algum dos vôos de repatriação.  Essas pessoas se encontram sem morada, sem salário e sem comida, sendo que muitas estão em situação de vulnerabilidade, como idosos, mulheres com crianças de colo e pessoas com doenças crônicas. 

#PORTUGAL #REPATRIAMENTO #COVID19"Ontem recebi a notícia de que haviam mais de trinta brasileiros (incluindo crianças…

Gepostet von Jornalistas Livres am Mittwoch, 29. April 2020

No depoimento da brasileira Eliene Cristina de Andrade, colhido por Fernanda, ela conta que veio para Portugal como muitos outros brasileiros, a fim de trabalhar e construir uma vida no país. Porém, devido a crise do Covid-19 e a situação do estado de emergência, não consegue mais trabalho na cidade de Lisboa e portanto, não há mais como se sustentar. 

No sábado passado (25/04), Eliene se juntou com mais algumas que se encontram na mesma situação e, sabendo da disponibilidade de vôos de repatriação, se reuniram no Aeroporto de Lisboa, para tentar um encaixe no vôo de domingo (26/04). Sem êxito, a situação se agravou, à medida que as temperaturas baixam e essas pessoas não são permitidas a entrarem sequer no saguão do aeroporto para usarem o banheiro e se proteger do frio, ficando assim do lado de fora, na calçada, passando frio, fome e necessidades de higiene. 

Eliene nos conta que na noite de domingo, 26/04, agentes do Consulado foram até o aeroporto e o grupo preencheu uma lista onde disponibilizaram seus nomes, telefone e e-mail, o que os trouxe esperança para uma eventual inclusão da lista de repatriação. Porém a resposta do Consulado veio por email, em um texto que dizia que as 25 pessoas (aproximadamente) que preencheram a lista não estão na lista para serem incluídas no voo do dia 30/04 e precisam deixar o aeroporto e “tomarem um rumo”, segundo depoimento de Eliene. Entretanto, não há rumo para tomar, afinal, essas pessoas não possuem mais morada para voltar e muito menos uma forma de sustento para si e seus familiares. 

No dia de ontem (29/04), policiais se dirigiram ao aeroporto com uma lista de 16 nomes que, supostamente, seria encaminhada para o auxílio da Assistência Social. Os policiais afirmaram que os nomes da lista não possuíam garantia de repatriação, porém, solicitaram que os representados na lista permanecessem no aeroporto e que os demais fossem embora.

No dia de hoje (30/04), 12 pessoas foram incluídas no ultimo vôo de repatriação das 14h, sem qualquer previsão de repatriação para os restantes (cerca de 15 pessoas). Ainda não se sabe dizer se todos os 12 faziam parte da lista de 16 nomes apresentada pelos policiais. Alguns contemplados lamentaram abandonar o restante do grupo, com a preocupação de que seus colegas não teriam a mesma chance que eles. 

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O que observamos é uma grande desinformação entre o Consulado, polícia e passageiros, causando ainda mais angústia e desespero entre os brasileiros que ali se encontram. O Consulado brasileiro em Portugal é o único responsável por autorizar e viabilizar os vôos de repatriação, sendo necessário que tomem providências diante dos casos expostos. 

A indignação e o questionamento continua: Que lista é essa? Qual é o critério de seleção? Quando essas pessoas, esquecidas pelas autoridades brasileiras, conseguirão voltar para a seu país? Quanto tempo mais continuarão nessa situação de precariedade na calçada do aeroporto, esperando uma resposta? 

 

 

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