Belluzzo: governo “tem medo de romper a bolha ideológica em que se manteve por muito tempo”

Ao Vivo JL entrevista Belluzzo

A repórter dos Jornalistas Livres Kátia Passos conversou com o economista e professor titular do Instituto de Economia da Unicamp Luiz Gonzaga Belluzzo no dia 28 de março sobre a situação econômica do país na crise do coronavírus, as relações com os grandes empregadores e a necropolítica de Bolsonaro.

Belluzzo foi secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda (1985-1987) e de Ciência e Tecnologia de São Paulo (1988-1990), formado em Direito e Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP) e doutor em economia pela Unicamp, também fundou a Facamp e é conselheiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Para ele, estamos vivendo uma situação de “ruptura dos nexos mercantis”, que seria quando os circuitos de produção, fornecimento e circulação dos processos econômicos são interrompidos. Diferentemente de uma depressão econômica, quando ocorre desemprego, temos as ligações entre empresas, pessoas e outras empresas interrompida pela necessidade da quarentena que tem sido praticada em todo o mundo. 

A solução, para Belluzzo, adotada pelos países deveria ser semelhante às adotadas nas circunstâncias das duas grandes guerras mundiais: em massa e planejada, uma vez que “estamos em uma economia de guerra em que o inimigo está espalhado entre nós e não sabemos bem avaliar, apesar do esforço dos cientistas e da saúde, os economistas estão devagar e avaliando muito mal isso. E na verdade isso exige uma ação maciça e intensa do Estado e ao mesmo tempo planejamento”. Intervir na economia com um plano de ação que envolva empresários e trabalhadores de cada setor e organizar as retomadas produtivas, de forma progressiva, para organizar o sistema é sugestão a de Belluzzo

Preservar vidas e economia não são opostos para o professor, que  traça um paralelo com a guerra, no qual a organização dos setores  deve ser feita na forma de uma convocação do exército, que alinhe as pessoas capazes de garantir os fluxos de serviços e priorizar a saúde, por meio da construção de leitos e conversão de linhas produtivas para montar equipamentos. Garantir a renda de quem está em casa também deve ser prioridade, mesmo que alguns critiquem os efeitos na dívida pública “nos Estados Unidos, na segunda guerra, a dívida pública chegou a  152% do PIB. Foi um chute enorme, e daí? E daí nada”.

A forma como o governo brasileiro tem lidado com a crise também foi criticada pela falta de informações claras, a lentidão na garantia das rendas e falta de organização econômica. Segundo Belluzzo o governo Bolsonaro tem “medo de negar aquilo que eles falaram o tempo inteiro: que o Estado não tem importância, que o Estado só atrapalha. Tem medo de romper a bolha ideológica sobre a qual se mantiveram por muito tempo. E não é hora disso, de fazer ideologia”.

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