Jornalistas Livres

Autor: Helio Carlos Mello

  • Profeflores

    Profeflores

     

    Floresta – Tarsila do Amaral -1929/ óleo sobre tela-63.90 cm x 76.20 cm, Coleção Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (SP).

    Logo cedo, assim acordado, pensei na palavra surpresa. Sonhara que pisavam no canteiro, impediam flores, frutos tão doces. Plantavam grãos na terra, algodão, açúcar e álcool para os homens. Cortavam pau, vendiam ouro e gemas.

     

    Havia ventania e tempestade em meu sonho, tanto trabalho tornara-se um vão, uma lacuna, tempo desperdiçado durante a maturidade.

     

    Não é, afirmo desperto.

    Não desanimo, medito, reciclo a cartografia. Não esqueço aquela imagem e voz na tv branco e preto: o breve passo, um grande salto.

     

    Terra é palavra de chão, a história é fardo, pesagem e passagem. Não teremos abelha, não teremos borboleta, não teremos beija-flor nem papa-mel, e daí?

    Pé na estrada, estradão, nosso lugar de espera. O verbo esperançar, nossa mandinga.

     

  • Olho por olho

    Olho por olho

    África, por Luciano Candisani©

     

    Hábito comum no início das manhãs, dia desses, 15, toquei no mouse e a tela deu girafa linda a me olhar. Imagem do fotógrafo Luciano Candisani, anunciando o último prodígio em trabalho pela África.

    Dei uma rodada nos fatos da tela e uma imagem de churrasco me invadiu, do ministro do Meio Ambiente, do Brasil. Desagradável, imagem de carne, na manhã, nunca apetece-nos. Enfim, senti emoções inversas, entre a girafa e o bife; me abalaram. Pensei nisso fiando a semana, querendo entender as linguagens que voam no sono, entrelaçam-se, desfiam uma luta entre bom e mau. 

    Nos Evangelhos, de Marcos e Lucas, consta que seu nome é Legião, sobre o demônio na Terra. De mim e de meus, aliançados em ideologia, digo que anjos, querubins e serafins são os que acompanhamos, mesmo que a besta insista.

    A fotografia, invento e insistência humana do maior proveito, provento e testemunho ao longo de sua história, não finge, denuncia sempre. Faço aqui seu elogio.

    Fotógrafo é gente que enxerga longe ou muito pertinho, enxerga de noite, no breu, até debaixo d’água revelam. Os mais carentes, aqueles que no dia a dia denunciam ganâncias e misérias, tanto mais digo fotojornalistas, semeiam liberdade, mostram iniquidades. 

    Pantanal, Mato Grosso, por Luciano Candisani©

    Cito e enalteço aqui o fotógrafo Luciano Candisani, que escancara há tempos, um Brasil tão belo, inaudito, surpreendente. Chão da gente que não vemos em planos comuns, mas que sabemos possível. Nos invade com uma África nesse momento, juntando as partes separadas, agora compreendo, antes da divisão das placas tectônicas.

    Se Legião, o demônio, se manifesta em ministros da idiossincrasia, é porque não sabem nada de fotografia. É pífio, é vulgar, é vexatório o que veem e dizem, cheira mal a falsidade que anunciam e iludem.

    Leia mais sobre o trabalho de Luciano Candisani em:

    http://www.galeriadebabel.com.br/exhibitions/10-africa-impressoes-de-viagem/overview/

     

    http://www.galeriadebabel.com.br/artists/39/

  • Anta

    Anta

    Seu nome é anta. 

     

    Vivia até feliz o bicho até então, 

    tão inteligente no mato e campo,

    dócil 

    ingênuo 

    curioso. 

    .

    Até me meti em prosa

    antes desses tempos, com ela.

    Me disse coisas lindas

    contando frutos maduros

    para mim.

    Anta, no Rio Von Steinen, TI Xingu, por Helio Carlos Mello©

    Carne boa sendo bem picada

    e bem assada, sabe disso a anta,

    farta a muitos quando juntos

    na aldeia. 

    .

    Caminho do leite entre mitos tantos, 

    não mata os frutos que come.

    O bicho expande a mata

    rebelde ilusionista é a anta.

    .

    Protesto aqui sua fama.

    Anta é ser comunista

    caravana cigana.

    .

     

    Sabida que é

    anta nada,

    pasta,

    lambe

    e come o que não é réu ,

    experimenta noite sem parar.

    Assa bem, povoa.

    Zombo

    resigno, compro fiado.

    Pátria anta a minha,

    o tinhoso que espreita

    toda mata que expulsa, condena.

     

    Anta, por Luciano Candisani©

     

     

  • A nave

    A nave

    Quando as Sondas Pionner partiram, em 1972 e 73, levando mensagens da humanidade para o infinito intergalático, não disse muito do caráter dos humanos, apenas nossa aparência, localização, origem e perfil da nave.

    Fico pensando nisso, entre pequenas e simples coisas do dia a dia, se não enviamos uma fake news para os extraterrestres, omitindo nossa agressividade e carências. Nossos valores, nossas frustrações, as necessidades que o mercado nos obriga, nada disso seguiu e prossegue na carta espacial.

    Mesmo sendo o amor e a paz desejo comum das nações, não conseguimos nos entender entre as pátrias todas, nem entre nossas casas nos compreendemos assim, plenamente ternos. Os corpos trucidados seguem pelos campos, nos desertos e nas metrópoles ou pequenos vilarejos.

     

                              Quatro índios Guajajara assassinados, no Maranhão, em dias recentes e alternados, denunciam um país em desequilíbrio.

    Sempre cri na evolução das coisas, a esperança como resistência ou resiliência, mas um desacreditar me suga em dias assim de crise, indígenas assassinados pelas veredas, jovens pisoteados pelas vielas, pretos mortos em qualquer canto escuro de nós.

    Não sei dizer, talvez quando receberem a mensagem, e os alienígenas aceitarem nosso convite e chegarem aqui, tudo já tenha mudado, sem nada termos nós deixado para trás.

     

     

     

  • Estado de São Paulo discute a criação de nova área protegida na Serra da Mantiqueira

    Estado de São Paulo discute a criação de nova área protegida na Serra da Mantiqueira

     

    Entre tantas notícias perversas relacionadas ao meio ambiente do Brasil, surge na rede um sinal de sabedoria entre a ganância do sistema e seus mercadores.

    Conta uma lenda que o sol se apaixonou por uma formosa índia e ela também se encantou por ele. E a lua enciumada, foi se lamentar com o Deus Tupã que colocou uma imponente montanha sobre a índia, aprisionando-a para sempre. Desde então a índia chora dias e noites com saudades do sol e suas águas enchem os veios da montanha, transbordando nos rios e cachoeiras que escorrem pela Serra da Mantiqueira. E por isso os tupis a chamavam de amantikir, a montanha que chora.

    A majestosa Serra da Mantiqueira, colossal cadeia de montanhas que percorre e divide os Estados de SP, RJ e MG.

     

    “A Serra da Mantiqueira desde há muito tempo desperta o interesse de naturalistas, conservacionistas e demais estudiosos dos seus aspectos geológicos, geomorfológicos, bióticos, culturais, entre outros atributos desse patrimônio natural do Brasil.

    A Prefeitura  de Cruzeiro, por meio da Secretaria de Meio Ambiente, convida a população para participar da audiência pública referente à proposta de criação do Monumento Natural Mantiqueira Paulista. O encontro acontece no dia 19  de dezembro, às 17h, no Teatro Capitólio “José Jorge Santiago”, com a participação de apoio da Fundação Florestal.

    O relatório impresso está disponível para consulta até o dia 19, na Secretaria de Meio Ambiente, de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h, à Rua Pedro Ribeiro da Silva nº280, Vila Paulo Romeu – Bosque Municipal Rogério Mariano. A versão digital está no site da Fundação Florestal:

     

    http://smastr20.blob.core.windows.net/fundacaoflorestal/proposta-de-criacao-monumento-natural-mantiqueira-paulista.pdf

     

     

    A proposta do Monumento Natural Mantiqueira Paulista foi amplamente informada e debatida com as sociedades locais em Piquete e Cruzeiro, (com ênfase no diálogo com os proprietários), e regionalmente com o GT Mantiqueira, Conselho da APA Federal da Serra da Mantiqueira e Conselho do Mosaico Mantiqueira.

    Durante esses debates locais e regionais, foram registradas manifestações de apoio, ceticismo ou rejeição à proposta. Todos os posicionamentos foram ouvidos e contra-argumentados da forma mais respeitosa, técnica e democrática possível, posto que esse é o objetivo e o espírito do processo de informação e debate públicos. Ressalte-se que muitas das posições céticas e contrárias ao MONA se alteraram à medida que informações detalhadas sobre a proposta foram apresentadas e mudanças de limites foram feitas.

    Importante registrar que a utilização da base estadual do CAR – Cadastro Ambiental Rural, espacialmente representada em figura abaixo, foi fundamental para que os proprietários da área de estudos fossem contatados para participar dos eventos de informação e debates sobre a proposta do MONA.”

     

    Mapa da área de estudos da proposta de Unidade de Conservação de
    Proteção Integral nos municípios de Piquete e Cruzeiro, com 16.452 ha

     

     

    Propriedades com Cadastro Ambiental Rural e Certificação SIGEF na
    área de estudos

     

    Mapa da proposta do MONA Mantiqueira Paulista e a especialização
    do status de proteção da vegetação nativa previstos na “Lei da Mata Atlântica”
    (Lei 11.428/2006)

     

     

    A audiência publica se realizará no dia 19 de dezembro de 2019, às 17h00, no Teatro Capitólio “Jorge José Santiago”, Rua Engenheiro Antonio Penido, 636, Centro, Cruzeiro/SP.

     

     

     

     

     

    Fotos por Blog Trilheiros.Net© e Helio Carlos Mello©

     

  • Os Guarani ocupam o que é seu

    Os Guarani ocupam o que é seu

     

    O índio Guarani andou longos caminhos, os Peaberus de suas léguas, tão vasta a América, livres da Europa eram. Seu longo domínio, do Pacífico ao Atlântico, entre tantos outros povos. Persisti até hoje, resiliente, sua rota da terra sem males.

    Agora, o seu quinhão de terra, lhe resta; é alma, é corpo, é a terra sagrada em si.

    Indígenas Guarani ocupam a Funai, em Itanhaém, e se manifestam dançando e cantando pelas ruas da cidade costeira, como é próprio do índio em luta, de tantas aldeias diversas que restam.

    Querem a  anulação da proibição de indigenistas da Funai atenderem aldeias em processo de regulamentação das terras, querem a  revogação da exoneração do coordenador regional do litoral sudeste,  Cristiano Hunter, querem a participação dos indígenas nas decisões da Funai.

     

     

     

     

     

    Querem tão pouco, sei bem. Sei bem também da teimosia e carência que em nós habita a soberba, os não índios.

    Ah, fica aquela angústia do dia de chuva; fosse uma manhã de sol, como disse antes Oswald de Andrade, me despia todo.

     

     

    Vídeo por Richard Werá Mirim©