Por Mirella Lopes, da agência Saiba Mais
Das 195 páginas que compõem a tese de doutorado defendida pela Reitora da UFERSA (Universidade Federal Rural do Semi-Árido), Ludimilla Carvalho Serafim de Oliveira, em pelo menos 16 delas há o que a comunidade acadêmica classifica como plágio, cópias inteiras ou parciais de textos de outros autores, sem que a fonte seja citada ou haja uso de aspas, no caso de transcrições. A denúncia entregue com exclusividade a Agência Saiba Mais, traz de forma minuciosa os trechos que teriam sido copiados pela reitora da UFERSA e as referências aos textos originais.
Ludmilla Serafim foi nomeada reitora da UFERSA em 21 de agosto, à revelia da comunidade acadêmica. Ela ficou em 3º lugar no processo eleitoral, abaixo de outros dois professores, entre eles Rodrigo Codes, o candidato mais votado com quase o dobro de votos da reitora nomeada pelo presidente da República Jair Bolsonaro (sem partido).
Com o Título “DE REPENTE, TUDO MUDOU DE LUGAR: Refletindo sobre a metamorfose urbana e gentrificação em Mossoró-RN”, a reitora da UFERSA defendeu a tese de doutorado em 2011, junto ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFRN. Os plágios teriam sido realizados em cima de três obras diferentes e começariam na página 47, quando Ludimilla copia o primeiro parágrafo quase inteiro da página 02 da dissertação de mestrado de Karisa Lorena Carmo Barbosa Pinheiro, que defendeu a dissertação em dezembro de 2006, cinco anos antes de Ludimilla, também junto ao Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFRN, com o título “O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO DA CIDADE DE MOSSORÓ: Dos processos históricos à estrutura urbana atual”.
FOTO 1: trecho da tese da reitora da UFERSA
FOTO 2: texto original
Na página seguinte, p.48, a reitora utiliza o último parágrafo da mesma página 02 do trabalho apresentado pela estudante do mestrado, para começar sua página. Apesar das semelhanças, os trabalhos foram orientados por professores diferentes.
Já na página 49, a construção foi mais complexa. Ludimilla começa o texto da tese com o final do último parágrafo ainda da página 02 e início da página 03 do trabalho de Karisa. No entanto, insere um trecho inédito de sua própria autoria e dá início a um novo parágrafo usando, porém, a continuação do mesmo texto copiado. O recurso, torna a identificação das semelhanças presentes no texto ainda mais difícil.
FOTO 1: trecho da tese da reitora da UFERSA
FOTO 2: texto original
Na página 50, encontramos o último parágrafo do trabalho da reitora praticamente igual ao da página 03 da dissertação de mestrado da estudante, mas sem qualquer uso de aspas, para indicar a autoria do texto original.
Agora, já na página 53, Ludimilla até começa o texto da forma correta, com o uso de aspas para fazer citação à autora. No entanto, mesmo depois de fechar as aspas, segue com texto idêntico ao encontrado na tese de mestrado da aluna de pós-graduação em arquitetura, cujo trabalho foi apresentado em 2006.
A estratégia, volta a se repetir nas páginas 55, 56, 57 e 59 sendo que, nesta última, a reitora da UFERSA usa trechos das páginas 106 e 108 do trabalho defendido pela aluna do mestrado, mas modifica a ordem de quebra dos parágrafos, dificultando a identificação dos trechos idênticos.
Ao seguir com a leitura, é possível observar que para compor a página 61, Ludmilla usa o penúltimo parágrafo da página 108 e o primeiro parágrafo inteiro da página 111 da dissertação de mestrado de Karisa Lorena. Os trechoS seguem idênticos nas páginas 62, 63 e 66, com pequenas alterações, apenas no início da frase.
Já nas páginas 65 e 67, a reitora da UFERSA usa trechos do livro de Aristotelina Pereira Barreto Rocha, “Expansão Urbana de Mossoró – Período de 1980 a 2004”.
E, por último, na página 92 da tese de doutorado da reitora da UFERSA, ela cita uma terceira obra. “Mudar a Cidade – Uma Introdução Crítica ao Planejamento e à Gestão Urbanos”, de Marcelo Lopes de Souza. No entanto, não há uso de aspas em todo o parágrafo, que traz exatamente as mesmas palavras e pontuação do texto original. Segundo acadêmicos da área consultados pela Agência Saiba Mais, citação indireta, sem uso de aspas, também é considerado plágio por não deixar claro que o texto foi transcrito.
FOTO 1: trecho da tese da reitora da UFERSA
FOTO 2: texto original
Reitora da UFERSA, Ludmilla Serafim diz que não comentará a acusação de plágio
Procurada pela agência Saiba Mais, a reitora da UFERSA disse que não falaria sobre o assunto. A dissertação de mestrado de Karisa Lorena, citada na reportagem, e a tese de doutorado da reitora, podem ser consultadas no repositório de teses da UFRN e da UFERSA. Ludimilla Carvalho Serafim de Oliveira foi nomeada para a reitoria da Universidade Federal do Semi-Árido pelo presidente Jair Bolsonaro no mês de agosto, depois de ficar em terceiro lugar na votação feita junto à comunidade acadêmica, em junho. No pleito, Rodrigo Codes ficou em primeiro lugar com 37,55% dos votos, Jean Berg em segundo com 24,84% e Ludimilla em terceiro com 18,33%. A lista tríplice foi encaminhada ao MEC e Bolsonaro fez a nomeação durante passagem pelo Rio Grande do Norte, na cidade de Mossoró, em 21 de agosto.
Interventor do IFRN também foi acusado de plagiar tese de doutorado
Além de Ludmilla Serafim, o interventor do Instituto Federal do Rio Grande do Norte Josué Moreira também foi acusado essa semana de plagiar trecho da tese de doutorado que apresentou em 2018 na UFERSA. Segundo a denúncia, a tese foi apresentada na UFERSA em 12 de novembro de 2018 e possui apenas 79 páginas, sendo 41 páginas textuais, excluindo o sumário, resumo, referências e apêndices. Dessas, 23 páginas trariam cópias de outros trabalhos, sem a devida referência aos autores.
Procurado pela agência Saiba Mais para comentar a acusação, Moreira disse que também não comentaria o caso:
“Minha cabeça não está funcionando para os ataques pessoais que venho sofrendo porque estou focado nessa luta para garantir aulas virtuais para os alunos do IFRN. Nada tira a minha atenção para alcançar esse objetivo, nem os ataques pessoais para me difamar e caluniar. Isso, depois eu resolvo na justiça”.
Josué Moreira foi nomeado reitor em 20 de abril também à revelia da comunidade, que elegeu o professor de Educação Física José Arnóbio de Araújo para o cargo no IFRN. Em cinco meses, Moreira já colecionou várias polêmicas, como conflitos diretos com professores e estudantes, compra suspeita de computadores por preço acima do mercado e nomeação de auxiliares que respondem a processos administrativos na instituição.
Links para consultas:
Tese de doutorado da reitora da UFERSA:
file:///E:/Downloads/De%20repente%20tudo%20mudou%20(1).pdf
Dissertação de mestrado de Karisa Lorena Carmo Barbosa Pinheiro: https://repositorio.ufrn.br/jspui/bitstream/123456789/12418/1/ProcessoUrbanizacaoMossoro_Pinheiro_2006.pdf
Uma resposta
A comunidade acadêmica em parte merece o que o fascista está fazendo. Durante anos ignorou o golpe enquanto ele avançava e continua a aceitar o que a milícia impõe. A Ciência Política é a mais culpada pela falta de denúncia.