Guaíra das Artes foi o nome dado ao projeto revelado, das águas correntes que correm ao encontro do nome da pequena cidade no interior de São Paulo. Guaíra, terras pioneiras ao agronegócio e na irrigação dos grãos. Também antigo território, contam histórias e achados, dos índios Kayapó do Sul.

O fato é que, em 2005, andava eu abrindo portas de armários em um gabinete municipal no interior, e o olhar curioso se enrolou em velhos papéis vegetais esquecidos no fundo do armário na sala do jovem prefeito do município. Começava ali uma aventura artística e uma atitude fora do eixo das capitais. Na cidade, Roberto Burle Marx havia, em 1984, idealizado um jardim de esculturas para um grande parque público local, e dei de cara com seus croquis.

2005 foi o ano de uma nova administração, petista, na cidade de Guaíra e fui autorizado a analisar aqueles documentos. De início procurei a artista e amiga Maria Bonomi, que me indicou consultar o artista Gilberto Salvador. Foi um deleite interpretar o projeto de Burle Marx e sugerimos juntos ao prefeito local retomar a instalação das esculturas previstas pelo genial paisagista.
A primeira artista escolhida foi Tomie Ohtake, com o projeto instalado em 2008. A obra, definitiva, tornou-se a marca da cidade, mesmo sendo extremamente difícil à administração da época convencer a população da importância da arte pública e o investimento nas artes. Após dez anos e administrações distintas, nessa semana está sendo instalada a segunda obra prevista, do artista Gilberto Salvador. Mesmo assim a impressa local acusou o prefeito de gastar 70 mil reais em uma escultura de espuma, sendo que Espuma, na verdade, é o título da obra, feita em fibra e aço, exposta primeiramente na Pinacoteca de São Paulo em 2013, e que agora se monta, em equilíbrio definitivo, às margens do grande lago Maracá, acordando o sonho delicado de Burle Marx.

O desafio e empenho ainda prevê as obras de Ângelo Venosa, José Spaniol e Marcello Nitsche. Todo o tempo decorrido desde as descobertas das plantas originais até a instalação dessa obra demonstram a imensa dificuldade em se implementar novos paradigmas culturais e novas localidades de referência nas artes brasileiras. Mas tudo se move.
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