Na última quarta-feira (22), o Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (CEBRAPAZ) organizou, na cidade de São Paulo, uma palestra sobre a questão palestina, com a presença do Embaixador palestino no Brasil, Ibrahim Alzeben.
Foto: Mídia NINJA
A palestra “Palestina ocupada: Um ano da ofensiva israelense contra Gaza” inaugurou o ciclo de debates sobre a questão, e ocorreu em ocasião do aniversário de um ano da Operação Margem Protetora, quando, em resposta ao sequestro de três adolescentes israelenses, Israel iniciou uma ofensiva contra a Faixa de Gaza — a princípio para encontrar os garotos.
A resposta de Israel, somente em 11 dias, resultou na morte de pelo menos cinco palestinos, e na prisão de mais de 350. Um grupo extremista israelense sequestrou uma criança palestina, e queimou-a viva. As condições para a profusa tragédia estavam postas: a investida resultaria na morte de 2251 palestinos, dos quais cerca de 1460 eram civis, e na morte de 73 israelenses, incluindo 6 civis. Para além das perdas humanas, o bombardeio indiscriminado da Faixa de Gaza levaria à destruição de 18 mil casas e 73 hospitais, que, devido ao bloqueio de materiais de construção que perdura até hoje, devem ter suas ruínas conservadas por muito tempo — provas concretas da devastação da guerra, que a história há de julgar.
Além de Alzeben, o debate contou também com a participação via internet e direto da Faixa de Gaza do professor Refaat Alareer, cujo rosto permaneceu coberto pela sombra da frequente falta de luz que vitimiza a população de Gaza. Na quarta, o problema permaneceu por pelo menos 6 horas.Para o professor, a destruição generalizada tem, também, fins econômicos. “Ratos de laboratório”, foi como Alareer descreveu a forma como Israel vê os palestinos que, de acordo com ele, têm seu território usado para a demonstração do poderio militar israelense, em um esquema para a venda de armas.
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O Embaixador Ibrahim lembrou também dos palestinos que vivem em Israel: “A maioria do povo palestino tem os trabalhos inferiores dentro da sociedade israelense”, garantiu. “Converteram nosso povo em mão de obra barata”.
Islam Hamed: 100 dias de fome na Palestina ocupada
Amigos e familiares do brasileiro-palestino Islam Hamed também estavam presentes entre a plateia. Islam manteve um greve de fome durante 100 dias, enquanto estava preso ilegalmente sob a jurisdição da Autoridade Nacional Palestina. Sua primeira prisão ocorreu em 2002, aos 17 anos, por jogar pedras contra forças de ocupação israelense — uma tradição de longa data da mítica resistência palestina. Pelo terrível crime, permaneceu cinco anos preso por Israel.
Em 2007, depois de viver durante nove meses em liberdade, foi mais uma vez preso, desta vez nas temidas prisões administrativas de Israel, sob a alegação de que representava uma “ameaça à segurança”. Em 2010, é novamente preso, desta vez pela Autoridade Nacional Palestina, sem nenhuma acusação ser apresentada. Islam Hamed foi enfim libertado na última terça-feira, depois de assinar sua soltura. Sua pena já havia expirado em 2013. A família teme por sua segurança, tendo em vista que Israel o acusa de ter disparado contra colonos. O Embaixador Ibrahim Alzeben, no entanto, disse que a volta de Islam ao Brasil depende das negociações entre Israel e Brasil: “Esperamos que [a negociação] termine rápido e que [ele] volte ao Brasil salvo e são”.
A questão da frente única
O caso de Islam levanta suspeitas em relação às divisões políticas dentro da Palestina. “Hamed é apoiador do Hamas, um partido político de resistência a uma ocupação desumana. Infelizmente, não podemos descartar a possibilidade de perseguição, o que é lamentável”, disse sua mãe, Nádia, em entrevista em maio deste ano. Atualmente o governo é divido entre o Movimento de Libertação Nacional da Palestina (Fatah), na Cisjordânia, e o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas), na Faixa de Gaza. Há também grupos minoritários, como a Frente Popular para Libertação da Palestina (FPLP) e a Frente Democrática para a Libertação da Palestina, ambas de orientação marxista-leninista.
“Se temos problemas internos, temos de ir à causa, não aos efeitos”, disse o Embaixador, que defendeu, em conjunto com o professor RefaatAlareer, a unidade entre as diferentes forças políticas palestinas. “Gaza vive uma crise humanitária, e a causa fundamental, não vamos nos confundir, não vamos trocar inimigos; o inimigo número um é a ocupação militar israelense.”
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