Entrevista a Bruno Falci e Clara Domingos, de Lisboa, especial para o Jornalistas Livres
O professor Boaventura de Sousa Santos, doutor em Sociologia do Direito pela Universidade de Yale, professor e coordenador do CES – Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e um dos mais importantes pensadores ibero-americanos, concedeu esta entrevista, ao vivo, enquanto que, coincidentemente, em Brasília, o ministro da justiça Sérgio Moro fazia um pronunciamento sobre sua demissão ao governo de Jair Bolsonaro, em mais um capítulo da crise política brasileira.
O cenário abordado é do Brasil vivendo uma dupla crise – uma sanitária, provocada pelo Coronavírus e outra política. Neste cenário conturbado pela pandemia, o governo de Bolsonaro revela uma profunda instabilidade institucional, onde ocorrem hostilidades ao Congresso e Supremo Tribunal Federal. Enquanto isso, o combate à pandemia ocorre dentro de outra situação grave, tendo ocorrido, na semana passada, a saída do ministro da saúde que era aprovado pela OMS e, portanto, favorável isolamento social.
Na quarta-feira, dia 22, o ministro da economia, Paulo Guedes, responsável pela agenda neoliberal do governo não participou de uma reunião coordenada pelo ministro da Casa Civil, general Walter Braga Netto para anunciar o lançamento de um programa de recuperação econômica pós-covid-19, que prevê aumento dos gastos com investimentos públicos para os próximos anos. Agora, nesta sexta-feira, dia 24, o Brasil, com um governo que também parece ser tutelado pelos militares, em meio a diversos encaminhamentos de impeachment do presidente, o cenário é agravado com a queda do ministro Sérgio Moro.
Segundo Boaventura de Sousa Santos, “realmente é uma condição extraordinária estarmos as falar neste momento em que o Sérgio Moro está a fazer uma transição. Eu acho que o Brasil é o único país do mundo que, no meio da pandemia, tem uma grave crise política. Eu acompanho a situação em diversos países e nenhum deles apresenta esta situação, que eventualmente poder ser uma crise do regime político. A demissão de Sérgio Moro tem causas próximas e causas longínquas. As causas próximas que sido aventadas é que a PF estará no caminho de incriminar a família Bolsonaro, senão o presidente diretamente, mas também os seus filhos. Isso naturalmente já se sabia há muito tempo”.
Boaventura de Sousa Santos é incisivo:
“O Moro é o homem dos Estados Unidos, é o candidato dos Estados Unidos para 2022. Ele fez todo um trabalho. E a carreira política dele é exatamente esta – destruir a economia brasileira, destruir a esquerda, abrir o caminho para um político de transição, que abra o obviamente o caminho para ele mesmo, ele é o candidato deles. Isso significa que provavelmente a própria Embaixada dos Estados Unidos deve estar envolvida com tudo isso. Isso significa que o Moro, começou a ver, para sua carreira política, o Bolsonaro já não é um recurso, pode descartá-lo”.
Para o sociólogo, Bolsonaro seria um presidente descartável:
“O que me parece é que devido a crise produzida pelo comportamento dele na pandemia, ele está sendo descartado mais cedo, porque a agenda de Paulo Guedes que é neoliberal e dos Estados Unidos, também está neste momento em risco uma vez que o general Braga Netto, que todos consideram ser o presidente operacional, vem com uma política de emergência que efetivamente neutraliza a política de Paulo Guedes. Então, é natural que o próprio Guedes tem os dias contados.
Boaventura acrescenta:
“Moro está a sinalizar que já não lhe interessa participar deste governo, precisamente porque ele quer se sair bem. A popularidade dele está acima da de Bolsonaro. Moro tem estado num silêncio absolutamente criminoso, no meio de tantas coisas surgindo, como as declarações em frente à porta do quartel do exército a clamar por um golpe. Bolsonaro para ele hoje é mais um fardo do que um recurso. Não precisa dele para ser um bom candidato, um candidato forte para 2022”.
Veja entrevista completa no vídeo a seguir:
Se quiserem saber mais sobre as esquerdas no poder em Portugal e na Espanha, veja entrevista realizada este ano por Bruno Falci e Luiza Abi Saab com o professor Boaventura de Sousa Santos clicando aqui
28 respostas
O renomado sociólogo está erradíssimo em sua análise a isso denominamos teoria da conspiração, nada a ver
Excelente entrevista!
Existe mapacho melhor do eua do que o Bolsonaro? Alguém que bate continência sem nenhuma vergonha para a bandeira americana e diz “I Love you, trump”…
não é uma teoria da conspiração… é um raciocínio bem lógico.
Continuo perplexa com a quantidade de incertezas do Governo.
Ótima entrevista. O Boaventura responde com a maior boa vontade, simplicidade e enorme conhecimento. O que lhe é peculiar. Valeu, obrigada.
Bolsonaro pode ser um capacho dos EUA, mas não tem postura para manter uma linha livre aos interesses internacionais. Além de que Moro, a primeira vista não tem pé preso com os militares. Tem muita lógica. Para os “cowboys” seria como trocar um grupo de cavalos velhos por um novo e mais inteligenre, porém mais fácil de controlar.
O Brasil vive na verdade uma “Tripla Crise”, na Saúde, Economia e Política.
Eu sempre acreditei nesta estratégia política. Simplesmente não existe como agentes políticos de direita em um país como o Brasil deixarem de estar sendo manipulados. Ou é nacionalista ou é cooptado pela inteligência norte americana. Não existe vácuo político nem espaço no meio para um centro em que ali opere uma frente passível de vir a tomar o poder! Ou Ciro Gomes já teria se projetado e estaria comandando uma enorme frente. Eles não deixam isso acontecer. Sérgio Moro é o Office Boy que está sendo conduzido para ser o CEO. O Brasil é importantíssimo para ser deixado se governar dentro de uma estratégia ocidental. Especialmente na conjuntura global atual!
Só comparável o teor dessa entrevista ao “comunavirus” do Ernesto Araújo.
Enfim, a constituição do inimigo/demônio a ser combatido é necessária quando não se tem uma agenda propositiva a apresentar. Seja de uma lado, seja do outro.
Bom dia; admira-me a argúcia do analista. Muito boa. Moro sempre foi o candidato dos E. D. A. O problema é que ele era, naquele ido, inviável, cronologicamente, como carcereiro político e [como] candidato. E, além da análise do Magister Boaventura, ouso extrapolar: o problema, dada a iminente queda do Jaircopata: é não dividir o butim (os votos, no caso) da direita. Como “transferir” esses votos, migra-los do reduto bolsonarista para o “juiz”. Aí onde está o relógio suíço e a pinça cirúrgica.
Eu gostaria muito que fosse, como disse alguns aqui, uma teoria da conspiração. No entanto, tem coisas que nem precisam ser literalmente feitas para garantir conceitualmente. Não descarto, mas não acho que seja necessário acerto pessoal dele com EUA para ser candidato deles. É uma questão de concepção entreguista. Ele com ou sem ter discutido com embaixada etc destruiu a indústria petroquímica e construção civil brasileira, abrindo portas para aprofundamento da dependência econômica e submissão política. Claro que ele foi identificado e sem dúvida, com ou sem acerto por escrito, ele é sim o candidato do imperialismo.
É muito bom ouv ir a opinião do Professor Boaventura de Sousa Santos.
O Vice pode ser o Cardoso. Inegável sua omissão na queda de Dilma segundo Moro. O mesmo juiz de primeira instância e o mesmo doleiro do PSDB Banestado derrubaram a Presidenta nas barba do omisso. Ou parça.
Prof. E extraordinário pensador, Boaventura Santos decodifica os nossos desafios contemporâneos diante da “colonialidade*. Suas contribuições são inestimáveis. Bravíssimo pela entrevista!!!!
Discordo totalmente, me parece que o analista é crítico do governo Bolsonaro e deixou vir junto a analise, a sua repulsa.
1- A PF já fez várias investigações sobre os filhos de Bolsonaro e nada foi achado.
2 – Bolsonaro foi acusado da morte de Mariele e a PF não agio em nada.
3 – Bolsonaro é 80% ou mais querido pelo povo brasileiro q Mouro.
4 – Moro acaba de dar um tiro no pé, até a oposição concorda que ele mentiu.
5 – O Brasil se saiu maravilhosamente bem para lidar com o choque econômico do Virus da China.
6 – Moro pode ser candidato de Soros, não dos EUA, porque Trump tem declarado seu apoio a Bolsonaro direto em suas colocações sobre o Brasil.
Há vários pontos q não concordo, mas não vou me estender mais. Só mais uma colocação, há um fenomeno nacional, q ele se esqueceu de citar, ou não conhece os brasileiros cristãos se deram a mão para orar e defender o Presidente Bolsonaro, como nunca visto neste País.
O Congresso Nacional não representa o Brasil.
É incrível como os cegos relutam em abrir os olhos! A memória, também, é cada vez mais curta. Não é segredo para ninguém que Moro prestava cotas e era instruído pela cia durante a sua atuação na lava-jato. Foi a várias reuniões com a Cia sem fazer nenhum segredo disso.
Será que precisa desenhar mais alguma coisa?
maria neta, com minúscula mesmo porque não merece uma maiúscula , os brasileiros que apoiaram e apoiam o louco não são cristãos, são meros evangélicos adestrados por coisas como o edir e outros, por exemplo você, de cabecas lavadas e enxaguadas por dentro e por fora!! tem msis: nada foi achado sobreo filhos? porque o bizo cercando e destituiu a PF?
1 – A PF está muito próxima de prender Carlos e Eduardo, filhos de Jair.
2 – Bolsonaro nunca foi acusado da morte de Mariele.
3 – Não é o que as pesquisas indicam.
4 – Apresentou provas de que não mentiu, mas o que a oposição concorda é que Moro é tão bandido quanto Bolsonaro.
5 – Os números mostram exatamente o contrário. Pesquise mais.
6 – I love you, Trump. Infelizmente, a recíproca não é verdadeira.
E pra terminar, somente os fundamentalistas cristão podem ter ido nessa onda de ajoelhar pelo Messias, o que, aliás, não surtiu efeito nenhum, porque o que o país precisa mesmo nesse momento é de ação e não de gente ajoelhada. E sim, o Congresso representa quem o elegeu, uma vez que essas pessoas foram eleitas democraticamente pelo voto popular, quer se goste ou não.
Texto e análise perfeitos, quem defende o Brasil e acompanha Moro sabe dos crimes que cometeu e que poderá cometer, pois para ele não há limites.
Parabéns, Boaventura, lúcido e incisivo, como sempre.