As mulheres demonstraram nos últimos dias um protagonismo inquestionável na luta contra os ataques de Eduardo Cunha. O vigor deste movimento animou a iniciativa #AgoraÉqueSãoElas. Por isso, o espaço desta coluna será hoje ocupado por quatro militantes sem-teto, de diferentes Estados do país. Com a palavra Sylvia Malatesta, Natalia Szermeta, Ana Paula Perles e Claudia Favaro, militantes do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) e da Frente Povo Sem Medo.
“Desta vez, o grito feminino que saltou da goela de milhares de mulheres brasileiras ecoou nas grandes avenidas do país como um som de liberdade, de ruptura e de força. Ocupamos as ruas com nossos corpos vestidos ou despidos, com nossa fina voz e com nosso ventre!
A tirania, que se sustenta nos resquícios arcaicos do período imperial, tremeu! A velha frase “A libertação da mulher é condição fundamental para a libertação da humanidade!” deixou de ser ‘delírio feminista’ e passou a estar na pauta do dia!
Simone de Beauvoir (1908–1986) foi a bruxa da vez, levando a santa Inquisição a se manifestar direto do plenário na Câmara de Campinas: Campos Filho, vereador campinense, verbalizou que “é uma iniciativa demoníaca (do MEC). Por que eles estão querendo empurrar goela abaixo das pessoas quando se coloca uma situação como dessas na prova do Enem”.
Por ironia, o sujeito faz parte de um partido cuja sigla é DEM. E, pasmem, a moção que pede a anulação da questão do Enem que cita a filósofa Simone de Beauvoir, foi aprovada e encaminhada para o MEC!
Na mesma semana, belas manifestações tomaram as ruas do país em reação às absurdas movimentações que estão ocorrendo no Congresso Nacional. Eduardo Cunha não tem freio, ele é incansável. Quando o tema em questão é revanche, vingança ou abuso de poder, ele está lá, pronto a desafiar os direitos sociais e civis.
As manifestações são também um grito de que é inaceitável a passividade, quando virou rotina a manifestação de pensamentos retrógrados, desrespeitosos e criminosos contra as mulheres. Não ficaremos caladas assistindo a uma sociedade que caminha a passos largos para a naturalização do horror, da pedofilia e do sexismo!
Estamos nas ruas em defesa das milhares de meninas assediadas, das presidiárias que dão vida a seres humanos de cócoras no cárcere, das mulheres mutiladas, assassinadas, das que se suicidaram e das que ainda suspiram!
Os ataques são uma verdadeira artilharia de retrocessos: o PL 5069/2013, que proíbe a venda da pílula contraceptiva do dia seguinte e obriga passar no IML antes de ser atendida, criminalizando movimentos e organizações feministas ao proibir qualquer divulgação de informações sobre o aborto; o PL 478/2007 — Estatuto do Nascituro, que dá status de sujeito de direitos ao nascituro, impedindo qualquer caso de aborto e cria pensão obrigatória a ser paga pelo estuprador ou pelo Estado; a PEC 99/2013 que dá o direito a Associações Religiosas de propor ação de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos; o PL 7382/2010 que penaliza pessoas que discriminam heterossexuais; o PL 6583/2013, que dispõe sobre o Estatuto da família, desconsiderando as relações homoafetivas e assim descobrindo-as de direitos.
Uma sociedade mais humana não existirá se o Estado for tirano, se as leis forem injustas, se a Constituição não garantir os direitos fundamentais, se Eduardo Cunha e sua corja não forem varridos da história!
Resistiremos bravamente ao nosso assassinato, não aceitaremos as nocivas medidas contra a humanidade, não ficaremos recolhidas em nossos lares. A cada direito atacado, ocuparemos as ruas. O corpo é nosso, a decisão á nossa e o Estado é laico.
Dia 8/11 daremos continuidade nesta luta em todo o país . Queremos que Eduardo Cunha seja preso, que nossos direitos sejam preservados, que nossas filhas não sejam assediadas, que os criminosos não fiquem impunes. Que todas as famílias sejam reconhecidas e tenham proteção do Estado, que todas as religiões se manifestem com a mesma liberdade, que mulheres e homens tenham o mesmo salário ocupando a mesma função. Queremos igualdade e liberdade. Lema tão antigo e, ao mesmo tempo, tão atual.
Não sairemos das ruas!