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Educação

Aluno lança nota de Repúdio por descaso contra agressão

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Nesse final de domingo (3) o egresso da Universidade Federal do Pará (UFPA), Bruno Domingues, lançou uma nota de repúdio contra a instituição denunciando o racismo institucional que vem sofrendo desde 2015. Na época, Bruno, cursava Ciências Econômicas, na Universidade e após denunciar um professor por suas atitudes antipedagógicas, o mesmo deferiu um chute em seu rosto, mesmo errando, o constrangeu perante discentes do curso e dizendo que o mercado de trabalho ia tomar conta dele. Bruno abandonou o curso e ingressou em Ciências Sociais e recentemente foi aprovado no Mestrado em Antropologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Por ter desistido do antigo curso, a faculdade julgou que o assunto estava resolvido, e o docente até o presente momento está incólume do ocorrido.

NOTA DE REPÚDIO

À Universidade Federal do Pará.
No dia 25 de maio de 2015, após ser notificado por uma aluna acerca da manifestação que eu fiz no protocolo do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA) da UFPA expondo atitudes antipedagógicas e antiéticas por parte de um professor de Matemática III da Faculdade de Economia – FACECON da UFPA, na qual eu estava vinculado como aluno de economia, o professor referido se direcionou a mim, em sala de aula com mais de 20 alunos, e disse que, do mesmo modo que eu o havia constrangido abrindo uma reclamação junto à faculdade, ele iria me constranger. Neste momento, se direcionou a mim e disse: “não vou me preocupar contigo, pois você é um aluno digno de pena, e o mercado vai cuidar de ti, pois pessoas do ‘seu tipo’, quem cuida é o mercado”, em seguida tentou desferir um chute contra o meu rosto, contudo, sem ter acertado, dizendo: “quando eu quiser fazer depredação do patrimônio público [uma das acusações de minha manifestação, após o professor ter arrombado a porta de uma sala de aula] eu não vou dar soquinho na porta, vou chutar assim como chuto a tua cara”.
Abandonei a disciplina e cobrei da faculdade respostas à minha manifestação inicial e aos desdobramentos do ocorrido em sala de aula, contudo, a direção da faculdade não colaborou de forma efetiva, e deste modo, abri uma manifestação na Ouvidoria da UFPA. Os ouvidores entraram em contato com a direção do ICSA que encaminhou a denúncia no dia 23 de novembro à FACECON, e a direção da faculdade, por sua vez, negou respostas durante 2 anos. Somente em 2017 o diretor que estava deixando o cargo respondeu à manifestação dizendo, em outras palavras, que havia conversado com as partes (no entanto somente mostrou as comprovações da convocação de conversa comigo, sem apresentar que convocou formalmente o professor) e que o fato de eu ter desistido do curso (algo que eu anunciava desde a denúncia na ouvidoria – que o caso estava me causando descontentamento e eu estava pensando em desistir da formação) sinalizava que “o problema” havia sido “resolvido”.
Insatisfeito, entrei em contato com a Ouvidoria e com o Magnífico Reitor para sinalizar que não, o problema não havia sido resolvido, pois o professor continua a exercer suas funções e nunca foi penalizado ou mesmo chamado à conversa. A ouvidoria deu parecer positivo à minha insatisfação e solicitou que a atual direção da Faculdade de Economia reabrisse o processo, encaminhando para a Comissão de Processo Administrativo Disciplinar, para que se instaurasse uma sindicância. Ao procurar tal comissão, no entanto, o diretor foi orientado a encaminhar o assunto para a Comissão de Ética, pois “se tratava de uma resolução de um litígio de decoro ético entre aluno e professor”. O processo encontra-se até hoje na comissão de ética e não teve os devidos andamentos por mudanças no corpo de membros da comissão. No dia 01 de Fevereiro de 2019, após conversa com uma das responsáveis pela Comissão de Ética, fui informado de que o processo está em análise, mas ainda pode demorar até dois anos para ser solucionado. Enquanto isso, o professor continua a dar aulas, continua a adoecer alunos ao ponto de eles desistirem de suas formações.
Venho por meio desta repudiar a forma como o processo tem se encaminhado (ou simplesmente não tem se encaminhado) e solicitar que providências sejam tomadas.
O estigma de “aluno digno de pena”, a quem “o mercado se encarrega de cuidar” já não mais me assola, afinal, mudei de graduação e hoje estou formado também por esta casa, tendo logrado êxito em minha formação, recebido prêmios dentro e fora desta instituição, no entanto, jamais vou desistir de dar encaminhamento a este processo. Penso que outros alunos não devem passar pelo o que eu passei em 5 anos nesta instituição: assédio moral, abuso de poder, racismo institucional, negligência.
Após o caso que aqui descrevo, foi noticiado na imprensa local um caso de racismo envolvendo a Faculdade de Economia da UFPA e um aluno não identificado; Durante o Fórum de Diversidade da universidade, alunos da FACECON também denunciaram a forma como a faculdade conduz as temáticas relativas a racismo e a assédio moral por parte dos professores. Além disso, o professor denunciado recebeu a pior avaliação do ICSA no Sistema Avalia de 2018.2 e um dos piores de 2017.4. Destaco que dentre os vários critérios do Sistema Avalia está à forma como o professor lida com os alunos (se de maneira respeitosa ou não, entre outros). Assim, penso que o “problema” não envolve somente o meu caso, mas sim a faculdade, de modo que gostaria de solicitar/propor algumas mudanças.
Solicito que o processo se encaminhe de fato e com agilidade, não com vistas a avaliar um “litígio de decoro ético” como foi posto, mas como um Processo Administrativo Disciplinar com vistas à exoneração do professor denunciado e aplicação de penalidades à antiga direção da Faculdade de Economia, além de um pedido formal e público de desculpas – a ser publicado em jornais de grande circulação local/regional.
Proponho que a Faculdade de Economia estabeleça uma comissão/projeto para que as intersecções entre raça e economia sejam estudadas e difundidas no âmbito da faculdade. Além do estabelecimento de, pelo menos, uma disciplina que envolva a temática.
Solicito que a faculdade seja obrigada a ter a responsabilidade de explicar para os alunos ingressantes a importância de uma educação livre das opressões e dos abusos de poder, mostrando, em diálogo com a Comissão de Diversidade e/ou Igualdade Racial e Ouvidoria da UFPA, as formas de denunciar e de ser amparado institucionalmente. Ato a ser fiscalizado pela Diretoria de Combate às Opressões e pela Diretoria de Assuntos Estudantis do Centro Acadêmico de Economia.
Outras medidas também podem ser discutidas.
Assim, encerro minhas palavras na expectativa de que sejam discutidas e postas em prática, para que outros alunos não devam passar pelo que eu passei para obter a formação acadêmica.
Este texto será protocolado nos órgãos institucionais competentes e enviado para leitura no CONSUN e CONSEPE da UFPA, além de publicada em redes sociais, blogs e sites de movimentos sociais de combate às opressões e na imprensa local/regional.
“Numa sociedade racista, não basta não ser racista. É necessário ser antirracista.” – Angela Davis.
Atenciosamente,
Bruno Rodrigo Carvalho Domingues, Antropólogo.
Assinam esta nota:
Alex Ratts – UFG
Alexandra E. V. Alencar – Pós-Doutoranda na UFSC
Aline Maia Nascimento – Doutoranda em Antropologia pelo Museu Nacional – UFRJ
Ana Paula Medeiros de Moura – PPGDSTU/UFPA
Ana Valeria Salza de Vasconcelos – Doutoranda em Antropologia Social – UFSC
Anderson Lucas da Costa Pereira – Doutorando em Antropologia – Museu Nacional/UFRJ
Associação dos Povos Indígenas Estudantes na UFPA – APYEUFPA
Camille Castelo Branco – Antropóloga
Carla Wanessa Oliveira da Silva – Graduanda em Ciências Sociais – UFPA
Carolina Maia de Aguiar – Doutoranda – PPGAS/MN/UFRJ
Caroline Rodrigues de Souza – Graduanda em Ciências Sociais – UFPA
Centro Acadêmico de Ciências Econômicas da UFPA – CAECON/UFPA
Centro Acadêmico de Ciências Sociais Hecilda Veiga – CACSHV/UFPA
Centro de Estudos e Defesa do Negro no Pará – CEDENPA
Cleiton de Jesus Rocha – Cientista Social pela Universidade Federal do Amapá – UNIFAP
Coletivo de Antropólogas Negras e Antropólogos Negros
Coletivo Movimento Estudantil Paratod@s
Coletivo Negros e Negras da CSO-UFES
Coletivo Negrada da UFES
Comitê Estadual de Resistência Felipa Aranha – Pará
Daniel de Oliveira Baptista – Doutorando em Antropologia Social – UFMG
Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal do Pará – DCE/UFPA
Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal Rural da Amazônia – DCE/UFRA
Éberton da Costa Moreira – Graduando em Ciências Sociais – UFPA
Edilma do Nascimento J. Monteiro – Doutoranda em Antropologia Social – UFSC
Ester Paixão Correa – Doutoranda em Antropologia Social – UFRN
Felipe Carlos Damasceno e Silva – Cientista Social
Francisco Cândido Firmiano Júnior – Mestrando em Antropologia Social – UFRN e Quilombola
Gabriel Félix dos Santos – Graduando em Ciências Sociais – UFPA
Gardenia Mota Ayres – Doutoranda em Antropologia – UFBA
Geraldo de França Alves Júnior – Mestrando em Antropologia – UFPB
Gilson José Rodrigues Júnior – Professor do IFRN e Doutorando em Antropologia – UFPE
Giorgia Carolina do Nascimento – Mestranda em Antropologia Social – Unicamp
Grupo de Pesquisa pela Equidade de Gênero Étnicorracial – NÓSMULHERES/UFPA
Igor Luiz Rodrigues da Silva – Doutorando em Antropologia – UFSC
Ivanildo Antonio de Lima – Doutorando em Antropologia Social – UFRN
Izabele Leite – Graduanda em Cinema e Audiovisual – UFF
Jade Alcântara Lobo – Mestranda em Antropologia – UFBA
Jacqueline Moraes Teixeira – Professora da FE-USP e Pós-Doutoranda na FFLCH-USP
João Alípio de Oliveira Cunha – Doutorando em Antropologia Social – Museu Nacional/UFRJ – Coletivo Marlene Cunha
Levante Popular da Juventude
Lino Gabriel Nascimento dos Santos – Professor do IFSC e Doutorando na UFSC
Lucas Barbosa Lima – Mestrando em Antropologia – UFBA
Luis Meza Alvarez – Doutorando em Antropologia Social – Museu Nacional/UFRJ
Maria Izabel Feitosa Accioly – Mestranda em Antropologia – UFSCar
Marcela Gomes Fonseca – Graduanda em História – UFPA
Marcelo da Silva – Pós-Doutorando – UFSC
Marcia Maria Smith Ferreira – Graduanda em Engenharia Sanitária e Ambiental – UFPA
Marina P. A. Mello – UNIFESP
Marta Quintiliano – Mestranda em Antropologia – UFG
Marta Soares Ferreira – Mestre em Ciências Sociais
Mateus Marcílio – Doutorando em antropologia social – PPGAs/Museu Nacional – UFRJ
Mylena dos Santos Santana – Assistente Social
Pamela Iris Silva – Mestranda em Antropologia Social – UFRGS
Patricia Queiroz Freitas, graduanda Ciências Sociais – UFPA.
Pedro Fonseca Leal – Professor da Universidade Federal do Sul da Bahia – UFSB
Rafaely Adrian de O. Souza – Graduanda em Serviço Social – UFPA
Raoni Lourenço Arraes – Antropologo, Fotógrafo e Mestre em Comunicação
Rede de Mulheres Negras – Pará
Tedson Souza – Doutorando em Antropologia – UFBA
Tiago Heliodoro Nascimento – Doutorando em Antropologia Social – UFMG
Vanessa Silva dos Santos – Doutoranda em Antropologia – UFBA
Victoria Bezerra Del Castillo – Graduanda em Relações Públicas – UFPB
William Luiz da Conceição – Doutorando em Antropologia Social – Museu Nacional – UFRJ

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1 Comment

1 Comments

  1. Ana Maria Silveira

    09/02/19 at 11:41

    Todo nosso apoio, Bruno! A sensatez tem limite mas a estupidez humana, não!

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Educação

Há dois meses, uma escola e seus sonhos foram ao chão

Documentário conta a história da Escola Popular Eduardo Galeano

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Por Lucas Bois e Raquel Baster*

A escola popular Eduardo Galeano foi o primeiro local a ser destruído durante despejo violento que começou no dia 12 de agosto deste ano, pela Polícia Militar, e que se seguiu por três dias, no acampamento quilombo Campo Grande, município de Campo do Meio, em Minas Gerais. Após dois meses do despejo, é lançado o curta documentário “Sonhos no chão, sementes da educação” com depoimentos de educandos, educadores e representantes do setor de educação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) sobre a situação atual do acampamento.

“Ser analfabeto é a gente ficar no escuro e uma pessoa no escuro, ela não é ninguém”. Essa frase dita no documentário por Adão Assis Reis, explica a importância do acesso à educação contextualizada para alcançar a luz do conhecimento. Aos 59 anos, ele se mostra pronto para voltar à sala de aula assim que a escola for reconstruída. Muitos outros trabalhadores e trabalhadoras rurais poderiam ter a chance de seu Adão, mas os dados vem demonstrando o contrário. Um levantamento de dados do Censo Escolar de 2019, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), sobre o número de estabelecimentos de ensino na Educação Básica apontou que, entre 1997 e 2018, foram fechadas quase 80 mil escolas no campo brasileiro. A Escola Popular Eduardo Galeano entra para a estatística não só como mais uma, mas como exemplo de uma política de fechamento de escolas do campo que acontece há anos no país. 

Desenho de uma criança do acampamento Quilombo Campo Grande, ao relembrar o dia do despejo e derrubada da Escola Eduardo Galeano. Frame do documentário “Sonhos no chão, sementes da educação” (2020).

O MST chegou a lançar uma campanha de denúncia em 2011, intitulada “Fechar escola é crime”. E em 2014 foi aprovada a lei (12.960/2013) que obrigou a realização de consulta às comunidades antes do fechamento de escolas do campo, indígenas e quilombolas. Mas parece que não surtiu muito efeito. A própria escola Eduardo Galeano foi fechada pelo governo de Minas Gerais no início de 2019, logo após outra tentativa de desejo no assentamento quilombo Campo Grande em 2018 e reaberta pela resistência do Movimento. “Quando começou o governo de Romeu Zema (Novo) nós recebemos a triste notícia que a Escola seria fechada. E a justificativa era poucos educandos. Eram duas salas aonde chegamos a ter 75 pessoas matriculadas. E, na maioria das vezes, nós mesmos que mantivemos a escola funcionando com nossos recursos porque mesmo sendo uma escola reconhecida, não era garantida pelo Estado”, explica Michelle Capuchinho do setor de Formação do MST.  

Ciranda das crianças do acampamento Quilombo Campo Grande, Campo do Meio (MG).
Frame do documentário “Sonhos no chão, sementes da educação” (2020).

O curta documentário descreve como o despejo e a destruição da Escola impacta diretamente inúmeras famílias, sobretudo crianças e adolescentes. Isso somado a um período onde o isolamento social e medidas de proteção à saúde deveriam ser prerrogativas à gestão estadual no enfrentamento à Covid-19. O MST alega que o despejo foi feito de forma ilegal, já que o processo judicial abrangia 26 hectares inicialmente e depois, sem justificativa e transparência das informações, foi ampliada para 53 hectares no último despacho da Vara Agrária que culminou no despejo de 14 famílias. Cerca de 450 famílias permanecem na área da usina falida Ariadnópolis, da Companhia Agropecuária Irmãos Azevedo (Capia), que encerrou as atividades em 1996.

O filme completo está disponível no YouTube: https://youtu.be/iT1kP7jTO0E

Ficha técnica
Curta-documentário: “Sonhos no chão, sementes da educação”
Imagens e edição: Lucas Bois
Roteiro: Raquel Baster e Lucas Bois
Duração: 22 minutos
Ano: 2020

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Educação

Volta às aulas é proibida pela Justiça em Colégio Militar de Belo Horizonte

Funcionários e inúmeros pais de alunos são contrários à retomada das aulas na instituição do Exército

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Aloísio Morais

A Justiça Federal deu um chega-pra-lá nos militares do Colégio Militar de Belo Horizonte e proibiu o retorno às aulas presenciais a partir da próxima segunda-feira, 21, a exemplo do que outras instituições do Exército pretendem fazer no país. A instituição tem cerca de 750 alunos, 42% do sexo feminino. Dezenas de pais de alunos são contrários à volta às aulas, mesmo com uma série de protocolos a serem adotados. Durante a ditadura, as instalações da escola abrigaram presos políticos, que foram vítimas de tortura no local.

A retomada das atividades escolares na unidade do Exército provocou discussões tanto na Prefeitura de Belo Horizonte quanto no Ministério Público Federal e, como medida de segurança, o Sindicato dos Trabalhadores Ativos, Aposentados e Pensionistas do Serviço Público Federal (Sindsep-MG) entrou na Justiça com um pedido em tutela de urgência para continuidade do regime remoto de aulas, o que foi acatado com a fixação de uma multa de R$ 5 mil por dia, caso ocorra descumprimento da determinação.

Colégio do bairro Pampulha foi usado para abrigar presos políticos durante a ditadura

Sem prejuízo

Na quarta-feira, 16, a direção do Colégio Militar encaminhou às famílias um comunicado informando sobre o retorno obrigatório às aulas na unidade, exceto para os alunos que comprovassem pertencer a grupos de risco para o novo coronavírus. Porém, para o sindicato, o retorno não é necessário, uma vez que os alunos não estariam sendo prejudicados pelo sistema de aulas on-line. Pela avaliação dos professores, os estudantes estão respondendo bem às aulas.

“Nós estamos conversando com os professores há mais de um mês, logo que eles perceberam que seriam convocados para um planejamento presencial das atividades e que incluía desde então o retorno às aulas na própria escola. Nós entendemos que não é necessário um retorno presencial quando tudo pode ser feito remotamente. Sabemos que a cidade está em processo de reabertura, mas achamos que não há necessidade de colocar mais pessoas nos ônibus e nas ruas se os alunos estão respondendo bem às aulas remotas. As aulas estão tendo qualidade”, ressaltou a diretora do Sindicato, Jussara Griffo, ao jornal O Tempo.

Segundo Jussara, o Colégio Militar tinha determinado que retornariam apenas aqueles funcionários que não compõem grupos de risco para a pandemia do novo coronavírus, mantendo em regime remoto, portanto, aqueles com idades superiores a 60 anos e portadores de comorbidades. “Se algumas pessoas permaneceriam em casa, entendemos que o trabalho pode ser mantido remotamente, então não há necessidade de retornar também os outros. Para quê colocar alunos em risco, famílias e professores? Se os alunos estão respondendo bem às aulas remotas, podemos mantê-las”, declarou.

O comunicado feito pelo colégio indicava que haveria um revezamento entre turmas e a adoção de medidas sanitárias relacionadas à Covid-19 para garantir a segurança de estudantes, funcionários e familiares. O retorno contradiz as políticas municipal e estadual que ainda mantêm as aulas suspensas nas redes pública e particular de Minas Gerais. Autoridades da Prefeitura de Belo Horizonte declararam nessa sexta-feira, 18, que poderia procurar a Justiça para pedir a proibição da retomada do ano na unidade militar. Em uma mesma direção, o Ministério Público Federal determinou que o diretor do colégio, o coronel Marco José dos Santos, explicasse à Justiça com um prazo máximo de 24 horas quais estudos técnicos e protocolos de segurança justificariam o retorno às aulas presenciais.

Barbacena


Desde o dia 26 de maio mais de 200 alunos da Escola Preparatória de Cadetes do Ar (Epcar) em Barbacena, no Campo das Vertentes, em Minas, testaram positivo para Covid-19. No dia 22 de junho, o Ministério Público Federal emitiu recomendação ao diretor de Ensino da Aeronáutica, major-brigadeiro do Ar Marcos Vinícius Rezende Murad, e ao comandante da Escola Preparatória de Cadetes do Ar, brigadeiro do Ar Paulo Ricardo da Silva Mendes, para suspender imediatamente todas as aulas e demais atividades acadêmicas presenciais.
A Epcar é uma escola de ensino militar sediada em Barbacena que admite alunos de idade entre 14 e 18 anos por meio de concurso público. No local, estudantes de várias cidades de todo o Brasil vivem em regime de internato e, por isso, dormem em alojamentos e têm aulas em horário integral.

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Cotas

Única vereadora preta de Natal celebra cota do fundo eleitoral para candidaturas negras

Divaneide Basílio (PT) acredita que a decisão do Tribunal Superior de Eleitoral, que determina distribuição proporcional do fundo eleitoral e partidário para candidaturas negras vai incentivar a participação de mais negros e negras na política

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Da agência Saiba Mais

O Tribunal Superior Eleitoral determinou que a partir de 2022 os fundos partidário e eleitoral terão que ser usados de forma proporcional para as candidaturas negras. A decisão é estendida também para o uso do tempo no rádio e na TV das campanhas.

O posicionamento do TSE é fruto de uma consulta feita pela deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ), que solicitou a destinação de 50% da verba para candidaturas negras, uma vez que conforme dados do IBGE o Brasil tem 55% da população nesse recorte.

A medida foi anunciada pelo presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, e tem a intenção de reduzir o desequilíbrio na participação eleitoral e no financiamento de campanhas das candidaturas de negras e negros. Essa deliberação se soma à determinação de 2018, que obriga o repasse de percentual fixo de 30% do fundo eleitoral para candidaturas de mulheres.

A subrepresentação das mulheres nos espaços de poder do Brasil, e em especial das mulheres pretas, é uma realidade. As mulheres são 51% da população brasileira, mas governam apenas 12% das prefeituras. Já as mulheres pretas administram apenas 3% dos municípios mesmo representando um contingente de 27% da sociedade.

E mesmo as cidades governadas por mulheres são proporcionalmente menores do que aquelas que contam com homens na chefia do Executivo. Apenas 7% da população no país moram em municípios administrados por mulheres, brancas ou pretas. Do total de prefeituras governadas por mulheres, 91% são de municípios com até 50 mil habitantes

Os dados estão disponíveis para consulta pública e foram divulgados pelo Instituto Alzira, organização que desenvolve ferramentas para contribuir com o aumento na participação das mulheres na política.

O parlamento de Natal é um exemplo desse desequilíbrio e subrepresentação. Das 28 cadeiras, apenas uma é ocupada por uma mulher preta. Não bastasse ser a única, a cientista social Divaneide Basílio (PT) também é a primeira vereadora negra da história da Câmara Municipal de Natal.

Para ela, a decisão do TSE deve garantir maior representatividade nos parlamentos:

– Acompanhamos com lupa esse debate, esse tema é algo para nós muito significativo porque vai garantir a ampliação da representatividade. Uma parlamentar como a Benedita da Silva (PT-RJ) provocando esse debate só reforça que a representatividade importa e que nós podemos disputar em condições de igualdade. Porque essa é uma pauta de todo o país. Eu sou a única negra em Natal, mas na maioria dos estados também é assim”, destaca.

Divaneide comemora e compara a decisão do TSE válida para 2022 com a obrigatoriedade do repasse de 30% para as candidaturas femininas.

– O processo, apesar de lento, já representa para as mulheres um avanço. Uma mudança de postura, com isso mais mulheres estão percebendo que poderiam se candidatar, tem melhores condições pra isso. Não é fácil conciliar a vida doméstica com o trabalho. E é uma mudança que nós, no PT, já iniciamos com o projeto Elas por Elas, garantindo formação. Lançamos esse projeto dm 2018 e hoje já é uma realidade e tem ajudado a nos fortalecer. No Rio Grande do Norte o Elas por Elas ajudou na capacitação das mulheres, contribuiu com o planejamento da campanha e aumento o nível de debate”, disse.

Além da questão financeira, a parlamentar que tentará a reeleição em 2020 acredita que a decisão do TSE estimula o envolvimento da população negra do debate político. O próprio Instituto Alzira reconheceu o avanço já notado em 2018 embora a subrepresentação seja latente.

Divaneide não acredita que haverá uma disputa por mais espaço entre candidatos negros e candidatas negras. A pauta antirracista, segundo ela, vai unir o candidatos.

– Vai ser bom pra todo povo negro. A pauta antirracista é de todo mundo, negro e negra. Nós mulheres negras estamos fazendo um debate para aprimorar o gênero de classe e raça. Vamos fazer um Elas por Elas com recorte de mulheres negras. Essas interfaces não são para colocar um grupo em superioridade, mas para mostrar que aquele grupo representa mais de uma identidade”,

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